228: Estratégia saúde da família: estado da arte e desafios
Ativador: A definir
Data: 31/05/2018    Local: FCA 01 Sala 05 - Buriti    Horário: 15:30 - 17:30
ID Título do Trabalho/Autores
679 “A PRIMEIRA IMPRESSÃO É A QUE FICA”: caminhos para o acolhimento à demanda espontânea com classificação de risco na Estratégia Saúde da Família
Bianca Waylla Dionisio, Dassayeve Tavároa Lima, Paulo Cesar de Moura Luz

“A PRIMEIRA IMPRESSÃO É A QUE FICA”: caminhos para o acolhimento à demanda espontânea com classificação de risco na Estratégia Saúde da Família

Autores: Bianca Waylla Dionisio, Dassayeve Tavároa Lima, Paulo Cesar de Moura Luz

APRESENTAÇÃO:A imersão na saúde da família e o conhecimento prévio sobre seu histórico e processo de trabalho, nos permite perceber o quanto o desenvolvimento de ações/atitudes de produção de cuidado passaram a ser praticadas de maneira mecanizada, norteada por números, metas e porcentagens, atendimentos voltados a queixa-conduta e a medicalização da vida, suprimindo e descaracterizando o maior e mais importante princípio da atenção básica, o vínculo, bem como as funções do exercício profissional da equipe interdisciplinar e multiprofissional que a compõe. Inúmeros são os fatores que vêm desencadeando essa situação, entre eles, a sobrecarga, a precarização dos vínculos e as condições insalubres de trabalho. Em nossa vivência, como Residentes Multiprofissionais em Saúde da Família (RMSF), conseguimos imergir nesse cenário com olhar crítico-reflexivo e um perfil oxigenador, motivados por um processo de formação constante em nossa prática diária, com apoio de tutoria e preceptoria, que facilita reconhecer particularidades, fragilidades e potencialidades das equipes e comunidades.   Notamos que há uma renovação constante de saberes tecnológicos em saúde, contudo, compreendemos que a soma dos fatores negativos citados acima, vem impedindo que os profissionais do sistema possam se envolver de modo mais ativo. Reconhecendo esta fragilidade, ressalta-se o investimento em Educação Permanente em Saúde (EPS) no município. A proposta de intervir sobre as problemáticas e a ressignificação dos conhecimentos utilizando a EPS é fundamental, pois caracteriza-se como uma educação em serviço. Contudo, percebemos que esses momentos precisam ser cuidadosamente pensados, ampliando/incentivando a participação da equipe na construção da EPS, desde o levantamento das problemáticas, desejos e curiosidades a serem discutidos, à metodologias que possibilitem o diálogo e a participação ativa dos sujeitos, a fim de desconstruir a imagem desses momentos como incômodos e desnecessários, e os relatos frequentes acerca da desmotivação, cansaço e sobrecarga. DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO: Este resumo é um recorte do primeiro encontro da intervenção realizada pela enfermeira residente da RMSF, sobre o acolhimento a demanda espontânea com classificação de risco de um Centro de Saúde da Família (CSF), composto por duas eSF, no município de Sobral/CE, entre os meses de novembro de 2016 e fevereiro de 2017, com apoio da tutora e equipe de RMSF. Partindo da premissa discutida anteriormente, ao idealizarmos intervir sobre o acolhimento, o primeiro ponto elencado como fragilidade para o desenvolvimento da intervenção foi como envolver a equipe no processo, para que faça sentir e sentido a ressignificação das práticas de cuidado e no agir em saúde coletiva.  Por vivenciarmos durante um ano e meio, de maneira direta e diária, os encontros e desencontros dos “acolhimentos”, que, por vezes, se configuravam apenas como triagem para consulta médica,  nos aproximamos dos processos de trabalho da equipe de saúde, e seu histórico de conflitos internos, dispersão, desmotivação, e não envolvimento com os momentos de caráter pedagógico, por conta disso, abraçamos a EPS, tecnologias leves, metodologias participativas e ferramentas lúdicas como suporte para implementarmos a proposta. Foi através do famoso ditado popular “a primeira impressão é a que fica", que refletimos sobre o mais importante passo de toda nossa intervenção: o primeiro encontro. O encontro teve como objetivo sensibilizar os profissionais sobre a intervenção e principalmente motivar a participação no processo de desconstrução e ressignificação dos saberes, práticas e atitudes frente ao acolhimento a demanda espontânea, a partir da reflexão e problematização do trabalho em equipe. Compreende-se por acolhimento o encontro entre profissionais e usuários, que possibilita criar e/ou fortalecer vínculos, confiança e o cuidado longitudinal. Mediante essa premissa, abordamos o cuidar e o confiar, acreditando serem pontos-chave para efetivar a prática do acolher de maneira empática e humanizada. Compreendendo os processos internos da equipe, realizamos duas atividades simultâneas, o “quebra-cabeça do cuidado” e a “oficina das sensações”, com o intuito de evitar dispersão e ociosidade. O “quebra-cabeça do cuidado: relações com o verbo cuidar e seus encontros reais”, ferramenta desenvolvida pela pesquisadora, nasce do interesse de estimular a reflexão coletiva sobre o cuidar multiprofissional e as Redes de Atenção em Saúde (RAS), além de tentar possibilitar a alusão entre os profissionais e as peças do quebra-cabeça, compreendendo que para atingirmos o objetivo final proposto pela atenção básica como ordenadora do cuidado humanizado e resolutivo necessitamos “encaixar” saberes, serviços e cuidados. A “oficina das sensações”, vem com o propósito de aguçar o confiar, através das percepções sensoriais, abraçando as suas diversas ramificações como o trabalho em equipe, o respeito e o reconhecimento do local de trabalho a partir do estimulo dos cinco sentidos. Transformamos o consultório em um espaço que remetia as sensações vivenciadas no cotidiano do CSF, no qual, cada profissional foi conduzido a porta, e antes de adentrar respondia a seguinte pergunta geradora: “Como estou entrando”? Em seguida era vendado, a fim de estimular a percepção pelos outros sentidos. Recebidos por um abraço e guiados ao longo do espaço, estimulamos a audição durante todo o percurso através de falas cotidianas; o olfato foi despertado pelo café; ao paladar ofertamos o açúcar; ao tato apresentamos alguns objetos, como prontuários, seringas entre outros, bem como um momento de relaxamento com massagens, e por fim novamente um abraço. Ao sair da sala, o profissional respondia a outra pergunta: “Como estou saindo”? IMPACTOS: Percebemos nos discursos sobre o “quebra-cabeça do cuidado”, que essa ferramenta possibilitou uma reflexão sobre cuidado, a importância do trabalho em equipe e a compreensão acerca dos diversos saberes que se complementam. Inquietaram-se com a falta de uma peça, e conseguiram perceber que esse espaço se caracterizava e se preenchia com RAS, mas pontuaram que o usuário sempre estará sobre os cuidados e a corresponsabilização do CSF. Estimulamos o diálogo acerca das sensações experimentadas no caminhar pela trilha da oficina das sensações. Ao compararmos as respostas do antes e após a oficina, percebemos o quanto os sentimentos foram ressignificados. Antes de entrar na sala os participantes se sentiam cansados, desmotivados, curiosos e tensos. Ao saírem responderam que estavam se sentindo cuidados, leves, em paz, cuidados com carinho e gratos. A oficina produziu um efeito impulsionador para trabalhar a confiança, o sentir de ser acolhido, remetendo a lembrança da chegada do usuário na unidade de saúde. Por fim, todos expressaram mais leveza, elencando o desejo de ser abraçado pela comunidade e pela equipe de saúde, enfatizando que o acolher não é realizado apenas entre profissionais e comunidade mas, também, entre a equipe. Fica claro que, para além de provocar um relaxamento na equipe, iniciarmos as intervenções através da sensibilização dos profissionais, possibilita inúmeras ressignificações, estimula a participação e implicação ao longo do processo, permitindo o reconhecimento do outro como parte da essência em fazer sentido para si. CONSIDERAÇÕES FINAIS: O acolhimento parte dos encontros e desencontros e é um ponto de tensionamento, desde a chegada do usuário, resolubilidade de sua demanda e principalmente o cuidado longitudinal, pois, é neste que nasce as impressões, que podem ou não fortalecer o vínculo e a confiança.  O acolher brota principalmente do encontro inicial entre os trabalhadores, onde emerge a necessidade de pensarmos sobre o trabalho em equipe e as diversas formas de cuidado que permeiam o conviver dentro do CSF. Cabe pensarmos, que a intervenção no acolhimento foi efetivada com sucesso, pois conseguimos envolver a cada passo da pesquisa os profissionais, tornando-os parte integrante e essencial na ressignificação das práticas do acolher. 

936 Acolhimento a demanda espontânea na Atenção Básica em Saúde.
EDMILSON CALIXTO LIMA, RODRIGO VIANA TOLEDO, JOÃO AGNALDO NASCIMENTO

Acolhimento a demanda espontânea na Atenção Básica em Saúde.

Autores: EDMILSON CALIXTO LIMA, RODRIGO VIANA TOLEDO, JOÃO AGNALDO NASCIMENTO

O estudo tratou do Acolhimento à Demanda Espontânea na Atenção Básica (AB) à saúde e levou em consideração a análise de dados a partir do segundo ciclo de avaliação externa do Programa de Melhoria do Acesso e da Qualidade da Atenção Básica (PMAQ-AB). O objetivo do estudo foi avaliar o atendimento da demanda espontânea das Equipes de Saúde da Família no segundo ciclo do PMAQ-AB. Trata-se de um estudo seccional de base populacional, cuja unidade amostral foi de 29.778 unidades de saúde dos 27 estados federativos do Brasil, correspondendo a 2.160 unidades na região Norte, 10.768 na região Nordeste, 2.241 na região Centro-Oeste, 10.100 na região Sudeste e finalmente 4.509 na região sul e os dados foram provenientes do banco de dados do 2º ciclo de Avaliação Externa do PMAQ-AB. A pesquisa apresenta abrangência nacional e foi desenvolvida de forma integrada por diferentes Instituições de Ensino e Pesquisa, vinculada diretamente ao Ministério da Saúde. Foram incluídos todos os profissionais de saúde que participaram da entrevista de avaliação externa do PMAQ, referente à aplicação do questionário do módulo II, que foi executado por entrevistadores da qualidade a um único profissional de saúde em cada Unidade de Saúde da Família (USF) que apresentasse o maior conhecimento sobre o processo de trabalho da equipe. Deste módulo foram analisadas as questões referentes ao acolhimento da demanda espontânea, correspondendo a 18 questões de respostas diretas. Foram observadas as 18 variáveis sobre acolhimento da demanda espontânea foram descritas em tabelas de frequência absoluta e relativa, com os resultados de cada uma estratificados por macrorregião. As variáveis foram tratadas como variáveis nominais dicotômicas, sendo aquelas com múltiplas alternativas, transformadas em tantas variáveis dicotômicas, quantas alternativas possíveis. Duas variáveis tiveram tratamento diferente, sendo a resposta referente a uma unidade de tempo. Estas variáveis foram consideradas como numéricas intervalares. Foram gerados pontos de corte, para cada variável do estudo, buscando classificar as regiões em melhor ou pior do que o Brasil. Estes partiram das frequências totais, que consideraram o universo das equipes. Tabela 1. Percentual das questões sobre o Acolhimento a demanda espontânea, dados do segundo ciclo do PMAQ, anos 2013 – 2014, com distribuição por macrorregião. ACOLHIMENTO À DEMANDA ESPONTÂNEA – MACRORREGIÃO BRASIL (%) Variáveis Norte Nordeste Centro-oeste Sudeste Sul Brasil Realiza atendimento da demanda espontânea 93,1 95,4 96,5 98,8 98,5 96,9 Existência de local específico para o acolhimento e/ou realiza na sala de espera/recepção 67,4 70,9 69,3 53,1 64,4 63,4 Realização do acolhimento turno manhã 96,9 98,6 98,4 99,1 99,4 98,8 Realização do acolhimento cinco dias por semana 80,5 76,1 85,0 88,3 94,6 84,1 Disponibilizam vagas para consultas de demanda espontânea 81,8 86,3 84,5 90,6 88,9 87,7 Existência de Protocolo de Queixas + frequentes no idoso 32,0 49,0 40,2 67,6 48,0 53,4 Existência de Protocolo de Problemas respiratórios 28,7 48,00     37,7 67,8 50,4 53,1 Existência de Protocolo de Queixas + frequentes no adulto 28,9 46,50 35,6 68,2 46,3 51,9 Existência de Protocolo de Queixas + frequentes na criança 34,9 53,50 43,1 71,1 53,2 57,5 Existência de Protocolo de Problemas relacionados à saúde mental/sofrimento psíquico 25,4 43,30 32,2 63,4 46,2 48,6 Existência de Protocolo de Traumas e acidentes 18,4 30,00 22,4 50,1 37,0 36,6 Existência de Protocolo de Captação precoce de gestantes e intercorrências na gestação 33,8 51,40 42,0 69,5 54,1 56,1 Existência de Protocolo de Dengue 33,2 48,80 47,6 69,8 40,9 53,7 Outros 18,8 33,40 23,4 42,5 32,5 34,6 Não Possui protocolos de atendimento a demanda espontânea 55,8 37,60 46,6 22,4 38,7 34,4 Garantia de sair com a consulta agendada 86,5 89,6 82,7 93,4 86,4 89,7 Realização do agendamento em qualquer dia da semana, em qualquer horário 49,0 51,4 59,7 69,3 65,0 60,0 Realizam avaliação de risco e vulnerabilidade no acolhimento dos usuários 85,7 90,8 88,6 91,9 92,8 90,9 Profissionais capacitados para realização do acolhimento 61,1 62,1 61,9 81,1 71,2 69,9 Equipes que dispõe de serviço para remoção do usuário, quando necessário 71,4 84,5 86,3 89,2 95,5 87,0 Fonte: Banco de dados do 2º Ciclo de Avaliação Externa do PMAQ Observação: Dados em vermelho são menores do que a média do Brasil, azul são superiores à média do Brasil.   Na Tabela 1 observa-se que a região Norte só pontuou acima da média nacional nas questões referentes a ter um local específico para a realização do acolhimento ou poder realiza-lo na recepção e com relação a não ter protocolos para acolhimento de queixas diversas. Já a região Nordeste pontuou acima da média nacional nos dois pontos supracitados e na variável que se referia à realização de acolhimento no turno da manhã. A região Centro Oeste teve desempenho semelhante obtendo pontuação maior do que a média nacional nas variáveis apresentadas anteriormente e também com relação à realização do acolhimento durante os cinco dias úteis semanais. Ainda com relação à Tabela 1, a região Sudeste só teve dois pontos abaixo da média nacional que foram nas variáveis com relação à existência de local específico para realizar o acolhimento e o fato de não possuir protocolos específicos para acolhimento. E a região Sul teve mais variáveis com média abaixo da nacional, entre elas a existência de protocolos com relação à queixas mais frequentes no idoso, adulto e criança; com relação aos problemas respiratórios; protocolos para problemas relacionados à saúde mental e ao sofrimento psíquico; existência de protocolo de captação precoce de gestantes e intercorrências na gestação; existência de protocolo de dengue; outros; não possui protocolos de atendimento à demanda espontânea; e garantia de sair com a consulta agendada. Todas as outras variáveis tiveram médias acima da nacional. O estudo revelou que em todas as regiões do país há a realização de acolhimento, considerando-se as particularidades de cada região e que, com um local específico ou na recepção, a maioria das unidades em todas as regiões consegue realizar este atendimento. Contudo, como observado nos resultados, as regiões Norte, Nordeste e Centro Oeste estão deficitárias na realização da atividade, sendo classificadas a partir do padrão desenvolvido como Insatisfatórias ou abaixo da média em sua maioria. As médias baixas com relação aos protocolos podem atingir a AB enquanto principal porta de entrada no sistema de saúde, precisando dar respostas aos usuários de maneira capacitada, devendo romper as barreiras burocráticas, contudo, ainda se vê a dificuldade da realização destes objetivos, tendo em vista a dificuldade das tecnologias chegarem até os trabalhadores em saúde e assim, consequentemente, permitirem aos mesmos prestar um bom atendimento aos usuários. Conclui-se que o acolhimento pode estar sendo realizado na maioria das unidades de saúde do Brasil, contudo, a boa prática do mesmo depende das tecnologias e interações entre diversos aspectos que envolvem a produção de saúde e que vai resultar na satisfação do usuário. Assim, ainda se apresenta como necessária a evolução das políticas em relação ao acolhimento na AB, que possam promover as ferramentas necessárias para a realização das atividades e assim promovendo maior satisfação dos usuários que são a razão maior da existência do serviço.

5261 O PROCESSO DE TRABALHO DAS EQUIPES DE SAÚDE DO BRASIL: AVALIAÇÃO EXTERNA DO PMAQ-AB
Bárbara Misslane da Cruz Castro, Rosana Cristina Pereira Parente, Rosiani Pereira Parente, Orácio Carvalho Ribeiro Júnior

O PROCESSO DE TRABALHO DAS EQUIPES DE SAÚDE DO BRASIL: AVALIAÇÃO EXTERNA DO PMAQ-AB

Autores: Bárbara Misslane da Cruz Castro, Rosana Cristina Pereira Parente, Rosiani Pereira Parente, Orácio Carvalho Ribeiro Júnior

Apresentação: Este trabalho tem por objetivos: Avaliar a adequação do processo de trabalho das equipes de saúde do Brasil, segundo os dados do Programa de Melhoria do Acesso e da Qualidade da Atenção Básica (PMAQ-AB); e Analisar a adequação da Atenção Básica, segundo as características demográficas e indicadores de saúde dos municípios do Brasil. Desenvolvimento do Trabalho: Trata-se de um estudo transversal, do tipo normativo com abordagem quantitativa, a partir dos dados do segundo ciclo de avaliação do PMAQ, realizado no segundo semestre de 2014 onde ocorreu a aplicação do questionário de avaliação do módulo II- entrevista com o profissional de saúde e verificação de documentos na unidade por mais de 40 instituições de ensino e pesquisa (IES) do país. As IES contribuíram com a etapa de avaliação externa desde a construção do instrumento de avaliação, definição de estratégias até a aplicação dos questionários nos municípios brasileiros. Antes da realização da pesquisa de campo, os entrevistadores foram treinados e efetuaram a coleta em todas as unidades básicas de saúde que optaram pela adesão ao PMAQ-AB. Participaram da pesquisa 2.778 equipes de saúde distribuídas em 4.826 municípios brasileiros.  Nesta pesquisa foi priorizada a análise da Dimensão IV- Acesso e Qualidade da Atenção e a Organização Processo de Trabalho. Acesso e Qualidade da Atenção e a Organização Processo de Trabalho. As subdimensões do estudo foram: População de referência da equipe de atenção básica, Planejamento de ações da equipe de atenção básica, Organização da agenda da equipe de atenção básica, Organização dos prontuários na unidade básica de saúde e Coordenação do cuidado na rede de atenção e resolutividade. Para analisar a adequação do processo de trabalho das equipes primeiramente foi realizada a exploração do banco de dados e avaliada sua completude, com recorte para as respostas referentes ao questionário do módulo II. Em seguida foram agrupadas as equipes de saúde do Brasil segundo a adequação do processo de trabalho com base em características demográficas e indicador socioeconômico e de saúde dos municípios do Brasil, como: Região geopolítica, Porte populacional (Baixo- até 19.112 hab.; Médio – 19.113 a 146.552 hab.; Alto- a partir de 146.553 hab.), Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) (Baixo – 0-0,599; Médio – 0,600-0,699; Alto - 0,700-1) e Cobertura da Estratégia Saúde da Família (ESF) (Baixo- até 56,93%; Médio – 56,94% a 99,99%; e Alto -100%) e posteriormente foram realizadas associações dessas variáveis com a adequação do processo de trabalho das equipes de atenção básica. (EAB). A avaliação da adequação do processo de trabalho das EAB, para cada subdimensão, obedeceu aos seguintes critérios: adequação de 100% quando todos os padrões alcançaram notas 10 de respostas positivas para os itens avaliados; adequação de 99,99%-80% quando os padrões alcançaram notas entre 8,1 e 9,9 e adequação ≤ 80,0% quando os padrões alcançaram notas menores ou iguais a 8,0. Os dados foram processados no programa Microsoft Office Excel e exportados para análise no Software SPSS. Foram realizadas as distribuições das equipes segundo a matriz de julgamento, utilizando-se a estatística descritiva e construídas tabelas e gráficos. Resultados e/ou impactos: A avaliação da adequação do processo de trabalho das 29.777 equipes de atenção básica (EAB) do Brasil participantes da etapa de avaliação externa no II ciclo do PMAQ-AB foi realizada de acordo com as definições estabelecidas pela Política Nacional da Atenção Básica (PNAB)-2012. Os resultados revelam grandes desigualdades no processo de trabalho das equipes de saúde entre as regiões brasileiras, com impactos significativos no acesso e na qualidade da atenção à saúde na atenção básica, porta de entrada dos usuários a rede e aos serviços de saúde. De modo geral, constatou-se o baixo percentual das EAB (0,06%) do país que atendiam ao critério de 100% de adequação no processo de trabalho. A maioria das EAB (77, 32%) apresentou adequação menor ou igual a 80%, denotando a existência de um processo de trabalho incipiente, fragmentado e desarticulado em relação aos princípios e diretrizes definidos pela PNAB. A estas desigualdades pode-se atribuir a especificidades locais, assim como também a forte influência do IDHM, porte populacional e cobertura da ESF. Considerando as subdimensões que compuseram a avaliação do processo de trabalho das equipes, observa-se que a subdimensão “Planejamento das ações da equipe de atenção básica” apresentou o maior percentual de EAB do país (69,65%). Foram classificadas com 100% de adequação nos itens avaliados, seguida da subdimensão de “População de referência da equipe de atenção básica” com apenas 34,29% de equipes adequadas. Já a subdimensão da “Coordenação do cuidado na rede de atenção e resolutividade” apresentou a menor proporção de equipes (0,20%), classificadas com 100% de adequação, seguida das subdimensões de “Organização da agenda da equipe de atenção básica” (17,01%) e “Organização dos prontuários na unidade básica de saúde” (20,46%). No que tange as regiões geopolíticas, o Sudeste e o Nordeste apresentaram o melhor perfil de equipes adequadas. Em contrapartida, a região Norte e Centro-Oeste apresentaram os piores resultados de adequação. As equipes com a maior proporção de adequabilidade foram encontradas em municípios de elevado porte populacional (a partir de 146.553.), alto IDHM (0,700 a 1) e baixa cobertura de ESF (Até 56,93%). Considerações Finais: O processo avaliativo do PMAQ vem desvelando incongruências sobre as características organizacionais e assistenciais na atenção básica à saúde no Brasil. Ao mesmo tempo em que seu caráter avaliativo é capaz de estimular a mudança de condutas e melhoria nos serviços de saúde, faz-se necessários investimentos na qualificação e formação profissional. Embora o PMAQ-AB tenha sido instituído com o intuito de garantir um padrão de qualidade assistencial a nível local, regional e nacional, trata-se de uma pesquisa normativa cuja avaliação é realizada com base em um padrão de assistência definido pelas politicas nacionais do MS, sendo reproduzida nos mais diversos contextos de saúde do país. Pode-se concluir que a conversão de modelo de atenção à saúde ao proposto pela ESF ainda não é uma realidade presente no contexto de saúde brasileiro. Apesar dos amplos incentivos para a expansão e consolidação da ESF, os principais entraves no processo de trabalho das equipes são reproduzidos de uma assistência ainda centrada no modelo médico-hegemônico, na clínica e na assistência curativa.  

2667 O TRABALHO DAS EQUIPES DE SAÚDE DA FAMÍLIA NA AMAZÔNIA BRASILEIRA
Paulo de Tarso Ribeiro de Oliveira, Eric Campos Alvarenga, Helder Henrique Costa Pinheiro, Vânia Cristina Campelo Barroso Carneiro, Laura Soares Martins Nogueira, José Mário Barbosa de Brito, Regina Fátima Feio Barroso, Ana Carolina Secco de Andrade Mélou

O TRABALHO DAS EQUIPES DE SAÚDE DA FAMÍLIA NA AMAZÔNIA BRASILEIRA

Autores: Paulo de Tarso Ribeiro de Oliveira, Eric Campos Alvarenga, Helder Henrique Costa Pinheiro, Vânia Cristina Campelo Barroso Carneiro, Laura Soares Martins Nogueira, José Mário Barbosa de Brito, Regina Fátima Feio Barroso, Ana Carolina Secco de Andrade Mélou

O objetivo desta pesquisa foi analisar as condições e a organização de trabalho das equipes de saúde da família nas principais capitais que compõem a região amazônica brasileira. O trabalho destas equipes está organizado de acordo com um coletivo de profissionais composto por médico, enfermeiro, auxiliares de enfermagem e agentes comunitários de saúde. A equipe se responsabiliza pela atenção básica em saúde de certa área cuja população deve ser de no mínimo 2.400 e no máximo 4.500 pessoas. Todas estas pessoas devem ser cadastradas e acompanhadas, sendo responsabilidade da equipe atender às suas necessidades de saúde. O trabalho na Atenção Básica tem sido evidenciado na literatura brasileira pela grande demanda de atendimento, a alta rotatividade entre os trabalhadores das equipes - que prejudica o vínculo entre os trabalhadores e as pessoas atendidas - e o trabalho em uma rede de atenção à saúde que tem dificuldades de comunicação, na qual nem sempre há vagas nos serviços de outros níveis de atenção e o retorno do usuário aos níveis mais básicos de atendimento praticamente não acontece. Da mesma forma, tem sido observado o excesso de atividades burocráticas, a violência e as dificuldades nos relacionamentos interpessoais dentro e fora das equipes. A presente pesquisa utilizou metodologias quantitativas e qualitativas. Na primeira, foram analisadas as informações do banco de dados do Programa Nacional de Melhoria do Acesso e da Qualidade (PMAQ). Ele avalia tanto os profissionais quanto a infraestrutura das Unidades Básicas de Saúde. Este banco encontra-se em um formato de planilha eletrônica do software Microsoft Office Excel. A partir dele, realizou-se uma filtragem das informações de dois módulos (1- Observação da Unidade e 2- Entrevista com profissional), selecionando registros que se referem às condições de trabalho das equipes das capitais Porto Velho, Rio Branco, Manaus, Boa Vista, Belém, Macapá, Palmas e Cuiabá. Depois de selecionadas as informações, cada um destes registros foi transferido para o software IBM SPSS Statistics 20 e realizou-se uma Estatística Descritiva com o cálculo das frequências absolutas e relativas destes valores. Já em relação aos dados qualitativos, foram entrevistados coletivamente 10 trabalhadores de duas equipes de saúde da família de Belém para compreender as influências da organização do trabalho na saúde mental dos trabalhadores. Foi também realizado levantamento de literatura do período de 2004 a 2014 no portal de periódicos da CAPES sobre essa temática. O material produzido nas entrevistas foi analisado por meio da técnica de Análise de Núcleo de Sentidos e teve a função de ilustrar e confrontar os dados quantitativos do banco de dados do PMAQ, apontando novos horizontes para investigações futuras. Como resultado, foi possível perceber que parte significativa (31,4%) dos profissionais entrevistados tem até dois anos de atuação em suas equipes, com destaques para os municípios de Boa Vista e Belém com grande quantidade de profissionais com menos de um ano de trabalho, 37,8% e 26,1%, respectivamente. Esses dados apontam em duas direções que puderam ser verificadas no levantamento de estudos anteriores. A primeira delas é a grande rotatividade dos trabalhadores nos serviços de atenção básica e a segunda é a elevada presença de profissionais recém-formados atuando nas equipes. A maneira com que os profissionais ingressaram no trabalho é em sua maioria por concurso público (51,7%). Sendo Porto Velho com 100% de ingresso nesta modalidade. Belém e Macapá, com os menores valores, apresentam 8,7% e 0,0% respectivamente. A segunda maior forma de ingresso é por seleção pública, com média de 26,0% entre as capitais. Analisando os tipos de vínculo contratual, vê-se que o contrato como servidor público estatutário aparece como o principal na média entre todas as capitais estudadas, 51,8%. No entanto, quando se analisa esse dado individualmente, merecem destaque as cidades de Porto Velho e Boa Vista com os maiores percentuais, 98,3% e 83,8%, respectivamente. Belém e Macapá tem os menores percentuais 7,2% e 0,0%, respectivamente. Os contratos temporários vêm logo em seguida abarcando 38,6% dos trabalhadores. Também se destacam as especificidades das cidades de Belém com 87% de trabalhadores sob regime de contratos temporários, o maior número entre todas as capitais, e Porto Velho com 1,7% sendo o valor mais baixo. Tanto o Ministério da Saúde quanto os conselhos municipais e estaduais de saúde concordam que a precariedade do trabalho envolve a instabilidade dos contratos, principalmente o temporário, que é apontado como o problema central. Este não parece ser o caminho tomado pela gestão do trabalho da maior parte dos municípios avaliados por esta pesquisa. No entanto, cidades como Belém e Macapá destoam com a elevada quantidade de contratos de trabalho temporário. Ao perguntar para os trabalhadores como se sentem trabalhando sob este vínculo de contrato temporário, as respostas foram sempre na mesma direção: se sentem horríveis pela constante vivência de ameaças. Outro ponto a ser ressaltado é a falta de uma infraestrutura adequada. Ela recai diretamente no trabalho da equipe e faz parte das condições para que o trabalho aconteça. As estruturas que mais estão presentes nas unidades das capitais investigadas foram sala de recepção e espera (89,2%), sanitário para adultos (83,3%), banheiro para funcionários (79,6%) e sala de vacina (69,7%). O que apareceu em menor número foram o vestiário para funcionário (7,4%), sala de acolhimento multiprofissional (29,5%) e sanitário para pessoas com deficiência (34,0%). Algumas cidades chegam a se destacar como Palmas que possui 84,4% de unidades com sala de acolhimento multiprofissional, e 100% com sanitário para adultos, sala de vacina e sala de recepção e espera. Porto Velho também se destaca com 100% das unidades contendo sala de vacina e banheiro para funcionários e 94,1% com sala de recepção e espera. Um dos aspectos mais mencionados nas entrevistas coletivas e que possuem grande relação com o sofrimento das trabalhadoras e trabalhadores das equipes é a estrutura que os abrigam. Duas das três unidades visitadas eram residências que foram alugadas pela prefeitura e hoje abrigam estas equipes. Pela parte interior, elas foram adaptadas pelos próprios trabalhadores. Em geral, os trabalhadores se queixam da grande quantidade de pessoas que costumam atender diariamente. Sentem-se sobrecarregados. A Política Nacional de Atenção Básica estabelece que cada equipe de saúde da família está desenhada de forma que consiga atender até quatro mil habitantes. No entanto, como se percebeu nas capitais estudadas, é bastante frequente atender pessoas de outras áreas e até mesmo de outros municípios e estados. Aparece na fala dos profissionais a palavra “estresse” para descrever como se sentem vivenciando esta situação. Esta pesquisa pode contribuir para a melhoria da gestão do trabalho na atenção básica, na medida em que levanta pontos que podem ser aprimorados pelos gestores. O avanço nas condições de trabalho das equipes é fundamental para sustentar a saúde destes trabalhadores. Ela pode reduzir adoecimentos e acidentes no trabalho. Assim como aumentar a resolutividade do cuidado oferecido. O Programa de Melhoria do Acesso e da Qualidade (PMAQ) produziu um material bastante abrangente sobre o trabalho das equipes de saúde da família de todo o país. Estes dados podem e devem ser mais utilizados para auxiliar gestores no planejamento e gerenciamento da atenção básica em suas localidades.