234: Como temos pensado a diferença?
Ativador: A definir
Data: 01/06/2018    Local: FCA 01 Sala 01 - Abacaba    Horário: 15:30 - 17:30
ID Título do Trabalho/Autores
4958 Ninguém transiciona sozinho: enredando fios na composição de um cuidado para as famílias de usuários(as) de um serviço de atenção integral transespecífica
Mariana Hasse, Flávia do Bonsucesso Teixeira, Junia Rodrigues Araujo, Danilo Borges Paulino, Gustavo Antonio Raimond, Camila Toffoli Ribeiro, Crsitina dos Santos Crovato, Marco Aurélio Máximo Prado

Ninguém transiciona sozinho: enredando fios na composição de um cuidado para as famílias de usuários(as) de um serviço de atenção integral transespecífica

Autores: Mariana Hasse, Flávia do Bonsucesso Teixeira, Junia Rodrigues Araujo, Danilo Borges Paulino, Gustavo Antonio Raimond, Camila Toffoli Ribeiro, Crsitina dos Santos Crovato, Marco Aurélio Máximo Prado

Introdução e objetivos: O cuidado é um ato, uma atitude relacional que envolve, além de afeto, um compromisso entre sujeitos, uma corresponsabilização. Produzir cuidado pressiona as barreiras das normatizações ao se opor ao descuido, ao descaso, reivindicando a singularidade e convocando à alteridade. Sendo assim, cuidar desafia os limites traçados pelas normas/protocolos e Portarias. Pensando em pessoas travestis e transexuais, pesquisas demonstram que parte significativa dessa população ainda não consegue ser cuidada. A ininteligibilidade das transexualidades e travestilidades nos serviços de saúde ainda é uma barreira marcada por violências como demonstram Daniele Fébole, Murilo Moscheta e Danilo Paulino. A ausência de conhecimento sobre as necessidades em saúde das pessoas travestis e transexuais tem sido preenchida por saberes do senso comum impregnados de valores morais e/ou religiosos que impactam o processo de encontro entre os(as) profissionais e as pessoas cuja identidade ou expressão não correspondam ao gênero atribuído no momento nascimento (e, claro, muitas vezes reiterado durante o pré-natal). Esse estranhamento e/ou recusa tem materializado experiências desagradáveis e muitas vezes violentas nos serviços de saúde, estar atento a esse contexto demanda que a equipe seja cuidadosa na interação. Por isso, um cuidado ampliado, que envolva sentimentos, com um olhar atento e ético, se configura como um desafio para os(as) profissionais quando deve ser ampliado também para as famílias dos(as) usuários(as). A longitudinalidade é um componente importante para a produção de um cuidado integral, pensando não apenas no sentido da continuidade do cuidado que a saúde transespecífica requer, mas sim numa dobra: os diferentes impactos da transição nas famílias e seus efeitos no cuidado do(a) usuário(a). A revisão de literatura realizada por Bárbara Pacheco aponta para uma ausência de pesquisas que coloquem as famílias na cena do cuidado transespecífico. Nos contextos dos serviços de saúde pesquisados, além das pessoas travestis e transexuais permanecerem enredadas entre disputas para fugir do diagnóstico que limita a autonomia e dizer quem são (independente de laudos e pareceres), equipes de trabalhadores(as) e pesquisadores(as) seguem tentando significar esse fazer cotidiano dos serviços que não se preenche nas Portarias e Resoluções. O Centro de Referência em Atenção Integral Transespecífica é o lugar de onde falamos, um serviço que teve início em 2007 vinculado a um Programa de Extensão cujo objetivo era atender travestis, profissionais do sexo, que possuiam pouco ou nenhum acesso aos serviços de saúde do municipio, exceto em situações de urgência/emergência ou em casos de infecção por HIV/aids ou outras ISTs. O delineamento do cuidado e ampliação da equipe foi se tecendo em consonância com a participação/elaboração das questões junto aos gestores e movimentos sociais. Simultaneamente ao processo de elaboração/publicação de Portarias e Políticas apontassem para diretrizes do cuidado a essa parcela da população, nosso serviço caminhava na invenção cotidiana de um cuidado pautado pela integralidade e que tinha como princípio a equidade. Credenciado em dezembro de 2016, o serviço oferece atenção integral à saúde de travestis e transexuais, modalidade ambulatorial e conta com equipe composta por médicos(as) das seguintes especialidades: medicina da família e comunidade, endocrinologia, ginecologia e psiquiatria. Integram a interdisciplinariedade desse fazer  profissionais da  enfermagem, da psicologia, do serviço social, da saúde coletiva e da antropologia. Assim, nosso objetivo é, a partir de relatos de práticas de cuidado realizadas pela equipe do nosso serviço, apresentar/discutir possibilidades e desafios para o cuidado  das famílias dos(as) usuários(as). Desenvolvimento: Em um serviço no qual o diagnóstico não é condição de acesso e as pessoas podem buscar apoio/cuidado em diferentes etapas do processo. O ponto de partida é o respeito à autonomia e ao consentimento dos indivíduos para desenharem junto com a equipe seu projeto terapêutico uma vez que as transexualidades e as travestilidades são lidas sob um leque de possibilidades enunciadas pelos sujeitos e o teste de vida real não é traduzido ou exigido como “a vestimenta, o cabelo e as condutas do gênero desejado”. Ou seja, a despatologização das identidades trans é o norte da oferta de cuidado, sendo inegociável. Essa posição desloca o cuidado para questões amplas sobre essa temática e traduz outros desafios na composição de um cuidado emancipatório. Para essa discussão, temos como referência a perspectiva de que ao transicionar, as pessoas carregam, abandonam ou são abandonadas por outras pessoas que até então compunham suas redes de relações, nos interessa problematizar aqui os processos de negociação acionados particularmente com as famílias dos(as) usuários(as) e suas interações com nossas ações de cuidado: Como se apresentam as possibilidades de cuidado para os usuários e suas famílias para essa equipe? Como a equipe colabora para construir e resignificar com as famílias um outro lugar possível de legitimidade e afeto para essa pessoa que “chegou de repente”? Como possibilitar espaços para produção de sentidos sobre o luto de um(a) filho(a) desejado(a) e até mesmo materializado por anos? Como dizer de um luto de “um(a) falecido(a)” na ausência da morte e, concomitantemente comemorar uma nova vida sem a preparação do nascimento? Como colaborar para que a transição não reafirme distâncias e produza isolamentos? Como romper com a lógica naturalizada do esgarçamento dos vínculos familiares? Aqui pensamos também na necessidade de reposicionar o próprio conceito de família e alargá-lo no sentido de que todas as configurações de apoio e amizade possam ser (re)consideradas no exercício do cuidado. Trazer as famílias dos(as) usuários(as), as diferentes possibilidades de conjugalidades que não se restringem, nem se fazem representar nas ferramentas clássicas utilizadas na Estratégia da Saúde da Família, tais como genograma e ecomapa também é expandir a possibilidade dessa parcela da população se (re)apresentar. Abrir frestas de reconhecimento nos serviços de saúde é colaborar para a construção de um léxico de cuidado que considera a diferença como potência de vida. Também importa pensar como esses(as) usuários(as) tecem o parentesco, realinhando vínculos de afinidade e consanguinidade. Importa pensar como a equipe apresenta e sustenta com eles(as) seus projetos de novas famílias, uma vez que o planejamento familiar como estratégia da política pública parece inacessível para os(as) integrantes dessa parcela da população.  ,  Considerações finais: Nossa experiência tem mostrado que, quando a labuta da sexta-feira termina - entre gente cuidada, textos, protocolos atualizados, prontuários preenchidos, sorrisos e abraços, depois de apagar as luzes do serviço e nos despedimos do segurança - o que sustenta nosso querer-estar-lá são relatos de usuários(as), como o que foi divulgado no facebook após o atendimento da equipe a seu pai: “quero agradecer a todos/as que chegaram recentemente e mudaram minha história: o dia que meu pai me reconheceu com filho”.

1845 O ESTADO DA ARTE DA EFETIVIDADE DAS AÇÕES DA EQUIPE DE ENFERMAGEM NA IMPLEMENTAÇÃO DA POLÍTICA DE LÉSBICAS, GAYS, BISSEXUAIS, TRAVESTIS E TRANSEXUAIS
Iel Marciano de Moraes Filho, Mirlene dos Santos Querino, Sabrina dos Santos Almeida, Sara Carolina da Silva Oliveira, Rodrigo Marques da Silva, Osmar Pereira dos Santos, Ricardo Cezar Ramalho, Keila Cristina Félis

O ESTADO DA ARTE DA EFETIVIDADE DAS AÇÕES DA EQUIPE DE ENFERMAGEM NA IMPLEMENTAÇÃO DA POLÍTICA DE LÉSBICAS, GAYS, BISSEXUAIS, TRAVESTIS E TRANSEXUAIS

Autores: Iel Marciano de Moraes Filho, Mirlene dos Santos Querino, Sabrina dos Santos Almeida, Sara Carolina da Silva Oliveira, Rodrigo Marques da Silva, Osmar Pereira dos Santos, Ricardo Cezar Ramalho, Keila Cristina Félis

Apresentação: O início da história do então chamado Movimento LGBT, foi em Nova Iorque, em 1969, foi o cenário da primeira revolta dessa classe por conta da forma como eram tratados pelas autoridades. Enquanto os movimentos políticos desejavam lutar contra a visão criminosa ou pecaminosa da homossexualidade, espalharam pelo mundo o início das Paradas do Orgulho Gay. No Brasil, a luta por direitos humanos entre os sexos diversos começou a partir de reuniões em espaços sociais, como bares e clubes nos anos 1970, em plena ditadura. Eram nesses espaços que publicações homossexuais circulavam, servindo de referências numa fase inicial da organização. Os conceitos para cada grupo que compõe este público são: Lésbica são mulheres que têm desejos e/ou práticas sexuais e relacionamentos exclusivamente com outras mulheres; Gay são homens que se identificam como homens e se relacionam sexual e afetivamente com outros homens (homossexuais);Bissexual é o termo utilizado para designar mulheres bissexuais e homens bissexuais; Mulheres bissexuais são aquelas que se identificam como mulheres e podem se relacionar sexual e afetivamente tanto com outras mulheres, quanto com homens. E homens bissexuais são aqueles que se identificam como homens e podem se relacionar sexual e afetivamente tanto com outros homens, quanto com mulheres; travesti não possui identidade sexual feminina, apesar poder desempenhar o papel sexual feminino. A travesti se sente satisfeita com seu órgão genital e não deseja muda-lo .Transexual possui identidade sexual feminina ou masculina e identidade de gênero oposta; assim na maioria das vezes, exprimirem o desejo de realizar cirurgia de resignação sexual para habituar à sua imagem, mas não necessariamente sentem atração pelo sexo oposto Assim, a forma mais comum de representação da transexualidade é a do “corpo errado” (“um homem vivendo equivocadamente num corpo feminino”, “uma mulher vivendo equivocadamente num corpo masculino”). Neste sentido, as modificações corporais tendem a operar para que a necessária harmonia entre gênero e corpo seja (re)estabelecida; Assexualidade é a falta de interesse pela prática sexual com parceiro/a. A pessoa assexual não sente atração sexual por ninguém, nem por homens, nem por mulheres, mas podem sentir atração amorosa. Esta atração amorosa pode ser pelo outro sexo, pelo mesmo sexo, por qualquer dos sexos ou independente de sexo ou gênero. Objetivos: Avaliar as ações da equipe de enfermagem na implementação da Política Nacional de Saúde Integral de LGBT. Método: Trata-se de uma revisão da literatura científica realizada em abril de 2017 na Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), os Periódicos Capes e o Google Acadêmico por meio dos descritores: enfermagem, homossexualidade, política nacional de saúde integral de LGBT e Implementação de Plano de Saúde. Resultados: Após a otimização dos dados encontrados na amostra final composta de 14 estudos os mesmos foram alocados em três categorias:1 - Histórico da Política de Saúde LGBT: A Política Nacional de Saúde Integral LGBT, e representada e abrangi as três esferas de governo da sociedade civil organizada na promoção, atenção e no cuidado em saúde, priorizando a redução das dissemelhanças por orientação sexual e identidade de gênero, assim como o combate à hostilidade nas instituições e serviços do Sistema Único de Saúde (SUS). É constituída por um conjunto de princípios éticos, políticos e organizativos expressos em uma marca que reconhece os efeitos desumanos dos processos de hostilidade e de exclusão sobre a saúde; 2-  Compreender a assistência de enfermagem perante a política voltadas ao LGBT: A pouca abordagem ou a não abordagem em educação sexual no método de formação do enfermeiro é confirmada pela inaptidão dos enfermeiros em relação a essa temática, salientando a necessidade desses sujeitos adquirirem fundamento suficiente acerca do processo de sexualidade, nas diferentes fases do ciclo da vida. Assim, ficou visível a necessidade de renovar o conhecimento dos profissionais de saúde em relação à população LGBT e pensando nisso, o Ministério da Saúde, UNA-SUS tem ofertado o curso Política Nacional de Saúde Integral LGBT com o intuito de contribuir com a atuação dos profissionais de saúde, para que realizem suas ações de cuidado, promoção e prevenção da população LGBT com qualidade, de forma ponderada, garantindo à população LGBT, acesso à saúde integral. O Ministério da Saúde tem tentado amplificar as intervenções de saúde voltadas para população LGBT em todos os níveis, até mesmo, na Atenção Básica, lançou em 2014 uma campanha focada na população LGBT, em parceria com as Secretarias de Direitos Humanos (SDH) e de Políticas para as Mulheres (SPM) da Presidência da República, e, conta com cartazes e materiais explicativos que visam à sensibilização sobre a saúde dos cidadãos LGBT; 3-Verificar a efetividade do trabalho da enfermagem para o público alvo: A prestação de serviço da enfermagem na  área pública  em relação ao LGBT está decadente, despreparada e disfuncional, principalmente quando se trata de homossexual masculinos o atendimento é feito com falta de preparo, sem orientações específicas e falta de funcionários capacitados para acolhimento e recepção nos serviços de atendimento à população LGBT. Há uma limitação muito grande na realização de programas e políticas LGBT; não há precisão de programas orçamentarias na realização de ações ao LGBT e também não há precisão de incentivo para execução dos planos e ações na Política Nacional de Saúde Integral LGBT. Outro fator limitante se constitui na grade curricular dos cursos de graduação em enfermagem que não comtempla disciplinas voltadas a aceitação e aos métodos de tratamento específicos ao público LGBT, bem como às doenças relacionadas aos mesmos. Assim, quando se deparam com o grupo LGBT há dificuldade em prestar assistência a essa clientela. Os enfermeiros atuam na profilaxia da pré-exposição ao HIV (PREP) que se constitui em um programa de prevenção que envolve a utilização de um medicamento antirretroviral (ARV), por pessoas que não estão infectadas com HIV, para reduzir os riscos de contagio através de relações sexuais. E na promoção da saúde do público LGBT através de orientações a saúde sexual, e fatores biopsicossociais. Conclusão: Cabe aos cursos de enfermagem remodelarem as suas grades curriculares oportunizando aos alunos capacitação para atuarem em diferentes públicos proporcionando a todos um atendimento de enfermagem holístico, efetivo, eficiente colocando o usuário como protagonista de seu atendimento independente de suas escolhas sexuais e de gênero. O estudo oportuniza aos profissionais de enfermagem e a sociedade a clarificação da falta de preparo dos mesmos para prestarem atendimento ao LGBT, o atendimento do enfermeiro deverá ser pautado em uma visão pratica, teoria para poder desenvolver o acompanhamento de qualidade ao grupo. Assim teremos profissionais capacitados para exercer a função, mais para isso precisaremos que os cursos de enfermagem proporcionem praticas empíricas vivenciadas em campos de estágios ou de programa de residências para os enfermeiros em formação e para os profissionais já atuantes a implementação de um plano assistencial de educação continuada não só para enfermeiros, mas para toda classe multiprofissional para realizar um protocolo de desempenho no atendimento humanizado e livre de preconceitos ao público LGBT.

2369 JOVENS HOMENS QUE FAZEM SEXO COM HOMENS: A ATUALIDADE DA EPIDEMIA DE HIV/AIDS NO BRASIL
Diego da Silva Medeiros, Malena Gadelha Cavalcante, João Bosco Feitosa dos Santos, Paulo César de Almeida

JOVENS HOMENS QUE FAZEM SEXO COM HOMENS: A ATUALIDADE DA EPIDEMIA DE HIV/AIDS NO BRASIL

Autores: Diego da Silva Medeiros, Malena Gadelha Cavalcante, João Bosco Feitosa dos Santos, Paulo César de Almeida

Apresentação: A quarta década da epidemia de aids traz alguns desafios para as análises sociológicas e de Saúde Coletiva. A tecnologia no campo da aids teve avanços significativos, no diagnóstico e no tratamento medicamentoso fomentando grande vivacidade à discussão no campo e esperança às pessoas que vivem com HIV/aids (PVHA). No entanto, este agravo, ainda hoje, é profundamente marcado pelo estigma, preconceito e discriminação que tornam complexo o enfrentamento da epidemia, requerendo um olhar ampliado. No Brasil, segundo Boletim Epidemiológico de 2017, estudos preliminares apontam que os homens que fazem sexo com homens (HSH) possuem uma taxa de prevalência de 19,8% e os jovens HSH de 18 a 24 anos de 9,4%, em contrapartida, a população geral de homens possui 0,7% e de homens jovens de 17 a 21 anos de 0,1%. Entre os homens jovens da faixa etária de 15 a 24 anos, as taxas de detecção apresentam aumento significativo. Entre os homens, nos últimos dez anos, destaca-se o aumento das infecções entre jovens de 15 a 24 anos, sendo que de 2006 para 2015 a taxa entre aqueles com 15 a 19 anos mais que triplicou (de 2,4 para 6,9 casos/100 mil hab.) e, entre os de 20 a 24, dobrou (de 15,9 para 33,1 casos/100 mil hab.). Os dados oficiais apontam para o incremento da infecção de HIV/aids entre os jovens de 15 a 24 anos, superior, inclusive, as outras faixas etárias. Este recorte etário se enquadra no segmento de adolescentes e jovens da Organização das Nações Unidas (ONU) para fins estatísticos e políticos. Este cenário se constitui diante de uma onda conservadora que toma força no Brasil. A investida de segmentos biomédicos capitaneados pelo slogan “testar e tratar” torna-se hegemônico na resposta brasileira à epidemia. A disseminação de técnicas de diagnóstico como testes rápidos (TR), profilaxia pré-exposição (Prep), tratamento como prevenção (Tasp) e combinação de medicamentos em um único comprimido são ilustrativos deste cenário. O objetivo desta pesquisa é a compreensão do porquê a epidemia de HIV/aids tem recrudescido entre jovens HSH entre 15 e 24 anos. Desenvolvimento do trabalho: Trata-se de um estudo bibliográfico, cuja trajetória metodológica percorrida apoiou-se na leitura exploratória e seletiva do material de pesquisa, bem como em sua revisão integrativa-narrativa. O levantamento dos artigos foi realizado em junho de 2017, através dos descritores “aids” e “hsh”. Utilizou-se como base de dados o Portal Periódicos Capes e a busca foi definida para artigos completos em português, produzidos nos últimos cinco anos. Foram excluídos os trabalhos repetidos, os editoriais e os que estavam fora da temporalidade. Os artigos enquadrados nos referidos critérios foram considerados potencialmente relevantes. Após o levantamento bibliográfico, realizou-se a leitura exploratória do material encontrado, objetivando obter um panorama brasileiro sobre o tema. Resultados: A política pública que se dedica à prática de prevenção, promoção e tratamento às populações de HSH por vezes se insere em amarras de prescrições de cuidado que buscam regular o corpo, bem como suas práticas sexuais. A vida das pessoas, no entanto, não se processa por protocolos. A complexidade de uma vida e a multiplicidade de interações que ela suscita nas redes sociais das populações mais vulneráveis requer ferramentas mais autônomas para serem utilizadas pelos profissionais de saúde; o cuidado protocolar ainda tem a hegemonia nos atendimentos desde a testagem/diagnóstico até o tratamento nos serviços especializados em HIV/aids. As políticas públicas precisam incidir nas dimensões individual, social e programática, as quais estão profundamente interligadas quando tratamos da temática do HIV/aids. A epidemia tem avançado sobre os jovens homens, mais precisamente, os HSH. Na seara individual há um baixo autocuidado por parte destes jovens, os insumos de prevenção, todavia, devem estar disponíveis sem barreiras de acesso. As escolas ainda apresentam dificuldades em tratar da temática da sexualidade e das IST e o acesso aos serviços de saúde apresenta-se precário em virtude de fatores sociais como os modelos de masculinidade e juventude que exaltam a potência e negam a “fraqueza”. O discurso que justifica o avanço da epidemia de aids entre os adolescentes e jovens somente com o argumento que os mesmos não dispõem de informações sobre prevenção ou uso correto do preservativo não atende à complexidade do fenômeno. A persistência de preconceitos e discriminações associada ao discurso hegemônico da heteronormatividade pode contribuir para a ausência de cuidado adequado aos jovens homossexuais nos serviços de saúde. Os adolescentes e jovens HSH associam alguns sentidos quando se reportam às IST e aids: a sensação que o uso do preservativo pode diminuir a sensibilidade e consequentemente o prazer; a parada para colocar o preservativo dificulta a ereção e é preciso dar mostras de potência sexual; os homens seriam mais descontrolados sexualmente, precisam ser viris; as primeiras relações sexuais são mais propícias a não utilização pela postura submissa, o medo de perder o parceiro e o momento de prazer; os conhecidos e parceiros fixos são mais confiáveis, a confiança dispensa o uso do preservativo e pode ser uma “prova de amor”; as redes sociais virtuais e sites de relacionamentos proporcionam facilidades de encontros sexuais para sexo sem compromisso e geralmente sem preservativo. O acesso aos serviços de saúde destes adolescentes e jovens HSH é atravessado por uma série de elementos que facilitam ou obstruem o cuidado formal nos serviços de saúde, tais como: o medo de contrair aids conduz os adolescentes e jovens HSH para realizar os testes diagnósticos após as relações sexuais sem preservativo; a questão do sigilo sobre a sexualidade, medo de sofrer discriminação por ser homossexual; preconceito por parte dos profissionais quanto a prática do sexo anal; alguns profissionais de saúde atendem os homossexuais reproduzindo a lógica heteronormativa; adolescentes e jovens declaram que para ser bem atendidos precisam esconder a homossexualidade; para o padrão hegemônico heterossexual a revelação de uma identidade gay pode causar constrangimento. Em artigo recentemente publicado, os resultados apontaram que as principais fontes de suporte para as pessoas vivendo com HIV/aids foram familiares e amigos que não residem com a pessoa; o medo do estigma e preconceito esconde a condição sorológica; o suporte do profissional de saúde interfere na adesão ao tratamento; rede social de apoio permite a redução de estigma e discriminação decorrente da doença; o suporte melhora o autocuidado, a qualidade de vida e afastam sentimentos de incapacidade. Considerações Finais: A contemporaneidade da epidemia de aids no Brasil aponta para o recrudescimento das infecções pelo HIV entre homens, jovens e HSH. A política prescritiva que objetiva homogeneizar as práticas de saúde e regular corpos e subjetividades não potencializa o cuidado. No entanto, a produção de cuidado singular, sempre inventada no encontro e em relação pode ser uma ferramenta alvissareira na resposta à epidemia de HIV/aids. A ofensiva conservadora capitaneada por lideranças políticas no parlamento brasileiro e ecoada entre a sociedade civil também é um obstáculo para os direitos humanos. A prática heteronormativa das instituições estatais precarizam o acesso da população LGBT, mais precisamente de HSH, aos serviços de saúde e educação. A aids ainda é uma síndrome estigmatizada e mesmo o conhecimento teórico sobre as formas de infecção e do tratamento constatado pela pesquisa não impede a discriminação e preconceito sistemático sobre as PVHA, por isso, a dificuldade de expor sua condição sorológica.