147: A terceira margem: a cultura indígena em diálogo com o serviço
Debatedor: A definir
Data: 02/06/2018    Local: FEFF Sala 05 - Jirau    Horário: 08:30 - 10:30
ID Título do Trabalho/Autores
1433 APLICATIVO SERVIÇO SOCIAL DA CASA DE SAÚDE DO ÍNDIO NO DSEI PARINTINS
Manoel Ferreira Falcão, Hudson da Silva Castro, Kléverth Loureiro Machado, Francivalda Rodrigues da Silva

APLICATIVO SERVIÇO SOCIAL DA CASA DE SAÚDE DO ÍNDIO NO DSEI PARINTINS

Autores: Manoel Ferreira Falcão, Hudson da Silva Castro, Kléverth Loureiro Machado, Francivalda Rodrigues da Silva

A Revolução Industrial foi a precursora do desenvolvimento da tecnologia, esta causou grandes impactos no crescimento produtivo, mas, foi a Informática que impulsionou consideravelmente o avanço tecnológico. Apesar deste grande avanço, vários locais ainda não se adequaram a esta realidade, no setor público em alguns órgãos, como é o caso que ocorre com a Casa de Saúde do Índio de Parintins (CASAI-PIN), este controle de informações é realizado manualmente em papéis. Para contornar esse problema, propõe-se automatização dos processos de dados, solução utilizada pela CASAI-PIN por meio da criação de um software, este dará praticidade, segurança e economia de tempo no processo de cadastro de prontuários, tornando esse procedimento de fácil realização. A automatização de processos de dados ainda não atingiu a todos, é o que ocorre com a CASAI-PIN, que está subordinada ao Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI-PARINTINS), que por sua vez é submisso a Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), que possui como objetivo controlar a Política Nacional de Atenção à Saúde dos Povos Indígenas e todo o processo de gestão do Subsistema de Atenção à Saúde Indígena (SasiSUS), através do Sistema Único de Saúde (SUS). Este órgão, DSEI-PARINTINS, tem por função oferecer atendimento de saúde 24h para os indígenas das etnias Sateré-Mawé e Hixkaryana referenciados a partir dos polos bases, com sede na cidade de Parintins no estado do Amazonas, presta atendimento à cerca de 13 mil indígenas de 12 polos bases localizados em Parintins e nos municípios de Maués, Barreirinha e Nhamundá. A CASAI-PIN, contribui com o DSEI-PARINTINS proporcionando atendimentos de saúde e social aos indígenas, quando precisam ser instalados ou ficar na sede de Parintins para atendimentos médicos, possui uma equipe de assistência social. Desta forma, o projeto possui como objetivo principal o desenvolvimento de um aplicativo para computador de mesa desktop off-line, que possa servir como banco de dados para armazenar as informações dos pacientes que serão atendidos pelo Serviço Social da CASAI-PIN, e encaminhados ao DSEI-PIN, para tratamentos de saúde, visto que, o setor não possui um software específico que atenda às suas necessidades, de ser um programa simples, prático e de fácil manuseio.  Vale ressaltar que o Ministério da Saúde oferece um aplicativo para o cadastramento de pacientes, entretanto, o mesmo não é exclusivo para pacientes indígenas, o que dificulta o trabalho dos funcionários do setor de Serviço Social da CASAI-PIN, por apresentar campos que para eles não possuem nenhuma utilidade. Para tanto a dinâmica deste projeto adotou as seguintes metas: Elaboração de um Aplicativo com formulário que atenda às necessidades de registro e de acompanhamento das atividades realizadas no Setor de Serviço Social. Descrição do aplicativo e suas funções, para que possam ser utilizados pelos usuários do Serviço Social da CASAI-PIN. A metodologia aplicada para a implementação do software, está expressa em ordem cronológica através do modelo cascata adaptado de Royce, (1970. Levantamento de requisitos: esta etapa possui como objetivo a obtenção de quais atividades são realizadas no estabelecimento no qual o software será instalado e saber quais os benefícios que o mesmo deveria ter para sanar as dificuldades do local. Para isso, foi necessário a realização de visitas a CASAI-PIN, a fim de realizar entrevistas com os profissionais que trabalham no estabelecimento. Implementação: nesta fase, começa de fato o desenvolvimento do sistema, aqui escolhemos onde será o ambiente que o programa será implementado, além de aprender como e o funcionamento deste ambiente. Para o software foi escolhido a ferramenta Microsoft® Access, que faz parte do pacote Office criada pela Microsoft®, que a partir da utilização de banco de dados, tem como funcionalidades a criação de aplicativos que permitem melhores controles de informações, por meio da utilização de tabelas, gráficos, formulários, etc. Testes: esta etapa ocorre após o término do desenvolvimento do sistema, é neste estágio que o software é testado para analisar se o mesmo não oferece nenhum bug (erro), se houver a ocorrência de algum, o programa será revisado, com o objetivo de encontrar em que parte está acontecendo o erro, para ser consertado, caso isso não ocorra, o sistema vai direto para a implantação. Implantação: este é o momento em que o aplicativo será instalado da máquina do usuário que irá operar o mesmo. Porém, esta fase do projeto ainda não pode ser executada, pois o tempo de desenvolvimento do mesmo não permitiu que esse momento fosse alcançado. Resultados: essa última fase só será possível de se executada, após alguns dias do início da utilização do software pelo usuário, visto que, é quando o mesmo já se adaptou à ferramenta, sendo possível dizer o que achou da mesma e ainda sugerir melhorias ou identificar possíveis bugs que tenham passado desapercebidos na fase de testes. Como é notório, essa etapa só será possível de ser realizada após a implantação do aplicativo na CASAI-PIN, momento este que ainda não pode ser executado. Como esperado, o principal resultado obtido, foi produção do software solicitado pela CASAI-PIN, sendo realizada, também, a descrição do aplicativo e funções, para que possam ser utilizados pelos usuários do Serviço Social da CASAI-PIN. Este facilitará o método de armazenamento de dados, pois oferecerá praticidade, por ser simples e de fácil manuseio; com segurança, já que os dados que serão inseridos no programa não correrão o risco de serem perdidos, visto que, os prontuários realizados no papel são guardados em armários, correndo diariamente o risco de serem extraviados ou perdidos, problema que será resolvido com o aplicativo que oferecerá rotinas de backups; economia de tempo, uma vez que o Setor de Serviço Social desperdiça tempo na hora do cadastramento de um novo prontuário e no momento em que necessita realizar a pesquisa de algum paciente, já que os dados são todos misturados e no momento de realizar uma análise de um indígena específico, tem que avaliar um a um, isto com o aplicativo será resolvido. Espera-se que o aplicativo atenda às necessidades de registro e de acompanhamento das atividades realizadas no Setor de Serviço Social. Outro resultado que poderá ser obtido após a implantação, constituíra na aprovação do software por todos os envolvidos no setor de serviço social, no qual os mesmos se pronunciarão, sugerindo melhorias e novas aplicabilidades, estes profissionais vinham há alguns anos possuindo o desejo de automatizar o processo de registro, porém não haviam encontrado nenhum programa que os agradassem, ou atingissem as expectativas, mas, com a parceria entre o IFAM e a CASAI-PIN, essa aspiração tornou-se possível. A ideia de construção do programa, surgiu pelo intuito de automatizar o registro de dados utilizado pela CASAI-PIN, afim de tirar o atraso tecnológico que o órgão estava passando, e colocar o mesmo na realidade que é vivenciada atualmente, isto é, no mundo da tecnologia. Deste modo, procurou-se a melhor maneira para a realização desse objetivo que o Setor de Serviço Social do estabelecimento tanto almejava, e como solução, foi proposto a criação de um software simples e prático, que atenda aos problemas que a CASAI-PIN enfrenta no seu método de armazenamento. Assim, a ferramenta Microsoft Access foi utilizada para a implementação do sistema de banco de dados, o qual obterá êxito quando implantado naquele setor. Neste sentido, este trabalho servirá como base para novas pesquisas, bem como, poderá ser, futuramente, implantado e avaliado in loco.

1506 CUIDADO EM SAÚDE INDÍGENA E RESPONSABILIDADE NA PERSPECTIVA LEVINASIANA: IMPLICAÇÕES PARA A EQUIDADE NO SUS
Diomedia Zacarias Teixeira, Nelson dos Santos Nunes, Denildo de Freitas Gomes, Rose Mary Costa Rosa Andrade Silva, Eliane Ramos Pereira

CUIDADO EM SAÚDE INDÍGENA E RESPONSABILIDADE NA PERSPECTIVA LEVINASIANA: IMPLICAÇÕES PARA A EQUIDADE NO SUS

Autores: Diomedia Zacarias Teixeira, Nelson dos Santos Nunes, Denildo de Freitas Gomes, Rose Mary Costa Rosa Andrade Silva, Eliane Ramos Pereira

Introdução: o processo do cuidado para a promoção da saúde indígena requer dos profissionais de saúde a compreensão de fatores determinantes e condicionantes que pressupõem e envolvem a existência de outros seres a configurarem o mundo da vida, em suas relações nos planos físico e etéreo. Considera-se que nesse contexto o conceito de responsabilidade a partir da alteridade em Emmanuel Lévinas inspire a construção de relacionamentos entre profissionais e usuários indígenas que promovam e ratifiquem o princípio da igualdade-equidade no SUS. Objetivo: propor a partir do conceito de responsabilidade em Lévinas possíveis reajustes nos processos do cuidado em saúde indígena, para a promoção da equidade. Métodos: pesquisa de campo, de natureza qualitativa, do tipo descritivo-exploratório e metodologia fenomenológica. Resultados-Impactos: busca-se a proposição do cuidado em saúde indígena além da perspectiva biomédica, que considere a alteridade e o contexto social-cultural como elementos configuradores das práticas de cuidado, de forma a atender às necessidades e especificidades dos usuários, promovendo a equidade e a integralidade. Nas práticas de cuidado em saúde indígena, indivíduo e coletividade consideram e estabelecem relações com os seres da natureza nos planos físico e etéreo que influenciam suas vidas e o meio que os cercam. A preservação do equilíbrio e da harmonia dessas relações, por conseguinte da qualidade de vida e saúde, resultam da existência e da presença de outros no mundo da vida. Na perspectiva levinasiana tal preservação vem da responsabilidade por tudo e por todos, evocada na simples presença daqueles Outros no coletivo e de cada ser individualmente. Do mesmo modo, os processos do cuidado elaborados e implementados por profissionais de saúde em ambientes de plurietnicidade e multiculturalidade indígenas não devem prescindir de considerar os distintos modos de ser e de existir desses Outros, os quais suscitam a responsabilidade já a partir das suas presenças e do diálogo mudo estabelecido nos primeiros instantes dos encontros face-a-face naqueles processos. Considerações finais: a filosofia de Lévinas oferece suporte para possíveis reajustes do cuidado em contextos indígenas, porque ao conceber a responsabilidade a partir da presença e da diversidade do Outro, concebe, em decorrência, a responsabilidade irrecusável do profissional quanto a uma prática de cuidado singular, muito além de um mero fazer racional, sistematizado e de pronta aplicabilidade. Do mesmo modo que pressupõe interação e dialogicidade no encontro face-a-face, denota o estabelecimento de uma parceria em função da responsabilidade evocada pela presença de ambos, cuidador e ser cuidado, na construção do próprio cuidado. Para a prática do enfermeiro em especial, ratifica o caráter humano, holístico e qualificador de seu fazer profissional.

2171 Aproximar-se para dialogar: uma intervenção psicossocial junto aos imigrantes indígenas Warao na cidade de Manaus
JESSICA CUNHA DA SILVA, ADRIANA ROSMANINHO CALDEIRA DE OLIVEIRA

Aproximar-se para dialogar: uma intervenção psicossocial junto aos imigrantes indígenas Warao na cidade de Manaus

Autores: JESSICA CUNHA DA SILVA, ADRIANA ROSMANINHO CALDEIRA DE OLIVEIRA

A imigração de determinados grupos étnicos é algo que tem se tornado cada vez mais presente em nossa sociedade, que vai desde o contexto mundial e chega até bem próximo de nós, podendo ser visto, notado, até mesmo tocado, de tão presente que se faz em nosso meio. Os fatores que causam esse processo imigratório são diversos. Na passagem do ano de 2015 para 2016, um grupo de venezuelanos imigrou para o Brasil, em especial para o Estado de Roraima e para a cidade de Manaus, no Amazonas. Dentro desse grupo de imigrantes venezuelanos encontra-se o povo indígena Warao, que é caracterizado também pela sua frequente mobilidade dentro do seu próprio país, determinadas tanto por questões culturais próprias, como por agentes externos. Antes de essa população imigrar para Roraima e Manaus, não se tinha informações sobre a sua existência, e como esse processo imigratório é recente, ainda há pouco conhecimento sobre essa comunidade indígena, o que tem colaborado para especulações equivocadas sobre eles por parte da comunidade local. Além disso, é possível perceber que essa população não tem sido assistida pelo Estado, e tem vivido em condições sub-humanas. Desse modo, a psicologia como ciência que visa à promoção e reabilitação em saúde, precisa necessariamente se inserir nesse espaço, buscando, também, a efetivação dos direitos humanos. Nesse sentido, o presente trabalho tem o objetivo de fomentar a aproximação entre o corpo docente e discente do Curso de Psicologia da Universidade Federal do Amazonas – UFAM e a população indígena Warao para promover encontros e diálogos que possam possibilitar um espaço de aprendizado e reflexão sobre a história e o universo cultural desses indígenas, para que seja possível, além de incentivar a valorização da sua cultura, desenvolver, juntamente com eles, ações estratégicas voltadas para a promoção de saúde e cidadania, uma vez que as políticas públicas da cidade de Manaus não tem incluído, até o presente momento, essa população em suas ações. Esses encontros e diálogos entre docentes, discente da UFAM e Waraos tem a intenção, também, de mostrar para a comunidade local e para a sociedade, o conhecimento adquirido sobre esses indígenas, visando, assim, diminuir o preconceito social. Assim, este trabalho se insere no Eixo 2 – Trabalho, pois trata de sujeitos e singularidades na construção do cuidado em saúde. Para o alcance desses objetivos propõe-se como técnica a execução de rodas de conversa semanais, durante seis encontros, com os grupos propostos acima, tendo cerca de quinze indígenas Warao, um docente e cinco discentes. Essas rodas de conversas podem ocorrer em um espaço aberto, até mesmo embaixo das árvores, na UFAM, ou em um local indicado pelos indígenas. A motivação para este projeto de intervenção surge da necessidade de incentivar a produção de pesquisas sobre imigração indígena e saúde mental, visto que há pouco estudo nessa área. Por fim, espera-se com esta intervenção possibilitar um espaço de trocas, intercâmbio de experiências, saberes, opiniões, afetos, sentimentos, emoções, que possibilite uma aproximação que gere, antes de tudo, empatia e um espaço de construção de conhecimento.  

2641 RELATO DE EXPERIÊNCIA SOBRE AÇÃO EM SAÚDE NA COMUNIDADE INDÍGENA TABALASCADA
Daniele Caséca Ruffo, Ákilla Caroline Nascimento Pereira, Camila Stein, Fabianna Fabíola Néri Teixeira, Rosa Maria De Oliveira Galvão Da Costa

RELATO DE EXPERIÊNCIA SOBRE AÇÃO EM SAÚDE NA COMUNIDADE INDÍGENA TABALASCADA

Autores: Daniele Caséca Ruffo, Ákilla Caroline Nascimento Pereira, Camila Stein, Fabianna Fabíola Néri Teixeira, Rosa Maria De Oliveira Galvão Da Costa

Apresentação: Este resumo visa detalhar a visita à comunidade de Tabalascada, no estado de Roraima, realizada no dia 5 de outubro por 21 voluntários, alunos da Universidade Federal de Roraima e filiados à IFMSA BRAZIL (Federação Internacional das Associações de Estudantes de Medicina do Brasil). Os objetivos foram aproximar os estudantes de medicina à realidade vivenciada por comunidades indígenas e levar educação em saúde para essa população. Os alunos desenvolveram atividades integrativas, como palestras com crianças e adultos, quiz e atividades lúdicas com crianças, nas quais os participantes foram instigados a expor suas dúvidas e compartilhar seus conhecimentos e até relatos pessoais sobre o assunto. A aplicação de um questionário posterior de avaliação de impacto revelou que a ação foi de grande importância na formação humanizada de futuros profissionais e na educação em saúde preventiva da população.  Desenvolvimento: Os povos indígenas são parte importante da identidade histórica e cultural do Brasil, existindo cerca de 897 mil indígenas espalhados por todo território nacional e distribuídos em cerca de 300 grupos étnicos que falam mais de 200 línguas e possuem sistemas políticos diferentes. No norte do país, os dados demográficos desta população são bastante expressivos: cerca de 342 mil indígenas estão concentrados nessa região. Destes, 47.976 residem em Roraima, sendo a unidade federativa  detentora da maior população relativa desta etnia: 11 mil indivíduos autodeclaram-se indígenas no estado. Apesar da importância, este tema ainda é um desafio a ser vencido sob vários aspectos, tanto pelas carências estruturais enfrentadas por essa população, quanto pela falta de estímulo dos profissionais em permanecer nessa área ou até mesmo iniciar o trabalho, fazendo com que alguns problemas básicos ainda persistam, como falta de saneamento básico e assistência à saúde. Ademais há uma falha curricular importante nas escolas de medicina do país, que já foi reconhecida pelo CFM no I seminário sobre saúde indígena que ocorreu no primeiro semestre de 2017. Essa falha é ainda mais prejudicial nas universidades nortistas, em especial na UFRR, por ser de um estado com população indígena tão presente. Devido essas razões, foi idealizada uma ação na comunidade Tabalascada, no município roraimense Cantá. Os voluntários foram escolhidos por formulário, avaliando disponibilidade e motivação. Houve dois encontros para capacitação dos estudantes selecionados, conduzidos por profissionais da área. Em referência ao outubro rosa, foram abordados o câncer de mama e de colo do útero, ambos muito prevalentes em Roraima. Também foi realizada uma capacitação em saúde da criança, sobre puericultura, prevenção de verminoses e incentivo de bons hábitos de higiene e alimentação saudável. Para a realização das atividades, os alunos foram divididos em grupos menores. Um dos grupos ficou responsável pelo auxílio da triagem e atendimento ambulatorial, auxiliando na aferição de pressão arterial, verificação do índice de massa corpórea e organização de prontuários. Outros estudantes acompanharam atendimentos ambulatoriais, tendo a oportunidade de ajudar no exame físico, encaminhamentos e formulação de hipóteses diagnósticas. Assim, os acadêmicos puderam adquirir conhecimentos sobre relação intercultural, principais afecções que afetam aquela comunidade e noções semiológicas importantes para a atuação em unidades básicas de saúde. As mulheres atendidas no posto de saúde da comunidade e as professoras da escola local tiveram uma palestra com outro conjunto de estudantes sobre Câncer de mama e de colo do útero. Foram abordados assuntos como fatores de risco, preventivo, autoexame das mamas e sinais de alarme. Logo após foi feito uma dinâmica em forma de 'quiz' sobre o assunto abordado. Isto permitiu verificar o quão eficiente foi a transmissão das informações e corrigir falhas de comunicação. Um último grupo de alunos ficou responsável por realizar uma conversa informal sobre parasitoses intestinais, higiene pessoal e hábitos de saudável, bem como foi proporcionar um momento de recreação por meio de pintura, música e brincadeiras. As crianças ensinaram canções infantis na língua Macuxi para os voluntários e foi oferecido como lanche um mingau de macaxeira, comida típica da comunidade. Essas atitudes simples revelam a forte tradição deste povo e tiveram grande impacto sobre os alunos participantes. Resultados e/ou impactos: Questionários foram aplicados aos voluntários após a ação. Analisando os resultados obtidos sobre a importância da ação na formação médica dos participantes, pode-se concluir que grande parte dos alunos (75%) ampliou sua visão a respeito do impacto que o contato precoce com a realidade na qual o grupo foi inserido tem sobre sua construção profissional. Além disso, o “quiz“ revelou que as pacientes não tinham ampla informação sobre o tema, mas que essa falha conseguiu ser corrigida por meio da palestra. Considerações finais: O Projeto Saúde Indígena teve como objetivos promover uma aproximação dos alunos com essa realidade, possibilitar melhorias para a comunidade visitada, através de ações educativas. Além disso, promoveu difusão de conhecimentos para a população, permitindo uma maior conscientização sobre os temas abordados e possibilitou trocas culturais importantes entre moradores da comunidade e visitantes. Verifica-se a necessidade de melhorias nas condições de assistência médica aos povos indígenas, o que pode ser alcançado por meio de melhorias na estrutura física, ações de saúde e prevenção, levando em consideração os aspectos culturais e locais e ampliação da atenção. Os desafios em área indígena são muitos, como aspectos geográficos, linguísticos e culturais. Essa realidade reforça a importância de ações que foquem em componentes educativos, a fim de disseminar conhecimento científico transmitido de acordo com o entendimento popular, e, concomitantemente, possibilite trocas de experiências culturais, devido sua importância para a formação profissional e na construção de valores. Dessa forma, a ação foi muito importante para enriquecimento cultural e profissional dos estudantes que participaram. Regiões como a Comunidade Tabalascada, próximas à cidade, mas com uma cultura e tradição diferentes, são áreas que precisam de um olhar peculiar, atentando para as necessidades locais e buscando-se levar a promoção de saúde de forma direcionada. Ademais, ressalta-se que é uma oportunidade de conhecer novas línguas e novos costumes, promovendo interação entre a população e os voluntários e maior preparo para futura atuação nos serviços de saúde, uma vez que a formação médica não consiste apenas de literaturas e ensino, mas também de vivências e habilidades que só poderão ser exercitadas a partir do contato com a realidade vivenciada pelos pacientes.

2720 Estudo reflexivo sobre as taxas de doenças diarreicas em crianças Munduruku no estado do Amazonas, Brasil.
Andrew Georg Wischneski, Bahiyyeh Ahmadpour, Daniel Scopel, Raquel Paiva Dias-Scopel Paiva Dias-Scopel, Luigi Bruno Peruzo Iacono

Estudo reflexivo sobre as taxas de doenças diarreicas em crianças Munduruku no estado do Amazonas, Brasil.

Autores: Andrew Georg Wischneski, Bahiyyeh Ahmadpour, Daniel Scopel, Raquel Paiva Dias-Scopel Paiva Dias-Scopel, Luigi Bruno Peruzo Iacono

Apresentação: As doenças diarreicas caracterizam-se pela eliminação abrupta de fezes de conteúdo líquido acima do habitual, podendo ter aumento da frequência de evacuações. A etiologia desta doença, em sua maioria, é infecciosa. Quando a diarreia ocorre no período de até 14 dias, pode ser classificada como aguda e denominada, como também, infecção intestinal, diarreia aguda infecciosa e gastroenterite. Tal enfermidade, trata-se de uma problemática de distribuição universal, de evolução potencialmente autolimitante e necessita de terapêutica específica para seu controle. Apesar da comunidade científica, nas últimas quatro décadas, ter chegado num consenso sobre quais são as medidas mais efetivas para reduzir a incidência e a morbiletalidade, ainda é considerada uma das principais causas de mortalidade em crianças nos países em desenvolvimento ou locais onde a pobreza predomina. A elevada ocorrência de diarreia nas populações pobres está diretamente associada às precárias condições de saneamento básico, higiene ambiental e pessoal, visto que a via de transmissão dos enteropatógenos é fecal-oral. Um cenário comum a grande maioria das aldeias indígenas no Brasil são as condições ambientais favoráveis à transmissão de parasitas e microrganismos veiculados pela água e alimentos contaminados, como helmintos e protozoários intestinais, enterobactérias e rotavírus. Ademais, onde há grande deficiência de infraestrutura adequada para moradias, nas crianças, além da via fecal-oral, outras formas de transmissão são também comuns, tais como andar descalço, contato com solo e com extratos subungueais contaminados. As políticas públicas de saúde voltadas aos povos indígenas no Brasil reconhecem que os indígenas articulam saberes relativos à saúde e doença, apontando a estreita relação entre estes saberes e a dimensão sociocultural e geográfica de cada povo e a relevância destes saberes no enfrentamento das enfermidades cotidianas, entretanto, as políticas de estado operam reproduzindo uma imagem caricatural e estereotipada do que identificam como medicina indígena. Este trabalho objetiva descrever os dados de morbidade das doenças diarreicas agudas em crianças indígenas da etnia Munduruku no estado do Amazonas e refletir sobre as condições sanitária que levam a esses números. Desenvolvimento do trabalho: Trata-se de um estudo teórico-reflexivo, construído com base na análise crítica da Incidência de doenças diarreicas em crianças Munduruku no estado do Amazonas, Brasil, e em estudos científicos, que referenciam a configuração atual da saúde dos povos indígenas no Brasil. Essa construção teórica aproxima-se da abordagem qualitativa, tendo em vista a interpretação e a análise dos elementos teóricos obtidos por meio do levantamento bibliográfico realizado. Para o alcance dos objetivos propostos foram realizados os levantamentos de dados secundários através do Sistema de Informação da Atenção à Saúde Indígena (SIASI), disponibilizados eletronicamente pelos dados disponíveis no Distrito Especial Indígena (DSEI) de Manaus, os quais contemplaram os casos de morbidade de diarreias em crianças entre 0 a 10 anos de idade da etnia Munduruku da Terra Indígena (TI) Kwatá. As variáveis analisadas contemplaram: idade, sexo, mês e ano de ocorrência (da doença), faixa etária (menor de 1, 1 a 4 anos e 5 a 9 anos) e aldeia indígena proveniente. Todas as varáveis contemplaram crianças da etnia Munduruku. A análise descritiva dos dados foi realizada mediante a geração de frequências relativas e absolutas. A entrada de dados realizou-se através do aplicativo Microsoft Excel 2010 e com o auxílio do software SPSS 22.0. A análise teórico-reflexiva deu-se através dos apontamentos do I Inquérito Nacional de Saúde e Nutrição Indígena e estudos recentes das condições socioambientais que se fazem relevantes ao perfil epidemiológico de grupos e subgrupos sociais específicos, como as populações indígenas. Este estudo, está vinculado ao projeto de pesquisa intitulado “Saneamento em áreas indígenas a partir de uma perspectiva antropológica” do Programa de Desenvolvimento Científico Regional – DCR/AM, edital n. 024/2013 (CAAE: 52217215.5.0000.5020) e ao projeto de pesquisa intitulado “Morbimortalidade por doenças diarreicas em crianças Munduruku no estado do Amazonas, Brasil.” do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica – PIBIC/UFAM (CAAE:69378317.5.0000.5020). Resultados e/ou impactos: A maior incidência de casos de diarreia concentra-se na faixa etária de 0 a 5 anos. Nos anos analisados, as crianças entre 0-1 ano apresentaram 125 casos (11,8%) e aquelas entre 1-5 anos 620 casos (58,5%). Portanto, mais da metade dos casos de diarreia em crianças estão concentrados nas <5 anos. A média anual de casos na população estudada é de 262, acometendo 43,2% das crianças até 10 de idade. Crianças de até 5 anos de idade corresponderam à 33,6% de todos os atendimento realizados por diarreia anualmente, sendo que, em 2013, chegou 45,7% e, em 2015, 28,3%, respectivamente os anos de maior e menor frequência. Esses dados estão em confluência com os apresentados no I Inquérito Nacional de Saúde e Nutrição Indígena, onde, além de mostrar a criança indígena em posição de larga desvantagem quando comparada à criança brasileira não indígena, relata que a prevalência de internações por diarreia chega à 37,2%, ao ano, para mesma faixa etária e a incidência semanal chega à 23,6%. Os episódios repetidos de diarreia também colocam as crianças em maior risco de piorar o estado nutricional devido à diminuição da ingestão de alimentos e redução da absorção de nutrientes, combinada com o aumento dos requisitos nutricionais da criança durante os episódios repetidos, assim como aumenta a incidência de desnutrição. A maioria dos agentes patogênicos que causam diarréia compartilha um modo de transmissão, fecal-oral. Assim, as altas taxas encontradas justificam-se ao verificar que na Região Norte, apenas 0,6% dos domicílios indígenas possui instalação sanitária dentro de casa, as aldeias indígenas praticamente não dispõem de infraestrutura sanitária e a origem da água utilizada para beber vem de fontes locais, sem indicação de qualquer tratamento prévio. Os indígenas utilizam os igarapés para banhos. Neste mesmo local, também fazem suas necessidades fisiológicas, assim como em áreas peri-domiciliar, roças e rios. Quanto aos resíduos sólidos, não há coleta, por conseguinte fazem uso de queimada e enterramento para seu fim, porém não é raro encontrá-los dispersos no meio ambiente de forma irregular. Lavar as mãos com o sabão é uma barreira importante para a transmissão dos patógenos e foi citada pela Organização Mundial de Saúde como uma das intervenções de saúde pública de maior custo-benefício, reduzindo a incidência de doenças diarreicas em mais de 40%. Porém, é necessário um entendimento da dimensão sociocultural e geográfica de cada povo para inserção de novos hábitos. Este trabalho pode contribuir para o planejamento das ações e serviços para a Equipe Multidisciplinar de Saúde Indígena, além disso traz subsídios adicionais para o conhecimento das condições e das demandas de saúde das populações indígenas. Considerações finais: As análises deste estudo não somente confirmam o perfil de precárias condições de infraestrutura de saneamento básico das aldeias indígenas, causa determinante dessa problemática, como traz um alerta pois as doenças diarreicas em crianças têm como principal consequência a desnutrição infantil, a qual, em casos mais graves, pode levar a mortalidade. Como também aponta a necessidade de entendimento das características socioculturais e geográficas dos povos indígenas para implementar ações de melhora das condições sanitárias das aldeias e a necessidade de ações de que promovam o intercâmbio entre os saberes tradicionais e científicos interrompendo o ciclo de contaminação.

2940 Aspectos socioambientais da Terra Indígena Kwatá e morbimortalidade por doenças diarreicas em idosos Munduruku no estado do Amazonas, Brasil.
Andrew Georg Wischneski, Bahiyyeh Ahmadpour, Luigi Bruno Peruzo Iacono, Daniel Scopel, Raquel Paiva Dias-Scopel

Aspectos socioambientais da Terra Indígena Kwatá e morbimortalidade por doenças diarreicas em idosos Munduruku no estado do Amazonas, Brasil.

Autores: Andrew Georg Wischneski, Bahiyyeh Ahmadpour, Luigi Bruno Peruzo Iacono, Daniel Scopel, Raquel Paiva Dias-Scopel

Apresentação No âmbito da saúde, uma das condições médicas mais impactantes no que se refere a fatores nutricionais e qualidade de vida em populações jovens e idosas é a diarreia. Nesse intuito e diante da carência de estudos relacionados ao tema, é muito valoroso realizar um trabalho que se atenha a essas populações específicas, em especial a geriátrica e, no cenário amazonense, a população indígena. Ao abordar a população geronte, tem-se que a diarreia possui uma incidência muito mais significativa do que indivíduos mais jovens e saudáveis, salvo em crianças, visto que os fatores de risco para a ocorrência de doenças diarreicas se exacerbam em grupos mais vulneráveis, em função de fatores como imunossupressão, presença de doenças crônicas (principalmente do trato gastrointestinal), alterações na motilidade gastrointestinal, intolerâncias e uso de drogas para o tratamento de outras comorbidades. Os fatores relacionados ao desenvolvimento das doenças diarreicas geram, portanto, um aumento na morbidade na faixa etária idosa e um impacto relevante na saúde, o que remete à necessidade de um controle de doenças mais centrado nesses indivíduos, pois a população geriátrica apresenta vulnerabilidade e necessita de uma atenção à saúde capaz de lidar com suas peculiaridades. Sob esse prisma, a população idosa indígena, além de apresentar a susceptibilidade vista acima, pode ter o agravante de possuir más condições de saneamento e moradia nas aldeias, bem como uma maior exposição a parasitas do trato gastrointestinal - os maiores responsáveis pelos quadros diarreicos relacionados à regiões desprovidas de saneamento- devido a sua organização sociocultural e geográfica. O presente estudo visa investigar a distribuição da incidência de doenças diarreicas na população idosa da etnia Munduruku e discutir a relação desse indicador com as populações não indígenas e as condições sanitárias do local onde vivem. Desenvolvimento do trabalho Estudo epidemiológico descritivo sobre morbidades por doenças diarreicas agudas em idosos da etnia Munduruku, no município de Borba, estado do Amazonas, no período entre janeiro de 2015 e dezembro de 2016. O trabalho abrange as aldeias (Apuí, Aru, As Cobras, Cafezal, Caioé, Cajoal, Empresinha, Fronteira, Jutaí/Malocão, Juvenal, Kwatá, Makambira, Mamoal, Niterói, Pajurá, Parawá, Santo Antônio, São Domingos, Sauru e Tartaruguinha) que contemplam a Terra Indígena (TI) Kwatá. Para chegar aos objetivos propostos, levantou-se dados secundários através do Sistema de Informação da Atenção à Saúde Indígena (SIASI), disponibilizados eletronicamente pelos dados disponíveis no Distrito Especial Indígena (DSEI) de Manaus, os quais consideraram os casos de morbidade de diarreias na população geriátrica da etnia Munduruku. Para ter acesso ao SIASI, foi solicitado ao DSEI-Manaus, o termo de anuência para a permissão da coleta de dados. Um dos maiores problemas encontrados na obtenção de dados sobre morbidade em indígenas foi a falta de um mapa com a compilação desses dados. Os registros fornecidos encontravam-se nominais e não era possível a seleção dos casos por faixa etária. Para isso, foi necessário buscar no registro populacional, mapa demográfico, a idade dos indivíduos que constavam nas tabelas, bem como sexo, etnia e data de nascimento. As variáveis analisadas foram: idade, sexo, mês e ano de ocorrência da doença, faixa etária (indivíduos maiores de 60 anos) e aldeia indígena proveniente. Todas as varáveis contemplaram indígenas da etnia Munduruku. A análise descritiva dos dados foi realizada mediante a geração de frequências relativas e absolutas. A entrada de dados realizou-se através do aplicativo Microsoft Excel 2010. Este estudo, está vinculado ao projeto de pesquisa intitulado “Saneamento em áreas indígenas a partir de uma perspectiva antropológica” do Programa de Desenvolvimento Científico Regional – DCR/AM, edital n. 024/2013, coordenado pelo Dr. Daniel Scopel (CAAE: 52217215.5.0000.5020) e ao projeto de pesquisa intitulado “Morbimortalidade por doenças diarreicas em crianças Munduruku no estado do Amazonas, Brasil.” do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica – PIBIC/UFAM, coordenado pela Prof. Msc. Bahiyyeh Ahmadpour (CAAE: 69378317.5.0000.5020). Os bancos de dados provenientes do SIASI, são de domínio público, sem identidade de registros. O estudo respeitou a Resolução do Conselho Nacional de Saúde (CNS), n o 466 de 12 de dezembro de 2012 e 304/2000 para pesquisas envolvendo comunidades indígenas. Resultados e/ou impactos Com base na análise dos dados obtidos sobre os estudos apresentados pôde-se identificar que a diarreia na população idosa (maior de 60 anos) correspondeu a 7,32% dos casos de diarreia em 2015 e 8,51% em 2016. A faixa etária com maior prevalência na população idosa analisada foi na população maior de 80 anos, onde observou-se que em 2015 essa população representou 3,88% do total dos casos de diarreia e em 2016 um montante de 3,98%. Em relação à distribuição por sexo, observou-se que a população idosa do sexo feminino no ano de 2015 correspondeu a 40,8% dos casos e no sexo masculino 59,2%. Já no ano de 2016, houve uma prevalência de diarreia em 42,5% dos idosos do sexo feminino e 57,5% do sexo masculino. Observou-se na literatura relacionada a doenças diarreicas, considerável relação dessas doenças com a mortalidade em idosos. Um estudo que abordou vários indicadores de saúde em idosos mostrou que a diarreia aguda juntamente a outros fatores de risco, como desnutrição, perda de peso e desidratação, contribuem a uma elevada taxa de mortalidade na população idosa – o que demonstra a gravidade dos quadros diarreicos mesmo em uma população com acompanhamento institucional, no entanto, em locais sem assistência médica, o quadro é extensivamente mais grave. Nesse viés, ainda, demonstrou uma prevalência de 10 a 38% de idosos com diarreia entre os anos de 2012 a 2015, uma frequência cerca de quatro vezes maior que a deste trabalho. No entanto, apesar da correlação com o aumento da mortalidade, no presente estudo não se encontrou registros de óbitos por diarreia no período analisado. Outro trabalho aponta que em determinadas instituições de longa permanência de idosos as doenças diarreicas transmitidas pela água e alimentos tiveram um significativo aumento na incidência, o que demonstra a relevância das condições de saneamento para a ocorrência de diarreia. Um outro estudo apresentou uma incidência de 4,6% de diarreia em idosos em área urbana, o que representa cerca de metade do valor obtido neste estudo. Por fim, apesar das condições de saneamento precárias nas aldeias, observa-se menor incidência de diarreia quando comparado aos idosos institucionalizados. Porém, o comparativo com os de áreas urbanas, mostra quase o dobro da incidência. Considerações finais A análise de dados desse estudo permitiu identificar que o perfil epidemiológico da população indígena e suas condições de saneamento estão diretamente relacionados à ocorrência da diarreia, em especial na população idosa, que representa quase 10% dos casos segundo os dados de 2015 e 2016. Nesse intuito, ao se comparar a população observada com a população não indígena, tem-se que a diarreia apresenta um elevado índice de morbidade em ambas as populações e os fatores causais são semelhantes, pois as doenças diarreicas se relacionam com as necessidades básicas de alimentação e saneamento. Por fim, pode-se inferir a necessidade da aplicação de medidas que visem à prevenção e controle da diarreia, visto que sua incidência não é peculiar de uma população. Ademais, aponta-se a necessidade de aperfeiçoar o registro de ocorrências de diarreia nas comunidades indígenas, para que esses dados estejam concatenados e acessíveis aos gestores de saúde.

2951 MODOS ALTERNATIVOS DE SE PROMOVER SAÚDE COM INDÍGENAS VENEZUELANOS REFUGIADOS EM BELÉM DO PARÁ
ISABELA RAMOS SILVA

MODOS ALTERNATIVOS DE SE PROMOVER SAÚDE COM INDÍGENAS VENEZUELANOS REFUGIADOS EM BELÉM DO PARÁ

Autores: ISABELA RAMOS SILVA

A partir de uma experiência de assistência voluntária com os indígenas venezuelanos da etnia Warao, este trabalho busca compreender a elaboração de alternativas paralelas de promoção da saúde básica, que possam auxiliar indígenas em contexto de vulnerabilidade social e de saúde, enquanto soluções, diante de situações emergenciais, não são efetivadas por órgãos públicos. Sabe-se que Belém do Pará tem se tornado uma rota cada vez mais procurada pelos indígenas venezuelanos, em um cenário onde se verifica uma flagrante discrepância entre os números de novos refugiados na região, a parca quantidade de abrigos e a inexistência de políticas públicas do Estado para indígenas refugiados. Por isso, se procura enfatizar, o caráter múltiplo dos indígenas, mas, principalmente, a dupla complexidade na qual estão inseridos e nas quais tropeçam os profissionais da saúde, que é o contraste entre culturas e línguas e a ocupação de indígenas, que antes viviam em locais com particularidades específicas, e que hoje ocupam os centros urbanos da capital paraense. Para isso, se evidencia a importância do lugar da escuta na construção de uma trilha aberta em direção aos diálogos com os indígenas, para que a gênese da compreensão se dê a partir do outro e para o outro. É onde a ética pode ser exercida, em um lugar de consonância com as urgências do outro. O presente artigo baseou-se na vivência, junto com os Warao, da prestação de assistência humanitária voluntária, a partir da formação de uma equipe de auxilio, chamada União e Solidariedade, promovida por um grupo de paraenses interessados a serem proativos na causa, já que o próprio Estado não possui políticas públicas para refugiados; o que juntamente com a falta de compromisso e de capital, embargaram todas as possíveis medidas de proteção a esses indígenas. Sendo confrontados pelos impactos da experiência, se verifica a necessidade de agrupamentos e coletivos que somem forças paralelas, já que os próprios órgãos mantidos e criados pelo governo são levianos e falhos em suas atuações. E dentro da adversidade e da dificuldade, se encontrar uma conjunção transformadora, que seja provocada pela intersecção de fatores, como diligência, criatividade na assistência a saúde diante da escassez de recursos, de escuta apurada e o desejo de se desenvolver a atividade. Há sempre um caminho por onde se contornar que desague na felicidade de se fazer o bem.

5026 CUIDADO DE ENFERMAGEM MEDIADO PELA COMUNICAÇÃO INTERCULTURAL: UM RELATO ACADÊMICO
Thais Moreira Gomes, Brenda Sampaio de Souza, Berenice dos Santos Cavalcante, Gabriella Martins Soares, Nayara da Costa de Souza, Sarah Regina Aloise, Esron Soares C Rocha

CUIDADO DE ENFERMAGEM MEDIADO PELA COMUNICAÇÃO INTERCULTURAL: UM RELATO ACADÊMICO

Autores: Thais Moreira Gomes, Brenda Sampaio de Souza, Berenice dos Santos Cavalcante, Gabriella Martins Soares, Nayara da Costa de Souza, Sarah Regina Aloise, Esron Soares C Rocha

INTRODUÇÃO: No atual contexto do Sistema Único de Saúde brasileiro, os povos indígenas dispõem de um Subsistema de atenção à saúde, regulamentado pela Lei nº 9.836/99. O subsistema tem como objetivo de fornecer acesso aos serviços de saúde de forma integrada, de acordo com os princípios do Sistema Único de Saúde (SUS), considerando a diversidade cultural. A população indígena no Amazonas é muito elevada, chegando a regiões como no Distrito Sanitário Especial Indígena – DSEI do Alto Rio Negro, onde mais da metade da população constitui-se de indígenas, o que nos faz refletir sobre as especificidades desse povo e de como devemos atuar frente os problemas e agravos à saúde dessa população. Isso implicaria em incorporar, no âmbito das ações de saúde, a capacidade de compreender e agir de acordo com as especificidades culturais da população; viabilizar formas de melhoria do acesso equitativo aos serviços de saúde e da qualidade da atenção; gerar impactos sobre os indicadores de saúde; oferecer informações epidemiológicas específicas em relação à saúde das populações indígenas; e propor estratégias de intervenção adequadas às realidades socioculturais. A equipe de enfermagem está envolvida nesse processo do cuidado às populações indígenas. Como tal, é necessário estar inserida nas discussões e amadurecimento de suas práticas, com vistas a atender a política definida em nosso Sistema de Saúde. Assim, as Instituições de Ensino Superior que atuam no Amazonas, necessitam ampliar discussões sobre a formação dos enfermeiros, no que se referem os problemas emergentes das práticas dos profissionais em área indígena, bem como, o processo de formação, sem perder de vista a necessidade da produção de conhecimento da enfermagem no campo da saúde indígena. OBJETIVO: relatar a vivência acadêmica no cuidado de enfermagem ao paciente da etnia Korubo na CASAI (Casa de Saúde Indígena) mediado pelo processo de comunicação intercultural. DESENVOLVIMENTO: A experiência ocorreu na CASAI localizada na AM 010, Km 25 no município de Manaus. A CASAI é parte integrante do Subsistema de atenção à Saúde Indígena. Tem por finalidade prestar apoio a pacientes indígenas referenciados pelos DSEIs aos serviços de média e alta complexidade na rede do SUS. As práticas assistências ofertadas no âmbito da CASAI contempla um rol de ações voltadas à saúde da mulher e da criança, saúde do adulto e saúde do idoso. Essas ofertas envolvem os serviços hospitalares e ambulatoriais da rede de saúde do Estado do Amazonas. Essa assistência é ofertada por uma equipe multidisciplinar composta por enfermeiros, médicos, técnicos de enfermagem e outros. A CASAI é uma instituição que acolhe indígenas com necessidade de saúde de várias etnias oriundas do interior do Amazonas e dos estados vizinhos como Roraima, Acre, etc. Durante a visita, realizada na CASAI os acadêmicos inicialmente conheceram diferentes setores (enfermarias, alojamentos, gerência, sala de curativos, entre outros), assim como o cotidiano dos serviços de saúde ali ofertados. Os alojamentos são divididos em etnia, por considerar os aspectos culturais que envolvem cada povo. Posteriormente, os pacientes indígenas que apresentava maior necessidade de atenção no seu quadro clínico foram distribuídos entre os acadêmicos. Eram observadas as necessidades humanas afetadas desses pacientes e na sequência elaborado um plano de cuidado. Percebeu-se também que cada cultura tem suas peculiaridades em relação ao aspecto saúde/doença. Essa atividade possibilitou a troca de saberes de estilo de vida, aspectos culturais e de saúde entre os usuários indígenas, familiares e os acadêmicos de enfermagem que ali se encontravam. RESULTADOS E IMPACTOS: Um olhar atento sobre a realidade da CASAI pode fornecer elementos importantes para o entendimento dos rumos da política de saúde indígena e da formação do enfermeiro (a) no contexto amazônico. Portanto, nesta parte do relato, propomos descrever nossas observações sobre o processo de comunicação entre usuários indígenas, familiares e profissionais de saúde na CASAI. Durante a anamnese /coleta de dados de enfermagem, destacamos três pontos essenciais para que a comunicação seja mutuamente eficaz na instituição de saúde, no qual envolvem questões culturais, interpessoais e assistenciais. Em relação às questões culturais, podemos destacar a dificuldade de compreensão das línguas indígenas por parte dos profissionais, bem como adequação aos seus costumes, sendo importante criar meios de facilitar a comunicação e compreensão. Um ponto importante observado foi à presença de uma técnica de enfermagem de origem indígena, no qual seus conhecimentos foram importantes para o estabelecimento de uma comunicação diretamente com uma família da etnia Korubo, pois a pouca interação entre o profissional e o paciente culmina em uma relação frágil e pouco concreta o que pode muitas vezes contribuir para uma assistência errada ou ineficaz, pois os pacientes deixam de expor os sintomas por timidez ou dificuldade de se expressarem. Os Korubos, conhecidos como “índios caceteiros”, são povos de recente contato com a sociedade nacional, a maior parte vive isolada por isso pouco se conhece dos seus costumes, tradições, interpretação do processo saúde versus doenças e suas práticas de cura e cuidados.  No entanto, sabe-se que nessa comunidade é comum a relação de casamento entre parentes consanguíneos, que gera maior probabilidade de complicações hereditárias, além da prática de infanticídio.  Durante a aula prática o nosso paciente era uma criança indígena da etnia Korubo, fruto de uma relação consanguínea, diagnosticada com ictiose e posteriormente com úlcera ocular.  Nesse caso os acadêmicos empedrados dos conteúdos teóricos discutidos em sala de aula, procuraram manter o respeito e compreender as crenças sem imposições visando sempre uma assistência de real qualidade e resolubilidade. Observou-se a forte relação interpessoal entre a enfermeira que cuida e oferece assistência à criança. Esse cuidado mais íntimo proporcionou a criação do afeto e carinho, na qual a enfermeira relatou que considera a criança que cuida há quase um ano como membro de sua família. Vê-se a importância dessa relação interpessoal quanto trata-se do binômio paciente-profissional, baseada na empatia que transpira confiança e respeito. Foi possível entender que as questões culturais exercem forte influência sobre as ações e pensamentos sobre a população. Já as questões que envolvem a comunicação assistencial, foi possível observar que a CASAI recebe para tratamento pacientes de várias etnias e muitas vezes essas questões culturais são expostas principalmente em relação ao diagnóstico obtido durante o tratamento interferindo diretamente na qualidade de vida dessa pessoa. Algumas etnias preferem se manter distantes de alguns quadros de saúde crônicos mais complexos devido exatamente a essas influências culturais.  Por isso é essencial nestas situações respeitar e compreender as crenças sem imposições e questionamentos, visando sempre uma assistência de saúde humanizada. CONSIDERAÇÕES FINAIS: Os acadêmicos não mediram esforços para prover os cuidados, ultrapassando barreiras culturais, geográficas, linguísticas e de comunicação. Porém, observou-se que a maior dificuldade foi no processo de comunicação com o indígena, visto que não somente entender seu dialeto foi o principal fator, mas também o modo de abordagem, ofertando cuidados e respeitando a cultura dos mesmos. Tendo em vista os aspectos observados, faz-se necessário uma qualificação mais aprofundada para os acadêmicos, para que seja, então, competente, em relação aos aspectos culturais, interpessoais e assistenciais, embasados em conhecimentos antropológicos, a fim de oferecer serviços efetivos respeitando a realidade dos indígenas.

5175 PRÁTICAS DE SAÚDE SEXUAL E REPRODUTIVA NA ETNIA XUKURU DO ORORUBÁ
Maria Rafaela Amorim de Araujo, Mariane Silva Tavares, Vânia Rocha Fialho de Paiva e Souza, Diana de Oliveira Bezerra

PRÁTICAS DE SAÚDE SEXUAL E REPRODUTIVA NA ETNIA XUKURU DO ORORUBÁ

Autores: Maria Rafaela Amorim de Araujo, Mariane Silva Tavares, Vânia Rocha Fialho de Paiva e Souza, Diana de Oliveira Bezerra

Este estudo teve como objetivo conhecer as práticas em saúde sexual e reprodutiva de mulheres da etnia Xukuru do Ororubá. Trata-se de uma pesquisa descritiva exploratória, com abordagem qualitativa, que se utiliza da Teoria Transcultural do Cuidado. Foram entrevistadas 18 mulheres indígenas, na Aldeia de Cimbres, terra Xukuru, localizada na Serra do Ororubá, município de Pesqueira – Pernambuco. Frequentemente ressalta-se a importância do feminino dentro dos povos indígenas, contudo, a relação entre homens e mulheres no que tange a padrões de comportamento e aos papéis atribuídos, deságua em uma relação de poder desfavorável para as mulheres. O acesso à saúde foi só o primeiro passo de um longo caminhar, que é ampliar o horizonte feminino para além da tarefa reprodutiva. O povo Xukuru do Ororubá, por ser um grupo em contato permanente com as pessoas não índias, encontra-se em uma situação sanitária e de saúde semelhante à população geral do agreste e sertão pernambucano. Mesmo assim possuem especificidades, a relação existente entre a sabedoria popular e as práticas de cuidado está diretamente ligada à utilização de plantas medicinais. Constatou-se que as mulheres Xukuru do Ororubá fazem uso regular da biomedicina e da medicina indígena simultaneamente, contudo, sem uma real articulação. As equipes de saúde são desafiadas a desenvolver a dinâmica da sensibilidade cultural e para a realização de uma enfermagem que esteja pautada numa abordagem transcultural, urge o redirecionamento das práticas em saúde da mulher.

5240 Territorializando Comunidades e famílias indígenas em Manaus através do método do georreferenciamento.
Paula Francineth froes da Silva d azevedo

Territorializando Comunidades e famílias indígenas em Manaus através do método do georreferenciamento.

Autores: Paula Francineth froes da Silva d azevedo

No ano de 2005 a Secretaria Municipal de Saúde – SEMSA passa a planejar e criar formas de atendimento às famílias indígenas residentes em Manaus na Rede da Atenção Básica. Nesse mesmo ano foi criado uma Ficha de Cadastro da Família Indígena, que foi utilizado até o ano 2013 pelos agentes de saúde na identificação das famílias. A Ficha de Cadastro da Família Indígena demonstrou a situação social e econômica dessas famílias localizadas nos cinco Distritos de Saúde de Manaus. O conhecimento situacional das famílias cadastradas possibilitou a elaboração de forma de atendimento por parte dos gestores distritais, mas este método de trabalho não os tirou da invisibilidade. Visando tornar visível a localização das famílias indígenas dentro dos territórios dos Distritos de Saúde, em 2014 entra na Programação Anual de Saúde – PAS, uma ação para realizar o georreferenciamento das Comunidades indígenas mais populosas das Unidades Básicas de Saúde da Família – UBSF. O objetivo do trabalho é construir o mapa da saúde indígena com informações da localização das residências, dos equipamentos de saúde que fazem parte do território mapeado.

5294 A saúde da população indígena Mura de Autazes-Amazonas: A perspectiva do cuidado cultural entre enfermeiras dos serviços.
Rizioléia Marina Pinheiro Pina, Vilanice Alves de Araújo Püschel, Sineide Santos de Souza

A saúde da população indígena Mura de Autazes-Amazonas: A perspectiva do cuidado cultural entre enfermeiras dos serviços.

Autores: Rizioléia Marina Pinheiro Pina, Vilanice Alves de Araújo Püschel, Sineide Santos de Souza

APRESENTAÇÃO: A pesquisa analisa em uma perspectiva etnográfica o cotidiano de cuidado de enfermeiras à população indígena Mura em um município do estado do Amazonas. O objetivo consiste em analisar a perspectiva das enfermeiras sobre o cuidado à saúde da população indígena Mura em um município no Amazonas. DESENVOLVIMENTO: Trata-se de um estudo etnográfico, realizado com dez enfermeiras que atuavam no cuidado à saúde da população indígena Mura, em cenários distintos, a saber, Hospital do município e nos Polos-Base das aldeias. O trabalho de campo foi realizado no período de agosto de 2015 a janeiro de 2016, os dados foram coletados por meio da observação participante, com anotação sistemática em diário de campo, e de entrevistas semi-estruturadas, seguindo um roteiro, com aspectos relacionados ao perfil das participantes e perguntas voltadas ao conhecimento sobre saúde indígena, experiência do cuidar do indígena e formação do enfermeiro para atuação em contexto intercultural. A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Escola de Enfermagem de São Paulo. A coleta e a análise de dados foram realizadas concomitantemente durante toda a realização do trabalho de campo, e posteriormente agregadas em temas, elaboradas com base nas observações de campo e nos dados das entrevistas, sendo discutidos segundo o referencial da antropologia da saúde, das Políticas de Saúde Indígena, dos conceitos de cuidar/cuidado em um sentido mais amplo no campo da Enfermagem e, em particular, na perspectiva do cuidado transcultural. RESULTADOS: Foram elencados seis temas que discorrem sobre os cuidados de enfermagem à saúde indígena, que estão relacionados às práticas de cuidado de enfermagem à etnia Mura. Como o contexto hospitalar e o cuidar do indígena; cuidados diferenciados e atenção diferenciada, aspectos culturais que envolvem o cuidado ao indígena: dificuldades e desafios para enfermeiras, fragilidades estruturais dos serviços relacionadas às ações de saúde junto à população indígena e fragilidades na formação do enfermeiro para atuação nesse contexto. CONSIDERAÇÕES FINAIS: Os resultados revelam a necessidade premente de mudanças estruturais no processo de trabalho e melhores condições para realização das ações de cuidados da enfermeira à população indígena; de formação continuada que contemple as especificidades culturais da população indígena; de ação interdisciplinar que promova o diálogo entre saúde, antropologia e cuidado transcultural para minimizar atitudes etnocêntricas dos profissionais de saúde à população assistida no contexto investigado. Recomenda-se fortemente que as Instituições de Ensino Superior em regiões geográficas com população indígena reorientem seus currículos para a formação do enfermeiro para atuar em contexto intercultural e com competências para prestar atenção diferenciada à população indígena.

5314 Escrevivência de afeta-ação ao escutar ritmos de (re)existência: quem tem medo das (os) Kaingang?
Carine Capra-Ramos, Larissa Barbosa Almeida

Escrevivência de afeta-ação ao escutar ritmos de (re)existência: quem tem medo das (os) Kaingang?

Autores: Carine Capra-Ramos, Larissa Barbosa Almeida

Apresentação O presente trabalho trata-se de uma escrevivência, advinda da inserção de duas residentes multiprofissionais na Aldeia Kaingang Por Fi Ga, situada em São Leopoldo, no Rio Grande do Sul (RS). Pontua-se que a escrevivência foi transpassada por afetos ambivalentes de enfrentamentos, medos, rupturas, (des)continuidades, reexistência, reinvenções e corpo-mente presentes no desafio de narrar-e-refletir sobre os itinerários, afetos e notas de desassossego produzidas nesta travessia, nas inconstantes águas da Saúde Mental Coletiva. A escrevivência objetiva, por meio da mediação de nossos  afetos, traduzir a experiência vivida em experiência representada, para que seja possível narrá-la, partilhá-la e promover furos na bolha da invisibilidade construída sobre bases sólidas, duras e frequentemente silenciadoras no que tange a escuta implicada ao bem viver dos povos indígenas que são diversos e singulares.   Desenvolvimento Adentrando em território indígena, compreendendo que o território vivo contempla além da topografia e geografia do local, os contatos com este universo simbólico nos apresentam questionamentos e desafios que ultrapassam a responsabilidade social de promover o respeito e exercer o dever de preservação de uma cultura ancestral. Estamos construindo uma relação com um corpo que se nutre pela possibilidade de existir mesmo que imersas em uma cultura baseada na busca lucrativa por resultados dizimadores. Ao adentrarmos esse território vivo, percebemos que o que nos guia é a hipótese de que o direito à existência nos está sendo apresentado enquanto ponto central das relações a serem estabelecidas, em uma cultura que insiste em (r)existir em um espaço-tempo próprios. Reconhecendo a diversidade como um valor e que há uma aparato discursivo que legitima o que é homogêneo no lugar de fala, almejamos compartilhar as sensações sentidas ao se afetar pela presença do outro, não falar por. Os nós que desejamos partilhar são testemunhos de fluxos de (des)afetos, os quais vivenciamos em uma tentativa de construir linhas de cuidado em saúde mental a uma comunidade indígena de etnia Kaingang na Região Sul do Brasil. O percurso foi trilhado por mulheres, atuantes no campo da saúde mental coletiva, habitantes de corpos sensíveis à afetação no contato com o som dos tambores. Ciclos iniciam-se, encerram-se e reiniciam-se, compasso rítmico inerente ao movimento vital. Como carregar a possibilidade de co-criação de um ambiente facilitador e promotor do movimento do ciclo, que respeite o ritmo que está sendo tocado por nós, mas também conosco? No Brasil, a agenda econômica encontra-se dissociada da agenda socioambiental. Em tempos de importantes litígios com grandes empreiteiras, mineradoras  e conflito por terras passíveis de exploração, nota-se que a mídia se faz presente majoritariamente enquanto reprodutora do discurso oficial, cujo viés é desenvolvimentista, coloniza-dor e excludente, (de)marcando os territórios existenciais dos povos originários, indígenas, kilombolas e riberinhos ora como “recursos” naturais passíveis de exploração e ora como espaços destituídos de subjetividade, de seres vivos, de vidas e de narrativas próprias. Ou seja, caminham lado a lado a postura oficial etnocida e ecocida. Como atravessar a bolha colonizadora que bloqueia o som dos tambores e tampona a possibilidade de exercício de escuta e promoção de ações de cuidado? Desejamos por meio dessa escrevivência, compartilhar algumas perguntas co-construídas artesanalmente a partir dos afetos, na/pela disponibilidade para o encontro. Que valores envolvem e implicam os cor-ações de quem se aquece ao indignar-se com a parcialidade produzida pela bolha? O medo seria a emoção que atravessa a bolha ou se acopla na superfície desta? Qual barulho silencia-a-dor? Que afetos o silêncio, enquanto velocidade da escuta, colore a pintura dos encontros transformadores de som silenciados para o som do silêncio que se transforma em dito audível possível de escuta? Qual caminho se pretende trilhar, após cinco séculos em que se construiu um modelo, cujo itinerário tem sido silenciando? Nem todo mundo ouve, lê, toca e vê o som da mesma maneira, o que possibilita uma polifonia de subjetividades, em contraposição a uma mono(tono)fonia estagnante. Disponíveis ao contato e fazendo uso dos afetos, percebemos os aromas que guiam o/ao encontro em/do território indígena. O território e o corpo e os corpos enquanto territórios. O direito e a vida, há 517 anos lutando pelo direito de existir. Como permitir-se guiar pelas percepções? Que lugar ocupa o encontro de vozes decoloniais aberto às diferenças? Escolhemos ser buscadoras de sentido nas brechas das ações públicas de saúde, reconhecendo a imersão em um sistema estatal coloniza-dor e racista. É possível que o mesmo agente violador de direitos fundamentais também promova cuidado? A contradição do movimento repara-dor de um etnocídio histórico pelo mesmo Estado viola-dor nos convida a uma constante análise de implica-ações. Precisamos co-criar um novo jeito de se relacionar com quem nos compartilha que a vida pode ser percebida por um outro espaço-tempo. Afetando-se pelo contato com outro, quem torna-se outro? Ao escutar dos tambores, nos tornamos outro? Que(m) é outro? O debate sobre as linhas de cuidado e desenhos tecnoassistenciais alcançam outro marcado por um universo simbólico singular? Nos interessa dialogar sobre as diretrizes indigenistas na sua forma de afeto, quais são os espaços de visibilizar outros dizimados pela matriz colonizadora? No nosso contato com a alteridade, estamos (re)produzindo relações de poder que subalterniza ou possibilita o protagonismo de formas de existência? Descolonializando a escuta andaremos por outros ritmos, disponíveis no momento em que fluímos em uma velocidade diferente. Nossa relação (cosmovisão, economia, política) foi construída baseada em outro tempo, muito rápido nos desencontramos e não sintonizamos. Então, pausamos. Por um corpo vibrátil que se afete na presença do/com outro. O caminhar junto tenciona os passos a se movimentarem em outra velocidade. Que sentidos o tempo em que se vai junto carrega? De mãos dadas é possível produzir batuques polifônicos ao orquestrar a vida. Percebemos esse trabalho como um dispositivo que possibilita o escutar de sons que vibram na velocidade do encontro dotado de historicidade, mas que se dá sempre no presente. Por uma (r)existência de um sistema/fluxo encontros centrado!   Considerações finais Por compreendermos que nossa éthica e prática profissional estão diretamente ligadas às necessidades e demandas da época em que vivemos, escrevivernciar é importante ferramenta que possibilita problematizar as matrizes geradoras de conhecimento hegemônicas e produtoras de saber e pensar como co-construir caminhos exitosos de mudanças. Ademais, documentar, possibilitar a escuta, a visibilidade e a problematização da relação dialética entre as narrativas autobiográficas e as condições sociohistóricas é romper com a compactuação de ações etnocidas e ecocidas de silenciamento. Por fim, é preciso ampliar a discussão sobre a importância do lugar geográfico enquanto um lugar político de existência, pois em uma sociedade marcada pela exclusão do dito diferente, o fazer saúde precisa estar conectado intersetorialmente e trabalhar em rede, se dialogar com os determinantes sociais de saúde e garantir que as políticas públicas cheguem aos que se encontram excluídos e destituídos de direito a existência, em decorrência de Políticas que demarcaram exatamente esse não-lugar. Ademais, o direito a existir tal como se é deve ser garantido e promotor de acesso a espaços coletivos, de representatividade, e de direito à afetividade, Kaingangs não são apenas um nome ou estatísticas. Posto isso, nós, a sociedade dita civil, iremos refletir sobre nossa co-responsabilidade e consentimento às violações diárias que acontecem em prol do desenvolvimento econômico, com financiamento do BNDS e dinheiro público?  

2611 FUNDAMENTOS PARA A LIMITAÇÃO DA JORNADA DE TRABALHO DOS PROFISSIONAIS DE ENFERMAGEM QUE ATUAM NO DISTRITO SANITÁRIO ESPECIAL INDÍGENA (DSEI) PARINTINS.
Reidevandro Machado da Silva Pimentel

FUNDAMENTOS PARA A LIMITAÇÃO DA JORNADA DE TRABALHO DOS PROFISSIONAIS DE ENFERMAGEM QUE ATUAM NO DISTRITO SANITÁRIO ESPECIAL INDÍGENA (DSEI) PARINTINS.

Autores: Reidevandro Machado da Silva Pimentel

Este trabalho caracteriza- se como um relato de experiência do período em que atuei como enfermeiro no Distrito Sanitário Especial Indígena de Parintins (DSEI), localiza- se na divisa dos Estados do Pará e Amazonas, na Terra Indígena Andirá-Maraú, sendo habitada por duas etnias, ou seja, os Hyxkaryanas que habitam o alto rio Nhamundá, localizada no Município de Nhamundá- AM e, os Sateré Mawé, que se autodenominam “filhos do guaraná” e habitam as calhas dos rios Uaicurapá, Andirá e Marau localizados nos municípios de Parintins, Barreirinha e Maués respectivamente. O objetivo deste relato é descrever as questões relacionadas à jornada semanal de trabalho a que os profissionais de enfermagem estão submetidos quando estão a serviço no polo base que, e, em tese, estaria acima da jornada permitida em lei. Inicialmente, importa citar a lei Arouca, lei que instituiu o Subsistema de Atenção à Saúde dos Povos Indígenas, as comunidades passaram a ter atendimentos de saúde dentro de suas aldeias, através de Equipes Multidisciplinares de Saúde Indígenas (EMSI), que atuam em conformidade aos preceitos do Sistema Único de Saúde (SUS). Tal modelo de assistência do subsistema foi organizado no chamado DSEI, estruturado observando- se aspectos populacionais, culturais, étnicos, distribuição de terras indígenas e acesso, dentre outros aspectos importantes na delimitação de suas áreas de atuação que se caracterizam como uma rede de serviços regionalizado e hierarquizado, oferecendo cuidados de atenção primária, adequados às necessidades da população indígena. Após a promulgação da referida lei, a responsabilidade de toda a estrutura de atendimento da população indígena passou a ser da Fundação Nacional de Saúde (Funasa), porém o órgão não tinha estrutura necessária ao atendimento da demanda.  A partir dai a houve a necessidade de contratação temporária de pessoal através de convênios com Organizações Não Governamentais que passaram a gerenciar os recursos, sob fiscalização da Funasa. Já em 2010, houve a saúde indígena deixa de ser responsabilidade da Funasa e passa a ser da Secretaria Especial de Saúde Indígena (SESAI), criada com a proposta de coordenar e executar o processo de gestão do subsistema em todo território nacional.  O ponto em comum entre Funasa e Sasai, para a continuidade de atendimentos se manteve na forma da terceirização das atividades destinadas aos povos indígenas e assim, a SESAI conveniou- se com as ONG’s, que continuaram a gerenciar os recursos destinados a saúde indígena e assim, contratar trabalhadores de diversas áreas da saúde em regime de Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), para realizarem atendimentos a população indígena. Atuei em todos os polos base do Dsei Parintins. Inicialmente permanecíamos por cerca de quarenta e cinco dias em campo tendo quinze dias de folga. Era muito tempo longe de nossas famílias ou como alguns brincavam, “longe da civilização”. Porém, em função do desgaste a que éramos submetidos, esse tempo foi sendo reduzido gradativamente, através de muitas discussões nas reuniões dos Conselhos Distritais de Saúde Indígenas (CONDISI) que resultaram no entendimento de que os profissionais deveriam permanecer por vinte dias em campo tendo posteriormente dez dias de folga.  Tive contratos com várias organizações não governamentais e por último, fui contratado pela Missão Evangélica Caiuá, através do regime de Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) para trabalhar no Polo base Vila nova I, Alto Rio Andirá passando vinte dias em campo por dez dias de folga. Contudo, desde aquela época já me perguntava sobre a quantidade de horas em campo sem receber a compensação financeira . A conta era bem simples uma vez que a permanência no polo base era de vinte dias, estando à disposição da comunidade nas vinte e quatro horas por dia, ou seja, em função do serviço, porém, jamais tive este tempo contado como horas extras ou mesmo, a disposição do contratante já que ao final da jornada diária não pode retornar ao seio familiar. Era uma rotina desgastante do ponto de vista físico e psicológico, pois permanecer em locais com infraestrutura inadequada, ou seja, o polo era um provisório definitivo dada a falta de investimento em infraestrutura.  Até dezembro de 2013, os trabalhadores de enfermagem tinham dez dias de descanso ininterruptos, mas se contabilizarmos a carga horária dos vinte dias em campo chegaremos a espantosa cifra de quatrocentos e oitenta horas em serviço, ou seja, acima dos limites previstos em lei. Mesmo tendo dez dias de folgas ou duzentos e quarenta horas após o período de campo, continuam a ter carga horária excedente sem necessariamente ter compensação. É necessário salientar que na saúde indígena o atendimento é diferenciado e caracteriza-se exatamente pela permanência dos trabalhadores nos polos para qualquer eventualidade devendo-se, portanto, se chegar a uma solução em relação aos dias de permanência em campo. Talvez, uma das alternativas para sanar esse vazio administrativo e por que não dizer legal, reside na regulamentação das trinta horas para os profissionais de enfermagem e tramita no Congresso Nacional. Só que vem uma pergunta. Como ficarão os trabalhadores caso aprove- se a lei das trinta horas. Com certeza teremos outro problema visto que a nova lei em tramitação não cuida das atividades da enfermagem em terras indígenas e talvez não possa ser aplicada nos Dsei. Diante do abandono histórico do estado brasileiro em prol dos indígenas, é justo que tenham atendimento diferenciado em minha opinião. Porém, do outro lado estão os profissionais de enfermagem que precisam, até por uma questão de sobrevivência, se adaptar a cultura, hábitos e modos de organização bastante diferentes do cotidiano das cidades.  Talvez uma das preocupações esteja exatamente na eficiência da execução das ações em saúde realizadas nos polos em detrimento da longa permanência podendo ser fator gerador de doenças e acidentes. A experiência como enfermeiro, adquirida na saúde indígena, me permitiu visualizar a política de saúde indígena e enxergar algumas soluções para se garantir o atendimento nas aldeias dos trinta e quatro distritos sanitários. Acredito fortemente que a limitação da jornada de trabalho dos profissionais de enfermagem é uma delas e também, a realização de estudos e discussões sobre o tema, visto que o processo de trabalho da enfermagem em saúde indígena, precisa ser olhado com carinho inclusive sobre a possibilidade de verificar a percepção da enfermagem sobre o tema em outros DSEIS do Brasil, para podermos comparar as realidades que, com certeza, são bastante diversas da situação local e assim chegarmos a uma fórmula próxima quem sabe do ideal que seria o limite da jornada prevista em lei. Espera-se com este trabalho lançar novas discussões a cerca dos fundamentos para a limitação da jornada de trabalho dos profissionais de enfermagem e consequentemente, ajustar a carga horária de acordo com a lei geral já que não temos legislação específica sobre o tema, o que refletirá sensivelmente na melhoria na qualidade das atividades realizadas em campo. Enfim, acredito que este relato é apenas e tão somente um disparador para que possamos continuar as discussões sobre o tema limitação da jornada de trabalho em terras indígenas uma vez que o contingente de profissionais de enfermagem é enorme nos trinta e quatro distritos sanitários e essas questões não tem sido abordadas com a seriedade necessária, pois a enfermagem cuida das pessoas, mas, quem cuida da enfermagem?.

3159 GT de Psicologia e Povos Indígenas no Conselho Regional de Psicologia 10 (Pará-Amapá): articulando saberes psis com o dos povos indígenas em suas moviment(ações).
Maycon Correia Pinto, eluana carvalho, Alvaro Palha Junior, Aline Lima, isabela Ramos, Bianca Tsubaki, Camila Rodrigues

GT de Psicologia e Povos Indígenas no Conselho Regional de Psicologia 10 (Pará-Amapá): articulando saberes psis com o dos povos indígenas em suas moviment(ações).

Autores: Maycon Correia Pinto, eluana carvalho, Alvaro Palha Junior, Aline Lima, isabela Ramos, Bianca Tsubaki, Camila Rodrigues

O presente trabalho refere-se às moviment(ações) que tem sido realizadas pelo Grupo de Trabalho (GT) de Psicologia e Povos Indígenas do Conselho Regional de Psicologia (CRP) da 10ª Região, da área de abrangência dos estados do Pará e Amapá. Considerando o papel do referido conselho de classe, que é o de orientar, fiscalizar e disciplinar a prática profissional de psicólogas(os). A existência do supracitado GT justifica-se no papel de orientação à prática profissional de psicólogas(os) para os possíveis encontros com sujeitos e coletivos indígenas. Neste contexto, mostra-se importante considerar ainda a carência de uma formação mais aprofundada e afinada com a realidade étnica diversa e múltipla dos povos indígenas no Brasil e a consequente necessidade de amadurecimento de escuta por estes profissionais. No tocante a política indigenista de saúde e seu desdobramento histórico no Brasil, sabe-se que as intervenções do estado para com os povos indígenas se deu através de uma sucessão de profundas mudanças em seu escopo prático-administrativo. Houve uma jornada errante da atuação desde as missões religiosas, o Serviço de Proteção ao Índio (SPI), seguido pela Fundação Nacional do Índio - FUNAI, Fundação Nacional de Saúde - FUNASA, até a criação da Comissão Nacional de Política indigenista (CNPI) e da Secretaria Especial de Saúde Indígena - SESAI. Ainda que com vitórias alcançadas nos últimos anos, há renovada necessidade de coletivos da sociedade civil que se ocupem em pensar a relação com povos indígenas. A Constituição Federal, na década de 80, inaugurou mudanças significativas para os povos indígenas no Brasil, visto que houve uma transição da visão assimilacionista/integracionista para uma visão de autodeterminação/pluralista do Estado Brasileiro, como uma das consequências, ocorreram profundas mudanças na legislação brasileira abrangendo as políticas públicas de saúde, educação, assistência, questões fundiárias, entre outras. No que refere-se a saúde mental em contexto indígena, é a partir da Portaria nº 2.759/07, que estabeleceu as diretrizes gerais para a Política de Atenção Integral à Saúde Mental das Populações Indígenas, que as ações da psicologia nesse contexto ganham destaque. Entendendo que a relevância do tema está para além de uma contribuição para um melhor entendimento do papel do/a psicólogo/a e de outras profissões que possam vir a atuar com essas populações, é de suma importância que nossa inserção nesse contexto não seja colonizadora, mas sim pautada em compromisso profissional ético, estético e político, que assegure a garantia de direitos e respeito as suas culturas, costumes, línguas, diversas etnias, etc.Segundo dados do Sistema de Informação de Atenção à Saúde Indígena (SIASI), juntando as populações indígenas do Estado de Pará e Amapá, temos uma sóciodiversidade que é composta por uma população aldeada estimada em torno de 38 mil indígenas pertencentes a 54 etnias, residentes em 37 municípios e distribuídos em 415 aldeias. Diante desse cenário, e de forma que possamos contribuir na articulação de diversos atores sociais para debater as questões sobre a política indigenista no PA e AP é no ano de 2015, que são retomadas as atividades desse GT, que tem como objetivo fornecer subsídios para a atuação do psicólogo e outros profissionais, bem como sensibilizar a sociedade brasileira e suas instituições acerca das questões concernentes aos povos indígenas. Dentre as atividades constantes em nosso plano de ação e que temos desenvolvido nesse período de 2015-2017, temos direcionado as ações dentro dos objetivos específicos de: (a) Realização da Cartografia do território de abrangência do CRP PA/AP 10ª Região, com detalhamento dos profissionais psicólogos que atuam nas políticas públicas, terras indígenas, instituições envolventes que possam contribuir, (b) Levantamento epidemiológico, análise das regiões e intervenções a partir da demanda específica de cada comunidade nas regiões do Pará e Amapá, (c) Possibilitar espaços em que questões de Psicologia e Povos Indígenas possam ser debatidos, (d) Orientação de profissionais psicólogas(os) sobre possibilidades de atuação junto a povos indígenas (e)Capacitação e Assessoria para profissionais, instituições e lideranças indígenas sobre políticas públicas e povos indígenas, (f) Consolidação de banco de dados com artigos científicos, materiais jornalistas, material áudio visual sobre as populações indígenas da região, e (g)Sensibilizar sociedade brasileira e suas instituições acerca das histórias e demandas dos povos indígenas do Brasil. As atividades do GT desde então tem crescido em número e qualidade, e tem sido potentes e enriquecedoras. Dentre os principais efeitos dessa experiência, como membros do GT temos um grupo considerável de estudantes e profissionais da psicologia e outras profissões, bem estudante e profissionais indígenas que tem se proposto a repensar o papel da psicologia e das instituições e os desafios que estão sendo postos nesse agir. Considerando ser um tema de pouca voz, e que ainda é carregado de preconceito por parte da população, acadêmicos, profissionais e instituições, temos obtido relativa visibilidade, visto que somente nos últimos anos, publicamos seis  trabalhos em eventos, dois trabalhos de conclusão de curso, uma monografia , organizamos e/ou estivemos presentes em 7 eventos . Quanto a articulação das instituições, conseguimos a ampliação de parcerias no estado do Pará e Amapá: (a) no setor das Instituições de Ensino Superior públicas e privadas (IESPES, UNAMA, UFOPA, UFPA, UNIFESSPA,entre outras)  (b) quanto as instituições que tratam da política indigenista nos âmbitos municipal, estadual e federal nos setores de saúde, assistência, educação, trabalho, cultura, meio ambiente (FUNAI, SESAI e DSEI’s, SEASTER, CAPS, CRAS, dentre outros), (c) ONG’s, (d) associações e lideranças indígenas. Ao considerar os desafios da realidade brasileira, e avanços constitucionais quanto as políticas públicas as populações indígenas, como efeito de prática, tem sido mais que necessário reflexões quanto ao exercício profissional dos psicólogos nesse contexto. É nesse sentido, e através desse GT, que o CRP 10, tem promovido debates, capacitação, eventos, articulações intersetoriais, de forma a aprofundar e compartilhar novos saberes e práticas, que estejam alinhados às necessidades emergente. Nesses atravessamentos de moviment(ações) e articulações de tão diversos atores, tem sido gratificante as ações que vem sendo realizadas juntamente as essas populações, que tem nos permitido vivenciar esse devir indígena. Apesar das diversas tentativas de docilização de seus corpos, suas mentes e seus costumes, eles tem lutado e resistido bravamente a todo o peso desse sistema ocidental que individualiza e capitaliza. Nesses tempos cada vez mais temerosos, essa energia tem nos mobilizado e inspirado a resistir. Assim sendo, é compromisso dos(as) Psicólogos(as) e outros profissionais a valorização e incentivo a cultura dos povos indígenas, prevista na Constituição Federal e em outro marcos regulatórios nacionais e internacionais, atende aos princípios constitucionais democráticos, a garantia dos direitos humanos e à cidadania livre de qualquer discriminação social, étnica, geracional ou de gênero.GT de Psicologia e Povos Indígenas no Conselho Regional de Psicologia 10 (Pará-Amapá): articulando saberes psis com o dos povos indígenas em suas moviment(ações).