231: Com que olhos vemos?
Ativador: A definir
Data: 01/06/2018    Local: FCA 02 Sala 03 - Candiru    Horário: 10:30 - 12:30
ID Título do Trabalho/Autores
1138 MEDICINA, MEDICALIZAÇÃO E TÉCNICA MODERNA: OS IMPACTOS NO CUIDADO.
Leila Tatiana Manes Romanini de Abreu, Carolina Castello Branco, Joelson Tavares Rodrigues, David Richer

MEDICINA, MEDICALIZAÇÃO E TÉCNICA MODERNA: OS IMPACTOS NO CUIDADO.

Autores: Leila Tatiana Manes Romanini de Abreu, Carolina Castello Branco, Joelson Tavares Rodrigues, David Richer

Apresentação: Uma das questões frequentemente abordadas em medicina, sobretudo a partir das queixas dos próprios usuários dos serviços de saúde, é a necessidade de humanização e de melhoria das formas de cuidado.  Fundamentado no método fenomenológico-hermenêutico, conforme a concepção de Martin Heidegger, o presente trabalho busca investigar de que maneira o uso crescente de recursos técnicos e, sobretudo do recurso medicamentoso, tem impactado a relação estabelecida entre médico e paciente, criando o espaço para as queixas de “desumanização” da prática médica. Heidegger, em um texto intitulado “A questão da técnica”, assegura que a técnica, ao contrário do que habitualmente supomos, não é neutra e não encontra-se sob o arbítrio e a decisão humana.  Em sua proposição, a técnica é produtora, ou seja, ela molda e modula o modo como se estabelece a nossa relação com as coisas e com o mundo. A técnica moderna se mostra, no interior do nosso trabalho, intrinsicamente ligada ao fenômeno da medicalização. Desenvolvimento: O termo medicalização refere-se a progressiva conversão de questões que originariamente não estavam sob o arbítrio da medicina, em áreas de interesse e intervenção médica. Como resposta à medicalização surge, frequentemente, um outro fenômeno – a medicamentalização –, em que se buscam alternativas medicamentosas para as questões previamente medicalizadas, passando as medicações a ocuparem um papel central na dinâmica do cuidado. O uso do recurso medicamentoso encobre possibilidades de relações humanas e desencobre outras. A medicalização pode ser entendida como uma forma de controle médico do social. De acordo com Foucault, a medicina pode ser compreendida como uma tecnologia disciplinar, colaborando ativamente para a constituição de uma biopolítica do poder. As tecnização do ato médico, assim como outras formas de recursos técnicos, tendem a assumir o lugar central no processo de tratamento, alterando significamente a relação médico-paciente. O uso do termo medicalização pode ser entendido como uma crítica ao poder médico que tende a hegemonizar e normatizar, definindo o normal e o patológico a partir de um recurso técnico, usado para a prática do cuidado. Resultados/ e ou impactos: A medicina moderna está sendo tecnicamente produzida, na contracorrente do sentido Heidegeriano. Aos poucos, elimina-se o deixar acontecer, o ocasionamento e a natureza como poiesis, que formava o processo do desencobrimento médico-paciente. Tudo ocorre por um intermédio da técnica e do técnico, em figuras fechadas, dosadas e estritamente seguidas. Em contrapartida da revolução tecnológica da medicina, surgem novas propostas para o cuidado no campo da saúde, como integralidade, promoção da saúde, humanização, entre outros. Considerações Finais: É necessário refletir o papel da técnica e da medicação como instrumento técnico no cuidado. A discussão de humanização dos serviços de saúde, correm risco de uma simplificação se o papel da técnica não for discutido, comprometendo assim, as possibilidades de mudanças efetivas.

3617 COMUNICAÇÃO DE NOTÍCIAS DIFÍCEIS ENTRE PROFISSIONAIS DA SAÚDE
Marcela Catunda de Souza Michiles, Ester Alves de Oliveira, Lowisa Consentini Garcia, Thalia Mendonça Cardoso, Sibila Lilian Osis, Selma Barboza Perdomo

COMUNICAÇÃO DE NOTÍCIAS DIFÍCEIS ENTRE PROFISSIONAIS DA SAÚDE

Autores: Marcela Catunda de Souza Michiles, Ester Alves de Oliveira, Lowisa Consentini Garcia, Thalia Mendonça Cardoso, Sibila Lilian Osis, Selma Barboza Perdomo

Apresentação: Durante a atuação dos profissionais da área da saúde, diversas atividades são realizadas incessantemente visando o bem-estar do paciente, seja para proporcionar conforto, melhora clínica ou recuperação culminando na alta do indivíduo.  Culturalmente sabe-se que não existe margem para qualquer outro resultado que não seja o restabelecimento completo da saúde, isto é, do ponto de vista da expectativa dos familiares e do próprio enfermo, que anseia pelo retorno de suas atividades.  Contraditoriamente, durante o exercício da profissão, constata-se que diariamente o profissional da saúde precisa lidar com a comunicação de notícias difíceis e questões relacionadas à terminalidade, uma vez que a escassez de recursos terapêuticos e a finitude da vida são inevitáveis. Por esse motivo, questões que envolvam más notícias são desafiadoras e complexas, exigindo do profissional competências e habilidades técnicas para transmitir da melhor forma possível informações de impacto, ou seja, informações que possuam significado de mudanças ou ruptura de realidade. O objetivo é preservar a dignidade dos protagonistas do contexto da enfermidade. No decorrer da formação acadêmica de enfermeiros, médicos e demais profissionais da saúde, nota-se a existência de um preparo que molda esses profissionais para, essencialmente, recuperar a saúde.  Diante de opções discordantes, emergem sentimentos de fragilidade, incompetência e vulnerabilidade, sendo difícil lidar com o manejo das próprias emoções, as do paciente e as da família. Assim sendo, questiona-se: como não desconstruir a si e ao outro diante da transmissão de notícias difíceis? Como conduzir, de maneira assertiva, tal ação? Como reconhecer a família e sua atuação como parte indispensável nesse momento?  Justifica-se, então, a necessidade de desenvolver entre os profissionais da área da saúde, sobretudo entre os enfermeiros e médicos, competências e habilidades de comunicação em situações complicadas. Além do delineamento de novas estratégias de ensino e recursos competentes e comprovados cientificamente, que sustentem a atuação dos profissionais diante da complexidade que é lidar com a transmissão de más notícias.  Dessa forma, objetiva-se, de modo geral, analisar o conhecimento dos profissionais da área da saúde sobre essa temática. Especificamente, objetiva-se identificar o perfil sócio-religioso dos profissionais, listar as atividades consideradas complexas na transmissão de notícias difíceis e por fim, correlacionar essas variáveis específicas na comunicação com o perfil sócio-religioso. Desenvolvimento: Trata-se, então, de um estudo observacional, do tipo transversal, com coleta de dados em um hospital na cidade de Manaus. Em relação os critérios de elegibilidade, serão incluídos profissionais de nível superior que prestam assistência aos pacientes tais como: médicos, enfermeiros, odontólogos, fisioterapeutas, assistentes sociais, residentes de enfermagem, medicina e odontologia que atuem nas diferentes unidades desse hospital a mais de 30 dias. Para os critérios de não elegibilidades, serão excluídos os profissionais visitantes ou em intercâmbio, internos de medicina e enfermeiros voluntários ou em treinamento. O cálculo amostral foi realizado pelo programa OpenEpi de acordo com o número de profissionais que atuam nos plantões diurno e noturno. Para os enfermeiros e médicos a amostra foi definida com uma frequência antecipada de 50%, limite de confiança de 5% e um intervalo de confiança de 95% totalizando uma amostra de 75 enfermeiros e 56 médicos. Para os demais profissionais, têm-se a população total de 5 assistentes sociais, 5 fisioterapeutas e 8 odontólogos.  A coleta de dados é baseada em um instrumento contendo: a) variáveis relacionadas às características gerais: profissão, especialização/titulação, idade, gênero, raça/cor, estado civil, número de filhos, setor de atuação e tempo de atuação na unidade; b) variáveis específicas relacionadas ao tema do projeto: frequência com que informa notícias difíceis, nível de dificuldade na comunicação, preparo prévio para transmissão de notícias difíceis, percepção de habilidades e dificuldades para a tarefa, manejo das emoções próprias e do paciente, uso de protocolo e estratégias baseadas em evidências, percepção de sofrimento do impacto da tarefa. Relacionado aos aspectos éticos, o projeto recebeu parecer favorável pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade do Estado do Amazonas sob número 68953017.5.0000.5016. Para a análise dos resultados, os dados serão tabulados no programa Excel e caracterizados pela descrição de frequências absolutas e relativas, medidas de tendência central e dispersão. O Teste Qui-quadrado de Pearson será utilizado para avaliar as diferentes categorias e o Teste t-Student para avaliar a diferença entre as médias. Serão considerados achados estatisticamente significativos aqueles com valor de p < 0,05. Resultados: Ainda em andamento, a pesquisa não dispõe de resultados finais. No entanto, de acordo com a literatura levantada para a elaboração do projeto, infere-se que os profissionais da área da saúde não são ensinados, no decorrer da graduação e atuação profissional, a transmitir notícias difíceis. Por consequência, considera-se uma tarefa árdua a comunicação de más notícias devido ao provável desconhecimento, ou pouco conhecimento de protocolos e estratégias que facilitem essa atribuição. Dessa forma, entende-se que o resultado de tal falha faz com que o maior tempo de profissão favoreça o surgimento de habilidades únicas e específicas na comunicação, o que não significa que a maneira com que a informação está sendo dita é a maneira ideal. Diante disso, sustenta-se a importância em considerar a temática fundamental na formação acadêmica, visto que, por mais que a frequência em relatar más notícias seja diferente entre as especialidades, essa ação é inevitável. Ao considerar o manejo das emoções, presume-se que a maior parcela dos profissionais de saúde possui dificuldades em lidar com as reações do paciente e consequente família, após cedido informações de impacto. Ainda assim, é preocupante a dificuldade que os profissionais apresentam no manejo das próprias emoções, uma vez que esse obstáculo acaba por influenciar a atuação do mesmo, colocando suas ações em dúvida e despertando sentimentos de incapacidade. Esses resultados estimulam novas estratégias e estudos com o propósito principal de melhoria na assistência à saúde. Considerações finais: Comunicar algo que tem por consequência a ruptura de uma determinada realidade, alterando de maneira negativa a vida de uma pessoa é de bastante responsabilidade. A discussão do assunto é imprescindível pois as más notícias podem acontecer em qualquer esfera da saúde, seja atenção primária, segundaria ou terciária. Considerar a temática é entender que a atuação profissional pode ser realizada da maneira mais assertiva possível, diminuindo as chances de respostas que podem atrapalhar e piorar o processo de saúde de um enfermo e até mesmo despertar sentimentos agressivos na família. O objetivo é a construção de habilidades para que seja dito, mesmo em situações limitantes, uma perspectiva saudável e realistas de situações inevitáveis na área da saúde. A notícia dada de maneira correta reconstrói o entendimento do que é saúde para o enfermo, tornando-o protagonista do seu processo de melhora, também reconhece a importância da família e, finalmente, facilita a atuação profissional, evitando o surgimento de sensações de vulnerabilidade e até mesmo a formação de um profissional desumano. Trazendo, então, benefícios à sociedade.

3076 CONHECIMENTO SOBRE TESTAMENTO VITAL ENTRE OS ACADÊMICOS DE SAÚDE: UM ESTUDO SECCIONAL
Lowisa Consentini Garcia, Ester Alves de Oliveira, Marcela Catunda de Souza Michiles, Thalia Mendonça Cardoso, Sibila Lilian Osis, Selma Barboza Perdomo

CONHECIMENTO SOBRE TESTAMENTO VITAL ENTRE OS ACADÊMICOS DE SAÚDE: UM ESTUDO SECCIONAL

Autores: Lowisa Consentini Garcia, Ester Alves de Oliveira, Marcela Catunda de Souza Michiles, Thalia Mendonça Cardoso, Sibila Lilian Osis, Selma Barboza Perdomo

Apresentação: O Testamento Vital (TV) é um documento escrito, no qual uma pessoa em plena sanidade mental expressa sua vontade quanto aos tratamentos médicos que deseja ou não ser submetida numa situação futura em que possa estar acometido por doença terminal ou grave, que o impossibilite de manifestar sua vontade. A ideia deste documento é trazer o direito à morte digna e assegurar que as vontades do paciente serão respeitadas em seus últimos dias. Apesar do nome sugerir outras interpretações, este documento não está voltado para depois da morte, mas sim para o indivíduo ainda em vida, para que assim o mesmo possa viver o fim de sua vida na sua maneira mais digna possível. Este documento também conhecido como Diretivas Antecipadas de Vontade é caracterizado como um registro das vontades do paciente que se encontra em situação grave ou terminal, feito por ele próprio em sua plena sanidade mental, ou anexado em prontuário que ainda pode ser acompanhado pelo mandato duradouro, na qual se elege uma pessoa de confiança responsável por fazer prevalecer a vontade do paciente quando o mesmo não estiver mais no controle de suas faculdades mentais, caso o indivíduo que o elegeu não possa mais manifestar sua vontade, essas decisões terão como base a vontade do paciente somado ao TV, assegurando ainda mais que a vontade do paciente seja respeitada, podendo muitas vezes garantir a morte digna. A adoção do TV não significa recomendar a abreviação da vida, nem a recusa de tratamentos ordinários e paliativos, mas sim a suspensão daqueles procedimentos extraordinários e fúteis, que deixam de trazer quaisquer benefícios ao paciente. O avanço dos recursos tecnológicos que permitem a adoção de medidas desproporcionais que prolongam o sofrimento do paciente em estado terminal, sem trazer benefícios, por exemplo, podem ter sido antecipadamente rejeitadas pelo mesmo, por meio do TV. Esta pesquisa possui como objetivo geral analisar o conhecimento sobre TV entre os acadêmicos de saúde, e apresenta como seus objetivos específicos: identificar o perfil sócio-religioso dos acadêmicos de saúde, descrever o conhecimento dos mesmos referente aos direitos do paciente na terminalidade, e saber se os acadêmicos consideram relevante o registro em prontuário das vontades do paciente. Desenvolvimento do trabalho: O presente trabalho refere-se a um estudo seccional, que atualmente está na primeira etapa, inicialmente busca-se fazer uma avaliação do nível de conhecimento dos acadêmicos de saúde sobre o TV, avaliando também o que os acadêmicos conhecem sobre os aspectos legais desse documento e sobre os direitos do paciente diante da terminalidade. Está ocorrendo na Escola Superior de Ciências da Saúde (ESA) da Universidade do Estado do Amazonas (UEA). A coleta de dados no período entre setembro de 2017 e abril de 2018, com acadêmicos dos cursos de enfermagem, odontologia e medicina. Os dados e informações estão sendo coletados por meio de um instrumento para os estudantes contendo as seguintes variáveis:  Características gerais: curso, ano de formação/ingresso na universidade, idade, gênero, raça/cor, estado civil, número de filhos e Variáveis específicas relacionadas ao tema do projeto como:  manejo das emoções próprias e do paciente, direito do paciente a dignidade, autonomia na terminalidade, registro referente a terminalidade, suporte legal e ético do testamento vital relacionado aos procedimentos do profissional e dos familiares e conhecimento sobre mandato duradouro. O instrumento de coleta refere-se a um questionário estruturado com perguntas fechadas, o qual é respondido somente após assinatura do TCLE (Termo de Consentimento Esclarecido). A amostra para a coleta de dados foi calculada de acordo com o número de ingressantes nos cursos da Escola Superior de Ciências da Saúde (ESA) da Universidade do Estado do Amazonas (UEA). Os critérios de elegibilidade foram: serem estudantes a partir do 3º período dos cursos de Enfermagem, Medicina e Odontologia, devidamente matriculados no sistema da universidade, maiores de 18 anos e que não sejam visitantes de outras instituições ou em intercâmbio. A amostra será de 137 acadêmicos de Enfermagem, 137 acadêmicos de Odontologia e 225 acadêmicos de Medicina, todas as amostras calculadas possuem intervalo de confiança de 95%.  O projeto recebeu parecer favorável do Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade do Estado do Amazonas (UEA), sob protocolo na plataforma Brasil CAA: 68953017.5.0000.5016. Resultados: A pesquisa encontra-se em fase de coleta, estando as atividades previstas no cronograma do projeto de pesquisa em andamento , no entanto, de acordo com os dados levantados para a elaboração do mesmo, espera-se alcançar os seguintes resultados: acadêmicos de saúde têm pouco conhecimento sobre esse relevante tema, os acadêmicos poucos sabem sobre os direitos do paciente na terminalidade, o registro em prontuário da vontade do paciente ocorre com baixa ou nenhuma frequência, e acadêmicos possuem pouco conhecimento sobre os aspectos legais do testamento vital. Considerações Finais: Atualmente a pesquisa se encontra na coleta de dados, no entanto, durante este período podemos observar o surgimento de dúvidas e o despertar de um interesse em entender mais sobre o assunto por parte dos acadêmicos de saúde. Isso nos remete às hipóteses levantadas durante a elaboração do projeto, podendo pontuar que o resultado final previsto mostrará a possibilidade de discutir a inserção do assunto na grade curricular dos acadêmicos de saúde, tendo em vista o déficit presente no Brasil quando o assunto é conhecimento acerca do Testamento Vital, inclusive por parte dos profissionais. Os estudos sobre o Testamento Vital ainda são raros e recentes, para alguns autores a explicação dessa situação além da atualidade do tema, seria que outro fator que resulta nesta insciência pelas pessoas se dá visto que essas apreciações na grande maioria das vezes são básicas, e não possui maior enfoque. Com isso nos indica a necessidade de desenvolver nos cursos de graduação da área da saúde, principalmente para acadêmicos de Medicina e Enfermagem, as competências e habilidades que possam ser aplicadas em situações de terminalidade, buscando construção de perspectivas saudáveis e realistas frente a essas situações, tanto para os pacientes e familiares quanto para os próprios profissionais. Com os avanços tecnológicos em andamento e o pensamento inovador, essas estratégias podem ajudar a preencher a lacuna entre as salas de aula e os ambientes clínicos. 

2105 É POSSÍVEL CUIDAR DE QUEM ESTÁ MORRENDO?: REFLEXÕES ÉTICAS ACERCA DO CUIDADO A PACIENTES EM PROCESSO DE FINITUDE.
Maria Juliana Vieira Lima, José Célio Freire

É POSSÍVEL CUIDAR DE QUEM ESTÁ MORRENDO?: REFLEXÕES ÉTICAS ACERCA DO CUIDADO A PACIENTES EM PROCESSO DE FINITUDE.

Autores: Maria Juliana Vieira Lima, José Célio Freire

A morte tornou-se um tabu para a sociedade atual. Há um isolamento do tema, afastando-o das discussões cotidianas e isolando sua vivência através da constrição do espaço das perdas e do luto, sendo a morte, assim, considerada um fracasso. A dificuldade em lidar com o tema impacta diretamente na atuação dos profissionais de saúde, de modo que estes encontram alternativas que podem ser consideradas evasivas com relação à situação, ou seja: mascaram a morte, fogem dos pacientes sem possibilidade de cura e não falam com o paciente sobre o assunto. Disso decorre um cuidado em saúde pouco humanizado aos pacientes em fim de vida, demarcando a supremacia da técnica nas relações de cuidado e um esquecimento do lugar do outro. Esta pesquisa trata-se do desdobramento da dissertação de mestrado intitulada: Uma leitura ética do cuidado na morte e morrer. O objetivo geral desta pesquisa é compreender qual substrato ético sustenta as relações de cuidado dos profissionais de saúde junto a crianças e adolescentes em processo de morte e morrer, tendo como horizonte ético a perspectiva da alteridade radical em Emmanuel Lévinas. O pensamento de Lévinas é tomado como base neste trabalho, pois propõe um novo paradigma para a investigação filosófica a partir da dimensão ética, na qual o Outro é tido como supremo, como aquele a quem devo tudo e a quem tenho total responsabilidade. Somos responsáveis pelo outro e não há fuga para tal imposição. Portanto, a minha primeira resposta ao outro é eis-me aqui. O imperativo ético de Lévinas nos exige a vida dos sentidos, da afetação e da sensibilidade para com o Outro que se contrapõem ao cuidado eminentemente técnico e sem espaço para a alteridade. Esta pesquisa mostra-se, portanto, relevante em virtude da tentativa em compreender o substrato ético que embasa o cuidado a pacientes em fim de vida ou sem possibilidade de cura, indicando que o cuidado eminentemente técnico deixa de lado a dimensão ética de responsabilidade, acolhimento e hospitalidade que tem o outro como centro e como soberano. Esta pesquisa é de natureza qualitativa, fundamentada na proposta da desconstrução, em Jacques Derrida. Desconstrução significa decomposição de uma estrutura. Não se refere à destruição, mas a destituição do pensamento dominante, dando espaço à diferença e aos outros elementos componentes dos fenômenos. A desconstrução acontece no texto de forma natural, cabendo ao leitor apenas tensioná-lo a fim de explicitá-la. Uma importante estratégia defendida pela proposta é possibilitar que as margens, os opostos conflitantes no texto, as falhas dos discursos, o dito e o não dito do texto apareça e componha o material de análise. Utilizou-se de entrevistas semiestruturadas e do acompanhamento do cotidiano das equipes para obtenção das informações. As equipes escolhidas para a pesquisa foram: equipe de cuidados paliativos da unidade de oncologia, equipe de cuidados paliativos pediátricos, equipe da unidade de terapia intensiva oncológica e equipe da unidade de terapia intensiva geral; ambas de um hospital público pediátrico referência na cidade de Fortaleza, Ceará. A pesquisa foi aprovada no comitê de ética do hospital referido. De acordo com os resultados encontrados, alguns posicionamentos opostos foram postos em jogo para dialogar. Estes foram: Vivificação da Morte e Mortificação da vida; Vida e morte: uma irmandade possível?; O Instituído e A Invenção; Trabalhar com a morte: O limite entre o bom e o ruim; e A dor e a delícia da vinculação afetiva. De modo geral, a tópica “Vivificação da Morte e Mortificação da vida” refere-se a ações dos profissionais que produziam vida mesmo em situações de terminalidade através da realização dos sonhos dos pacientes, organização de festas de aniversários, respeito pelo desejo dos pacientes de onde e como querem morrer, possibilitar fechamentos e despedidas antes da morte, acompanhar o momento da morte em si, não deixando os pacientes sozinhos e desassistidos, além do foco na qualidade de vida destes e no respeito à autonomia. No entanto, outras ações produziram processos de mortificação da vida, de modo que a vontade do paciente não era respeitada, a equipe imponha decisões de forma arbitrária e não dialogada e, principalmente, era dispendido um cuidado exclusivamente técnico e sem vinculação afetiva, desatento às necessidades do paciente e focando apenas na dimensão biológica do adoecimento, sem percepção para os aspectos psicosocioespirituais dos pacientes – ao contrário do que era feito nas situações de vivificação da morte. Já no elemento “Vida e morte: uma irmandade possível?” os profissionais trouxeram reflexões sobre como o contato com a morte possibilitou repensar e reaver questões acerca da vida, denotando que as duas dimensões não se encontram em oposição, mas em irmandade. O componente “O Instituído e A Invenção” refere-se aos momentos em que, no cotidiano do fazer em saúde, os profissionais tiverem que extrapolar a dimensão do instituído para inventarem novos modos de cuidado. De acordo com os trabalhadores, a instituição não consegue abarcar a multidimensionalidade do processo de morrer e este não pode ser enclausurado em processos puramente institucionais, com o risco de produzir formas de atuação descontextualizadas e despersonalizadas que não tomam o sujeito em sua singularidade. As discussões sobre “Trabalhar com a morte: O limite entre o bom e o ruim” condensam os significados trazidos pelos profissionais acerca do trabalho com pacientes em processo de finitude. Estes trouxeram a grande dificuldade em lidar com o tema, haja vista a produção de sofrimento decorrente da perda dos pacientes, porém, os trabalhadores demarcaram que, apesar de ser um contato ruim, é uma atuação positiva, pois possibilita que os pacientes sejam cuidados até o momento final e que eles morram de uma forma digna e humanizada, gerando sentimentos de gratidão e satisfação nos profissionais. Denotando, com isso, que mesmo com processos de sofrimento pessoais, os profissionais põem o outro em primeiro lugar e transformam a dimensão do sofrimento em possibilidade de cuidado. Ressalta-se que, decorrente disso, os profissionais alertam para a necessidade de ações de cuidado ao cuidador. Por fim, o elemento “A dor e a delícia da vinculação afetiva” reforça que o vínculo formado entre os pacientes e os profissionais produzem sentimentos de afeto, compaixão e fraternidade, mas, quando há o óbito, os trabalhadores sofrem e vivenciam processos de luto decorrentes dessa perda; explicando, de certa forma, alguns modos de atuação distanciados e que não vinculam afetivamente com os pacientes como uma estratégia de proteção contra a dor da perda. Esses elementos discutidos, apontam-nos que os profissionais conseguem cuidar de forma ética quando a dimensão da responsabilidade, acolhimento e hospitalidade são a prioridade nos atendimentos. Acredita-se, deste modo, que a relação com o outro que se dá pela via da vulnerabilidade, exposição, sensibilidade e passividade mostra-nos possibilidades de caminhos no campo do cuidado que permitam ao eu deslocar-se do seu lugar de soberania para dar lugar ao outro. Apontando-nos, portanto, horizontes de atuação que não sejam indiferentes ao sofrimento do outro, que se responsabilizem pelos processos dos sujeitos vulneráveis necessitados de cuidado e tomem providências para não deixar o outro só em seu sofrimento e na sua morte, respondendo à dor do outro: EIS-ME AQUI. Como desdobramento da pesquisa, destarte, almeja-se constituir espaços para pensar a relação entre ética e cuidado e fomentar o desenvolvimento de relações de cuidado pautadas na dimensão ética do fazer em saúde, beneficiando pacientes e profissionais.