263: Escuta às diversidades e afirmação de direitos: a produção de visibilidade como ato político
Ativador: A definir
Data: 01/06/2018    Local: FCA 02 Sala 06 - Jaraqui    Horário: 15:30 - 17:30
ID Título do Trabalho/Autores
1013 RELAÇÕES DE GÊNERO NA ADOLESCÊNCIA: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA COM ADOLESCENTES DE UMA ESCOLA MUNICIPAL NA ZONA RURAL DO INTERIOR DA BAHIA
Etna Kaliane Pereira da Silva, Matheus Ferreira, Flávia Rosário, Adriane Teixeira, Everton Sousa, Danielle Medeiros

RELAÇÕES DE GÊNERO NA ADOLESCÊNCIA: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA COM ADOLESCENTES DE UMA ESCOLA MUNICIPAL NA ZONA RURAL DO INTERIOR DA BAHIA

Autores: Etna Kaliane Pereira da Silva, Matheus Ferreira, Flávia Rosário, Adriane Teixeira, Everton Sousa, Danielle Medeiros

Apresentação: As relações de gênero são construções sociais que estruturam formas de pensar e de agir no mundo, muitas vezes fortalecendo as desigualdades existentes, reforçando papéis nos quais as mulheres geralmente possuem menos direitos que o gênero oposto. Enquanto marcadores da diferença, isso é ainda mais evidente em determinados contextos quando se observa de que modo a cultura influencia nesta dinâmica: nos contextos rurais essas desigualdades de gênero mostram-se ainda mais presentes. Entendendo a importância do período da adolescência no processo de formação do indivíduo, o projeto de extensão buscou discutir, através da educação popular, discriminação e preconceito de gênero no cotidiano dos adolescentes. Desse modo, o presente resumo trata-se da experiência vivenciada por bolsistas do projeto durante as atividades realizadas. Desenvolvimento do trabalho: Foram realizados ao todo 13 grupos com adolescentes rurais quilombolas e não quilombolas da Escola Municipal José Rodrigues do Prado. Os grupos foram separados por turmas, nas quais foram realizados 4 encontros. Os temas trabalhados partiam de questões elencadas pelos próprios adolescentes através de uma caixa de sugestões. O tema gênero foi discutido em 12 turmas do sexto ao oitavo ano. As atividades visavam fazer que os adolescentes pensassem através da perspectiva do outro e, assim, discutissem as vantagens e desvantagens de estarem naquele papel. Com o sexto e sétimo ano, as turmas foram divididas em grupos de meninas e meninos, no qual cada grupo deveria discutir e escrever em uma cartolina as vantagens e desvantagens de serem do gênero oposto, em seguida os grupos apresentavam o que foi discutido, provocando o debate. Em todas as turmas, os meninos encontraram dificuldades em descrever as vantagens de serem meninas e, quando descreviam, era “se vestir bem” ou “ter confiança dos pais”. Já o grupo das meninas descrevia mais comumente como vantagens em ser menino “poder sair sozinho” e “não realizar afazeres domésticos”. Com a turma do oitavo ano, os grupos deveriam escrever o porquê de estarem satisfeitos em pertencer ao seu gênero e, em seguida, completar a frase “se eu fosse do gênero oposto, eu...”. Nessa dinâmica, as meninas tiveram mais dificuldades em descrever porque estavam satisfeitas com seu gênero. Além disso, outras atividades foram realizadas acerca de temas como adolescência e namoro, buscando sempre trabalhar as relações de gênero durante as discussões. Impacto das experiências: Os encontros possibilitaram o reconhecimento das desigualdades de gênero presente nas relações dos adolescentes, possibilitando, principalmente às meninas, questionarem e expressarem seus incômodos. Considerações finais: Foi possível observar o quanto os comportamentos machistas são naturalizados entre os adolescentes, sendo os encontros importantes para a desconstrução de alguns comportamentos e pensamentos sexistas. Além disso, é importante ressaltar o reconhecimento da própria escola da necessidade de ações voltadas para essa temática e para públicos específicos, culminando em atividades extracurriculares direcionadas para as meninas e para os meninos, em dias distintos. 

1897 As redes vivas no trabalho dos catadores e catadoras de resíduos sólidos no município de Manaus/AM.
Denise Rodrigues Amorim de Araújo, Julio Cesar Schweickardt

As redes vivas no trabalho dos catadores e catadoras de resíduos sólidos no município de Manaus/AM.

Autores: Denise Rodrigues Amorim de Araújo, Julio Cesar Schweickardt

Quem são estes que perambulam nas ruas - faça chuva, faça sol - catando latas, papelão, embalagens plásticas e quaisquer outros objetos que carreguem algum valor, os restos desprezados por um exército sem número de consumidores ávidos pelo novo, pelo estético, pelo moderno e descartável? Que redes vivas estes sujeitos acessam na luta pela sobrevivência e reconhecimento social? Que singularidades os catadores e catadoras de resíduos revelam no seu caminhar diário nas ruas da Zona Leste de Manaus e como a organização política em torno de uma Associação de Catadores (as) pode afetar suas identidades e processos de trabalho? O que esta atividade tem a dizer à saúde coletiva? Estas são algumas questões que nortearam a pesquisa que tem como objeto de investigação as redes vivas no trabalho dos catadores e catadoras de resíduos sólidos ligados a uma Associação de Catadores (as), organizados em torno do Movimento Nacional dos Catadores de Resíduos Sólidos – MNCR. O desenvolvimento deste estudo, a partir do estabelecimento de vínculo com os catadores, permitiu acompanhar o cotidiano de trabalho e de vida, conhecer as motivações e desafios da organização política destes atores, mapear as redes vivas construídas a partir do cotidiano do trabalho, permitindo a análise da rede social de agenciamento e encontros. Caminhar neste território possibilitou discutir a identidade e trabalho na relação com a produção de redes vivas e os aprendizados desta vivência a partir dos olhares da Saúde Coletiva. Trata-se de uma pesquisa social e qualitativa. Para os objetivos iniciais desse estudo precisávamos de uma caixa de ferramentas que nos permitisse abrir diálogo no cotidiano dos sujeitos da pesquisa, permitindo acompanhar o movimento nômade dos catadores e catadoras exigido pelo próprio exercício do trabalho nas ruas e no território. E como acompanhar processos do que é movente pela própria natureza? Que instrumental utilizar para a construção de vínculos, a aproximação ética, parceira e implicada com o coletivo? Que abordagem metodológica possibilitaria a visão do território a partir dos próprios (as) catadores (as) de modo a ampliar a observação das produções de suas redes e conexões, vida e trabalho? Abertos ao encontro e as implicações no movimento, utilizamos a Cartografia. A opção metodológica adotada pressupõe a implicação na realidade dos sujeitos pesquisados e carrega a possibilidade de ampliar as produções de vida porque parte do princípio do território visto pelos sujeitos. Esta pesquisa pretende, desde o seu princípio, contribuir com o fortalecimento da organização dos catadores e catadoras enquanto movimento social e com o protagonismo destes sujeitos por estimular a problematização e a reflexão-crítica destes sujeitos sobre o próprio processo de trabalho a partir de suas realidades. Também busca colaborar com o resgate da cidadania, a inclusão sócio produtiva, o estímulo à participação social, bem como, subsidiar atuais e futuras políticas públicas no campo da Saúde Coletiva.

4148 Inovações nas práticas de participação social: aproximações entre Brasil e Itália
Gabriel Calazans Baptista

Inovações nas práticas de participação social: aproximações entre Brasil e Itália

Autores: Gabriel Calazans Baptista

Gabriel Calazans Baptista Frederico Viana Machado Marina do Amaral Schenkel Cristian Fabiano Guimarães     A participação social é uma diretriz e princípio do Sistema Único de Saúde – SUS, conforme definem a Constituição Federal de 1988 e a Lei 8.142 de 1990.  Percebe-se, porém, que após a institucionalização dos processos de participação nos Conselhos e Conferências de Saúde, tais espaços demonstraram ser insuficientes para fazer frente às necessidades sociossanitárias atuais.  Neste sentido, esta pesquisa buscou compreender o método de planejamento  de políticas públicas e ações no âmbito sociossanitário, denominado Community Lab (CL), desenvolvido pela Agenzia Sociale e Sanitaria Regionale, órgão gestor da saúde na Emilia Romagna, norte da Itália e pela Universidade de Parma, ambos parceiros de pesquisa do Laboratório Ítalo- Brasileiro de Formação, Pesquisa e Práticas em Saúde Coletiva, que conforme aproximações iniciais, indicavam a elaboração de práticas de participação mais sintonizadas com as necessidades em saúde de cada território, e que portanto, poderiam contribuir com o cenário de participação brasileiro. A escolha deste cenário não é aleatória, uma vez que Brasil e Itália possuem  influência histórica e reciproca na estruturação de sistemas de saúde públicos e universais, baseados na expansão da Atenção Primária como estratégia de organização dos sistemas,  pautando-se no princípio da equidade e da participação da comunidade na construção e avaliação das políticas e ações em saúde. Estas características permitem que as experiências de participação em saúde de cada contexto, mesmo não sendo comparáveis, possam ser colocadas em diálogo na tentativa de identificar elementos comuns e boas práticas. Para a realização desta pesquisa, assumimos como método o tipo exploratório, tendo a finalidade de compreender  o método Community Lab.  A primeira parte da pesquisa foi composta por entrevistas iniciais, análise documental e revisão bibliográfica. As entrevistas iniciais foram realizadas entre setembro e dezembro de 2015, com a própria Coordenadora da Área de Inovação Social da Agenzia Sociale e Sanitaria della Regione Emilia Romagna e a pesquisadora e professora da Universidade de Parma, responsáveis pelo desenvolvimento do método CL. Tais momentos tiveram papel fundamental para definir o campo de pesquisa e os materiais que deverim ser analisados posteriormente. Através de legislações e documentos técnicos foi possível compreender o surgimento e estrtura do Servizio Sanitario Nazionale (Serviço Sanitário Nacional). Da mesma forma, as legislações e documentos desenvolvidos pela Agenzia Sociale e Sanitaria Regionale foram importantes para compreender o contexto de desenvolvimento e aplicação do método em questão. A revisão de material científico sobre as estruturas de participação social italianas apontou a existência dos Comitati Consultivi Misti (Comitês Consultivos Mistos) e das Conferenze Del Terzo Settore (Conferências do Terceiro Setor), tendo caráter somente consultivo, apresentando caracteríticas de burocratização e perda de potência das mesmas (SERAPIONI, 2006; MARTINO, 2015), reforçando a percepção das entevistas iniciais. O segundo momento da pesquisa foi de inserção do pesquisador em campo na Itália, através da observação participante (SOUZA et. al., 2007), realização de entrevistas, participação de reuniões e encontros com os facilitadores do método em questão. Ao todo, foram entrevistados 7 dos 35 casos desenvolvidos desde 2011 e totalizando mais de 50 atores, entre gestores, trabalhadores, integrantes de cooperativas e órgãos de representação e controle social, envolvidos nas propostas. Assim, pudemos compreender que o Community Lab, surge como proposta para modificar o processo de planejamento das políticas públicas sociossanitárias. Possui três níveis de atuação, conforme a abrangência e impacto das propostas no processo de planejamento de políticas e ações. O nível Micro trabalha questões de um determinado bairro, serviço, ou situação específica. O nível Meso ocupa-se de alguma política específica em determinado município. O Nível Macro, por sua vez, é reponsável pela mudança de todo o ciclo de planejamento em determinado munícipio ou território. Para a sua execução, possui três distintas fases (Identificação do objeto de trabalho; Elaboração do projeto; Realização das atividades), que se alternam durante a realização das propostas e tem como base conceitual o Experimentalismo (SABEL,2012), Democracia Deliberativa (BOBBIO,2007) e a ideia da aprendizagem como força de mobilização e mudança do processo de trabalho. Apresenta-se como ferramenta potente de mobilização social, articulação de redes e políticas, ampliação do número de atores envolvidos nas propostas, colocando a população e a comunidade (e suas características) como o centro do processo no qual são desenvolvidos ações e políticas menos setoriais e pautadas pela integralidade. Os casos estudados demonstram as possibilidades e limites da metodologia do Community Lab. Percebe-se de forma positiva que o objeto de trabalho inicialmente proposto em caso sofre mudanças significativas ao longo do processo, conforme novos ateores passam a ser envolvidos na discussão. Os casos meso e macro que incidem diretamente no processo de planejamento, parecem ter maior ou menor êxito nesta tarefa à medida que figuras políticas e cargos altos de gestão compõem os grupos condutores das propostas. Os casos de atuação micro, por sua vez, são aqueles onde o método consegue se aproximar de forma mais natural e contínua dos territórios e população em geral. Percebemos que o Community Lab aproxima-se muito enquanto método, da proposta de educação permanente desenvolvida no Brasil. Mesmo assim, indica a necessidade de utilizar outros espaços que não somente os institucionalizados como no caso dos conselhos locais e conselho municipal. Indica também que é possível utilizar outras metodologias menos formais (como festas, teatro ou caminhadas de bairro) para promover diálogo com a população. Indica também que talvez dessa forma seja possível ampliar a discussão extremamente setorizada feita nos espaços de controle social, sobretudo nos conselhos locais, tornando-as mais focadas nos sujeitos, e na característica de cada espaço e pautadas pela integralidade do cuidado. Nesse sentido, indicamos que as experiências de abrangência micro são aquelas que nos parecem mais próximas da realidade dos serviços de saúde estudados no Brasil. Destacamos esses casos neste nível de atuação pois mesmo sem contarem com o apoio político ou dos altos cargos de gestão, foram capazes de articular e provocar mudanças significativas no processo de cuidado produzido nos serviços, além de articularem a rede de serviços, linhas de cuidado e demonstrarem a necessidade de diálogo entre as políticas de saúde e assistência. Portanto, entendemos que um posterior estudo poderia ser realizado com foco específico nos casos de abrangência micro que estão desenvolvidos nas casa da saúde da Emilia Romagna com o método Community Lab, desde o ano de 2016.