216: O trabalho em saúde em análise: como produzir identidades em movimento
Ativador: A definir
Data: 31/05/2018    Local: FCA 02 Sala 05 - Guariba    Horário: 15:30 - 17:30
ID Título do Trabalho/Autores
2351 Pesquisa, políticas de escrita e processos de saúde e subjetivação como enfrentamento do presente
Priscila de Andrade Lima

Pesquisa, políticas de escrita e processos de saúde e subjetivação como enfrentamento do presente

Autores: Priscila de Andrade Lima

De onde ou como se inicia a escrita de uma tese acadêmica? De onde ou como se inicia uma batalha, uma estética, uma defesa de mundo, uma política de escrita? Todos os meus cadernos começam com uma folha em branco, talvez para lembrar que a afirmação do presente tem antes um infinito desconhecido. Reluto na vontade, temo que essa escolha inicial fique enfadonha para o olhar acadêmico. Reitero a mim mesma que também sou o olhar acadêmico. Camarada, onde leres a primeira pessoa, compreenda a dimensão nós, a trama infinita do mundo, o que se repete nas diferenças, o emaranhado das linhas, a transversalidade. A vida não é algo pessoal. Fico incerta até entre o paradoxo e o agonístico. Somos irrepetíveis em nós de singularidades e coletividades. Daqui, com os teclados do notebook, ouço a máquina de costura da vizinha. Máquinas de costura me lembram infância, a criação e feitura da pele, a construção de si como obra de arte. Penso na costura como uma pista. Tomo um café. Sim, a escrita se faz como uma costura de pontos, vírgulas, palavras, ideias. Cada palavra pode ser tudo e nada. Toda palavra escolhida é vital, é colhida, é colheita, é a agricultura do corpopesquisador. No entre, no interstício da coragem-desejo que me move, assumo o risco e exposição – te convido a toma-lo junto, camarada - te conto uma história costurada como bricolagem micro e macropolítica, e nela vamos tecendo as pistas das complexificações dessa tese-jornada. Não é a história de um pequeno eu, é um inventário possível do trajeto das forças, de como elas chegam até aqui construindo e desconstruindo sentidos, é convocar ancestrais e documentar a luta na tentativa incessante de compreender e transformar o presente, jogando com as palavras e as ideias de escrever, viver, se ver – a escrita a partir do corpo que vive. Na segunda metade da década de 1970 surgiram no Brasil os chamados Novos Movimentos Sociais, os quais atuam ainda hoje como conectores dos saberes locais e saberes especializados e identificam novos modos de opressão para além da produção – é o alcance da geografia das subjetividades. Estes movimentos caracterizam-se como grupos estudantis, grupos de mulheres, associações de bairro, grupos de lutas por direitos sociais e democracia, entre outros. Essa maneira associa prática política e vida cotidiana, sustentando uma nova subjetivação e relação entre território/coletividades e gestão de políticas públicas sociais. Minha formação em Psicologia engajou-me em trabalhos, estudos e lutas nos quais tenho me comprometido em forjar forças e potências de articulação transdisciplinares, realizando uma psicologia que ultrapassa consultórios e settings, implicada com políticas públicas e mudanças sociais. Tomada por uma geografia das subjetivações, minha proposição na pesquisa de doutorado era pensar a produção de saúde da população a partir de espaços, atitudes e conceitos ampliados. O equipamento de saúde torna-se mais um meio, composição ativa e não única, dos indicativos da qualidade de existência. Neste sentido, ocupar as ruas e nos apropriarmos de espaços diversos da cidade e do campo, conviver-intervir em ruas, praças, equipamentos públicos de cultura, associações de moradores, universidades encarnando nas vidas em acontecimento, alcançando movimentos autônomos coletivos que se fazem como dispositivos de produção em saúde e subjetividade. Produzir saúde pública a partir de espaços ampliados e das relações e não apenas diagnósticos é também produzir subjetividades, é construir a vida como obra de arte, é fazer arte ao mesmo tempo em que se faz a vida-de-si, implicar-nos histórica e coletivamente aos ambientes, às propostas de cuidado e conhecimento, às dimensões democráticas de organização social e cultural. A experiência de migração dentro de meu país para a realização do doutorado veio acompanhada dos acontecimentos de corrupção e desmantelamento de políticas públicas e do movimento de ocupação da universidade em 2016 frente à Proposta de Emenda Constitucional 241 que propunha congelar as despesas do Governo Federal pelos próximos 20 anos, de acordo com cifras corrigidas pela inflação, freando assim possíveis avanços e investimentos tanto na saúde quanto educação. Indignados com a proposta governista e em retirada dos modos habituais da sala de aula, os estudantes de graduação ocuparam os espaços da faculdade, convocaram a pós-graduação para a luta e mantiveram a função pública de formação – debates minoritários e ações culturais. As salas de aula foram barradas por eles e colchões, cobertas, depósito de alimentos doados, cartazes por todos os lados eram as barricadas desses jovens. E foi a partir desse acontecimento e participação que a proposta de tese se fez uma tese-jornada em que o método é a própria experiência de escrever e acompanhar a política dos encontros que se fazem na universidade. A partir de uma perspectiva transdisciplinar podemos desestabilizar os campos das disciplinas para pensarmos e experienciarmos uma ética de luta que borre as fronteiras geográficas e de percepção, assim como perturbar o cansaço de olhares cristalizados, colocando em evidência a potência criativa e vital de nossas complexidades. Isto porque proponho uma obra aberta, artisticamente ensaística e que desafia a universidade à compreensão das questões que pedem passagem no presente, das exigências em saúde e do posicionamento crítico e afirmativo quanto às subjetivações capitalísticas que podem ser produzidas na exigência burocrática em encontro com as formações. As questões práticas da intersorialidade das políticas e a interface entre arte, saúde e cultura como corpo que chegou, deu espaço e abertura para a escuta e alargamento do presente: militância e trabalho em saúde e subjetividade a partir de um campo que se-faz-em-sendo: a própria escrita enquanto defesa de mundo, um mundo (im)possível, o cuidado de si no trabalho acadêmico, criar-se a si mesmo e o próprio processo de escrita como obra de arte. Como acompanhar de modo ético e não ingênuo o que está nos interstícios de um campo? Como construir uma alegria de corpo em tempos violentos? Como criar uma política de escrita que se torne uma arma de criação, resistência e produção de comum diante os acontecimentos do presente? Pode a escrita tornar-se uma experiência ética-estética-política de saúde? Quais processos de subjetivação estamos produzindo na universidade a partir de nossas políticas de escrita? Para que e para quem estamos escrevendo? Fico aqui quieta vasculhando-fabricando palavras e pensamentos. Para quem escrevo? Com quem escrevo? Habitar a solidão com alegria em situações conjunturais de crise pode ter grande utilidade pública. Não se perder de si e nem da alteridade é faísca e lastro para uma pesquisa-escrita que tenta não objetificar um problema ou seres, e tampouco debruçar-se sobre uma narrativa egóica narcísica. É a afirmação que construo enquanto autora e autoridade neste percurso-em-sendo. Não falo da autoridade enquanto fábrica de obras especializadas, mas de protagonizar a história que escolhi contar. Protagonística. Estar-em-sendo na agonística de estar. Para tanto, os companheiros de sensibilidade, os amigos de luta, as linhas quentes que aproximam os seres, as diferenças cotidianas que nos interpelam, os encontros revoltosos-amorosos são uma força motriz para a máquina de guerra do pensamento e da escrita. Este é um trabalho em início e em curso, propondo conexão e dialogicidades quanto aos corpos e pesquisas que produzimos para o enfrentamento do presente. Toda produção de conhecimentos está imbuída de uma postura que nos implica politicamente.  

2394 Pedagogia queer e a realidade das travestis na cidade de Manaus: tecendo conexões em direção ao questionamento
Cássio Péres Fernandes

Pedagogia queer e a realidade das travestis na cidade de Manaus: tecendo conexões em direção ao questionamento

Autores: Cássio Péres Fernandes

Queer, que inicialmente pode causar uma ideia de ligação apenas ao contexto homossexual, é uma palavra de origem estrangeira que é utilizada para denominar todos aqueles vistos como estranhos, inadequados e desviantes de uma norma e sociedade regulatória. Abrange todas aquelas pessoas que, de alguma forma, podem consistir em uma ameaça à ordem pública por não se enquadrarem nos padrões estabelecidos. Imersos um uma sociedade cisnormativa, inúmeras pessoas vivenciam movimentos excludentes dentro das escolas por não serem lidos como aceitáveis ou por ameaçarem um padrão de ensino/aprendizagem que busca a normatização de seus alunos e alunas. Neste contexto, as transgeneridades sofrem com inúmeros empecilhos e discriminações no âmbito escolar, prejudicando seus desenvolvimentos e ascensões sociais. Diante disso, a pedagogia queer viria, para questionar esse modelo de ensino que não se atualiza e percebe seus e suas estudantes como iguais, não observando e se adequando às suas particularidades e necessidades.   Tem-se como objetivo nesse trabalho, realizar uma revisão bibliográfica com estudos realizados com o contexto escolar de travestis na cidade de Manaus, evidenciando-se suas práticas discursivas, suas necessidades e realidades dentro das escolas. Objetiva-se também, estabelecer uma relação entre as vivências escolares de travestis e os benefícios de uma pedagogia que utilize como base uma postura queer diante da regulação do processo de ensino/aprendizagem. Como resultados, espera-se mostrar a realidade das travestis na cidade de Manaus, bem como divulgar as pesquisas locais voltadas para esse público, neste município e denunciar o despreparo de um sistema educacional que não se encontra pronto para lidar com diversas situações que fogem à normalidade. Deste modo, problemas com nome social, respeito dos colegas, dificuldades para uso do banheiro, expulsão das escolas e falta de perspectiva são apenas algumas circunstâncias adversas vivenciada pelas travestis de Manaus, mostrando que devem haver mudanças na nossa estrutura educacional.

4364 A RESTITUIÇÃO EM UMA PESQUISA-INTERVENÇÃO
Cinira Magali Fortuna, FLÁVIO ADRIANO BORGES, FERNANDA CRISTINA LEMOS MENDES, PRISCILA NORIÉ DE ARAUJO, THALITA CAROLINE CARDOSO MARCUSSI, KAREMME FERREIRA DE OLIVEIRA, SILIANI APARECIDA MARTINELLI, CARLOS ALBERTO FERREIRA

A RESTITUIÇÃO EM UMA PESQUISA-INTERVENÇÃO

Autores: Cinira Magali Fortuna, FLÁVIO ADRIANO BORGES, FERNANDA CRISTINA LEMOS MENDES, PRISCILA NORIÉ DE ARAUJO, THALITA CAROLINE CARDOSO MARCUSSI, KAREMME FERREIRA DE OLIVEIRA, SILIANI APARECIDA MARTINELLI, CARLOS ALBERTO FERREIRA

Apresentação: A restituição, na análise institucional, consiste em um momento/espaço onde se possa colocar em análise a própria pesquisa e seus possíveis resultados. Pode-se trazer  aspectos normalmente silenciados e falados apenas em corredores e cafés. Trata-se de focar em uma tarefa – “a análise coletiva da situação presente, no presente – em função das diversas implicações de cada um com e na situação” (LOURAU, 1993, p. 64). A implicação é, resumidamente, a relação que os sujeitos estabelecem com as instituições (MONCEAU, 2012; PENIDO, 2015). A nossa indagação é: a restituição pode se configurar como espaço de aprendizagem? Objetivo: Analisar a restituição em pesquisa do tipo intervenção como potencial para a construção de conhecimento entre participantes e pesquisadores. Desenvolvimento do trabalho: É um estudo de abordagem qualitativa, do tipo pesquisa-intervenção. Os participantes da pesquisa são os apoiadores da Política Nacional de Humanização (PNH) e os articuladores da Educação Permanente em Saúde (EPS) pertencentes ao Departamento Regional de Saúde de Araraquara (DRS-III). Trata-se de dados parciais dos projetos: “Apoio Institucional e Educação Permanente em Saúde em uma região de saúde do interior de São Paulo: uma pesquisa intervenção” (PPSUS - FAPESP processo 2016/15199-5), a partir da produção de dados da pesquisa de doutorado de um dos pesquisadores, intitulada: “Análise de Implicação Profissional: um dispositivo disparador de processos de Educação Permanente em Saúde” e, do projeto Prêmio INOVASUS/2015 “Produzindo ações de EPS e apoio institucional nos municípios do DRSIII Araraquara”. Na sessão de restituição foram apresentadas as análises de entrevistas realizadas no ano de 2016 com os apoiadores e articuladores. O referencial teórico-metodológico utilizado é a Análise Institucional, na perspectiva da Socioclínica. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética, sob Protocolo nº CAEE 68438217.8.0000.5393, Parecer nº 2.151.677 e nº CAEE 52679716.8.0000.5393, Parecer nº 1.568.447. seguindo os preceitos éticos da pesquisa em saúde. Resultados encontrados na pesquisa: Nos momentos da restituição realizados nas pesquisas, pôde-se constatar uma intensa produção de conhecimento. Solicitamos aos participantes que verbalizassem livremente sobre o que compreendiam pelo tema “análise de implicação”. Uma interessante construção se deu em ato, na qual analisar e implicar surgem como signos que expressam aquele que coloca em análise, como o implicante nas equipes, num paralelo da função do apoiador/articulador como aquele que aponta o que está errado, a partir da perspectiva de que análise é uma crítica. “De como o apoio ele vem mesmo, é que é na EPS, eu estou trazendo assim...minha mãe implica muito comigo, com o que eu faço. Ela está vendo o que eu faço e acha que estou fazendo errado, ela implica. Ela analisa minha ação. Qual a função disso? Me educar porque ela acha que ela está certa então ela tem conhecimento ela quer ... Então no trabalho, na reunião quem está vendo. Eu como enfermeira acho que estou fazendo correto meu papel, mas alguém de fora vê que posso fazer melhor ou até, o que eu posso potencializar no meu trabalho ou não. Esse outro ser, quem é ele? Ele é maior ou melhor que eu? Não necessariamente, pode ser o diretor que não tem nada a ver com o que eu faço, com meu conhecimento, mas ele pode implicar no meu serviço de alguma forma. Por objetivos próprios deles ou não. Pode ser pessoal ou pontual, é de cada implicador.” (apoiadora de EPS). Segue também outra definição: “Acho que é o quanto estou empenhada, comprometida, responsabilizada com o meu trabalho, quando eu penso nessa palavra implicação [...]” (articuladora de EPS). E um contraponto a esta colocação: “A gente já aprendeu que a implicação não tem a ver com comprometimento… todas as pessoas estavam implicadas de alguma forma com o seu processo de trabalho. Até mesmo aquelas que não estão talvez interessadas em alguma coisa, isso é uma forma de implicação” (apoiadora de humanização). Refletimos também a posição de quem faz a análise: “Eu analiso o que o outro diz ou o que o outro faz, de repente, eu sou um observador analítico”  (apoiadora/articuladora). A restituição possibilitou uma aproximação do grupo com a análise institucional, uma das teorias que fundamenta as políticas de educação permanente e humanização. As colocações feitas pelos pesquisadores, buscando realizá-lo de forma dialógica, contribuem nas reflexões que aos poucos se aproximam da função em análise. Aponta-se a força instituinte desse fazer e as resistências produzidas, frequentemente apresentadas pelo grupo quando referem processos disparados nas equipes dos territórios. “Quando a gente tem essa, pensa em movimento, EPS, que está sempre questionando, a própria política de humanização, o apoio, que está aí questionando, gera um movimento, mas não sem resistência. Vai ter resistência, pessoas vão ser contra, vão boicotar. Tudo isso faz parte movimenta, mas também gera resistência, não é fácil.” (pesquisador). Apresenta-se que os processos fazem emergir os conflitos, fazem o silêncio ter voz, desvelando o que estava oculto. E que o analisador tem a potência de fazer falar a instituição. “Se eu colocar para vocês: vamos analisar o fato de vocês exercerem a função apoio ou articulação sem ganhar dinheiro, o que vocês acham disso?... Sempre quando você põe o dinheiro em análise vai dar pano para manga. Potente analisador em todos os espaços. No próprio contexto familiar se eu penso: eu ganho mais, eu ganho menos, vamos falar sobre isso? Quem ganha mais, quem paga mais, quem paga menos, já é um grande analisador pra colocar a instituição em análise. ” (Pesquisador). E ao apresentar a teoria vamos reconstruindo nossa própria história, marcada pela leitura ancorada nestas referências. A restituição se apresenta como uma possibilidade de produção de dados a partir de dados em produção. “Um exercício que vocês fizessem de pensar, mesmo se eu não fui sujeito da pesquisa, se tem a ver, se não tem a ver. Também não é porque o (nome) ta trazendo que é assim. Pra gente é importante, não concordo, não acho isso. Porque é para a gente poder pensar junto outras facetas dessa perspectiva.” (pesquisadora). Considerações finais: Por meio da restituição, foi possível construir o conceito de implicação numa participação mais efetiva de apoiadores/articuladores do grupo. Trouxe a valorização do estudo que fizemos, o que possibilitou entender esta ferramenta de trabalho sobre uma nova perspectiva. Apoiadores e articuladores puderam ter a expressão do medo de exposição, a curiosidade frente ao conteúdo da exposição, a possibilidade de se reconhecer no que não é particular, mas no que pertence à função apoio.

4534 MEDICINA POPULAR E AS IMPLICAÇÕES NO COTIDIANO DO PROFISSIONAL DE SAÚDE: RELATO DE EXPERIÊNCIA
Yaagho Aurelio Benevides Maia Figueiredo, Victor Nei Vasconcelos Monteiro, Erica da Silva Carvalho, Gizelly de Carvalho Martins

MEDICINA POPULAR E AS IMPLICAÇÕES NO COTIDIANO DO PROFISSIONAL DE SAÚDE: RELATO DE EXPERIÊNCIA

Autores: Yaagho Aurelio Benevides Maia Figueiredo, Victor Nei Vasconcelos Monteiro, Erica da Silva Carvalho, Gizelly de Carvalho Martins

Apresentação O objetivo do estudo é abordar sobre as vertentes da medicina, pois mesmo com o grande desenvolvimento da medicina convencional, a popular ainda se faz muito presente na sociedade, principalmente entre as famílias mais carentes ou por questão cultural. Essas famílias buscam meios alternativos através da medicina popular para a prevenção ou a cura de enfermidades, sendo as plantas medicinais as mais utilizadas para isso. Ao contrário do que muitos pensam, os métodos populares trazem benefícios para a comunidade e com isso o estudo sobre esse assunto entre os profissionais de saúde deve ser estimulado para que assim estejam mais preparados ao lidarem com esses pacientes, em especial no Sistema Único de Saúde (SUS), devido à íntima interação com a comunidade. Os profissionais deparam-se com diversos casos em que o conhecimento popular é utilizado na cura e reabilitação, sabendo-se que os métodos populares existem há muito tempo e continuam sendo utilizados na procura de soluções para problemas de saúde pelas famílias, não se pode ignorar essa situação, e sim, interagir com seus costumes para entender melhor seu paciente. Descrição da Experiência Este relato de experiência foi baseado a partir da matéria História da Medicina. O trabalho foi desenvolvido da entrevista realizada com uma senhora que utiliza plantas terapêuticas, a qual atua na igreja católica São Mateus, realizada no mês de maio de 2017; foi abordada durante seu trabalho utilizando plantas medicinais, o que evidenciou a relação entre a medicina convencional e a popular. Fica claro que o saber popular é de extrema importância para que os profissionais de saúde pensem de forma mais abrangente e eficaz, juntando seu conhecimento com o dos pacientes, e assim conseguindo chegar mais rápido a um diagnóstico e tratamento de sucesso.  O cuidar da saúde é do paciente e cabe ao profissional desenvolver da melhor forma esse auto cuidado. Os efeitos percebidos decorrentes da experiência No inicio desse relato, o objetivo do trabalho era apenas realizar uma entrevista com algum curandeiro, para depois demonstrar à turma da Escola Superior de Ciências da Saúde (ESA) que a medicina empírica não possui nenhum vinculo com a convencional. Porém, durante a entrevista com a senhora que atua na igreja católica São Mateus, observando os serviços que ela presta à comunidade com suas plantas medicinais e à quantidade de pessoas que vão a sua procura, com isso notou - se a necessidade de uma visa mais holística, com o intuito de demonstrar esses fatos e entender que a medicina convencional e a popular apesar de suas diferenças possuem algumas semelhanças. Como uma parte significativa da população brasileira não possui acesso aos medicamentos comercializados, o uso das plantas medicinais se torna uma das principais alternativas na busca pelo tratamento de doenças. Fato este que motivou que essa senhora deixasse sua profissão de enfermeira no Maranhão para fazer cursos sobre plantas terapêuticas no Instituto Nacional de Naturopatia Aplicada (INNAP), no Paraná, sua terra natal. O seu conhecimento sobre plantas medicinais e sua generosidade têm ajudado bastante a comunidade na qual ela atua. Ela fornece chás, pomadas, garrafadas que ajudam a curar ferimentos, dores, entre outras situações e sempre deixa claro que além desses tratamentos a pessoa precisa buscar o auxilio de um médico. O estudo também demonstrou a relevância das plantas terapêuticas para a sociedade e a importância do entendimento dos profissionais de saúde sobre esse assunto, a medicina popular possui uma papel importante entre a população carente, pelo fato de ser um meio alternativo para quem não pode comprar os medicamentos alopáticos, e com a diversidade da flora do Brasil, especialmente na região norte, a utilização de plantas medicinais pode ser muito bem aproveitada para fins terapêuticos, levando em conta a saúde adquirida de forma natural, por exemplo, as plantas utilizadas pela senhora da entrevista são cultivadas por ela mesma no quintal da igreja católica São Mateus, como: planta guaco, pariri, boldo, gengibre, picão-preto, entre outras. Claro que nem todos que atuam com plantas medicinais passaram por uma especialização igual à dessa senhora, entretanto isso não quer dizer que a utilização desse meio em si seja algo ruim para a sociedade. Esse problema pode ser atribuído, principalmente, porque não há muitos cursos de especialização sobre esse assunto ou sobre fitoterápicos, ao alcance das pessoas que buscam meios alternativos de tratamento, tornando assim, esse conhecimento mais como uma tradição cultural, adquirido de geração a geração, como nos interiores dos estados, onde a falta do acesso aos medicamentos alopáticos é maior. Além disso, essas pessoas que atuam com plantas medicinais, muitas vezes, são parte integrante da comunidade, da cultura e das tradições locais e importantes aliados na organização de medidas para aprimorar a saúde da comunidade, como afirma a Conferência Internacional sobre Cuidados Primários de Saúde, Alma-Ata. Ao invés de considerar a medicina popular e a convencional como práticas totalmente distintas, o ideal é tê-las como complementares uma da outra. É muito importante incluir uma matéria sobre plantas medicinais na grade curricular de todos os cursos da área da saúde, bem como especializações em instituições públicas para os profissionais interessados, como ocorre na Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) e no INNAP. O profissional de saúde precisa ter um entendimento amplo sobre a questão sociocultural e as limitações dos usuários com os quais trabalham, respeitando suas diferenças, especialmente dos que atuam na atenção primária. Assim os profissionais poderão orientar os pacientes da melhor forma sobre quais medicamentos podem e quais não podem ser substituídos,  trabalhando em parceria com as práticas populares e, principalmente, integrando essas pessoas no sistema de saúde. Considerações finais A intenção do trabalho não foi demonstrar qual forma de tratamento é melhor e nem que deve ser aceito todos os tipos de terapias populares, e sim, evidenciar que muitos ainda utilizam a medicina popular, cuja contribuição é muito importante para algumas comunidades. Além disso, o mais adequado é ter no Brasil um aumento nas pesquisas relacionadas às plantas medicinais, buscar os benefícios da grande biodiversidade do país, e também incentivar com cursos optativos sobre esse assunto para estudantes de saúde durante a sua graduação, para assim darem um maior auxilio e integrar as pessoas que ainda utilizam esses meios alternativos de terapia. É um assunto que precisa ser mais bem debatido e explanado para que haja um aprofundamento em relação às melhores formas que os profissionais possam associar-se com essa situação, e assim, as vertentes da medicina possam ser complementares com o objetivo fundamental de obter o bem estar da população e se adequar as suas necessidades. Este relato teve o termo de consentimento livre e esclarecido da entrevistada.