221: Formação no trabalho em saúde: quando a qualidade da atenção e da formação abrem-se para a criação
Ativador: A definir
Data: 01/06/2018    Local: FCA 02 Sala 04 - Curimatã    Horário: 10:30 - 12:30
ID Título do Trabalho/Autores
1300 Formação de Enfermeiros Obstetras em Pernambuco: diretrizes para o desenvolvimento dos Programas de Residência
Juliana Siqueira Santos, Thiago Cavalcante de Almeida, Emanuella Margareth Lima Rolim Martins, Hérika Dantas Modesto Pinheiro, Célia Maria Borges da Silva Santana

Formação de Enfermeiros Obstetras em Pernambuco: diretrizes para o desenvolvimento dos Programas de Residência

Autores: Juliana Siqueira Santos, Thiago Cavalcante de Almeida, Emanuella Margareth Lima Rolim Martins, Hérika Dantas Modesto Pinheiro, Célia Maria Borges da Silva Santana

Apresentação: No Brasil e em Pernambuco, apesar dos avanços em vários indicadores de saúde, persistem altas taxas de mortalidade materna, o que configura um grave problema de saúde pública. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), a cesariana triplica o risco de morte da mãe. Em Pernambuco, a proporção de cesárea passou de 34,2% em 2004 para 53,7% em 2013, um aumento proporcional de 57,0%, ao passo que no Brasil o aumento foi de 35,4%.  Desde 2015, a qualificação da Rede Cegonha tem sido uma prioridade da Secretaria Estadual de Saúde. A política de atenção à saúde da mulher no estado é composta por programas e estratégias de ação, tais como: planejamento reprodutivo; Rede Cegonha; Programa de combate à mortalidade materna; assistência ao climatério; Programa de controle de câncer de colo do útero e da mama, Programa Estadual de Parteiras Tradicionais (PEPT), Programa de Atenção à Mulher em situação de violência.  A Rede Cegonha, implantada em 2011 através da Portaria GM/MS nº 1.459, consiste numa rede de cuidados onde assegura à mulher o direito ao planejamento reprodutivo e à atenção humanizada à gravidez, ao parto e ao puerpério, bem como à criança o direito ao nascimento seguro, crescimento e desenvolvimento saudáveis, através da implantação de um novo modelo de atenção ao parto. Pernambuco foi um dos primeiros estados a implantar a Rede Cegonha, aprovando no mesmo ano a remodelagem da Rede Materna e Infantil do Estado e instituindo o Grupo Condutor Estadual (Resolução CIB/PE Nº 1.723/2011). Como desafios da rede obstétrica em Pernambuco, destaca-se a garantia do parto de risco habitual; vinculação das gestantes às maternidades de referência para o parto; efetivação das boas práticas nas maternidades; utilização de práticas baseadas em evidências científicas na assistência ao parto e nascimento. Para tanto, a SES, através da Secretaria Executiva de Gestão do Trabalho e Educação na Saúde (SEGTES), tem investido fortemente na enfermagem obstétrica como estratégia potente de mudança do modelo vigente de atenção ao parto. Destacam-se duas grandes ações: nomeação de concursados, ampliando o quadro desses profissionais nos Hospitais e expansão e interiorização das residências em saúde da mulher e enfermagem obstétrica. Em 2015 a SES PE ampliou, com recursos próprios, em 48% as vagas nas residências de Enfermagem em Saúde da Mulher/Obstétrica, expandindo em 2016 para o interior do estado, por meio da Escola de Governo em Saúde Pública (ESPPE) e da Gerência de Atenção à Saúde da Mulher. A ESPPE/SEGTES implantou o Programa de Residência em Enfermagem Obstétrica em três Regionais de Saúde, a saber: Caruaru, Garanhuns, Arcoverde. Atualmente, no estado, são 8 programas de residência em enfermagem obstétrica/ saúde da mulher com 49 vagas. O investimento total no financiamento de bolsas de residência no estado, para estes programas, é de R$ 2 milhões/ano (2017), sendo 77% custeado pela SES. Descrição da experiência: Considerando a formação em enfermagem obstétrica como prioritária, observou-se, em 2017, nas debates do Fórum de COREMU do Estado de Pernambuco que havia necessidade de discutir a formação desse profissional, diante da constatação da limitação de campos de prática e das diferenças existentes nos Planos Políticos Pedagógicos (PPP). Dessa forma, a SES realizou reunião com as coordenações de programa de residência de enfermagem em saúde da mulher/obstétrica e após as discussões, foram extraídas como principais impressões: Formação e assistência historicamente fragmentada e centrada no âmbito hospitalar; Concentração de rodízio no Centro Obstétrico em detrimento de outros cenários; Incipiente formação em rede e pouca inserção na área de gestão; Dificuldade de articulação com as gestões municipais para inserção na Atenção Primária (pré-natal, visita domiciliar, puerpério); Necessidade de ampliar a formação na perspectiva das boas práticas; Necessidade de potencializar os campos de prática; Necessidade de realizar planejamento dos rodízios adequando ao objetivo da formação e à realidade dos serviços de saúde; Necessidade de discutir o modelo de formação em enfermagem obstétrica e estabelecer diretrizes que permitam um alinhamento dos Projetos Político Pedagógicos. Dessa forma, foi criado um grupo de trabalho (GT) para revisar e reestruturar a formação do enfermeiro obstetra na modalidade residência na rede estadual de saúde de Pernambuco, composto por representantes das COREMU UFPE, IMIP, UPE, ESPPE; Secretaria de Saúde do Recife, Secretaria Estadual de Saúde. O Grupo de Trabalho foi conduzido pela SEGTES/SES, e ocorreu no período de junho a novembro de 2017. Na análise dos projetos político pedagógicos observou-se, por exemplo, que 50% dos programas não oferecem rodizio obrigatório na Atenção Básica, 5 programas (62,5%) não disponibilizam campo de prática na gestão e em 5 programas os residentes não atuam na emergência geral. Nesse momento o grupo sentiu necessidade de discutir formação do enfermeiro obstetra de acordo com as ferramentas internacionais, com alinhamento dos cenários de prática e a rede de atenção à saúde e a rede cegonha. No primeiro ciclo de debates discutiu-se o aprimoramento do Ensino de Obstetrícia baseado por competências (formação realizada pela USP). No segundo ciclo de debate discutiram-se o conceito de Rede de Atenção, dando ênfase à Rede Cegonha e às reais necessidades de formação de enfermeiros obstetras para o SUS em Pernambuco. Resultados: O grupo de trabalho reafirmou a necessidade de reorganizar os cenários de prática dos programas de residência em enfermagem obstétrica, considerando um elenco de possibilidades de serviços de referência estabelecidos no plano de ação da Rede Cegonha estadual. O relatório final apontou para a necessidade de rediscutir e, se necessário, reorganizar a formação do enfermeiro obstetra, a partir dos seguintes documentos: Diretrizes; Competências; e Projeto Político Pedagógico. Os cenários de prática devem obedecer à lógica das Redes de Atenção à Saúde buscando a integralidade do cuidado e utilizando os diversos elementos/dispositivos de saúde disponíveis no território. Diante disto espera-se da formação do residente em Obstetrícia seja regido pelas seguintes diretrizes: Respeitar os princípios e diretrizes do Sistema Único de Saúde; Estar orientada pela Política de Atenção Integral à Saúde da Mulher; Reconhecer a atenção básica como ordenadora das Redes de Atenção à Saúde; Estar pautada nos princípios da Educação Permanente em Saúde; Implantar boas práticas de atenção ao parto e nascimento; Comprometer-se com o cuidado integral à mulher. O grupo técnico resolve, ainda, em incorporar as sete competências para formação do Enfermeiro Obstetra estabelecidas no documento “Conjunto de ferramentas para fortalecimento da obstetrícia” (OPAS, 2013). Considerações finais: As discussões decorrentes dessa atividade despertaram para os representantes de COREMU a necessidade de revisão e adequação dos PPP, nos aspectos ético-pedagógicos da formação, especialmente no que se refere ao perfil do egresso, valorização das estratégias de ensino baseada em metodologias ativas, além da reorganização dos cenários de prática. Considerando a importância dessa discussão, que tem na enfermagem obstétrica área prioritária com alto investimento de recursos na formação de especialistas, a Secretaria Estadual de Saúde assume alguns encaminhamentos juntos às COREMU. Dentre estes, destacam-se: Discutir os resultados com as COREMU; Induzir a revisão dos PPP dos programas; Levantar demandas da rede de saúde para formação a partir das mudanças nos PPP; Pactuar cenários para a formação prática dos residentes. Espera-se que este trabalho impacte não só na mudança da formação, como também possibilite a expansão e interiorização dos programas de residência em enfermagem obstétrica em Pernambuco.  

3211 PROJETO DE APOIO PEDAGÓGICO DA RESIDÊNCIA MÉDICA DA ESCOLA DE SAÚDE PÚBLICA DO CEARÁ E A CONSTRUÇÃO DOS CURRÍCULOS BASEADOS EM COMPETÊNCIAS DOS PROGRAMAS DE RESIDÊNCIA MÉDICA
Luciana Ribeiro Conz, Camila Alves Soares, André Luis Bezerra Tavares, Alcilea Leite de Carvalho

PROJETO DE APOIO PEDAGÓGICO DA RESIDÊNCIA MÉDICA DA ESCOLA DE SAÚDE PÚBLICA DO CEARÁ E A CONSTRUÇÃO DOS CURRÍCULOS BASEADOS EM COMPETÊNCIAS DOS PROGRAMAS DE RESIDÊNCIA MÉDICA

Autores: Luciana Ribeiro Conz, Camila Alves Soares, André Luis Bezerra Tavares, Alcilea Leite de Carvalho

O seguinte trabalho apresenta o Projeto de Apoio Pedagógico do Centro de Residência Médica da Escola de Saúde Pública do Ceará e o trabalho que vem desenvolvendo na construção dos currículos baseados em competências dos Programas de Residência Médica. Desde a criação da Comissão Nacional de Residência Médica em 1997, muitos avanços normativos vêm ocorrendo até a presente data, dentre eles a Resolução Nº 02/2006 que dispõe sobre os requisitos mínimos dos programas. No entanto, existe uma reconhecida necessidade de avançar na construção dos currículos de cada especialidade desenhado a partir das competências. Tal processo já ocorre, embora de forma não uniforme, ora conduzido pelas respectivas Sociedades, ora pelas supervisões dos diversos programas. Nos programas sob supervisão da ESP/CE, também temos programas de residência médica (PRM) com currículos em processo de elaboração, e outros que não iniciaram qualquer movimento nesse sentido. Para conduzir a formação e avaliação por competências da residência médica, este projeto traz a possibilidade do fortalecimento da parceria desses atores com a ESP/CE, uma vez que os capacita e os acompanha quanto à elaboração dos currículos. Para tal empreitada, foi necessário realizar a contratação de bolsistas com conhecimentos de gestão pedagógica, projetos e pesquisa além de preceptores que acompanham os residentes nos cenários de prática. Após a consolidação da equipe de Apoio Pedagógico, iniciamos as ações em setembro de 2017 utilizando metodologias ativas de ensino e aprendizagem significativa e reflexiva, destacando a Aprendizagem Baseada em Problemas e Metodologia da Problematização. A primeira oficina ocorreu junto aos coordenadores das Comissões de Residência Médica das instituições de saúde parceiras, supervisores de PRM e preceptores. Neste primeiro encontro objetivamos sensibilizar e justificar a necessidade de construirmos os currículos e fortalecer o vínculo entre os PRM e ESP. Ressalta-se que ao longo do estabelecimento das competências pretendemos fazer um alinhamento entre o currículo, cenários de prática e as políticas públicas de saúde e educação assim como melhorar a integração entre PRM e ESP/CE. Entendemos por competências os conhecimentos, habilidades e atitudes que atribuem sentido prático para a formação educacional dos médicos especialistas. O currículo por competências se pauta nas necessidades que situações concretas exigem do profissional especialista. Portanto, temos como expectativa construir currículos de PRM com ensino centrado no discente, baseado em problemas, com aprendizagem no contexto e abordagem temática por competência, multidisciplinar e integrada, tendo base na comunidade. Ao final de 2017 temos como produto a justificativa política, epidemiológica e assistencial dos Programas de Residência Médica de acesso direto, perfil da clientela e competências a serem desenvolvidas ao longo da residência. Esta elaboração está sendo rica ao buscar alinhar a formação de médicos especialistas às necessidades de saúde e de aperfeiçoamento dos recursos humanos do SUS. Contudo, ainda é necessário dar continuidade em relação aos princípios educacionais, metodologia, conteúdo programático e diversos outros elementos que constituem um currículo baseado em competências.

3321 Caminhos da Residência em Saúde Coletiva no Ceará: (re)desenhando percurso-formativo pedagógico.
Katherine Jeronimo Lima, Maria Iracema Capistrano Bezerra, Amanda Cavalcante Frota, Glaucilândia Pereira Nunes, Rafael dos Santos da Silva

Caminhos da Residência em Saúde Coletiva no Ceará: (re)desenhando percurso-formativo pedagógico.

Autores: Katherine Jeronimo Lima, Maria Iracema Capistrano Bezerra, Amanda Cavalcante Frota, Glaucilândia Pereira Nunes, Rafael dos Santos da Silva

Apresentação: Nos últimos anos, houve o fortalecimento de movimentos fomentadores para construção de diversas possibilidades pedagógicas, que impulsionem mudanças na formação do profissional de saúde. A elaboração de propostas de ensino que dialoguem no contexto da reforma sanitária brasileira, com a formação de currículos integrados e que articule ensino-serviço de saúde, a exemplo da modalidade de pós-graduação Lato Sensu a Residência Multiprofissional em Saúde, possibilita a formação de profissionais de saúde para o trabalho no Sistema Único de Saúde e para promover mudanças às necessidades de saúde da população. A Residência Integrada em Saúde da Escola de Saúde Pública do Ceará (RIS-ESP/CE) tem por objetivo ativar/capacitar lideranças técnico-científicas e políticas por meio da interiorização da educação permanente interprofissional em saúde para o fortalecimento e consolidação da carreira e do Sistema Único de Saúde. Promove a educação para o trabalho por meio da aprendizagem em serviço, tanto a nível municipal, regional e/ou estadual de saúde, nos componentes comunitário e hospitalar. O Componente comunitário engloba três ênfases: Saúde Coletiva, Saúde da Família e Comunidade e Saúde Mental Coletiva; enquanto que o componente hospitalar abrange as ênfases: cancerologia, cardiopneumologia, enfermagem obstétrica, infectologia, neonatologia, neurologia e neurocirurgia, pediatria e urgência e emergência. A RIS-ESP/CE, na ênfase Saúde Coletiva, tem por objetivo a formação de gestores aptos a atuarem em todos os níveis de gestão, controle social, vigilância e atenção em saúde, com foco na organização, planejamento e avaliação frente às necessidades de saúde da população nos diversos momentos do processo saúde-doença, sobretudo, atuando dentro da concepção da integralidade, intersetorialidade e interprofissionalidade. Deste modo, o processo de ensino-aprendizagem desenvolvido pela RIS-ESP/CE é centrado no usuário, comunidade, território/serviço e processos de trabalho. Em meados de 2013, surge como a primeira residência multiprofissional em saúde coletiva do estado Ceará. Atualmente, se prossegue para quinta turma, no ano de 2018. Durante este período houve mudanças nos cenários de prática para potencializar o processo de formação das novas gerações de profissionais de saúde. Este trabalho objetiva apresentar as mudanças dos percursos formativo-pedagógico dos profissionais de saúde-residentes, na ênfase saúde coletiva, da primeira à quarta turma da RIS-ESP/CE. Desenvolvimento do trabalho: durante o período de dois anos, em regime integral, o profissional de saúde-residente da ênfase Saúde Coletiva, vivencia a aprendizagem em serviço, atuando na perspectiva do apoio institucional nos territórios de lotação. Foram muitas as mudanças nos rodízios para as vivências práticas dos profissionais residentes de Saúde Coletiva como será descrito a seguir. Na primeira turma, os profissionais de saúde residentes foram dispostos nos espaços de gestão regional na Coordenadoria Regional de Saúde (CRES) em cada uma das 20 Regiões de Saúde do estado do Ceará. Após 12 meses na gestão regional, os profissionais de saúde residentes foram encaminhados para gestão municipal, no município sede da CRES ou RIS-ESP/CE. Já na segunda turma, os profissionais de saúde residentes ainda vivenciam primeiro ano na gestão regional, no entanto, no segundo ano são alocados, somente para os municípios que sejam polos da RIS-ESP/CE, dividindo a carga horária na gestão municipal com equipe da saúde da família ou saúde mental, presente no município. A terceira turma introduz turnos compartilhados com a gestão regional e municipal, no primeiro ano de atuação dos profissionais de saúde-residentes. Assim, como nas turmas anteriores, no ano posterior, passam pelos dispositivos da rede assistencial e gestão municipal sede da RIS-ESP/CE, onde fraciona a carga com equipe da saúde da família ou saúde mental, presente no município. Após essas tentativas de adequação do percurso formativo e de oficinas e videoconferências para a elaboração de um novo percurso formativo, chegou-se à conclusão que a ênfase de Saúde Coletiva visa formar gestores cuja prática deve desenvolver-se nos locais de cuidado. A adaptação permanente dos rodízios ocorreu em atenção ao Projeto Político Pedagógico da ênfase e defendido pelo colegiado gestor da RIS-ESP/CE. Assim, a grande mudança ocorre na introdução da quarta turma, em que os profissionais de saúde-residentes no primeiro ano vivenciam os cenários de prática na gestão municipal, com carga horária dividida na metade na instância de gestão/controle social e a outra metade nos espaços de cuidado das equipes da saúde da família e saúde mental, onde interage com os profissionais-residentes das referidas ênfases. Vale ressaltar, que o critério para alocação dos profissionais residentes na ênfase Saúde Coletiva, seriam os municípios que também sejam sede para as ênfases da Saúde da Familia e Comunidade e Saúde Mental Coletiva. Para o segundo ano, estes profissionais de saúde-residentes mudam de cenário de atuação na gestão regional, onde compartilham carga horária na CRES e nos dispositivos da rede. Nos últimos três meses serão alocados na Secretaria de Saúde do Estado do Ceará (SESA) de modo a compreender a gestão macro da saúde do estado. Resultados e/ ou impactos: Diante do contexto apresentado, nota-se que a RIS-ESP/CE na ênfase Saúde Coletiva, traz em seu processo de formação um diferencial, ao propor alternativas nos percurso formativo-pedagógico, o que revela comprometimento na formação dos profissionais de saúde-residentes e com os aprendizados construídos durante a vivência nos territórios. Assim sendo, é a partir do território que se defende o perfil de atuação do sanitarista e gestor. O Cuidado é o centro. A Integralidade é a busca. Compromete-se, portanto, com a construção coletiva e outros modos de pensar a formação e a educação permanente em saúde. Considerações finais: As mudanças foram ocorridas em virtude dos diversos olhares e experiências vivenciadas nos territórios presentes a RIS-ESP/CE, embora, com diferentes perspectivas sentidas de cada profissional de saúde-residente, pode-se dialogar e trocar ideias mútuas de ensino-aprendizado/vivências que se somam e engrandecem o processo de formação, não somente para formação de gestores com competências técnicas científicas-políticas, mas na formação de profissionais com a visão para além do que se vê.

4990 TRANSVER O MUNDO DAS RESIDÊNCIAS EM SAÚDE
Lorrainy da Cruz Solano, Rosangela Diniz Cavalcante, João Mário Pessoa Júnior, Francisco Arnoldo Nunes de Miranda

TRANSVER O MUNDO DAS RESIDÊNCIAS EM SAÚDE

Autores: Lorrainy da Cruz Solano, Rosangela Diniz Cavalcante, João Mário Pessoa Júnior, Francisco Arnoldo Nunes de Miranda

Esse é um relato de vivências das Residências em Saúde da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte como instituição formadora e a Prefeitura Municipal de Mossoró como instituição executora dos programas de Residência Multiprofissional em Atenção Básica/Saúde da Família e Comunidade e Residência de Medicina de Família e Comunidade. Vivências que tomando emprestadas ideias seminais de Manoel de Barros que pretendem transver o mundo das residências em saúde para além do academicismo, tecnicismo e biologicismo das formações. Com os olhos encardidos de sonhos, um grupo de trabalhadores da secretaria municipal de saúde de Mossoró foi convocado no ano de 2013 para ajudar a reestruturar a Atenção Básica do município. No primeiro momento foram definidas comissões com matrizes de planejamento para serem executadas com metas a curto, médio e longo prazo. Uma das metas era submeter o projeto de Residência Multiprofissional para fortalecer a formação em serviço que tinha como disparador a Residência de Medicina de Família iniciada em 2011 mediante um processo de mudança nos serviços locais. Assim, a busca por professores da universidade que aceitassem participar do projeto foi iniciada, mas como não existia programa de Residência Multiprofissional em Atenção Básica no estado do Rio Grande do Norte foi difícil encontrar parceiros, além de outros motivos, tais como: o edital não previa recursos financeiros adicionais, somente a bolsa do residente; a pró-reitoria da universidade do Estado do Rio Grande do Norte não conhecia o que era residência multiprofissional e não tinha legislação que atendesse ao projeto; os professores não tinham interessem em abraçar o projeto  já que não previa bolsa imediata, entre outros. Após negociação exaustiva conseguimos organizar um projeto pedagógico com apoio dos programas do Ceará (Fortaleza e Sobral) que terminaram sendo nossos matriciadores desde então. Na submissão surgiram outros obstáculos, tais como: necessidade de currículo Lattes dos preceptores que seriam profissionais da secretaria de saúde, já que a maioria dos trabalhadores sequer conhecia a plataforma Lattes, documento da Comissão Permanente de Integração Ensino-Serviço, uma vez que não funciona no Estado. Todos esses desafios serviram de ponte para transpor esses problemas e após submissão da proposta, a mesma foi aprovada no final de 2013. Disaprender foi um exercício fundamental para executar os projetos pedagógicos das Residências. Uma característica singular dos membros dos núcleos docentes estruturantes dos programas consiste em serem profissionais com mais de 10 anos de experiência como trabalhadores da Atenção Básica com ênfase na Estratégia de Saúde da Família. Essa singularidade facilitou o transver, uma vez que a produção dos projetos partiu das necessidades de saúde da população mossoroense, da capacidade instalada da rede de serviços de saúde da cidade e dos problemas identificados como nós críticos dos serviços. Desse modo, a Residência de Medicina de Família refez seu caminho para que fosse possível integrar os programas e permitir uma formação em serviço pautada na integração ensino-serviço-comunidade, aprendizagem significativa, necessidades de saúde e quadrilátero da formação. Refizemos as disciplinas em temas geradores que tem o Arco de Maguerez como eixo estruturante, além de avaliações que permitiram integrar o residente, o grupo e o facilitador. Desse modo, os residentes dos dois programas estão integrados nas vivências teóricas/conceituais e nas vivências territoriais. Ao serem distribuídos nos cenários de aprendizagem são inseridos formando equipes multiprofissionais com os seguintes núcleos: enfermagem, serviço social, nutrição, medicina, odontologia, fisioterapia e psicologia. A definição dos núcleos aconteceu em virtude da disponibilidade de tutores e preceptores para colaborarem com os programas. Há uma necessidade de outros núcleos profissionais como educação física, fonoaudiologia entre outros, mas o número de profissionais da secretaria de saúde e da universidade é insuficiente para permitir a organização das residências. Um esticador de horizontes é o propósito maior dos programas para que seja possível mudar os indicadores de saúde do município, com desdobramentos regionais já que Mossoró é uma cidade pólo do alto oeste potiguar, essencial para desenvolvimento de suas políticas de saúde. Esticar para ver e sentir as mudanças na assistência, gestão, ensino, pesquisas direta ou indiretamente na vida das pessoas, quer sejam usuários, trabalhadores e/ou gestores. A poesia é necessária para manter nossos sonhos frente aos obstáculos que encontramos constantemente nesse caminho de Transver. Algumas nódoas de imagens existem no processo. Uma de grande intensidade são os interesses da gestão municipal que atualmente insiste em tratar os residentes como mão de obra barata para o serviço, desconsiderando todo o processo de confecção dos projetos para alinhar aos interesses políticos partidários da atual gestão. Um exemplo desse fato é a alocação dos residentes em equipes incompletas ou desmembrando as residências, ou seja, residente de medicina de família para cobrir equipe sem médico e residentes da multiprofissional em outras equipes sem dentista ou enfermeiro rompendo com a integração dos programas e utilizando a mão de obra dos residentes. Outras, também de grande importância são invisibilidades que o governo estadual tem para com os programas de residências em saúde, nosso Estado não tem uma CIES (Comissão Integração Ensino-Serviço) organizada, o que consequentemente não entende as residências que existem no estado como parte essencial da política estadual de educação permanente. Em nível federal estamos capengando com essas políticas de desmonte do Sistema Único de Saúde e da Atenção Básica. Outra nódoa que deve ser apontada é o perfil dos profissionais residentes que reproduzem no processo de formação da residência o modelo biomédico. Essa talvez seja o maior de todas, porque tem a força de embotar nossas imagens esticadas no horizonte. De maneira geral, estão nos programas pelo valor da bolsa, desdenham o SUS e menosprezam a Atenção Básica, tenta fazer das vivências territoriais um ambulatório. Outra nódoa é o perfil dos preceptores e tutores que também tendem a reproduzir o modelo biomédico, mesmo alguns sendo professores da universidade, mas ainda não conseguimos mudar esses saberes e fazeres. Portanto, o transver o mundo das residências é uma necessidade existencial para alimentar o movimento de defesa da vida e de fortalecimento do SUS. Sonhamos, vivemos e lutamos por uma Atenção Básica qualificada que possa garantir aos usuários o acesso à rede de serviços, a coordenação do cuidado, a longitudinalidade do cuidado, a orientação centrada na família, a integralidade.