230: ACS em foco: avanços e incertezas
Ativador: A definir
Data: 31/05/2018    Local: FCA 01 Sala 03 - Araça-Boi    Horário: 15:30 - 17:30
ID Título do Trabalho/Autores
3741 As Agentes Comunitárias de Saúde na trajetória entre “trabalhar fora” e dentro da comunidade
Anna Violeta Ribeiro Durão

As Agentes Comunitárias de Saúde na trajetória entre “trabalhar fora” e dentro da comunidade

Autores: Anna Violeta Ribeiro Durão

Esse trabalho traz algumas questões sobre a inserção das Agentes comunitárias de Saúde no município do Rio de Janeiro, no momento em que o Programa Saúde da Família (PSF) se expande nos grandes centros urbanos (1999). Constata-se um direcionamento da política em contratar mulheres da mesma classe do entorno para solucionar os problemas da população.  Em um campo mais amplo, essa perspectiva relaciona-se com políticas fomentadas por agências internacionais como forma de alívio à pobreza. Assim, desde o início do Programa no Nordeste (1990) um dos requisitos para a contratação dessas trabalhadoras era, e ainda é, que elas fossem moradoras das áreas aonde trabalham. Em trabalho anterior, foi possível analisar como no início da constituição da profissão havia uma ideologia de gênero que se imbricava com a vida e o trabalho dessas mulheres, tendo um forte enraizamento com o local. No município do R.J, a relação com a comunidade foi construída e se construiu no e pelo trabalho.  Nesse sentido, quer-se entender o porquê, embora também participassem de atividades na localidade, essa inserção não era percebida de forma orgânica. Para um primeiro aprofundamento sobre essa questão, utilizou-se a literatura mais ampla sobre o tema e, principalmente, as entrevistas aprofundadas realizadas com a turma do Curso Técnico de Agentes Comunitários de (2011-2012) realizado pela Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio em parceria com a Prefeitura do Rio de Janeiro. As agentes entrevistadas foram selecionadas a partir de um questionário fechado com os dados socioeconômicos respondidos por 160 ACS que participaram do curso. Fundamenta-se a análise no pensamento de E. P. Thompson, principalmente, no seu conceito de experiência na busca de entender o protagonismo dessas trabalhadoras na consolidação do seu trabalho. O conceito de experiência para o historiador britânico está associado, a um só tempo, a uma experiência do sujeito e a uma experiência coletiva, é, portanto, um conceito de junção entre a consciência e a realidade concreta que os homens e as mulheres, em um dado período histórico, vivenciam suas múltiplas determinações. Nesse sentido, o fazer-se mulher engloba várias experiências que formam um amálgama, no qual elas se constituem e são constituídas como mulheres trabalhadoras. Nessa relação, sua experiência de trabalho e vida é permeada por uma visão do feminino culturalmente diferenciada do masculino e marcada por sua condição de classe. Constatou-se que na implantação do PACS no Nordeste, as experiências tecidas em várias esferas da vida formaram elos intercessores, no qual o trabalho do cuidado na família se estendeu para o trabalho voluntário realizado junto as Pastorais da Criança e desse para o trabalho remunerado na comunidade. Nesse contexto, a experiência comum vivenciada pelas ACS no início da constituição da sua profissão era percebida como uma experiência herdada (Thompson) na medida em que as normas, os valores e as atitudes que conformaram o seu ser social estavam de tal forma articulados com o seu corpo biológico que eram percebidos como determinados, no sentido estreito do termo. No município do R.J. essa passagem para o trabalho comunitário, embora também traga uma construção herdada do feminino, ganha novos significados na própria experiência de trabalho. Nota-se que na visão das ACS do Rio de Janeiro “o ser da comunidade” não é percebido como inerente a própria pessoa, mas foi se constituindo no processo. Embora participassem da Igreja, tivessem filhos na creche e se inserirem em projetos locais, essas experiências ainda que fossem relativas espacialmente à comunidade não possibilitavam o comprometimento com o todo. Assim, a partir da categoria empírica “trabalhar fora” e dentro da comunidade, procurou-se entender, como a partir de uma experiência construída no feminino, se estabeleceu e foi estabelecido o trabalho comunitário nos grandes centros urbanos. Coloca-se em destaque a participação dessas trabalhadoras na trajetória de trabalho anterior, na comunidade e o seu imbricamento com o trabalho doméstico. Fez-se notar, nos depoimentos, que a noção de comunidade também trazia consigo uma visão de espaço de violência, na qual o “trabalhar fora” era uma tentativa de sair desses territórios. Como destacam vários autores, construiu-se uma representação social da favela como um espaço oposto à cidade e a partir das décadas de 1980-1990 essa clivagem se dá em torno da violência.  Assim, a experiência em “trabalhar fora” era expressivo do anseio a uma vida mais digna não delimitada nem pelo gênero, nem pela condição de classe. No que tange uma perspectiva de gênero a imagem da mulher que trabalha fora é representativa da luta feminina por maior igualdade no mercado de trabalho, pois se contrapõe a uma ideologia que confinava a autonomia das mulheres ao espaço privado que era simbolizada pelas imagens da “rainha do lar ” e “dona-de-casa”. Nesse sentido, na trajetória de trabalho das agentes, ao mesmo tempo em que buscaram garantir a sobrevivência através do assalariamento, desejavam romper com o confinamento que o trabalho doméstico implicava, ou para ganhar maior autonomia econômica, ou para romper com as relações de poder no âmbito familiar Depois de uma longa trajetória de trabalho ao voltar para a comunidade, verifica-se que as ACS se inserem em trabalhos que são compreendidos como extensão das funções da mulher no espaço privado e como tal, mais precarizado. Vão trabalhar na creche comunitária, nos projetos desenvolvidos no local e acionam habilidades construídas no âmbito doméstico como forma de complementação de renda. Estar desempregada facilita o conhecimento dos projetos que passaram a ser fomentados tanto pelo Estado, quanto pelas ONGs. Tendo que manter a sobrevivência as mulheres aproveitam os cursos promovidos na comunidade e trabalham sazonalmente nos projetos desenvolvidos no local. No entanto, devido ao seu caráter precário e a sua curta duração se assemelham aos trabalhos intermitentes vividos anteriormente, não possibilitando um engajamento maior que desse sentido ao que faziam. Verificou-se pelo menos duas visões, onde se delimita uma fronteira entre o trabalhar dentro e fora da comunidade que estão relacionados a atribuição de valores normas e símbolos que foram construídos com significados diferentes para os homens e mulheres que equivalem ao público e ao privado. O público sendo visto como o espaço do trabalho, da política e da economia, enquanto o privado como lugar da casa, da família, das relações afetivas etc. Nessa clivagem o “trabalhar fora” ganha um duplo significado, de um lado é percebido como uma possibilidade de romper com as amarras que cerceiam o trabalho doméstico e de entrada na esfera pública e nesse sentido a comunidade é vista como uma extensão da vida doméstica. De outro, a percepção da comunidade como oposta à cidade que ganha concretude, principalmente, pela vulnerabilidade gerada pela violência que prospera nestes locais, na exata medida em que se cerceiam os direitos a uma vida mais digna.  Nesse sentido, a casa configura-se como o local do íntimo, da privacidade, em um ambiente que é marcado por uma vida de privações. Acredita-se que devido as ACS terem se constituídos no bojo da Reforma Sanitária Brasileira, a sua inserção no Programa de Saúde da Família permitiu ir de encontro, ainda que com muita dificuldade, a essa rotatividade entre projetos, construindo através do trabalho laços mais sólidos com a comunidade e uma perspectiva de luta para consolidação da profissão.

4501 PERCEPÇÃO DO AGENTE COMUNITÁRIO DE SAÚDE SOBRE SUAS ATIVIDADES EM RELAÇÃO À EQUIPE E COMUNIDADE
FABIANE FERRAZ, Sabrina José da Silva, Diego Floriano de Souza, Daiane Mendes de Assis Réus, Gabriela Chirst Ramos Nava, Thales Macarini Sasso, Elieser Peper Nascimento, Fernanda Evaldt Bertoti

PERCEPÇÃO DO AGENTE COMUNITÁRIO DE SAÚDE SOBRE SUAS ATIVIDADES EM RELAÇÃO À EQUIPE E COMUNIDADE

Autores: FABIANE FERRAZ, Sabrina José da Silva, Diego Floriano de Souza, Daiane Mendes de Assis Réus, Gabriela Chirst Ramos Nava, Thales Macarini Sasso, Elieser Peper Nascimento, Fernanda Evaldt Bertoti

Introdução: no Brasil a principal porta de entrada as redes de saúde é a Atenção Básica, a qual através da Política Nacional de Atenção Básica (PNAB) reestruturada em 2017 busca reorientar o sistema para que haja uma organização adequada no atendimento à população. A PNAB estabelece que as Unidades Básicas de Saúde (UBS) devem se encontrar em proximidade ao cotidiano das pessoas, ou seja, estar adstritas ao território onde elas moram, trabalham e vivem, a fim de promover a criação de vínculo com à população em território definido, sobre as quais as equipes assumem responsabilidade sanitária.  A fim de melhorar o cuidado à população, o sistema de saúde brasileiro criou várias modalidades de atendimentos, sendo a principal delas a estruturação das Estratégias de Saúde da Família (ESF), por meio da qual emergiu um modo de trabalhar com a saúde considerando a integralidade da atenção e o desenvolvimento de ações de promoção da saúde junto à família e não somente ao indivíduo doente. As ESF são estruturadas por uma equipe multiprofissional mínima, composta por médico, enfermeiro, auxiliar ou técnico de enfermagem e Agentes Comunitários de Saúde (ACS). É preconizado que os ACSs estabeleçam o vínculo entre equipe de saúde e comunidade, buscando assim um atendimento qualificado na lógica da integralidade. Objetivo: analisar a percepção dos agentes comunitários de saúde frente às atividades desenvolvidas por eles junto a equipe e a comunidade. Desenvolvimento: pesquisa qualitativa, do tipo descritiva-exploratória. A coleta dos dados ocorreu de out/dez-2015, foi realizado entrevista semi-estruturada com 18 ACSs de todas (6) as UBS-ESF de um município do sul de Santa Catarina. A análise e a interpretação dos dados coletados ocorreu através da análise temática de conteúdo, a qual consiste em três passos: pré-análise - em que foi realizada a leitura flutuante de todas as transcrições literais das entrevistas; exploração do material - que consistiu na operação de codificação, que, por meio dos dados brutos, buscamos alcançar o núcleo da compreensão do texto; e, tratamento dos resultados obtidos e interpretação - momento em que os dados foram submetidos a um estudo orientado pelo referencial teórico, possibilitando a expressão de concepções relacionadas às categorias temáticas que emergiram dos dados, buscando elucidar os aspectos mais latentes, tornando-os mais visíveis. A pesquisa foi aprovada pelo comitê de ética sob o parecer n. 1.203.286, sendo que para o sigilo das identidades os participantes estão apresentados por codinomes. Resultados: expressam a categoria temática: percepção em relação às atividades de agente comunitário de saúde. Está categoria está composta por três subcategorias, expressas a seguir. Subcategoria 1: Sente-se bem em realizar a atividade de ACS. Dez participantes relataram que se sentem realizadas desenvolvendo suas funções como ACS, principalmente porque percebem esse trabalho como algo que pode ajudar as pessoas. “[...] Eu me sinto muito feliz realizando esse trabalho, eu acho que me encontrei, é uma coisa que eu gosto de fazer”(Ane). “[...] Eu me sinto muito bem, principalmente quando a gente percebe que pode ajudar uma pessoa”(Dora). Subcategoria 2: Sente uma baixa valorização da gestão e da comunidade frente às atividades dos ACS. Três entrevistadas sugerem a criação de uma forma de valorização no trabalho do agente comunitário de saúde e a divulgação de suas atividades, para que a comunidade tenha conhecimento da realidade no processo de trabalho do ACS. “[...] Eu acho que deveria ter uma melhor valorização, não só do agente de saúde, mas em todos os setores”(Julia). “[...] porque muitas pessoas acham que o nosso trabalho é só para ir nas casas pegar assinaturas e andar na rua, precisaria haver um melhor esclarecimento do nosso papel”(Natalia). Subcategoria 3: Sobrecarga de atividades na rotina de trabalho. Quatro participantes apontaram que há uma sobrecarga devido à falta de revisão nas microáreas (territorialização) da ESF, fato que compromete significativamente a qualidade do trabalho desenvolvido. “[...] Eu acho que as microáreas deveriam ser melhor divididas, porque dificulta, tem mês que dificulta fazer todas as visitas e eu também tenho um pedaço da área rural e também vai crescer agora com loteamentos novos, aquelas casinhas, então eu acho que tem que ser organizado de novo”(Bruna). “[...] Eu não reclamo da quantidade de famílias, eu tento equilibrar, já foi falado para tentar desmembrar, mas todas ACS estão carregadas, por isso acredito que isso deveria ser revisado”(Margarida). Em relação a sobrecarga de trabalho duas participantes destacam que seria importante a oferta de atendimento psicológico para as ACS, fato que lhes auxiliaria a compreender as dificuldades na rotina do trabalho, bem como as orientaria condutas/posturas que precisam ter a partir das demandas e necessidades da comunidade que elas atendem. “[...] Não tem ninguém para socorrer, um psicólogo ou alguém para conversar, não tem, a gente já até comentou em reunião que seria muito bom, porque tem vezes assim que tu não consegues sozinha, é muito problema e é todo dia ouvindo, recebendo os problemas da comunidade”(Sonia). Considerações finais: os resultados destacam a percepção das ACS quanto às atividades que realizam, em que foi possível constatar que há satisfação no trabalho perante a função de agente comunitária de saúde. Contudo, algumas participantes expressaram que se sentem pouco valorizadas pela comunidade e equipe em que trabalham visto que esses têm pouco conhecimento do seu processo de trabalho. Ainda, os resultados apontaram reclamações a respeito de sobrecarga em suas rotinas de trabalho, pouca valorização, incentivo e cuidado da gestão em relação a saúde do trabalhador, principalmente sobre os aspectos psicológicos. Os resultados do presente trabalho, corroboram os achados de Guanaes-Lorenzi e Pinheiro (2016) quando referem que é possível perceber uma tensão entre diferentes discursos que sustentam o trabalho do ACS, pois, ora há discursos com sentidos de valorização em que os agentes se sentem bem realizando suas funções, sendo que há famílias e a equipe de saúde valorizam o trabalho que desenvolvem, ora são expressos sentimentos de desvalorização do ACS, percebida tanto na relação com a comunidade, como na relação com o sistema de saúde. Ainda, nos resultados aqui apresentados, os participantes também expressam a necessidade de valorização por parte dos gestores municipais de saúde, pensando a saúde do trabalhador e considerando a carga emocional/psicológica que o ACS vivencia em seu processo de trabalho junto à comunidade, como algo importante que a gestão precisa ficar atenta, a fim de implementar ações para minimizar essa sobrecarga.

2024 PROBLEMAS DE SAÚDE AUTORRELATADOS POR AGENTES COMUNITÁRIOS DE SAÚDE DE COMUNIDADES RIBEIRINHAS DE COARI-AMAZONAS.
Victor Linec Maciel Barbosa, Mariana Paula da Silva, Ananias Facundes Guimarães, Paula Andreza Viana Lima, Rodrigo Damasceno Costa, Jéssica Karoline Alves Portugal, Marcelo Henrique da Silva Reis, Abel Santiago Muri Gama

PROBLEMAS DE SAÚDE AUTORRELATADOS POR AGENTES COMUNITÁRIOS DE SAÚDE DE COMUNIDADES RIBEIRINHAS DE COARI-AMAZONAS.

Autores: Victor Linec Maciel Barbosa, Mariana Paula da Silva, Ananias Facundes Guimarães, Paula Andreza Viana Lima, Rodrigo Damasceno Costa, Jéssica Karoline Alves Portugal, Marcelo Henrique da Silva Reis, Abel Santiago Muri Gama

Apresentação: Os Agentes Comunitários de Saúde (ACS) são profissionais com diversas atribuições, englobando a prevenção de doenças e promoção da saúde nos domicílios e comunidade. Os ACS das comunidades ribeirinhas de Coari-Amazonas enfrentam diversas dificuldades no seu dia a dia devido ao limitado acesso aos serviços de saúde, tanto para a população quanto para os próprios profissionais. Com isso, há um aumento no número de morbidades autorrelatadas por estes indivíduos. Objetivou-se descrever os principais problemas de saúde relatados por Agentes Comunitários de Saúde da zona rural do município de Coari-Amazonas. Desenvolvimento do trabalho: Estudo transversal realizado a partir de um projeto maior, intitulado “Saúde e práticas terapêuticas entre Agentes Comunitários de Saúde do município de Coari – Amazonas”. Participaram do estudo ACS da zona rural do município de Coari-Amazonas. O questionário foi previamente elaborado e testado e as entrevistas ocorreram nos meses de outubro e novembro de 2017 durante as reuniões mensais dos ACS no município sede. O questionário continha perguntas relacionadas às características socioeconômicas e demográficas, condições de saúde e consumo de medicamentos. Os participantes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) e a pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética e Pesquisa da Universidade Federal do Amazonas.  Resultados: Foram entrevistados 111 ACS da zona rural, com média de idade de 43,6 anos, destes, 52,3% eram homens. Em relação à saúde, 51,4% definiram sua saúde como Regular, 9,9% eram hipertensos e 4,5% diabéticos. Dos entrevistados, 54,1% relataram ter algum problema de saúde nos últimos 30 dias. Acerca das enfermidades autorrelatadas, 51,7% referiram ter algum tipo de dor, entre elas estão “dor de cabeça”, “dor nas costas” e “dor no estômago". Também foram relatadas enfermidades como: Gripe (5,9%), Conjuntivite (4,2%), Hipertensão Arterial (4,2%) e Infecção do Trato Urinário (3,4%). Dentre os problemas de saúde menos citados estão: Anemia, Ansiedade, AVC, Colesterol alto, Gastrite, Inflamação na garganta, Falta de ar, Tontura, Malária e Reumatismo. Considerações finais: Agentes Comunitários de Saúde de comunidades ribeirinhas enfrentam diversos problemas de saúde rotineiramente, o que pode estar relacionado à qualidade de vida destes indivíduos e ao excesso de atividades diárias referentes ao trabalho, família e comunidade. Faz-se necessário uma maior assistência à saúde para estes profissionais, afim de evitar práticas incorretas, como a automedicação.

1891 A Contribuição do Agente Comunitário de Saúde para a Consolidação das Redes de Atenção à Saúde (RAS) no Ceará
Danielle Sá, Olney de Oliveira, Lucia Conde

A Contribuição do Agente Comunitário de Saúde para a Consolidação das Redes de Atenção à Saúde (RAS) no Ceará

Autores: Danielle Sá, Olney de Oliveira, Lucia Conde

Esse estudo tem por objetivo geral descrever a contribuição do Agente Comunitário de Saúde (ACS) para a consolidação das Redes de Atenção à Saúde (RAS)  na Unidade de Saúde Viviane Benevides em Fortaleza/Ceará. Outros objetivos específicos são: identificar os fatores intervenientes no desenvolvimento dos processos de trabalho e caracterizar o modelo de atenção em saúde na relação com a Estratégia Saúde da Família a partir do olhar dos ACS. A criação do Sistema Único de Saúde no Brasil desencadeou a reorganização das ações de promoção, prevenção e assistência dos serviços de saúde com o propósito de integrarem uma rede regionalizada e fundada nos princípios da universalidade, equidade e integralidade. Para tanto, a Atenção Básica, caracterizando-se por um conjunto de ações de promoção e proteção da saúde, prevenção de agravos, diagnóstico, tratamento, reabilitação e manutenção da saúde, é fundamental na estrutura do SUS para a adequada resolutividade dos problemas e desafios da saúde pública brasileira. Nesse contexto, este trabalho apresenta um apanhado sobre relatos de experiência da contribuição do ACS para a consolidação das RAS na Unidade de Saúde Viviane Benevides/Ceará. O estudo é de natureza qualitativa e apresenta resultados parciais da pesquisa “Organização das redes de atenção à saúde no Ceará: desafios da universalidade do acesso e da integralidade da Atenção”, desenvolvida pelo Laboratório de Seguridade Social e Serviço Social (LASSOSS) do curso de Serviço Social da Universidade Estadual do Ceará, obedeceu as normas que regem pesquisa com seres humanos, conforme resolução N° 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde, aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da UECE, CAAE n° 36453414.0.3002.5684. A pesquisa foi realizada no período de junho a agosto de 2016, na unidade de Atenção à saúde Viviane Benevides (Secretaria Regional V) do município de Fortaleza através de observações sistemáticas, registros em diários de campo e entrevistas semiestruturadas, gravadas e transcritas com usuários, profissionais de saúde e gestores.Para a análise utilizou-se leitura e exame detalhado dos dados, elaboração de síntese interpretativa e análise temática. Construída como uma Unidade Referência para a implantação das Redes de Atenção a Saúde em Fortaleza, a Unidade de Saúde Viviane Benevides passou por um processo de reorganização das redes de atenção em 2013. Este processo de reorganização foi denominado Modelo de Atenção as Condições Crônicas (MACC) e originou-se de um paradigma teórico ideal a ser implantado no cotidiano complexo desta cidade. Entre os serviços propostos salienta-se a Estratégia de Saúde da Família a ser realizada através de um trabalho em equipes onde o Agente Comunitário de Saúde destaca-se pelo contato contínuo com o território e profundo conhecimento relativo aos problemas e potencialidades das comunidades atendidas. A consolidação da proposta de reorganização das redes de atenção com ênfase na APS e através da ESF exige o trabalho decisivo da categoria ACS cujos relatos de trabalho foram analisados resultando nas seguintes observações: sentimentos de frustração pela redução das visitas aos usuários do sistema na atual gestão, ausência de condições logísticas para realização do trabalho, sentimento de impotência frente a cobrança da comunidade para a realização de trabalho mais efetivo, ausência de percepção da relação entre PSF e RAS, equipes de trabalho incompletas, longas filas de espera  para realização de exames especializados, descontinuidade de programas implementados em gestões anteriores, ausência de compreensão de trabalhadores e usuários sobre o papel ou objetivo da  RAS e falta de consciência da população sobre a importância da prevenção estão entre os aspectos apontados como fragilidades para a implementação das RAS através da ESF. De acordo com o relato dos ACS destacam-se os seguintes pontos positivos: satisfação pela realização do trabalho quando a equipe está completa, amor pelo trabalho desenvolvido, experimentação de senso de valor por receber suporte e assistência da Coordenadora e dos trabalhadores de nível superior, gosto pela efetuação de orientação a gestantes, nutrizes e idosos, satisfação pelo acompanhamento e suporte emocional de idosos, reconhecimento da importância do acolhimento como sinônimo de segurança para a concretização do trabalho. Por ser um membro da equipe da ESF que faz parte da comunidade, o trabalho de acolhimento e a construção de vínculo dos ACS com os usuários são facilitados. Estes mesmos aspectos também contribuem para que os ACS tenham uma compreensão mais profunda dos reais problemas, demandas e necessidades da população, bem como de suas potencialidades e das articulações necessárias para efetivação da RAS (Embora esse último ponto torne-se limitado pois os ACS também não possuem um conhecimento adequado e uma profunda compreensão da proposta da RAS). A Atenção Básica é a porta de entrada do usuário, exercendo um papel estratégico na construção e articulação da RAS, pois constitui-se como uma base a partir da qual se estruturará. A RAS se configura com o objetivo de oferecer ao usuário uma relação próxima ao equipamento, proporcionando um vínculo fortalecedor do serviço que contribui para a cidadania e a efetivação dos direitos. Para tanto, o ACS tem papel fundamental nessa relação. O ACS orienta ações de prevenção de doenças, promoção à saúde, entre outras atividades estabelecidas a partir do planejamento da equipe.  O trabalho do ACS alarga os serviços de saúde nas comunidades. As observações e entrevistas permitem-nos inferir que um dos pilares para a conclusão da implantação do modelo adequado de atenção à saúde em Fortaleza reside  no trabalho de base dos ACS cuja principal característica é o contato diário e contínuo com a comunidade, o que resulta em um profundo conhecimento das necessidades, limites e potencialidades do território. Os ACS representam uma categoria decisiva para os trabalhos de educação e formação da consciência política e senso crítico dos usuários a partir de um trabalho de orientação, acompanhamento e suporte social, emocional e de saúde comunitários. Os relatos ainda apontam para a insatisfatória concretização da RAS através ESF sendo necessária uma preparação da comunidade para compreender a importância da promoção e prevenção em saúde. O SUS se implantou sem romper com as mentalidades tradicionais do modelo médico individualista fundado em ações curativas, assim na percepção dos ACS a necessidade de melhoria e aperfeiçoamento dos serviços é essencial sendo necessário criar condições para implementar ações de participação da comunidade nos seus próprios processos saúde-doença-cuidado.