208: Extensão, interprofissionalidade e saberes tradicionais: produzindo encontros
Ativador: A definir
Data: 02/06/2018    Local: FCA 02 Sala 01 - Bacurau    Horário: 10:30 - 12:30
ID Título do Trabalho/Autores
3206 O PROCESSO DE CONSOLIDAÇÃO DO TRABALHO DAS DOULAS E SEU REFLEXO NO CENÁRIO DA SOCIEDADE MANAUARA.
Patrícia de Souza Lima Aguiar, Bahiyyeh Ahmadpour Furtado, Marineide Santos de Melo, Thiago Mendonça Buetto, Pérola Thayná Carvalho Moreira, Leandro Negrelli, Raissa Pires de Medeiros, Luana Dias Batista

O PROCESSO DE CONSOLIDAÇÃO DO TRABALHO DAS DOULAS E SEU REFLEXO NO CENÁRIO DA SOCIEDADE MANAUARA.

Autores: Patrícia de Souza Lima Aguiar, Bahiyyeh Ahmadpour Furtado, Marineide Santos de Melo, Thiago Mendonça Buetto, Pérola Thayná Carvalho Moreira, Leandro Negrelli, Raissa Pires de Medeiros, Luana Dias Batista

APRESENTAÇÃO – A Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Amazonas (Departamento de Saúde Coletiva), através do Programa de Atividade Curricular de Extensão – PACE, realizou em parceria com o Hospital Maternidade Ana Braga o projeto denominado ‘Amigas da mamãe e do bebê: contribuindo na valorização das Doulas’, que reuniu em torno de 50 mulheres da comunidade manauara, as quais receberam treinamento para o exercício do acompanhamento de parturientes nos períodos pré-parto, parto e pós-parto entre os dias 07 e 18 de agosto de 2017. OBJETIVO - O objetivo do presente trabalho foi o de promover uma reflexão sobre os desdobramentos do referido projeto, tais como a função laboral e o papel das doulas no contexto do ambiente Hospital/Maternidade, com ênfase nos resultados pós-projeto em termos da consolidação de sua atividade e o reconhecimento de sua magnitude e importância por parte da sociedade manaura. DESCRIÇÃO DA EXPERIÊNCIA- A inclusão dos alunos do curso de medicina da UFAM, neste processo, proporcionou a aproximação do discente com a saúde da mulher, compartilhando vivências e fortalecendo o processo de capacitação continuada, além de fortalecer o cenário da humanização no atendimento durante o período de gestação. Com referência à capacitação profissional da mulher voluntária percebeu-se o engajamento do grupo tanto na fase teórica quanto prática. O processo discussivo acerca da realidade obstétrica na saúde pública do Estado do Amazonas situou o público alvo sobre a situação atual e, principalmente, com referência à cidade de Manaus. Atividades lúdicas procuraram fortalecer noções sobre o parto, situações de risco, apoio psicoemocional e amamentação. RESULTADOS – O alcance social das atividades das doulas provocou uma ampla cobertura pela mídia local, fato que culminou com a criação, no calendário oficial da Cidade de Manaus, do Dia Municipal da Doula, a ser comemorado no dia 27 de março. CONSIDERAÇÕES FINAIS – A doula contribui de forma inquestionável para a humanização do parto e favorece a utilização de métodos não farmacológicos para alívio da dor nas gestantes. Torna-se fundamental que se busque junto aos gestores de saúde a sistematização do uso de recursos que contribuam para o bem-estar das parturientes e, nesse sentido, a presença da doula é uma ação concreta, simples e economicamente viável. 

4493 Multiplicidade bricoleur, experimentação e montagem de dispositivos em processos de (des)formação em saúde mental no contexto da saúde indígena na Bahia
LEONARDO JOSÉ DE ALENCAR MENDES

Multiplicidade bricoleur, experimentação e montagem de dispositivos em processos de (des)formação em saúde mental no contexto da saúde indígena na Bahia

Autores: LEONARDO JOSÉ DE ALENCAR MENDES

Frente à urgência da produção de novos modos de operar o cuidado em saúde mental em tempos de retrocessos manicomiais, este trabalho trata de experimentações em andamento no campo da formação em serviço na saúde indígena. Nelas se inserem os desafios da construção de cuidados psicossociais na Atenção Básica, considerando suas singularidades em contextos ameríndios no nordeste brasileiro. Este trabalho compartilha efeitos de experimentações metodológicas em espaços de formação (Educação Permanente e Apoio Matricial em Saúde Mental) ocorridos junto a profissionais da saúde indígena do Distrito Sanitário Especial Indígena da Bahia, traçando alguns desdobramentos decorrentes. Através de encontros realizados com profissionais das equipes multidisciplinares da saúde indígena, no intuito de construir arranjos locais para os cuidados biopsicossociais, foram possíveis as experimentações metodológicas em pauta. Em sua maioria, os encontros foram realizados em territórios indígenas, tendo como temática maior a ser desvendada a saúde mental no contexto indígena, contando com a presença de profissionais indígenas e não-indígenas. Estes são responsáveis pelos cuidados em saúde no nível da atenção básica em diferentes territórios indígenas no estado da Bahia. Os encontros se caracterizam pela reunião de profissionais das equipes de uma mesma região, que para operacionalização da descentralização administrativa e assistencial da política da saúde indígena, chamam-se tais unidades de Polo Base. Em alguns dos encontros estiveram presentes representantes do Controle Social Indígena, assim como atores da Rede de Atenção Psicossocial, principalmente, profissionais dos Centros de Atenção Psicossocial. Algumas ações se desdobraram também para atuação junto à população indígena local, de modo a conhecer e produzir cuidados em saúde mental, intervindo no cotidiano das comunidades e dos serviços de saúde. Diante da função da gestão do programa de saúde mental, a responsabilidade técnica de viabilizar os encontros também possibilitou a experimentação no modo de operá-los. A liberdade para tal experimentação advém do ineditismo dos encontros, desprovidos de formatações institucionais. Compreende-se que a conquista desta agenda já se trata de uma intervenção organizacional a nível do distrito. Assim, as inquietações citadas no início do texto fomentaram a busca por uma singularização em termos de proposições metodológicas e de tratamento dos temas da saúde mental. Para isso, a montagem dos dispositivos de ação-intervenção se deu em busca da multiplicidade de ferramentas. A isto chamamos de multiplicidade bricoleur. O uso e a mistura de recursos de diferentes áreas, das ciências às artes, possibilitou abordar o tema da saúde mental contemplando as dimensões subjetivas e institucionais intrínsecas ao agir em saúde, para além das técnicas protocolares. As práticas integrativas e complementares também foram incorporadas nas montagens metodológicas. Todavia, foram postas em ação para estrategicamente colocar em análise os processos cotidianos de trabalho (Educação Permanente), assim como para conectar e produzir, a partir das vivências corporais e incorporais dos participantes, conhecimentos para os cuidados em saúde mental (Apoio Matricial). Tal funcionamento de diferenciação que a montagem produz nos procedimentos que reúne se trata de uma ação intencional, conectada à dimensão ético-estético e política, devendo também às proposições do Esquizodrama. A problemática da prática bricoleur tem servido para intervenção nos diversos regimes de produção subjetiva para os cuidados em saúde mental em profissionais da saúde indígena, inclusive para o profissional que a propõe, tendo em vista que também compõem a força de trabalho, também sendo afetados pelos funcionamentos grupais e organizacionais. A análise destes, junto com a das afecções, seja nos efeitos ocorridos em ato nos encontros, nas durações subsequentes, assim como no processo de planejamento, execução, avaliação e monitoramento, também se apresenta enquanto recurso relevante para compreensão dos processos de captura-repetição e de singularização-diferença que se operam sobre os cuidados em saúde mental nos contextos aplicados. A realização dos encontros tem viabilizado acontecimentos de diversas ordens, tanto nas pessoas envolvidas, como nos serviços de saúde indígena. É marcante e facilmente identificável o contraste entre o modelo instituído historicamente estabelecido para os encontros entre os profissionais da assistência, os destes com a gestão, e a proposta em questão. Salienta-se que tal modelo, que tende a promover a separação entre profissionais da assistência e da gestão, não opera apenas no entendimento da dinâmica operacional, mas se reproduz no funcionamento real dos serviços. Em suma, tais encontros mostram-se hegemonicamente formatados pelas práticas hierárquicas tanto na transmissão de ordens, tarefas e deveres, como no trato desigual dos conhecimentos e no desnivelamento dos lugares de saber-poder. As expectativas e as solicitações manifestas continuadamente para transmissão de conhecimentos técnicos, na busca pela segurança do agir a partir de um saber precedente, foram contrastadas com a perspectiva da experimentação da saúde mental nas concretudes dos serviços de saúde, das atividades grupais, das atuações nos territórios e da auto-observação diante destas.  Diferentes narrativas de participantes reforçaram os estranhamentos provocados pelas propostas metodológicas, ao tempo em que outros se reconheceram afins, em detrimento das experiências com os modelos tradicionais. Na via da busca de ferramentas para uma práxis que favoreça a construção dos conhecimentos a partir das demandas dos territórios, a problematização dos lugares de saber-poder e das dinâmicas grupais e organizacionais influentes, a experiência coletiva enquanto dispositivo de intervenção no trabalho e no cuidado, a vivência corporal para fomento de novas qualidades sensíveis, dentre outros, as propostas experimentadas encontraram gradientes variantes de porosidade. Vemos que tais gradientes versam sobre as produções subjetivas dos contextos em questão, ao mesmo tempo em que tratam de contextos maiores, principalmente quanto às formações em saúde e para além da instituição saúde. Contudo, temos percebido a gradual inserção dos cuidados territoriais em saúde mental nos processos de trabalho das equipes de saúde indígena. O crescente interesse em alguns serviços e profissionais da rede municipal, tanto para participar dos encontros propostos como para aderir e propor ações para fortalecimento da atenção psicossocial local, inclusive mostrando efeitos de contágios favoráveis a partir das propostas metodológicas, assim como a inserção das demandas da saúde indígena nos serviços da RAPS, dão ensejos para avaliações favoráveis. Isto também traz repercussões relevantes para a consequente problematização dos modos de cuidados interculturais, compreendendo a necessidade da singularização que a política da saúde indígena propõe em termos da atenção diferenciada. As questões referentes aos processos de formação para construção de práticas antimanicomiais nos territórios de vida para além do controle a céu aberto, requerem revisões e reinvenções quanto aos modos de operar dos seus agentes. O uso das ferramentas e tecnologias da saúde tem sido tema corrente no campo da saúde mental e da formação. A busca e o exercício de metodologias e práticas que fomentem o modo ativo de operar a gestão e o cuidado, diferentes das formações pautadas em conteúdos e estritamente voltadas às políticas instituídas se faz ardor para o reposicionamento das lutas antimanicomias. A construção dos modos de cuidado e arranjos de trabalho atuantes nos cotidianos dos serviços de saúde cada vez mais requer a urgência da ousadia e da prudência. 

5100 SAÚDE, DIVERSIDADE E CULTURA: A EXPERIÊNCIA DAS RODAS SOBRE SAÚDE DOS POVOS INDÍGENAS
Willian Fernandes Luna, Cecília Malvezzi, Karla Caroline Teixeira, Dayane Teixeira Almeida

SAÚDE, DIVERSIDADE E CULTURA: A EXPERIÊNCIA DAS RODAS SOBRE SAÚDE DOS POVOS INDÍGENAS

Autores: Willian Fernandes Luna, Cecília Malvezzi, Karla Caroline Teixeira, Dayane Teixeira Almeida

APRESENTAÇÃO: Os profissionais que atuam na atenção à saúde indígena nos diferentes Distritos Sanitários Especiais de Indígenas têm trajetórias profissionais e processos de formação bastante heterogêneos, mas muitas das vezes pouco específicos para atuar na atenção à saúde dos povos indígenas. Uma parte importante destes profissionais teve seus primeiros contatos com essas populações quando foram atuar nas aldeias, sendo que apenas uma parte bem pequena escolheu a saúde indígena por motivações pessoais e identificação com esse campo de atuação. Dessa forma, muitos não possuem um mínimo de competências para lidar com as especificidades dessas populações. Identificando essa lacuna importante na formação de profissionais de saúde, e reconhecendo como essencial o despertar da sensibilidade para reconhecer a diversidade e lidar com situações de diálogo intercultural, surge o projeto de extensão "Rodas de Conversa sobre Saúde dos Povos Indígenas", desenvolvido desde 2016 em parceria com o PET-Indígena Ações em Saúde e atualmente sob a coordenação de dois docentes do curso de Medicina, médicos de família e comunidade com experiência em atuação em áreas indígenas, e duas estudantes indígenas, uma da Psicologia e uma da Medicina. No âmbito das Rodas de Conversa é considerado o universo de comunidades indígenas com distintos processos históricos e construções culturais, dispersas por todo o território brasileiro, sendo defendido que a atuação nas aldeias indígenas é uma possível escolha dos atuais estudantes da área da saúde. Já no caso deste relato de experiências, nos propomos a discutir como foram realizadas as atividades deste projeto de extensão em 2017, bem como reconhecer seus limites e suas potencialidades, o que pode indicar caminhos para a realização de experiências em outras instituições.DESCRIÇÃO DA EXPERIÊNCIA: As Rodas de Conversa sobre Saúde dos Povos Indígenas aconteceram mensalmente, com participação de profissionais, graduandos, indígenas e não indígenas, que tinham interesse em aprender sobre a saúde destes povos, sendo oportunizada a ampliação de conhecimentos a respeito e sensibilização para a diversidade cultural. Baseado nos Círculos de Cultura de Paulo Freire e outras metodologias ativas de ensino-aprendizagem, os encontros foram realizados na própria Instituição, num total de cinco encontros em 2017, com duração de quatro horas cada. Em cada encontro havia uma temática principal guiada por uma questão orientadora, que inicialmente foram mais específicas sobre a saúde indígena, no entanto, ao longo dos encontros, foram ampliadas para outros temas afins e importantes para o contexto em que vivem as populações indígenas e que de forma indireta envolvem também o campo da saúde. Em ordem cronológica, as questões orientadoras foram: 1) O que é ser indígena? 2) Há relação entre saúde e cultura? 3) Saúde indígena enquanto direito: é necessário? 4) Quais as aproximações entre cosmologia e saúde? 5) Por quê o indígena na UFSCar? Os encontros tiveram uma estrutura geral padrão, iniciando com um acolhimento dos participantes com uma fala inicial de boas-vindas e apresentação feita pelos coordenadores; seguido por uma atividade disparadora da temática, ainda em grande grupo, como assistir a um vídeo, utilização de tarjetas, ou troca de ideias inicial; depois os participantes eram divididos em quatro pequenos grupos, que se reuniam em salas diferentes. Em cada pequeno grupo discutia-se a questão central, quando cada pessoa trazia suas vivências, reflexões, fazia a leitura de pequenos trechos de texto, sempre com foco em fazer relações com o tema. A síntese da discussão em pequeno grupo era registrada em cartolinas, papel A4 ou em tarjetas. Terminado esse momento, todos os participantes se reuniam novamente em grande grupo, quando cada pequeno grupo compartilhava suas sínteses com o grupo maior, possibilitando novas reflexões e mais diálogos através dessa nova síntese coletiva. Além dos encontros presenciais, foi criado um blog, onde a cada encontro foram disponibilizados conteúdos complementares, compostos de livros, artigos, filmes e músicas, que propiciaram aos participantes um maior aprofundamento e discussão a respeito da temática da Roda. Ao final de cada encontro cada participante podia realizar uma síntese individual no espaço do blog "Diário de atividade" registrando o que aprendeu durante a Roda. Para os participantes que estiveram presentes em 75% dos encontros e que realizaram as atividades à distância, foi conferido um certificado de participação no Projeto de Extensão. RESULTADOS: As Rodas sobre Saúde dos Povos Indígenas tiveram seu início no ano de 2016 a partir de uma demanda dos próprios participantes do PET-Indígena Ações em Saúde, mas desde então vêm ganhando um número maior de interessados. Houve um grande aumento progressivo no número de participantes do ano de 2016 para 2017, com 35 e 87 respectivamente, sendo frequentado por indígenas e não indígenas, estudantes e professores da UFSCar, profissionais da área da saúde e educação do município, pesquisadores da região, entre outros. Foram espaços de reflexão, discussão e diálogos muito ricos, com troca de conhecimentos e experiências e relatos das vivências pessoais. Não foi possível realizar atividades em todos os meses devido a processos de greve na Instituição e alterações no calendário escolar, o que levou a acontecerem apenas cinco Rodas. No último encontro foi realizada uma avaliação da atividade através de um questionário com perguntas abertas distribuído aos participantes. Estes resultados servirão para aprimorar a atividade em suas próximas edições. Nas avaliações realizadas, percebemos que estas discussões colaboram no reconhecimento enquanto indígena, favorecem a compreensão histórica e política sobre os processos de exclusão e opressão sofridos por estes povos, bem como reflexões sobre o indígena na contemporaneidade e seu papel na sociedade, seja nas aldeias, seja nas cidades e na universidade.CONSIDERAÇÕES FINAIS: O formato de discussão em Rodas de Conversa sobre as temáticas da saúde indígena proposta possibilitou a construção de novos saberes interdisciplinares através da imersão dos participantes no contexto complexo da saúde nestes territórios, abordando temas sobre as políticas públicas, as relações dos conflitos de terras e a saúde pública e luta por direitos, e o quanto tudo isso tem implicações diretas sobre a saúde dos povos indígenas. Outro resultado dessa atividade foi dar visibilidade a temática sobre as questões de saúde indígena, colaborando em suas qualificações e podendo despertar o interesse dos profissionais de saúde para as questões das especificidades étnico-culturais. Este diálogo aponta ainda para possibilidades de inserção da temática da saúde indígena nas matrizes curriculares dos diferentes cursos de graduação na área da saúde da Instituição, para que favoreçam o desenvolvimento de competência cultural para o futuro profissional de saúde, independentemente de seu cenário de atuação.

5283 ATUAÇÃO DA PSICÓLOGA NA SAÚDE INDÍGENA
Aline Lorena da Silva Lima, Bianca Tsubaki, Álvaro Pinto Palha Júnior, Marcela Acioli, Camila Rodrigues, Maycon Correia Pinto, Eluana Carvalho, Isabela Ramos

ATUAÇÃO DA PSICÓLOGA NA SAÚDE INDÍGENA

Autores: Aline Lorena da Silva Lima, Bianca Tsubaki, Álvaro Pinto Palha Júnior, Marcela Acioli, Camila Rodrigues, Maycon Correia Pinto, Eluana Carvalho, Isabela Ramos

Um dos grandes desafios atuais para a Psicologia é a compreensão da sua atuação em meio aos Povos Indígenas, apesar dos profissionais se depararem com esses povos em espaços de atenção primária, secundária e terciária em saúde e demais políticas públicas ao longo da história da psicologia no Brasil, a inserção do psicólogo em instituições voltadas especificamente para a intervenção com Povos Indígenas tem marco histórico demarcado na política pública de saúde, através da Portaria MS/GM nº 2.759, de 25 de outubro de 2007, que inicia o Programa de Saúde Mental Indígena no âmbito da Secretaria Especial de Saúde Indígena do Ministério da Saúde, estrutura integrante do Subsistema de Atenção a Saúde Indígena do Sistema Único de Saúde – SASI/SUS. Os profissionais que atuam neste âmbito vêm galgando seu ofício de maneira gradativa e cautelosa, tendo em vista que esta prática está necessariamente ligada às questões subjetivas e que a compreensão das demandas acerca dos povos indígenas deve ser entendida a partir da perspectiva dos mesmos, em uma lógica que se inicia no território. A referida política pública é a que acumula bases mais sólidas e ações mais concretas na construção de caminhos possíveis para atuação de psicólogas(os) com povos indígenas. Tal constatação, somado ao fato de parte dos autores deste trabalho terem experiências acumuladas no SASI/SUS, aponta as discussões para uma priorização do debate localizado na Política Nacional de Atenção à Saúde dos Povos Indígenas. Dessa forma, o trabalho proposto tem como objetivo a reflexão sobre a atuação do profissional psicólogo a partir da literatura acadêmica, somado a pesquisas e experiências que os integrantes do Grupo de Trabalho (GT) Psicologia e Povos Indígenas do Conselho Regional de Psicologia Pará e Amapá (CRP) da 10 Região vêm tecendo desde a sua criação. O referido GT é formado por estagiários e profissionais do Distrito Sanitário Especial Indígena Guamá Tocantins e Distrito Sanitário Especial Indígena Xingu. Em suas práticas tem acumulado atuações em saúde indígena, pesquisas acadêmicas e intervenções do GT acerca da temática da atuação do psicólogo neste âmbito. Dentre as reflexões continuamente construídas pelas experiências dos integrantes do referido GT, há considerável importância apontada para o diálogo como parte indispensável para a atenção em saúde nestes contextos, tendo em vista que se deve exercitar a compreensão da(s) cultura(s) do povo com o qual se atua, para somente então, construir junto aos sujeitos com quem se presente atuar, as demandas reais de cuidado e os caminhos possíveis para responder às mesmas, priorizando sempre os saberes locais. Esta troca é fundamental ao considerarmos a história de contato que pesa sobre os atuais contextos históricos e sociais dos povos indígenas e populações não indígenas que se relacionam com os mesmos. As histórias destes encontros deixam marcas que devem ser consideradas, sob o risco de investir em uma estratégia patológica que interfira negativamente nos movimentos de autonomia e liberdade de todos envolvidos. De forma que temos compreendido cada vez com mais convicção que a(o) psicóloga(o) deverá pautar seus encontros, sempre singulares, na necessidade de compreender as tecnologias locais de cuidado desenvolvidas pelos sujeitos com quem pretende o encontro, pois o diálogo deve ter esta base como princípio para diálogo de caminhos que possam ser aprimorados e aqueles que possam ser substituídos por uma nova tecnologia. Destarte, é preciso com urgência construir caminhos singulares para construção de consensos para demandas de cuidado, pois nem sempre o que se pudesse caracterizar como demanda psicológica para os profissionais da saúde não indígena, se apresentará como sofrimento para aquele grupo ou indivíduo indígena. Cada povos ou coletivo tem seus próprios modos de compreender o mundo, sua epistemologia e cosmologia próprias, de maneira que um acontecimento compreendido como problema por um povo em uma comunidade não será necessariamente considerado da mesma maneira em outra. Dessa maneira, a Psicologia como área que problematiza os comportamentos e subjetividades individuais e coletivos com o objetivo de elaborar estratégias de cuidado, prevenção e amparo, se inclina sob a fala dos povos indígenas, na busca de encontrar caminhos possíveis para o cuidado que o profissional deverá articular juntamente com a comunidade na construção de bem viver que faça sentido para a população. Para tanto, é necessário que o psicólogo se dedique à contínua desconstrução e reconstrução de suas práticas. De forma que outra importante ferramenta apontada como estratégica para atuação do psicólogo com povos indígenas é a escuta qualificada. Ouvir além do sentidos óbvios de palavras e comportamentos, apostando em compreensões construídas dialogicamente na vivência compartilhada com os povos indígenas, ouvir para muito além do óbvio e dado como “natural”. Ao levantamos reflexões sobre a atuação do psicólogo na saúde indígena é necessário ressaltar a importância do respeito à cultura, valorização da comunidade e do indivíduo para a construção de uma intervenção conjunta e apropriada de ações da própria cultura local para as demandas que possam emergir. Para tanto, pontuamos por fim, mesmo que temporariamente, alguns caminhos possíveis que podem auxiliar psicólogas(os) em suas práticas junto aos povos indígenas, estes são: estabelecer vínculo com a comunidade, construindo relações de confiança e solidariedade que não se restrinjam às diretrizes formais e administrativas; considerar o território (geográfico e subjetivo) para o povo com o qual se trabalha, entendendo que os lugares em que os povos indígenas vivem tem geralmente compreensões que não são facilmente traduzidos por nossos conhecimentos e são base para apontar caminhos mais adequados para cada demanda; compreender a(s) identidade(s) que representa este povo; como estão os vínculos entre a comunidade, compreendendo as histórias de amizade e/ou inimizade entre sujeitos ou famílias, as categorias de parentesco, formação das famílias, constituições de casamento possíveis ou não, regras de convívio adequados e inadequados, dentre outros acordos locais; fomentar a autonomia e protagonismo dos povos indígenas, compreendendo como único caminho possível para promoção de saúde, compreendendo como base para compreensão dos processos de saúde e doença; bem como garantir a sustentabilidade das ações em sua prática dentro do âmbito de populações indígenas, evitando apostar em estratégias que produzam dependência de fatores externos ao território e povos com quem se está atuando.