212: Interprofissionalidade no cotidiano da formação e do trabalho: experiências e inovações
Ativador: A definir
Data: 01/06/2018    Local: FCA 02 Sala 01 - Bacurau    Horário: 10:30 - 12:30
ID Título do Trabalho/Autores
4394 EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA E A FORMAÇÃO PARA A INTERPROFISSIONALIDADE: INTERLOCUÇÃO ENTRE EXPERIÊNCIAS NO VER-SUS, PRÓ/PET SAÚDE E PROJETO RONDON
Alisson Maurício Monteiro, Natanael Chagas, Gelvani Locateli, Thiago Costa, Jean Wilian Bender, Letícia Dal Magro, Andressa Antônia Trizotto, Cláudio Claudino da Silva Filho

EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA E A FORMAÇÃO PARA A INTERPROFISSIONALIDADE: INTERLOCUÇÃO ENTRE EXPERIÊNCIAS NO VER-SUS, PRÓ/PET SAÚDE E PROJETO RONDON

Autores: Alisson Maurício Monteiro, Natanael Chagas, Gelvani Locateli, Thiago Costa, Jean Wilian Bender, Letícia Dal Magro, Andressa Antônia Trizotto, Cláudio Claudino da Silva Filho

Apresentação O trabalho em saúde demanda significativo arcabouço de competências e habilidades, na medida em que a complexidade do ser humano produz um emaranhado de demandas e necessidades singulares. Os processos formativos em saúde têm a responsabilidade de formar profissionais capacitados e implicados com a integralidade da atenção, que demanda uma abordagem interdisciplinar e, inexoravelmente, um trabalho interprofissional. Essa perspectiva encontra ressonância nas políticas públicas de saúde do Brasil, que tem desde 1990 o Sistema Único de Saúde (SUS), embasado em princípios e diretrizes que buscam assegurar uma atenção integral em saúde. A partir do momento que percebemos que nosso sistema de saúde presta cuidados fragmentados e pouco resolutivos, se torna essencial pensar novos modelos de formação da força de trabalho em saúde. Com vistas a assegurar a formação de profissionais da saúde com competências e habilidades para melhor atender às necessidades do SUS, novas Diretrizes Curriculares Nacionais para Cursos Universitários da Área da Saúde (DCNs) foram elaboradas, tendo grande influência no que diz respeito à integração curricular voltada à interdisciplinaridade e ao atendimento às diretrizes do SUS. Nessa perspectiva, adotar a educação interprofissional como possibilidade para a formação profissional se mostra um caminho promissor para a reorientação das ações em saúde. A interprofissionalidade possibilita reagrupar conhecimentos que estão dispersos, oferecendo uma assistência em saúde mais resolutiva e satisfatória, com profissionais mais aptos ao trabalho colaborativo e ao diálogo em equipe nos espaços de saúde. Considerando a extensão universitária como importante subsídio na formação para a interprofissionalidade, o presente trabalho tem como objetivo apresentar uma interlocução entre experiências no Vivências e Estágios na Realidade do Sistema Único de Saúde (VER-SUS), Programa Nacional de Reorientação da Formação Profissional em Saúde (PRÓ-Saúde) articulado ao Programa de Educação pelo Trabalho para a Saúde (PET-Saúde) e Projeto Rondon. Para isso, percorremos o campo da formação interprofissional, apresentando as contribuições das vivências no contexto da extensão universitária para a formação profissional voltada à interprofissionalidade.  Descrição da experiência O presente relato de experiência é constituído pelas vivências de profissionais e estudantes da área da psicologia, enfermagem, odontologia, nutrição e medicina em projetos de extensão universitária de Instituições de Ensino Superior do estado de Santa Catarina. Contempla-se nesse trabalho os projetos: VER-SUS – Oeste Catarinense (2015/2016) PRÓ-Saúde e PET-Saúde (2013/2014/2015) e Projeto Rondon Nacional (2014) e Rondon regional (2016). O projeto VER-SUS é um mecanismo educativo voltado à formação de profissionais da saúde para o SUS, tendo compromisso ético-político com as diretrizes e princípios que regem o sistema de saúde. Os integrantes do projeto são estudantes de graduação e pós-graduação das mais diversas áreas do conhecimento. O projeto é realizado no período de férias acadêmicas, no formato de imersão durante o período de 8 dias. Sua formatação utiliza metodologias ativas de aprendizagem e propicia aos estudantes experienciar os espaços de aprendizagem e trabalho do SUS. Os cenários principais de atuação do projeto são os serviços de saúde pública, iniciando nas Unidades Básicas de Saúde (UBS) até os serviços especializados e/ou de alta complexidades. O PRÓ-Saúde, foi criado através de parceria entre o Estado e Instituições de ensino Superior, com a proposta de reorientar a formação em saúde na direção dos princípios e diretrizes do SUS através da integração ensino-serviço. Com o monitoramento e avaliação do PRÓ-Saúde e, consequente, identificação dos avanços e desafios a serem enfrentados, surgiu o PET-Saúde, que agregou o fator pesquisa a esse movimento de reorientação da formação. Ambos os projetos envolviam docentes e discentes de todos os cursos de graduação em saúde, em atividades de pesquisa e extensão desenvolvidas no contexto local, durante o período de dois anos. O Projeto Rondon, ao contrário dos anteriores, não é um mecanismo diretamente voltado para a área da saúde, mas sim para um conjunto de ações afins de proporcionar experiências e aprendizados para os acadêmicos tanto quanto para a população contemplada por essas atividades. O projeto existe na esfera Nacional, coordenado pelo Ministério da Defesa, e no âmbito regional, coordenado por Instituições de Ensino Superior. Ambos os contextos se caracterizam pela extensão universitária, na direção de permitir que estudantes dos mais diversos cursos de graduação participem das atividades de forma interprofissional.   Resultados As vivências produzidas a partir da imersão nos projetos reforçam o que a já é apontado pela literatura: a educação é inseparável dos processos de trabalho, de tal modo que na própria atividade há uma aprendizagem em acontecimento, como algo intrínseco. Podemos considerar que estratégias calcadas na interdisciplinaridade e voltadas à integração ensino-serviço de forma interprofissional são um caminho possível para a reorientação da atenção em saúde com vistas à integralidade. Iniciativas como o VER-SUS, PRÓ-Saúde, PET-Saúde, e Projeto Rondon emergem, nesse cenário, como estratégias mobilizadoras para a reorientação da formação profissional em saúde, tendo como fio condutor a práxis interprofissional voltada à integralidade. Ambos os projetos de extensão têm como principal cenário o SUS, o que possiblilita uma formação profissional implicada com a política pública de saúde.  Na aproximação do acadêmico com a realidade do SUS (fundamento do VER-SUS), entendemos que ser profissional de saúde não é ser apenas a força de trabalho que move um sistema, mas principalmente, é ser protagonista no processo de atenção à saúde, seja no âmbito das práticas quanto no espaço da gestão do próprio trabalho. O PRÓ-Saúde e o PET-Saúde, objetivam a formação de profissionais da saúde para o trabalho multiprofissional e interdisciplinar na formação e atuação profissional, em busca da integralidade da atenção à saúde. Através das experiências no PRÓ-Saúde e PET-Saúde, percebe-se que os mesmos constituem importantes mobilizadores para a interprofissionalidade, ao passo que induzem a novas formas de interação entre os cursos, docentes e discentes, bem como trabalhadores e usuários, integrando ensino/serviço. No projeto Rondon, a construção de novos conhecimentos é compartilhada entre os estudantes participantes e a população residente no território contemplado pelas ações. O compartilhamento de tecnologias e habilidades construídas nas universidades, bem como dos conhecimentos populares/cultura, possibilitam uma formação acadêmica mais crítica e implicada com o contexto social. Propicia a sensibilização dos participantes quanto às diferentes realidades e problemáticas, aprimorando a dimensão humanista, assim como contribui para a ampliação da formação profissional para além dos limites técnicos e profissionais. Ao considerar a síntese das experiências nos referidos projetos de extensão, nota-se uma certa paridade nas linhas de pensamento, principalmente na questão de educação interprofissional. Ambos os projetos estimulam e proporcionam que os acadêmicos se relacionem com diversas profissões, favorecendo discussões e construções coletivas de conhecimento. A reorientação da formação profissional estará refletida posteriormente nos campos de atuação profissional, quando os profissionais estarão executando planejamentos, análises, propostas, intervenções com conhecimento e olhar diferenciado e ampliado, e não mais unidirecional.   Considerações finais Diante disso, destaca-se a importância da extensão universitária como elemento basilar do processo de formação profissional, abalizando a necessidade de proporcionar maior acesso dos acadêmicos a programas e projetos, contemplando uma organização e corpo docente que apoiem a educação interprofissional, a ampliação de financiamento e, não menos importante, a curricularização da extensão. Também deve-se considerar a importância de uma educação interprofissional de caráter permanente e longitudinal, no sentido de que deva ser parte do desenvolvimento profissional contínuo do indivíduo, desde a graduação e tendo continuidade durante toda a sua carreira.

4425 PROGRAMA INTERDISCIPLINAR COMUNITÁRIO: ESPAÇO DE POTÊNCIA PARA A FORMAÇÃO INTERPROFISSIONAL EM SAÚDE
Rodrigo Jácob Moreira de Freitas, Rúbia Mara Maia Feitosa, Wanderley Fernandes da Silva

PROGRAMA INTERDISCIPLINAR COMUNITÁRIO: ESPAÇO DE POTÊNCIA PARA A FORMAÇÃO INTERPROFISSIONAL EM SAÚDE

Autores: Rodrigo Jácob Moreira de Freitas, Rúbia Mara Maia Feitosa, Wanderley Fernandes da Silva

As instituições de ensino passaram a buscar novas estratégias de ensinar/aprender a fim de que a formação dos trabalhadores, em especial de saúde, seja adequada à conformidade do modelo de atenção à saúde, pautada na prevenção e promoção dos determinantes e condicionantes de saúde/doença. Faz-se oportuno que o projeto político pedagógico dos cursos de graduação em saúde possa operar com concepções teóricas e metodológicas que insiram, desde cedo, os acadêmicos na comunidade atuando e aprendendo com outros profissionais, buscando estratégias para uma formação pautada na educação interprofissional, intersetorial e interdisciplinar. Desse modo, a interprofissionalidade caminha no sentido de fazer com que os diversos atores/atrizes com diferentes formações na saúde, articulem seu saber com o dos outros para a organização do trabalho, dispostos a transitar entre as áreas específicas de formação, compartilhando ações e delegando atividades a outros profissionais, nos moldes de uma prática colaborativa e interdisciplinar. Pensando nesse contexto da formação em saúde, a Universidade Potiguar (UnP), oferta em sua proposta curricular dos cursos de graduação em saúde a disciplina Programa Interdisciplinar Comunitário (PIC). Constitui-se num importante espaço para o exercício da interdisciplinaridade e interprofissionalidade na formação, atuando junto a Estratégia de Saúde da Família, a partir da colaboração entre os futuros profissionais de Saúde. Com isso, objetiva-se relatar as experiências de docentes de enfermagem na disciplina PIC, acerca do pro­cesso de ensino-aprendizagem interprofissional que se estabeleceu com os acadêmicos dos diferentes cursos da área da saúde na construção das intervenções comunitárias realizadas numa das 64 equipes da Estratégia de Saúde da Família do município de Mossoró (RN), ressaltando as potencialidades e desafios da disciplina para a formação interprofissional em saúde. O relato envolve os cinco anos de experiências da disciplina, ofertada durante o 6º período do curso de enfermagem, e 5º período dos cursos de nutrição, fisioterapia, psicologia e serviço social. O PIC tem o objetivo de trabalhar os princípios e as diretrizes do Sistema Único de Saúde na perspectiva da Atenção Primária em Saúde, fortalecendo as ações de promoção e prevenção dos riscos e agravos a qual a comunidade está submetida. Para isso, os alunos precisam construir, por meio de aprendizagem colaborativa, estratégias de diagnostico comunitário, análise territorial, a fim de intervir nos problemas encontrados no território vivo das comunidades. Conta com dois professores por curso para serem tutores/facilitadores do processo de aprendizagem dos grupos, que ocorre em momentos presenciais e de atividades no território. Os encontros presenciais servem para a discussão de conceitos importantes como interprofissionalidade, trabalho em equipe, territorialização, e as atividades são planejadas a partir do referencial teórico proposto pelo Arco do diagrama, do Método do Arco de Maguerez e da Teoria de Intervenção Práxica de Enfermagem em Saúde Coletiva (TIPESC), construída por Egry (1996). Nesse sentido, as estratégias metodológicas da disciplina seguem os seguintes movimentos: observação da realidade nas três dimensões (Estrutural, Particular e Singular), interpretação da realidade objetiva, pontos-chave, teorização, reinterpretação da realidade, hipótese de solução e aplicabilidade. Dessa forma, munidos de um roteiro norteador, os alunos são instigados a identificar as necessidades sociais de saúde presentes na comunidade, com a finalidade de elaborar estratégias para intervir no problema encontrado na realidade. O roteiro norteador é composto por duas etapas: a primeira delas destina-se para a busca nas bases de dados do Ministério da Saúde a procura de dados e informações acerca das condições de saúde a nível nacional, estadual, municipal. Os dados coletados auxiliam na reflexão do processo de territorialização em saúde. Ainda no primeiro momento, inicia-se a inserção dos alunos na comunidade a fim de identificarem no território barreiras de acesso, áreas de concentração de grupos, equipamentos sociais, áreas de risco presentes na comunidade. Os dados coletados são analisados e subsidiam a construção do projeto de intervenção comunitária. O território de investigação compreende aos locais de atuação das equipes de Estratégia de Saúde da Família do município; a segunda etapa do roteiro consiste na elaboração e execução dos projetos de intervenção a partir dos problemas identificados nas três primeiras etapas do Método do Arco de Maguerez. Assim, o quarto e o quinto passo apontam a construção de projetos de intervenção bem como sua aplicabilidade no território. Diversos temas já surgiram e marcaram esses cinco anos de desenvolvimento da disciplina, tendo sido realizado ações sobre meio ambiente, violência, saúde mental, doenças crônicas, direito à saúde, família, trabalho em equipe, saúde do homem, discussões de gênero entre outros. As ações contam com metodologias diversas e com a colaboração dos alunos do grupo, desenvolvendo na prática competências especificas de cada curso, bem como competências interprofissionais. Por fim, como forma de avaliação proposta, os alunos realizam uma “Amostra do Programa Interdisciplinar Comunitário”, onde eles expõem para a comunidade acadêmica da UnP, por meio de fotos e vídeos, os materiais desenvolvidos durante toda a disciplina. Assim, compreende-se que por meio das metodologias ativas, os processos pedagógicos relacionam-se com a resolução de problemas de forma crítica e reflexiva, no intuito de promover a interação entre os atores, com foco não só no aspecto cognitivo do conhecimento, mas, também, assumindo a necessidade do desenvolvimento de outras habilidades interpessoais e atitudes para o trabalho em equipe, compreendendo o processo de trabalho em saúde em grupo e a interprofissionalidade. Assim, os sujeitos problematizam sua práxis, tornando-se capazes de transformá-la, e, ao mesmo tempo, transformarem a si mesmos. Dessa forma, ao refletir sobre as experiencias durante a disciplina podemos pensar o PIC como um espaço potente para a formação interdisciplinar e interprofissional, que favorece o desenvolvimento de profissionais com habilidades para o trabalho em equipe, pretendendo fomentar uma formação libertadora, pautada no trabalho vivo, vinculado às tecnologias leves que envolvem a saúde. Porém, é um espaço que não é livre de conflitos e desafios que perpassam a formação em saúde com a multiplicidade de sujeitos envolvidos nesse processo. Muitas vezes os alunos e os docentes da disciplina relatam as dificuldades durante os encontros com os grupos, evidenciando os conflitos, desejos divergentes, falta de afinidade entre os componentes do grupo de trabalho. Além disso, inicialmente há uma dificuldade de compreensão dos objetivos e as metodologias utilizadas na disciplina por parte de alunos e professores, questionando a necessidade de unir alunos de outros cursos, bem como o porquê dos encontros não seguirem um modelo tradicional de aula. Outro ponto de conflito está nos projetos pedagógicos dos diferentes cursos, que não possuem uma base teórica pautada nos saberes da saúde coletiva. Reafirma-se que a disciplina PIC é um exercício, onde professores e alunos desenvolvem estratégias pensadas para a superação do modelo tradicional de ensino em saúde, ainda focado no tecnicismo, biologicismo e especialização de saberes isolados. Espera-se que a mesma possibilite modificar o processo de ensino-aprendizagem, consequentemente, a formação de diferentes sujeitos profissionais de saúde. Ela encontra-se em permanente construção, sendo modificada a cada período para dar conta das necessidades que surgem dos alunos, usuários do serviço e professores. Aponta-se como limitação o fato da discussão interprofissional ficar restrita à disciplina e a alguns momentos de simulação interprofissional, em especial durante o Estágio Supervisionado Obrigatório na Clínica Integrada de Saúde da instituição, evidenciando a necessidade da construção de currículos integrados interprofissionais para os cursos da área da saúde e aprofundamentos na discussão em saúde coletiva.

5115 VIVÊNCIAS DE APOIO MATRICIAL NA FORMAÇÃO INTERPROFISSIONAL EM SAÚDE
Maurício Teixeira, Olinda Maria de fátima Lechmann Saldanha, Andreas Rucks Varvaki Rados, Gabriel Trevisan Correa, Magali Terezinha Quevedo Grave, Sandro Frohlich, Fábio Guarnieri, João Augusto Peixoto de Oliveira

VIVÊNCIAS DE APOIO MATRICIAL NA FORMAÇÃO INTERPROFISSIONAL EM SAÚDE

Autores: Maurício Teixeira, Olinda Maria de fátima Lechmann Saldanha, Andreas Rucks Varvaki Rados, Gabriel Trevisan Correa, Magali Terezinha Quevedo Grave, Sandro Frohlich, Fábio Guarnieri, João Augusto Peixoto de Oliveira

APRESENTAÇÃO: O trabalho objetiva relatar uma vivência interprofissional realizada por docentes e estudantes, por meio de atividades práticas e estágios curriculares obrigatórios dos cursos de graduação da área da saúde, na Clínica Universitária Regional de Educação e Saúde - Cures. O texto apresenta a caracterização do serviço, as demandas que motivaram a equipe a implementar as ações de Apoio Matricial e os impactos dessas ações junto aos serviços e no processo de formação interprofissional. A Cures, é um serviço-escola (SE), localizado no município de Lajeado, no estado do Rio Grande do Sul, criado e mantido pela Universidade do Vale do Taquari - Univates, instituição de Ensino Superior (IES) comunitária e sem fins lucrativos. Iniciou suas atividades em março de 2011 com docentes, estudantes e supervisores da área da saúde que desenvolvem atividades práticas vinculadas às disciplinas e aos estágios curriculares em interação com as equipes da rede de municípios da região. Atualmente, o serviço agrega os cursos de Biomedicina, Educação Física, Farmácia, Fisioterapia, Medicina, Nutrição, Odontologia, Pedagogia e Psicologia. Cada curso conta com um profissional da área, denominado de supervisor local, que é o responsável pelo acompanhamento das atividades e avaliação dos estudantes e estagiários. O serviço propõe-se a integrar uma rede regional de cuidados do campo da Saúde, da Educação e da Assistência Social dos municípios conveniados com a IES, onde as vivências e intervenções estão baseadas nos princípios da interdisciplinaridade, da integralidade e da intersetorialidade. As ações de cuidado são planejadas e desenvolvidas em parceria com profissionais dos municípios da região, visando de modo simultâneo, os atendimentos às pessoas, a qualificação dos trabalhadores de saúde da rede e a formação interprofissional dos estudantes. DESCRIÇÃO DA EXPERIÊNCIA: O SE tem como referência as proposições da ampliação da clínica e a realização de projetos terapêuticos que demandam estudo, abertura para romper com antigos modelos de intervenção e cuidado em saúde. Ao articular as atividades de estágio, como serviços de saúde e educação da rede pública e a proposição da construção conjunta de PTS para os usuários referenciados surgiu o tensionamento interinstitucional em função das diferenças nos modos de organização dos processos de cuidado entre o SE e as equipes da rede. As equipes dos municípios relataram fragilidades e dificuldades para a implementação das ações de cuidado propostas para os usuários. Estas dificuldades eram de relacionamento entre os profissionais, entre as equipes da rede ou relacionadas aos processos de trabalho e à promoção de cuidado. Os relatos dos trabalhadores apontavam que ainda predominava o fazer disciplinar e fragmentado nas ações de cuidado, contrapondo-se às mudanças propostas pelo SUS e pelo SE. Diante deste contexto, a equipe interprofissional da Cures passou a desenvolver ações de apoio matricial (AM) com equipes dos municípios de origem dos usuários referenciados. Uma equipe da CURES, constituída por estudantes/estagiários, sob a orientação e participação de um docente/supervisor formulava uma proposta para a realização de encontros periódicos para o AM, que era apresentada e pactuada com a equipe municipal. O AM é uma ferramenta institucional para promover a interlocução com os profissionais, de modo a horizontalizar as especialidades e trabalhar com a cogestão dos saberes e relações interprofissionais. O início das ações foi precedido pela apresentação da proposta e dos objetivos do AM ao grupo de estagiários do SE.  Os estudantes poderiam inscrever-se para compor as equipes ou eram convidados pelos docentes para participar e iniciavam estudos sobre o AM e sobre as demandas e o contexto da equipe que seria apoiada, coordenados por um docente.  As atividades de AM foram realizadas entre 2013 e 2015 para equipes de municípios de pequeno porte, que não possuíam equipes de Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF). Os encontros com os profissionais dos municípios eram mensais, com datas previamente agendadas e duração média de duas horas cada um. Ao final de cada encontro de AM a equipe do SE reunia-se para relatar as situações vivenciadas e observadas, seguida de debates e problematizações, buscando identificar e compreender o funcionamento, as demandas, necessidades, potencialidades e fragilidades das equipes. Também eram avaliadas as intervenções, sentimentos e desafios para a equipe do SE. As ações de AM foram desenvolvidas com equipes de um Centro de Atenção Psicossocial (CAPS), uma equipe de um Centro de Referência em Assistência Social (CRAS) e uma equipe de Estratégia de Saúde da Família (ESF). Cada uma teve a duração de pelo menos um ano. RESULTADOS: Os encontros oportunizaram a escuta dos trabalhadores, a valorização dos saberes de cada um, a identificação das situações de satisfação e de dificuldades no trabalho e a problematização das situações descritas. A equipe de apoio instigava os profissionais para o reconhecimento de suas potencialidades e responsabilidades com a população e o planejamento e execução de ações de cuidado, por meio de oficinas, rodas de conversa e visitas domiciliares. A partir destes encontros ocorreram algumas mudanças nos processos de trabalho das equipes, que passaram a problematizar e planejar ações de cuidado para alguns usuários que demandavam maior atenção, maior articulação com outros serviços da rede, estabelecendo parcerias e pactuações entre os serviços. No entanto, também ocorreram dificuldades, entre elas, a falta de adesão de alguns profissionais de saúde e a interrupção das atividades de AM, com a mudança de gestão nos municípios. Para as equipes da CURES, as ações proporcionaram aos estudantes que integraram as equipes de AM do SE a possibilidade de interagir com os profissionais das equipes municipais, conhecer os contextos e as demandas e participar do processo de problematização e planejamento de intervenções nos diferentes cenários. As vivências e aprendizagens foram destacadas pelos estudantes e docentes, pela possibilidade de conviver e analisar os desafios que envolvem os processos de gestão e cuidado nos serviços de saúde. CONSIDERAÇÕES FINAIS: A realização de ações de AM na rede de serviços municipais de saúde mostrou-se uma estratégia potente tanto do ponto de vista pedagógico quanto no tensionamento para a construção de processos de trabalho de cuidado em saúde. Experiências como estas representam avanços na formação de profissionais, que acreditem na importância do trabalho em equipe e da integralidade da atenção no cuidado ao sujeito. O trabalho também reforça o compromisso com os princípios do Sistema Único de Saúde (SUS) e a responsabilidade da Universidade na formação de profissionais comprometidos com a promoção da saúde e da vida.

5418 "CAMINHOS IMPROVÁVEIS: UM CONVITE AO OLHAR PERIFÉRICO": CONTRIBUIÇÕES PARA FORMAÇÃO INTERPROFISSIONAL EM SAÚDE POR MEIO DA ARTE
Nara Maria Holanda de Medeiros, Carlos Alberto Severo Garcia Junior, Heloísa Germany, Doriane Périco Lima

"CAMINHOS IMPROVÁVEIS: UM CONVITE AO OLHAR PERIFÉRICO": CONTRIBUIÇÕES PARA FORMAÇÃO INTERPROFISSIONAL EM SAÚDE POR MEIO DA ARTE

Autores: Nara Maria Holanda de Medeiros, Carlos Alberto Severo Garcia Junior, Heloísa Germany, Doriane Périco Lima

O Projeto “Caminhos Improváveis: um convite ao olhar periférico” discute a mediação da arte como perspectiva para educação interprofissional, interdisciplinar, criativa e crítica, por meio do acesso à diferentes linguagens artístico-culturais. Tratou-se de uma construção coletiva de um Portfólio Artístico Vivo, desenvolvido durante os encontros de Educação Permanente do Apoio Institucional no Ministério da Educação com o objetivo do fortalecimento das ações educativas do Projeto Mais Médicos para o Brasil; uma equipe de abrangência nacional, com representantes de todos os estados que atuavam junto à interface da educação em saúde. A equipe de apoiadores foi convidada à travessia de um caminho improvável nos encontros técnicos do AIMEC. Propomos um exercício de pausa, com deslocamento do olhar e produção de intervalos necessários para a ressignificação de nossas ações; relevantes, sobretudo, em espaços estriados, pelo que se percebe dos modos mais engessados de produção de conhecimento e cuidado em saúde. O Portfólio Artístico Vivo tomou forma pela imersão dos participantes em diferentes narrativas artístico-culturais, buscando ecos e pontos de conexões com a ciências da saúde, de forma que os conhecimentos da mesma se desvelassem em uma perspectiva complexa, multidimensional, sensível e com potenciais para o desenvolvimento de competências culturais: a criação e exposição das artes visuais foram atividades de caráter cultural, artístico, educativo e convidativo da reflexão quanto as possibilidades da arte para ampliação do conhecimento; aquisição de informações sobre as obras, técnicas e as formas de abordar da artista, marcada pelo tempo de fazer coadunar singularidades das ciências humanas e da saúde. A Mostra Poética foi uma atividade que provocou estímulo ao desenvolvimento do potencial criativo, foi apresentado um conjunto de "receitas poéticas prescritas" para o uso no decurso de um cuidado em saúde fazendo uma analogia com o receituário de uso médico estimulou-se a inspiração para romper com os silêncios e atingir um nível de discurso explícito. Uma elaboração poética inscrita como forma de produzir saúde, sobretudo, a arte de fazer versos para investigar a si e tudo ao redor. A produção do texto teatral foi uma atividade cultural que ocorreu por meio da prática interdisciplinar, que agregou conhecimentos da arte e da ciência da saúde, concebida a partir de uma perspectiva ampliada, cujo objetivo esteve no desenvolvimento de competências (culturais, técnicas e humanas) comuns às diferentes profissões. O texto teatral foi titulado pela autora como TraVEssia como sinônimo do verbo ver, perceber, corroborando com a ação educativa do texto em possibilitar a ampliação de olhares, considerando diferentes dimensões. A peça foi dividida em três atos, cujas cenas dizem respeito aos movimentos artísticos: Impressionismo, Expressionismo e Modernismo, em que se possibilita realizar uma leitura a partir das artes visuais, com narrativas a partir de algumas pinturas dos movimentos artísticos mencionados que foram analisados na perspectiva do eixo paradigmático do SUS, segundo conceito ampliado de saúde. As telas utilizadas foram as obras: Gioventù (1898) de Eliseu Visconti (1866-1944), datada de 1898, óleo sobre tela, 65 x 49 cm, Museu Nacional de Belas Artes; O grito (1893), quadro de Edvard Munch. Dimensões: 91cm X 73 cm. Galeria Nacional, Oslo e a obra Retirantes (1944), Cândido Portinari - Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand. O fio condutor do texto está em apresentar e fazer uma correlação entre os objetivos a serem alcançados pelos pintores dos diferentes movimentos artísticos e os atores sociais da saúde (estudantes e profissionais) face às suas concepções do real, assim problematizou-se que enquanto a concepção do real dos pintores impressionistas estava relacionada com o que era visível e biológico; a dos expressionistas estava implicada em expressar as emoções humanas e interpretar angústias psicológicas, apresentando uma concepção de real como sinônimo do que não é visível. A concepção de real dos artistas modernistas dialogava com a temática da complexidade e da abordagem ampliada, possibilitando leituras multidimensionais: biológica, psicológica, social, histórica, existencial, filosófica, religiosa, ética, considerando que a obra pode criar um universo de significações que jamais se esgota. Fazendo uma analogia com a área da saúde, o texto convida a reflexão e indaga a seguinte questão: “de que real se trata na saúde?”, tendo em vista a forte influência do modelo flexneriano na formação dos profissionais da saúde. O Convite Vivo para Interpretação e representação teatral ocorreu por meio do contato com diferentes pessoas, apresentando o conteúdo do texto, as possibilidades de papéis e de identificação com algumas faculdades artísticas pela improvisação contínua cujo objetivo da experiência livre de ensaios esteve na liberdade de conhecer, (re)conhecer-se; identificar-se, num exercício de (re)aproximação do plural. Importante ressaltar que a peça teatral foi baseada nos pressupostos do eixo paradigmático do SUS.             O estímulo e apoio permanente por novas produções artísticas ocorreram de forma presencial e a distância, neste caso como atividade de dispersão e recebiam apoio e colaboração da equipe criadora do projeto para o desenvolvimento das novas atividades artísticas-culturais planejadas, com foco na aprendizagem compartilhada e na execução de trabalhos em conjunto. A Produção de vídeo ocorreu durante a encenação da peça também como uma atividade de improvisação e iniciativa de membro da equipe. O Portfólio Artístico Físico constituiu-se da conjuração de diferentes formas de registro das experiências da construção coletiva do Portfólio Artístico Vivo de ação educativa-significativa. Ainda foram objetivos das atividades artístico-educativas-culturais: a valorização das expressões culturais; o incentivo a criação de novos projetos culturais; a promoção de ambiente educativo prazeroso propício a aprendizagem significativa-crítica; o fomento as estratégias de integração entre os profissionais por intermédio das diferentes narrativas artísticas-culturais, promovendo conhecimento e valores essenciais na perspectiva da aprendizagem compartilhada e criativa para o trabalho em conjunto, assim como o de fazer fluir o processo de integração de diferentes conhecimentos e valores. Tratou-se de um exercício de educação, gestão e atenção que no campo da humanização diz respeito a uma aposta ético-estético-política, dando espaço ao improviso cotidiano, que nos tornou mais criativos e menos previsíveis ao encontro com a possibilidade de experimentar outras formas de trabalho através da sensibilidade e do olhar periférico. A atuação com crítica e a crítica dentro de uma atuação foram formas elementares para que se avançassem os obstáculos do ensino e do trabalho em saúde. Esse processo envolveu trocas, produção de conhecimento, paciência e capacidade de flexibilização e comunicação educativa. Elementos constitutivos de um processo democrático e participativo, nem sempre fáceis de serem estabelecidos e exercitados. Nesse sentido, a arte e suas diferentes formas de expressão conectaram sujeitos e suas aprendizagens; sujeitos e seus trabalhos. A interferência artística contribuiu para a mudança de perspectivas e coletivos na nossa experiência e tornou-se o fio condutor para alimentar a necessária transformação social. Este projeto foi um convite ao pensar e fazer. Um projeto na interface entre arte e saúde. Arte não como ferramenta, ocupação, ilustração, recreação, terapia, mas como expressão, impressão, afecção. Saúde não como utopia, estado de equilíbrio, corpo hígido, mas como demonstração das relações que se estabelecem entre indivíduos e seus universos afeitos. Esse projeto reflete a necessidade de outras intervenções em diferentes âmbitos institucionais para criar conexões nem sempre definidas e delimitadas. O convite está lançado!