206: Políticas de indução à mudança na formação profissional em saúde: diálogos a partir de experiências locais
Ativador: A definir
Data: 01/06/2018    Local: FCA 02 Sala 02 - Bodó    Horário: 10:30 - 12:30
ID Título do Trabalho/Autores
712 PET-Saúde/GraduaSUS: Vivências e encontros como ferramentas de aprendizagem na formação profissional
Celly Paranhos Santos, Simone Mendes Carvalho, Walquíria Bahiense de Araújo Couto, Mary Ann Menezes Freire, Maria Helena Carneiro de Carvalho

PET-Saúde/GraduaSUS: Vivências e encontros como ferramentas de aprendizagem na formação profissional

Autores: Celly Paranhos Santos, Simone Mendes Carvalho, Walquíria Bahiense de Araújo Couto, Mary Ann Menezes Freire, Maria Helena Carneiro de Carvalho

Introdução: O PET-Saúde/GraduaSUS foi consolidado através do Ministério da Saúde, por intermédio da Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde, com a proposta de estimular a integração da orientação teórica com as práticas de atenção nos serviços públicos de saúde. O objetivo do programa é promover a integração ensino-serviço-comunidade, envolvendo docentes, estudantes de graduação e profissionais de saúde de forma que os serviços produzam conhecimento e pesquisa em temas e áreas estratégicas do SUS. A Universidade foi contemplada no PET-Saúde/GraduaSUS , através de um projeto submetido em conjunto pelos cursos de Graduação em Enfermagem, Nutrição e Medicina. Objetivo: Relatar a experiência de imersão no território e as vivências da discente bolsista em um dos cenários de atuação do  PET-Saúde/GraduaSUS, relacionando tal experiência com o currículo pedagógico ofertado pela Universidade, no curso de  graduação em enfermagem. Metodologia: Trata-se de um relato de experiência desenvolvido pela discente bolsista PET, a partir de sua imersão no território. A experiência foi desenvolvida durante o período de julho de 2016 à agosto de 2017 em um dos cenários de atuação do PET-Saúde/GraduaSUS, em uma unidade de saúde que se enquadra nos moldes da Estratégia da Saúde da Família localizada na comunidade da Rocinha - Rio de Janeiro. Resultados: A imersão em um território com inúmeras condições de vulnerabilidade social como a Rocinha, proporcionou à acadêmica uma visão diferenciada da produção do cuidado. Durante a graduação, muitas vezes, os discentes são orientados a seguir um modelo biomédico, reduzido à assistência hospitalocêntrica e curativa, onde o indivíduo é visto apenas como corpo, doença e cura. Entretanto, sabendo-se que saúde não é apenas a ausência de doenças e que muitos outros fatores a condicionam, a graduação deveria estimular a abordagem ao usuário de forma completa, considerando as particularidades do território em que se está inserido, aspectos econômicos e sociais. Nesse sentido, o PET-Saúde/GraduaSUS permitiu que a discente compreendesse o cuidado de forma integral, centrado no usuário, baseado nas demandas e nas necessidades de saúde da população in loco. A visão mecanicista proveniente da graduação engessada, deu lugar a uma perspectiva ampliada, onde a família, comunidade e o território que se está inserido são incorporados ao cuidado. Conclusão: A experiência no PET-Saúde/GraduaSUS, proporcionou uma integração do ensino-serviço para além dos conteúdos teóricos. As vivências no programa permitem que as necessidades dos serviços sejam fonte de produção de conhecimento e aprendizagem. A interdisciplinaridade, a humanização do cuidado e a integralidade da assistência vivenciadas no programa contribuem para uma formação profissional voltada para atuação no SUS.

3109 O PET-GRADUASUS COMO INDUTOR DO FORTALECIMENTO DA INTEGRAÇÃO ENSINO-SERVIÇO NOS CURSOS DE GRADUAÇÃO DA SAÚDE NA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ.
Liliane Silva do Nascimento, Tiago Silva do Nascimento, Carla Avelar Pires, Nayza Nayla Bandeira de Sá, Keila de Nazaré Madureira Batista, Marcieni Ataide de Andrade, Francilene da Luz Belo, Felipe Alves Safh Domingues da Silva

O PET-GRADUASUS COMO INDUTOR DO FORTALECIMENTO DA INTEGRAÇÃO ENSINO-SERVIÇO NOS CURSOS DE GRADUAÇÃO DA SAÚDE NA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ.

Autores: Liliane Silva do Nascimento, Tiago Silva do Nascimento, Carla Avelar Pires, Nayza Nayla Bandeira de Sá, Keila de Nazaré Madureira Batista, Marcieni Ataide de Andrade, Francilene da Luz Belo, Felipe Alves Safh Domingues da Silva

Apresentação: O Instituto de Ciências da Saúde da Universidade Federal do Pará participa ativamente de vários projetos do Ministério da Saúde com atuação no estado do Pará articulando sua missão institucional às políticas de saúde, projetos, programas e ações dos cursos de graduação e pós-graduação para fortalecer a implementação do SUS. Assim, já apresentamos resultados nacionais significativos em todas as edições dos editais ProSaúde e PET, bem como participação no PROVAB, PMAQ e MAIS MÉDICOS. Em 2015 iniciamos com a gestão municipal, sede Belém, a construção coletiva do COAPES,  através de processo de integração ensino-serviço-comunidade, onde uma comissão multiprofissional docente, gerencia, avalia e repensa a inserção dos discentes  e docentes nos   cenários de práticas  de forma articulada com a gestão local  na perspectiva  da formação para o trabalho em saúde. Esta comissão considera para suas atividades as mudanças preconizadas pelas Diretrizes Curriculares Nacionais dos cursos de saúde, nova lei de estágio e metas a serem  desenvolvidas e lei nacional do COAPES. O grupo do PET GRADUASUS UFPA é formado por docentes dos cursos de Enfermagem, Farmácia, Fisitoterapia, Medicina, Nutricão e Odontologia, por preceptores da gestão e da assistência do município e discentes dos cursos nas modalidades bolsistas e voluntários. Este grupo teve inicio em 2015 em resposta a chamada de edital público do Ministério da Saúde.   Desenvolvimento: O GRADUASUS foi  e é um desafio de articulação com as atividades que se desenvolveram em edições anteriores do pet com as atividades curriculares dos cursos. Como política indutora num  momento propício a expansão da discussão das mudanças curriculares marcada pela década das DCNs. Os cursos de graduação do Instituto de Ciências da Saúde possuem projetos pedagógicos em fases diferentes de implantação e monitoramento. Entretanto, comprometidos com a realidade amazônica ao qual se inserem. Bem como, chama os atores a assumir seus compromissos e premissas nas ações de integração ensino-serviço, dentre elas, a celebração do COAPES e adequação as atividades obrigatórias de extensão e práticas em serviço, no caso nas unidades de saúde em todos seus níveis de complexidade (atenção primária, média e alta complexidade). Considerando que apesar da autonomia das IES para elaborarem projetos flexíveis e modernos, com inserção de atuação multiprofissional nos serviços de saúde com garantia da  formação de um profissional para atuação plena no SUS ainda é um desafio para as instituições formadoras e para os gestores de saúde. O petgraduasus vem por em discussão o conceito de discurso coletivo de que “na prática é tudo diferente”. A construção do projeto inicialmente contou com reuniões dos docentes coordenadores e diretores de curso para elaborar as metas e propostas de cada curso em ordem do desenvolvimento da integração do ensino e do serviço (da teoria e da prática). Após o refinamento institucional interno, as reuniões foram com os gestores do município para indicação do perfil do coordenador, pois nesta versão do petgraduasus pela primeira vez, o coordenador geral de todos os grupos pet precisava ser um profissional vinculado a gestão municipal. Essa justificativa pelo ministério deveu-se exatamente pelo objetivo principal de concretizar o COAPES. Após a definição dos tutores coordenadores (docentes efetivos dos cursos de graduação), do coordenador geral e dos objetivos integrados aos eixos de formação, foram selecionados os preceptores, profissionais da gestão e da assistência, sendo que o critério fundamental e decisório para os preceptores da assistência era possuir disponibilidade de tempo e interesse para o ensino, além de ser da área profissional de cada curso. Houve e há ainda grande dificuldade por parte dos gestores e profissionais da assistência. Primeiramente pelo fato de alta rotatividade dos profissionais da modalidade contratados e também pela dificuldade na execução de algumas metas. Durante estes dezoito meses de execução do projeto, ajustes foram realizados de natureza metodológica, bem como capacitações em metodologias ativas e o incentivo as atividades multiprofissionais. Destaca-se a importância das reuniões coletivas para socialização dos resultados de cada grupo pet. Os seis cursos se dividiram em atividades em uma unidade básica de saúde (UMS Guamá, um CAPS AD, um centro de especialidades médico-odontológicas e uma unidade de saúde da família. As atividades realizadas pelos petianos envolvem ações de educação em saúde, monitoramento de indicadores, estimulo a práticas assistenciais de cuidado humanizado, workshops, seminários e oficinas com temas pertinentes ao conhecimento, execução e fortalecimento do Sistema Único de Saúde (SUS).   Resultados: O grupo petgraduasus UFPA possui 66 bolsistas pet e mais um quantitativo 50 voluntários. A modalidade de participação dos voluntários é variável, pois, implica em disponibilidade de carga horaria do discente para a participação. Alguns cursos têm poucos intervalos e espaço nas matrizes curriculares para atividades intervalares, entre elas o pet. Assim, entendemos que os cursos precisam além de rever suas fundamentações teóricas e percursos metodológicos também precisam considerar o tempo de estudo, atividades complementares, atividades de iniciação científica, de integração em ensino e serviço, estágios curriculares e extracurriculares, bem como as ações de PET. Os grupos desenvolveram ações publicadas no site de comunidade de práticas do ministério da saúde. Com um total de 39 relatos com autorias dos membros dos grupos. No ano de 2016 as reuniões para a elaboração da minuta do COAPES avançaram muito com o setor recém criado na gestão municipal para a educação permanente. Ao final de doze meses a comissão conseguiu finalizar a minuta e enviar ao setor jurídico da secretaria municipal de saúde. Entretanto, após dezembro de 2016, a celebração do COAPES ficou estagnada. A Universidade espera a gestão municipal se reorganizar e a participação ativa dos preceptores dos gestores na celebração e implementação do COAPES. Os petianos egressos, concluintes dos cursos tiveram avaliação positiva e diferenciada dos não participantes do pet.   Considerações finais: Consideramos que o projeto do petgraduasus é essencial como incentivo a formação multiprofissional dos profissionais de saúde. Também demonstrou efetiva contribuição na educação permanente e reciclagem dos profissionais do sistema único de saúde. A UFPA busca dinamicamente atualizar seus desenhos curriculares, os processos pedagógicos de ensino e da aprendizagem e seus conteúdos em consonância com as politicas de saúde vigentes e cumpre seu papel formador adequado as necessidades da Amazônia e de todo Brasil. Sugerimos a contínua busca para a flexibilização curricular e a possibilidade da construção de projetos pedagógicos adequados às realidades local e regional amazônica, baseados em conhecimentos, habilidades e competências tendo como princípios norteadores a integralidade a visão holística de saúde como componentes estruturantes da formação profissional para o cuidado. Sugerimos que a proposta seja integrada em caráter definitivo e regular nas propostas dos cursos de graduação em saúde, pois capazes de dar as respostas a sociedade e formar profissionais de excelência para o SUS.

3415 A (trans)formação em saúde pela experiência do encontro: vivendo o PET-Saúde/GraduaSUS em uma comunidade quilombola
Barbara E B Cabral, Gabriela da Silva Barros, Lorena Silva Marques, Arthur Antunes de Souza Pinho, Itala Silva Mota, Milena Vitor Gama Duarte, Karoline Barros Conceição, Mayta Carvalho Trajano Leite

A (trans)formação em saúde pela experiência do encontro: vivendo o PET-Saúde/GraduaSUS em uma comunidade quilombola

Autores: Barbara E B Cabral, Gabriela da Silva Barros, Lorena Silva Marques, Arthur Antunes de Souza Pinho, Itala Silva Mota, Milena Vitor Gama Duarte, Karoline Barros Conceição, Mayta Carvalho Trajano Leite

Objetiva-se narrar aspectos da experiência vivida por um dos Grupos de Trabalho/GTs do projeto PET-Saúde/GraduaSUS da Universidade Federal do Vale do São Francisco/Univasf, com atividades em curso há um ano e meio, articulando ensino-pesquisa-extensão em – e tendo como base – Lage dos Negros, território quilombola, pertencente a Campo Formoso-BA. A aproximação com essa realidade tem surpreendido a cada imersão cartográfica, tanto pela riqueza afetiva e simbólica do povo daquele lugar quanto pela percepção dos efeitos da violência relacionada ao racismo. Pelo visto e vivido na comunidade, fica evidente que nosso país não é o país da democracia racial, sendo fácil constatar isso na aproximação com o lugarejo, que luta para garantir acesso a políticas públicas. A comunidade localiza-se no meio do semiárido baiano, sofrendo com todas as dificuldades que tal localização, no meio rural, pode infringir aos seus moradores/as. Uma particularidade a destacar é a alta prevalência de casos relacionados à Saúde Mental, tendo sido essa a demanda apresentada ao Coletivo PET-Saúde/GraduaSUS por profissionais do Centro de Atenção Psicossocial/CAPS da cidade. Tais profissionais são preceptoras (Terapeuta ocupacional e Assistente Social) do GT, que na sua composição reúne tutores (Psicologia e Farmácia), graduandos (Psicologia, Farmácia e Medicina) e residentes (Saúde Mental e Saúde da Família). Apesar da alta demanda em saúde mental, o único serviço de saúde presente no território é uma Unidade de Saúde da Família. Em relação a serviços especializados, a oferta terapêutica parte do CAPS municipal, que se localiza a cerca de 100km de distância do povoado. A partir do desafio apresentado, decidimos que as ações seriam elaboradas e executadas em estreita articulação com os moradores/as, nos modos de uma pesquisa-intervenção, seguindo as pistas da cartografia, tendo como mantra “a aproximação ensino-serviço-comunidade”, valorizando a experiência (vivida e elaborada, pelas afetações) e assumindo o encontro como método. Assim, o GT vem construindo ações que dizem de possibilidades voltadas para o cuidado em Saúde Mental, buscando conhecer e enfatizar, de modo precípuo, as potencialidades do território. O envolvimento da comunidade no projeto, através de lideranças e agentes comunitários de saúde, tem sido destacado como aspecto imprescindível em cada passo dado, realizando-se um exercício contínuo de corresponsabilização. Nessa perspectiva, em uma roda de conversa inicial com parceiras/os da comunidade, dois eixos de intervenção foram definidos como prioritários: 1. Cuidado à/ao usuária/usuário e família e 2. Educação em Saúde e Empoderamento Social. “Ser negro é algo que dói na pele”, nos disse uma líder comunitária nessa primeira roda, causando-nos tristeza e, em igual medida, vontade de pensar junto com os/as moradores/as modos de encaminhar essa demanda de fortalecimento do protagonismo negro. Não nos custou muito tempo tecer a compreensão de que cuidar disso seria, também – e talvez, fundamentalmente – cuidar em saúde/saúde mental. As atividades vêm sendo articuladas por meio de diferentes estratégias, a exemplo de rodas de conversa com usuários e familiares; formação sobre grupos de ajuda/suporte mútuos em saúde mental, que visam fortalecer o protagonismo da comunidade, atentando-se permanentemente à sustentabilidade das ações após a finalização do projeto; visitas domiciliares a famílias indicadas como estando em  situação de intenso sofrimento e construção de Projetos Terapêuticos Singulares/PTSs para os caso mais difíceis; rodas de contação de história e oficinas culturais com intuito de conhecimento e valorização das variadas manifestações culturais locais. Estar na comunidade, com as problemáticas que encontramos a cada imersão, desalojou significativamente os petianos/as. Além da distância percorrida a cada imersão, que algumas vezes impediu uma melhor operacionalização das atividades, pelo tempo disponível reduzido, enfrentamos problemas estruturais. Lage dos Negros tem nos mostrado que esses problemas muitas vezes nos impedirão de oferecer a atenção que acreditamos e desejamos. Entretanto, na condição de profissionais e futuros profissionais de saúde, importa não só buscar vias de garantir atenção de qualidade, no contexto das políticas públicas, como lutar com a comunidade pela melhoria desta, defendendo o acesso à saúde pública de qualidade, como direito de todas e todos. Identificamos uma dificuldade de comunicação dentro da própria comunidade e de articulação entre os setores das políticas públicas. A condição de quilombola marca o lugar, porém, não de um modo positivo para todos/as. Ao longo do projeto, tivemos um estreitamento de relação com referências da Educação, o que nos proporcionou conhecer o Fórum Quilombola, que ocorre anualmente. Isso nos permitiu uma articulação, frágil, porém potente, que deu deu visibilidade a alguns aspectos das dinâmicas sociais/relacionais em Lage, inclusive entre setores das políticas públicas, que estamos tentando melhor compreender. Nosso compromisso é fazer isso junto com a comunidade, no encerramento do projeto, que foi adiado para janeiro/2018. Em avaliações parciais, temos tido o retorno de como o processo tem contribuído para a ampliação das compreensões sobre o cuidado em saúde mental e sua articulação com a melhoria das condições de vida e de comunicação no povoado. O Brasil é um país de dimensões continentais, possuindo um sistema de saúde complexo, com a premissa da universalidade. Refletimos que a população de Lage tem direito a um SUS universal, equânime e integral, mas a Política Nacional de Saúde Integral à População Negra sequer é conhecida lá. Discutir saúde em Lage implica discutir o acesso à água, a emprego, as desigualdades sociais que se revelam na própria comunidade além de outros direitos. Nesse sentido, as imersões têm proporcionado a todas/os uma dimensão da complexidade de pensar saúde, mobilizando nossas próprias compreensões de saúde, de prática em saúde, de acesso a políticas públicas, dos inúmeros desafios que se apresentam à atuação de um profissional de saúde comprometido/a com a leitura da realidade dos lugares em que se insere e de como os diversos fatores socioculturais interferem nos modos de vida dos moradores/as. Diante da inserção em um universo muitas vezes distante dos debates e processos formativos em curso na universidade, temos ampliado a compreensão da real necessidade de reorientação da formação em saúde. A possibilidade de perceber, na prática, que as especificidades de um povo interferem diretamente no modo como dele se cuida, faz com que entendamos que nós, como estudantes e profissionais, precisamos lutar pela redução das desigualdades sociais e, consequentemente, pela ampliação do acesso ao cuidado, contribuindo para pôr em análise barreiras, de qualquer ordem, aos serviços de saúde. Ultrapassando-se a corrente compreensão de que temos que ter algo “pronto” a oferecer, temos investido na sustentação do posicionamento de que “algo” só pode se constituir “pronto” – como pertinente – a partir dos encontros com as pessoas e pelo exercício de compreensão dos diversos modos de vida ali instaurados. Desse modo, reposicionam-se as ênfases nos protocolos, prescrições e procedimentos, valorizando-se as referências já existentes no lugar e outras que podem ser construídas em torno do cuidado. Pela experiência vivida, reforça-se o compromisso de “fazer vazar” tais aprendizados para o âmbito universitário, melando a universidade de vida e povo, dos vários modos de vida e das diversas configurações de ser gente. Pela aproximação com as pessoas/comunidades (com destaque às chamadas “tradicionais”), pode-se questionar a formação “tradicional” não alinhada ao reconhecimento da singularidade dos modos de vida, visando construir e pôr em ato caminhos possíveis para a transformação dos cursos de saúde da Univasf, tendo como horizonte uma formação de caráter ético-político, em que se reposicione o foco hegemônico no tecnicismo vinculado ao saber biomédico, contextualizada no sertão.    

4251 A Percepção do médico residente em ginecologia e obstetrícia: escolha da especialidade, provimento e fixação
Emanuella Margareth Lima Rolim Martins, Juliana Siqueira Santos, Paulette Cavalcanti De Albuquerque

A Percepção do médico residente em ginecologia e obstetrícia: escolha da especialidade, provimento e fixação

Autores: Emanuella Margareth Lima Rolim Martins, Juliana Siqueira Santos, Paulette Cavalcanti De Albuquerque

Apresentação: Gestores públicos utilizam vários mecanismos para prover profissionais de saúde. Como estratégias para fixação e provimento do profissional médico, o estado de Pernambuco amplia o número de graduandos de medicina e as vagas de residência médica, ambas as ações de maneira interiorizada. O objetivo geral desse trabalho foi verificar junto aos médicos residentes dos programas de Ginecologia e Obstetrícia do estado de Pernambuco os motivos para escolha por essa especialidade, a percepção deles acerca das estratégias utilizadas para fixação e provimento do profissional médico. A partir dos diálogos se observou que o elemento para escolha da especialidade foi a afinidade com a especialidade na época da graduação e a demanda do mercado, alguns relataram a intenção de se fixar nas proximidades onde estarão se especializando. Este trabalho representa parte de uma dissertação de mestrado apresentada ao Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) como parte de uma pesquisa para conclusão de mestrado e seguiu as orientações da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP) e a Resolução n.º466/12 do Conselho Nacional de Saúde e teve aprovação sob o seguinte CAAE 49347015.3.00005208. Desenvolvimento: O Sistema Único de Saúde (SUS), nos seus 20 anos de criação e no atual estágio de desenvolvimento, exige do conjunto dos gestores, uma avaliação dos produtos, resultados e impactos sobre a saúde das pessoas, famílias e comunidades, visando à identificação dos nós críticos e possibilidades de enfrentamento, na perspectiva de seu aperfeiçoamento e reorientação das políticas e programas vigentes. A alocação eficiente de profissionais médicos é um dos principais problemas enfrentados pelos formuladores e implementadores de políticas públicas. Gestores públicos utilizam vários mecanismos para prover profissionais de saúde, como estratégias para fixação e provimento do profissional médico, o estado de Pernambuco amplia o número de graduandos de medicina e as vagas de residência médica, ambas as ações de maneira interiorizada. Na interface da formação para o trabalho, a residência médica é um modelo educacional, em nível de pós-graduação, no qual os aprendizes aprofundam conhecimentos e melhoram habilidades e atitudes, ou seja, desenvolvem competências específicas dentro de cada área após um processo seletivo. O treinamento nas instituições de saúde articula ensino e aprendizagem de forma coesa e a partir da realidade dos serviços de saúde. O programa de Residência Médica se constitui na melhor estratégia para fixação dos profissionais, não só pela dedicação à formação, pois o especializando precisa cumprir uma carga horária de 60 horas semanais de atividades no serviço de saúde ao qual está sendo formado, mas, também, pela infraestrutura que muitas vezes o estudante precisa organizar para se instalar na cidade onde realiza essa formação, estas ações incentivam o médico residente a continuar no local ao qual estará se especializando. Com objetivo de compreender a percepção do médico residente em ginecologia e obstetrícia quanto a escolha da especialidade, o provimento e a fixação do profissional médico foram realizadas entrevistas com residentes recém-aprovados no processo seletivo da residência médica do estado de Pernambuco. A escolha por entrevista ocorreu por permitir ao pesquisador fazer uma espécie de mergulho em profundidade, coletando indícios dos modos como os residentes percebem e significam sua realidade e levantando informações consistentes que lhe permitam descrever e compreender a lógica que preside as relações que se estabelecem no interior desse grupo, o que, em geral, é mais difícil obter com outros instrumentos de coleta de dados. Este trabalho analisou a partir de médicos residentes dos programas de Ginecologia e Obstetrícia do estado de Pernambuco os motivos para escolha por essa especialidade, a percepção deles acerca das estratégias utilizadas para fixação e provimento do profissional médico. Resultados: Foram entrevistados 20 residentes sendo 15 do sexo feminino e 5 do sexo masculino, a média de idade e de tempo de formado em medicina dos entrevistados foi 27 e 1,5 anos, respectivamente. Quanto aos discursos dos residentes entrevistados foi observado: A maioria realizou sua escolha pela especialidade de GO por vocação ou por demanda do mercado (por ter poucos especialistas nesta área podendo ser uma forma de boa colocação profissional);A escolha pelo programa e hospital ocorreu por experiência anterior na graduação ou por indicação de colegas e não na necessidade do serviço em ter estes especialistas. Este aspecto é observado em programas que muitas vezes não preenchem todas as vagas e outros que apresentam alta concorrência;Em relação a interiorização dos cursos de medicina e residência médica como estratégia de fixação de profissionais não houve um consenso nas opiniões. Algumas falas foram bastante positivas em afirmar que seria uma boa estratégia para fixação de médicos em áreas menos atrativas pois durante a formação o profissional iria criar novos vínculos e tenderia a se fixar. Outras falas não acreditam nesta fixação pois escolas médicas e programas de residência médica precisam garantir ao profissional que se desloca para áreas pouco atrativas qualidade de vida e uma formação contínua, caso contrário o profissional irá concluir sua formação e depois procurar ou sua cidade natal ou localidades com melhores possibilidades de trabalho e qualidade de vida;Os residentes que vieram de outros estados para complementar sua formação nos programas de residência médica em Pernambuco não demonstraram consenso em relação a vontade de retornar ao seu estado de origem, alguns relataram querer retornar pois tem vínculos familiares fortes e também boas oportunidades profissionais, porém outros afirmaram que teriam mais oportunidades profissionais ficando nas proximidades onde terá se especializado pois outros profissionais conheceram seu trabalho e lhe indicarão o que gera um ciclo profissional.   Considerações finais   Entende-se a residência médica como um fator importante para o provimento e fixação dos profissionais médicos na região ao qual escolhem fazer esta formação. Ao longo dos anos houve grande crescimento da política de residência médica no estado de Pernambuco, com ampliação de vagas e criação de novos programas, inclusive na área de Ginecologia e Obstetrícia, o que demonstra ser uma importante política pública para formação de recursos humanos para o SUS. Porém a fixação destes profissionais ainda representa um grande desafio para os gestores públicos sendo essencial continuar com a ampliação das vagas de graduação em medicina bem como da residência médica ambas de maneira interiorizada.