272: Através da outra pessoa, o indivíduo pode perceber o seu próprio sentido, conhecer-se a si mesmo. Lygia Clark
Debatedor: A definir
Data: 02/06/2018    Local: Tenda Saúde Fazendo Arte    Horário: 08:30 - 10:30
ID Título do Trabalho/Autores
3488 PRÁTICAS EDUCATIVAS DE PROMOÇÃO E PREVENÇÃO EM SAÚDE ENTRE MORADORES EM SITUAÇÃO DE RUA DA CIDADE DE MANAUS, VOLTADOS AO AUTOCUIDADO E PRÁTICAS DE PRIMEIROS SOCORROS.
Regina Sousa, Heloisa Jessica Sousa, Sidicleia Souza

PRÁTICAS EDUCATIVAS DE PROMOÇÃO E PREVENÇÃO EM SAÚDE ENTRE MORADORES EM SITUAÇÃO DE RUA DA CIDADE DE MANAUS, VOLTADOS AO AUTOCUIDADO E PRÁTICAS DE PRIMEIROS SOCORROS.

Autores: Regina Sousa, Heloisa Jessica Sousa, Sidicleia Souza

A população em situação de rua sofre uma enorme exclusão social, atrelado a este fator, acabam desassistidos por órgãos públicos, principalmente no que diz respeito à saúde e educação. Faz-se necessário uma maior assistência voltada à moradores em situação de rua. Porém, não uma assistência em que os mesmos sintam-se acomodados e não busquem melhorias, mas onde possam desfrutar de uma melhor qualidade de vida e oportunidades, além de benefício próprio. Sendo assim, com o passar das gerações, haveria a diminuição dessa população, bem como, uma visão melhorada frente à sociedade, ocasionando até mesmo uma proximidade e uma melhor convivência. Pode-se então avaliar a necessidade da prática de ações educativas em saúde à estes indivíduos, a fim de libertá-los e deste modo proporcionar autonomia e qualidade de vida, e tal processo só pode ser desenvolvido através da educação em saúde, que como define o Ministério da Saúde é um processo educativo com o objetivo de construir conhecimentos em saúde visando a apropriação temática pelos indivíduos, contribuindo para aumentar a autonomia das pessoas no seu cuidado no intuito de alcançar uma atenção de saúde de acordo com suas necessidades. Trata-se de um projeto de intervenção com o objetivo de desenvolver práticas educativas em promoção e prevenção de saúde, aos moradores em situação de rua voltados ao autocuidado e primeiros socorros. Este projeto será desenvolvido na capital do estado do Amazonas, com a população em situação de Rua da Praça do Relógio, centro histórico da cidade de Manaus, escolhidos pelos critérios de acessibilidade e por terem estabelecido moradia na rua, bem como estarem inclusos na faixa etária a partir dos 30 anos. Dentro da proposta sugerida na qual se baseia na realização de atividades em educação em saúde a esses indivíduos, voltadas ao autocuidado e práticas de primeiros socorros, a predisposição do método a ser utilizado é inicialmente estabelecer um diálogo com a população de estudo, inserindo promoção e prevenção no campo das práticas educativas de Enfermagem. Através de inserção, por intermédio do instrumento da observação, ao modo de vida das pessoas, tidas como “moradoras de rua” e, posteriormente, na medida em que este envolvimento e confiança entre ambas as partes for estabelecido, as atividades sobre autocuidado e primeiros socorros terão seu início sendo desenvolvidas e ministradas pelos acadêmicos do 4º/5º período do curso de Enfermagem da Universidade do Estado do Amazonas juntamente com os discentes da Disciplina de Educação em Saúde, além de outros professores convidados. Antes de qualquer atividade, optou-se por ampliar o convívio com os moradores em situação de rua em seus respectivos ambientes de moradia. As práticas educativas só ocorreram depois de certo tempo de incursão ao campo, com a pretensão, exclusiva, de angariar a confiança do indivíduo. Dentre as abordagens planejadas, a priori será realizado um levantamento sobre as necessidades e interesses dos moradores de rua acerca do autocuidado e medidas de primeiros socorros, o mesmo se dará por meio de diálogos individuais, onde a equipe deverá identificar as situações de acidentes mais frequentes e as principais necessidades do público alvo, essa atividade deve ser desenvolvida de modo natural, a fim de ganhar ainda mais a confiança da população, permitindo que se abram e nenhuma informação deixe de ser repassada. Em seguida, todos os dados serão organizados, descritos e posteriormente analisados, visando identificar a carência e os pontos altos a serem priorizados durante as campanhas e debates. Quando se trata do fator saúde-doença percebe-se a frequente exposição aos riscos da população em situação de rua, principalmente devido à situação precária de vida que se encontram. Mediante isso, projeto proporcionará aos alunos de enfermagem a possibilidade de aprender ainda mais, além de pôr em práticas seus conhecimentos já adquiridos, através de práticas educativas em saúde, procurando minimizar a prevalência da doença, considerando a busca de uma melhora na saúde e qualidade de vida destes indivíduos, além da possibilidade de desenvolver empatia, pelas necessidades e circunstancias das quais se encontram o público alvo, qualidade e característica imprescindível para o profissional de saúde em especial o profissional de enfermagem, tendo em vista que o mesmo possui o maior contato com o cliente dentre todas as outras profissões. A criação deste projeto, além de tudo é determinante para a qualidade de ensino e reconhecimento da Universidade, pois através dele, alunos e professores unirão forças, no desenvolvimento destas atividades, levando educação em saúde à comunidade mais desprovida de nossa sociedade, a fim de romper qualquer tipo de tabu, e quebrar as barreiras do preconceito com o morador em situação de rua, incluindo – os na sociedade como indivíduos detentores de diretos principalmente os de educação, saúde e segurança, unindo professores e alunos em um único objetivo, levando o nome da Universidade como responsável pelo desenvolvimento de apoio de tais feitos. Desde os primórdios notava-se uma diferença social relacionada a bens financeiros, ocasionando pessoas com maior e menor poder aquisitivo. Ao longo dos anos, esta diferenciação social cresceu, e continua a aumentar, trazendo à tona uma categoria conhecida por moradores em situação de rua, atendendo também por mendigos. De acordo com estudos de Lima (2014) o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), realizou levantamentos que apontaram o Brasil com cerca de um milhão e oitocentos mil pessoas em situação de rua. Um número um tanto quanto alarmante, porém muitas vezes esquecido. Essa parcela da população passa por dificuldades diárias, trazidas pela própria sociedade em geral. Onde na maioria das vezes, não possuem oportunidades, seja em questões pessoais, profissionais e até na área da saúde. De acordo com o Ministério da Saúde (2012) as condições de vida da população em situação de rua estão diretamente relacionadas com crise civilizacional na qual vivemos, onde os países com baixos índices de desenvolvimento humano geralmente tendem a ser mais desiguais, e as consequências da desigualdade são amplificadas para a população mais pobre e consequentemente, aos moradores em situação de rua, pois se apresentam como grupo de vulnerabilidade, levando o reflexo do baixo desenvolvimento em graus desumanos a essa população. Este projeto visa à necessidade e importância da prática de autocuidado e conhecimento de técnicas de primeiros socorros entre a população em situação de rua, buscando identificar as necessidades de saúde destes indivíduos encontrados em tal situação, o qual parte do princípio de auxiliar os mesmos a evitar e prevenir acidentes e problemas de saúde decorrentes das situações e risco enfrentados em seu cotidiano, assim como possíveis riscos de patologias provenientes. Diante de tais fatores, a realização desta atividade busca a autonomia do indivíduo em situação de rua em sua prática de autocuidado, a mesma se realizará no centro da cidade de Manaus devido à alta prevalência de tais indivíduos pelas ruas deste local, possibilitando maior acesso aos mesmos permitindo melhor desenvolvimento das atividades, a relevância desse projeto e seu impacto na vida pública do alvo são determinantes para a qualidade da saúde do mesmo, proporcionando-os saúde, segurança e bem-estar dentro das limitações que o seu ambiente de habitação lhes proporcionam.  

1119 O Teatro no Oprimido nas pesquisas em Ciências da Saúde no Brasil
Emanuella Cajado Joca, Glaucilândia Perreira Nunes, Maria Rocineide Ferreira da Silva, Katherine Jeronimo Lima, Fátima Café Ribeiro dos Santos

O Teatro no Oprimido nas pesquisas em Ciências da Saúde no Brasil

Autores: Emanuella Cajado Joca, Glaucilândia Perreira Nunes, Maria Rocineide Ferreira da Silva, Katherine Jeronimo Lima, Fátima Café Ribeiro dos Santos

Apresenta-se aqui uma pesquisa bibliográfica realizada em banco de dissertações e teses. O objetivo principal foi identificar quais trabalhos são do campo das ciências da saúde e que envolvem o Teatro do Oprimido. Este se caracteriza como um método artístico-teatral com dimensões sociais, terapêuticas e educativas desenvolvida pelo teatrólogo brasileiro Augusto Boal. Rodrigues (2013) aponta que no Brasil foi na década de 1990 quando ocorreram às primeiras proposições com Teatro do Oprimido no campo das políticas de saúde, nesse momento em contextos hospitalares manicomiais. A inserção do Teatro do Oprimido na saúde está para completar trinta (30) anos. Foi nos anos 2000, com a efetivação da Política Nacional de Saúde Mental brasileira (DEVERA; COSTA-ROSA, 2008) que o Ministério da Saúde apoiou, através da coordenadoria de saúde mental, o Centro de Teatro do Oprimido do Rio de Janeiro (CTO-RJ) a formar trabalhadores da saúde (Atenção primária e Centros de Atenção Psicossocial - CAPS) no uso dessa metodologia, fortalecendo pontos de redes de atenção distintos (BRASIL, 2007, 2011). Metodologicamente a pesquisa bibliográfica foi realizada no Banco de teses e dissertações da CAPES. A partir de uma busca simples para “Teatro do Oprimido”, em Agosto de 2017, foram apresentados cento e três (103) resultados. Os estudos encontrados contam com sessenta e sete (67) dissertações e vinte e duas (22) teses. Quando analisamos as grandes áreas de conhecimento estão em dez (10), uma das quais é a Ciências da Saúde. Nesta foram encontrados três pesquisas: uma de curso profissionalizante em saúde da família de 2008; outro também de 2008, sendo um doutorado no campo da saúde mental; e por fim uma dissertação de 2005. Todas utilizam o Teatro do Oprimido como estratégica ou ferramenta de pesquisa-intervenção no campo da saúde. Esse estudo revelou o quanto é escasso no Brasil o estudo acerca do Teatro do Oprimido e do pensamento de Boal nas ciências da saúde. O que sugere a necessidade de ampliação de estudos que fundamentem a teoria e a prática com Teatro do Oprimido em intersecção com as práticas de saúde, já que o próprio Boal (2002) coloca que cada território tem suas especificidades. Nesse sentido, consolidando arcabouços teórico e práticos ao uso do Teatro do Oprimido por trabalhadores da saúde.

1628 Coletivo ceno.poético Vento dos Avoados: teatro documentário e performance na atenção psicossocial
Geórgia Sibele Nogueira da Silva, Ana Karenina de Melo Arraes Amorim, Breno Lincoln Diniz

Coletivo ceno.poético Vento dos Avoados: teatro documentário e performance na atenção psicossocial

Autores: Geórgia Sibele Nogueira da Silva, Ana Karenina de Melo Arraes Amorim, Breno Lincoln Diniz

A experiência relatada aqui trata do desenvolvimento de estratégias de aproximação e promoção das expressões culturais que integram a diversidade cultural e que visam promover a reinserção social e cultural de pessoas em sofrimento psíquico fruto de vulnerabilidades, tais como transtornos mentais e ou da situação de rua. Contribuindo com a Reforma Psiquiátrica,  por meio da criação de novas formas de comunicação, expressão e participação social, compreendemos a arte enquanto importante intercessora na produção de saúde e vida desses sujeitos em vulnerabilidade. Nesse sentido, propusemos uma ação de extensão intitulada “Invisíveis e Loucos pela cidade” que, no ano de 2016 realizou oficinas de comunicação e teatro documentário junto a esse público. Na perspectiva de uma pesquisa intervenção foram realizadas oficinas de teatro documentário e criado o Coletivo “Vento dos Avoados” que teve como principal objetivo promover a inserção sociocultural dos integrantes e desenvolver novas tecnologias de cuidado no âmbito psicossocial da população atendida. As oficinas aconteceram em uma Casa de Cultura no centro da cidade de Natal, local que fomentava  a participação social e  incentivava a organização política dessas pessoas no cenário sociopolítico da cidade com vistas a ocupar e produzir novos espaços sociais para a loucura e a diversidade. Como estética artística nos orientamos pelo Teatro Documentário que tem como fundamento trabalhar com fatos reais da vida dos “atores”, usando como pesquisa depoimentos, testemunhos, documentos pessoais, fotos, vídeos, além do outros operadores estéticos para compor a pesquisa e criação das performances cênicas. É uma estética das Artes Cênicas que chegou ao Brasil nos 1960 e, neste período, era permeada de motivações político-sociais configurando-se como um tipo de teatro político que buscava denunciar o cenário sóciopolítico daquela época. No Teatro Documentário, o processo de pesquisa e criação é feito a partir de dados extraídos da realidade, apresentados assumidamente desta maneira. As pesquisas documentais e biográficas proporcionam uma experiência autoral para cada integrante colocando-os na composição dramatúrgica, na perspectiva de criação das próprias perfomances. Geralmente, explora a dimensão confessional via produção de depoimentos em seu processo, visando transformar o espectador em testemunha. Tem o foco político de enunciar e fazer ver as violações de direitos e privações de toda ordem presentes nas vidas das pessoas que participam do projeto, promovendo implicação coletiva em relação as mesmas, tanto nos participantes, quanto nos expectadores. A partir da biografia das pessoas que estão em cena, o performer se torna figura central nos discursos enunciados. A percepção do público que a história dita em cena é real, vivida de fato por aquele que a relata, implica na necessidade de uma presença física e imediata do sujeito dos acontecimentos. Muito diferente de outros tipo de encenação e linguagem artística em que o ator representa algo que fora escrito por outro. É essa presença que possui a propriedade de conferir uma denotação de realidade ao evento teatral, e por meio disso, reivindica que expresse também algo verdadeiro, uma verdade não só interna, mas também objetiva. Assim, procura-se a criação teatral na imanência da vida, naquilo que ela oferece de potência e de captura em relação a realidade social mais ampla vivida por todos e cada um. O Teatro Documentário leva os atores a expor aberta e publicamente, desejos, sonhos, medos e histórias pessoais, constróem, durante o processo, um tipo de “museu” à céu aberto com seus relatos, objetos escolhidos, intrelocutores, textos e mais inúmeros intercessores deste processo de remontagem de si mesmo ao outro. O sutil limite entre arte e vida é desafiado e desconstruído. Nas performances cênicas buscamos não explorar depoimentos que tragam exclusivamente o conteúdo das vivências sobre o sofrimento psíquico, mas sim buscamos incitar memórias que os aproximem do universo cotidiano,  pessoas que se encontram, amam, perdem e sonham. Buscamos conteúdos que os redimensionem em sua própria história – aquela que muitas vezes é esquecida por serem lembrados somente como “loucos”, “usuários de serviços de saúde mental”, “pessoas em situação de rua”, “moradores de rua”, “vagabundos”, “perigosos” e em todas as figuras estigmatizantes que  reduzem as suas histórias a simbolos estigmatizadores. Com a “re.invenção” destes relatos e testemunhos acreditamos na possibilidade de uma aproximação estética e ética da vida, a qual pode acarretar uma outra forma de estar nela. Ao recriar as memórias dentro de uma linguagem cênica perfomática, os integrantes contam com a possibilidade de transformação das mesmas, desenvolvendo uma certa “estética de existência”, no sentido proposto por Foucault (1984) ao trabalho de produção de subjetividades com base nas práticas de “Cuidado de si”. O produto cênico da Coletivo já foi apresentado no II Fórum de Direitos Humanos da Associação Brasileira de Saúde Mental (ABRASME), realizado em João Pessoa em 2015, bem como na UFRN na disciplina Saúde Mental e Reforma Psiquiátrica no semestre de 2015. Foi exibido também no Encontro Regional Nordeste da Rede Unida em 2015 com a Cena intitulada “Dois Homens: o encontro” encenada por um estudante do curso de psicologia e um ator usuário da rede de saúde mental, ambos integrantes do Coletivo. A cena se passa quando esses dois atores/poetas transformam suas biografias numa cena poética: João Maria Ferreira relata sua vida desde a infância sendo negro, pobre, deficiente traçando e compartilhando sua trajetória que desemboca nos manicômios da cidade de Natal. Nessa trajetória biográfica, João Maria se encontra com Breno, um estudante de psicologia vindo do interior do Rio Grande do Norte, uma pessoa desencontrada em Natal, um poeta, cantor e ator que se diz aprisionado numa cidade grande e duvidoso de sua futura profissão como psicólogo. Esses dois homens encontram-se nessa cena transformando e recriando esses relatos sensíveis num momento epifânico. Breno canta a vida de João Maria, o qual fura o labirinto manicomial de sua existência quando relembra de um grande amor ao remontar sua história. Assim, sua existência se enche de outra memória e seu presente se recria. Os relatos que sempre mencionavam as violências das internações psiquiátricas ao longo da vida dão lugar para outras memórias nas narrativas, é possível rememorar um amor, e torna-se possível sonhar com a entrada na Universidade, sua história se torna uma “performance” e pode ser re.sonhada com o público ao ser compartilhada. O passado torna-se experiência compartilhada. Breno se vê como alguém que pode ser poeta e estudande de psicologia e vai compreendendo seu lugar de pertencimento no curso e em sua história na cidade. São narrativas pessoais que se tornam memória coletiva, ou seja, tornam-se cultura. O Teatro Documentário revelou-se como um importante dispositivo na produção de outras formas de Cuidado em saúde, produção de subjetividades, comunicação, epansão da afetividade, autonomia e inserção da cidade. Por meio do compartilhamento comunitário das histórias de vidas e possível ressignificação das mesmas nos exercícios cênicos, percebeu-se melhoras efetivas na capacidade de expressão, aumento do senso de pertecimento aos grupo, inserção em outros territórios da cidade e protagonismo em movimentos sociais pertencentes às lutas por direitos e cidadania das populações atendidas. O presente relato de experiência nos leva à reflexão sobre as possíveis conexões e contribuições do Teatro Documentário para o campo da atenção e reabilitação  psicossocial para pessoas em situações de vulnerabilidades sanitárias e socioafetivas.  

2115 O teatro como forma de promoção à saúde: brincando e aprendendo!
Samira Fernandes Morais dos Santos

O teatro como forma de promoção à saúde: brincando e aprendendo!

Autores: Samira Fernandes Morais dos Santos

A Política Nacional de Atenção Básica (PNAB) é considerada alicerce para o desenvolvimento das ações e serviços de saúde pública no Brasil, operando por meio de princípios e diretrizes que coadunam com o nosso Sistema Único de Saúde (SUS). Assim sendo, a atenção básica consiste em um conjunto amplo de ações que perpassam desde a promoção da saúde à reabilitação dos usuários, abrangendo ações de caráter coletivo e individual, sempre considerando as inserções socioculturais dos usuários da comunidade. Segundo a PNAB, a atenção básica é considerada o principal meio de comunicação com a rede de atenção à saúde, além de porta preferencial de acesso dos usuários ao sistema de saúde pública. Devido a isso, as Unidades Básicas de Saúde da Família (UBSF) devem localizar-se em meio à comunidade, viabilizando o acesso dos usuários a rede e desenvolvendo uma atenção à saúde de qualidade eficaz e resolutiva. Diante do contexto, o programa de Residência Multiprofissional em Saúde Materno-infantil, desenvolvido no Hospital Universitário Ana Bezerra (HUAB), localizado no município de Santa Cruz/RN, proporcionou a uma equipe de residentes de diversas profissões, a possiblidade de atuação no campo supracitado, possibilitando o exercício e vivências para além do âmbito hospitalar. A equipe multiprofissional de residentes foi composta por assistente social, enfermeiro, fisioterapeuta, psicólogo, nutricionista e odontólogo, que em conjunto buscaram atender as requisições da política de atenção básica ao desenvolver um trabalho de forma multiprofissional e interdisciplinar, visando à interação das competências para garantir respostas efetivas às demandas apresentadas. O estágio na atenção básica teve o objetivo de proporcionar aos residentes experiências no desenvolvimento de práticas de educação em saúde no contexto da comunidade em que se insere a UBSF, por meio de atividades desenvolvidas com os usuários e agentes comunitários de saúde. Essas ações tiveram o intuito de proporcionar a população maior acesso as informações acerca dos determinantes sociais, a fim de (re)criar novas práticas cotidianas que oportunizem o empoderamento dos usuários quanto aos cuidados em saúde. O cenário de prática da equipe multiprofissional correspondeu a uma unidade básica de saúde no município supracitado, a qual tem uma população adstrita de, aproximadamente, 3.000 pessoas, distribuídas geograficamente em sete microáreas. Quanto aos recursos humanos, a instituição conta com um médico, uma enfermeira, sete Agentes Comunitários de Saúde (ACS), dois técnicos de enfermagem, um administrador e um Auxiliar de Serviços Gerais (ACG). Na unidade são ofertados os serviços de consulta médica e consulta de enfermagem para os distintos grupos populacionais; vacinação; visita domiciliar;realização de curativos; administração e dispensa de medicamentos; verificação de pressão, realização de hemoglicoteste (HGT); dispensa de medicamento; entre outros. A partir do diálogo estabelecido entre a equipe de residentes e a do referido serviço, foram discutidas as necessidades da população, a fim de identificar as demandas relativas à promoção da saúde, as quais fossem cabíveis de serem contempladas através de atividades educativas. Para tanto, foi considerado o perfil do processo saúde-doença da população. O processo educativo de construção de conhecimentos em saúde visa à apropriação de temáticas pela população, através de um conjunto de práticas que contribuem para aumentar a autonomia das pessoas no seu cuidar. Desse modo, busca-se alcançar uma assistência integral, a qual seja capaz de contemplar as necessidades dos sujeitos. O objetivo deste trabalho é relatar a experiência de uma atividade lúdica, realizada por residentes, durante a sala de espera de consulta de crescimento e desenvolvimento (CeD). Essa ação ocorreu durante o estágio desses profissionais na atenção primária, em junho de 2014. A equipe multiprofissional desenvolveu uma peça teatral com caráter educativo com cerca de 20 usuários, compostos por crianças e seus responsáveis. Para isso, foi planejado e executado um roteiro, o qual abordava o tema “Higienização”. O diálogo entre os personagens teatrais, feito de forma clara, utilizando linguagem simples e divertida, teve o objetivo de despertar no público a conscientização a respeito da importância da higiene corporal e bucal e as possíveis doenças relacionadas à precarização dos cuidados pessoais. Ao longo da atuação, os profissionais encenaram situações comuns do cotidiano nas quais as ações de higiene poderiam ser aplicadas. Além disso, foi demostrado de forma objetiva as formas recomendadas para realização dos cuidados de forma correta, como por exemplo: lavagem das mãos (em situações importantes, tais como os momentos que antecedem uma refeição) e escovação dos dentes (após a ingestão de alimentos). No decorrer da encenação, percebeu-se que a linguagem teatral despertou o interesse das mães e crianças presentes, de modo que estas se mantiveram atentas durante todo o trabalho, sorrindo e interagindo com os profissionais. Ao final da peça, foi iniciado um debate com os participantes e a equipe, em forma de roda de conversa, a respeito do tema apresentado. Nesta ocasião, os usuários puderam expor seus comentários e esclarecer as dúvidas. Durante a discussão, notou-se que a encenação foi proveitosa, uma vez que o público se mostrou participativo e envolvido com o assunto. Dessa forma, pode-se concluir que o objetivo inicial foi alcançado. Uma ação é considerada eficaz na medida em que alcança os resultados esperados. O teatro, como ferramenta para a promoção da saúde, tanto cria percepções como motiva. Isto acontece porque há uma aproximação com a linguagem popular, sendo utilizados termos que corriqueiramente a população faz uso. Além disso, há a caracterização dos personagens que atraem a atenção das pessoas que estão assistindo, havendo assim, uma maior captação da mensagem que se pretende abordar. Sendo assim, as intervenções lúdicas são estratégias que podem ser utilizadas para facilitar a educação em saúde, tornando este momento divertido. O tempo dispendido pelos usuários na sala de espera da consulta de CeD, que poderia ser ocioso, tornou-se produtivo, e o ambiente descontraído. É importante considerar que a relação entre profissionais e a população não deve ser um processo educativo de mão única: profissional que ensina e população que aprende. Por isso, o teatro é uma forma de troca de conhecimentos, e é primordial que essa estratégia seja realizada de maneira descontraída e que promova interação entre os participantes, dessa forma é possível facilitar que o público se mantenha atento e participativo.    

2149 A ARTE COMO ESTRATÉGIA NORTEADORA NA MILITÂNCIA PELO DIREITO À SAÚDE: RELATO DE EXPERIÊNCIA.
Vanessa de Souza Amaral, Deíse Moura de Oliveira, Amanda Morais Polati, Milleny Tosatti Aleixo, Adélia Contiliano Expedito, Pamela Brustolini Oliveira Rena, Nayara Rodrigues Carvalho

A ARTE COMO ESTRATÉGIA NORTEADORA NA MILITÂNCIA PELO DIREITO À SAÚDE: RELATO DE EXPERIÊNCIA.

Autores: Vanessa de Souza Amaral, Deíse Moura de Oliveira, Amanda Morais Polati, Milleny Tosatti Aleixo, Adélia Contiliano Expedito, Pamela Brustolini Oliveira Rena, Nayara Rodrigues Carvalho

Apresentação: A arte permite articular e relacionar as vivências, as crenças, as evoluções e as transformações da sociedade. Compreendida também como uma maneira de fazer o indivíduo e o coletivo se questionarem, repensarem atitudes, comportamentos e tendências. A mobilização social vem construindo história em busca de direitos sociais e na luta pela cidadania. Ocupar diferentes espaços na militância por uma saúde pública de melhor qualidade e ter expressão nesse campo é, portanto, uma necessidade dos profissionais da saúde, sendo a arte uma importante parceira nesse contexto. O profissional da saúde pode ser um mobilizador de grupos sociais na rede onde atua e assumir o papel de um agente de  transformação social . O ano de 2016 foi marcado por uma luta importante no setor saúde, com mobilização de pessoas de diversos segmentos da sociedade contra o Projeto de Ementa Constitucional (PEC) 55, que mesmo naquela época sendo um projeto de lei já revelava-se como uma proposta que acarretaria sérios prejuízos à saúde. Objetivo: relatar uma experiência de mobilização social no Ato em Defesa do Sistema Único de Saúde e contra o Projeto de Ementa Constitucional 55 tendo como deliniador o Teatro do Oprimido. Desenvolvimento do trabalho: a atividade foi construída de forma compartilhada, envolvendo diversas instituições/representações: Universidade, Secretaria Municipal de Saúde, Conselho Municipal de Saúde. Enquanto participação de estudantes destaca-se aqueles vinculados ao PetGraduSUS , o Levante Popular da Juventude,  membros do Grupo de Pesquisa, Práticas e Estudos em Saúde Coletiva (GRUPPESC), de enfermeiros mestrandos e graduandos de enfermagem, os quais se mobilizaram e articularam para a promoção do ato em defesa do SUS e contra a PEC 55. O referido Ato ocorreu em 4 de novembro de 2016, na cidade de Viçosa, Minas Gerais. O local escolhido foi o centro da cidade, em uma praça, onde já se é de costume o fluxo intenso de pessoas, sendo este um aspecto facilitador da atividade, pois aproximou indivíduos de diversas faixas etárias e perfis. O Teatro do Oprimido foi o referencial teórico escolhido, método  esse que reúne exercícios, jogos e técnicas teatrais elaboradas pelo teatrólogo Augusto Boal , o objetivo é transformar a realidade através da dialógica, pois trabalha o sujeito no sentido de capacitá-lo através de suas vivências, além de ser uma ferramenta de trabalho político, social, ético e estético, contribuindo para transformação social. Esse método, através da discussão, problematiza questões do dia-a-dia do sujeito, com o objetivo de fornecer uma maior reflexão, partindo do princípio de que a linguagem teatral é a linguagem humana usada por todas as pessoas no cotidiano. Sendo assim, estabelece a comunicação direta, ativa e propositiva entre espectadores e atores, estimulando a capacidade crítica e propondo alternativas para lidar com questões que permeiam o cotidiano das pessoas. A atividade utilizou o teatro-fórum, que é uma das ramificações do Teatro do Oprimido, técnica onde os atores representam uma cena até apresentar o problema e, em seguida, propõe que os espectadores mostrem, por meios de ações cênicas, soluções. Nesta técnica existe um personagem primordial – o curinga – responsável por narrar, mediar, provocar e envolver o espectador .Foram formuladas três esquetes, para provocar essa discussão. A primeira esquete trabalhou a construção do Sistema Único de Saúde (SUS), ressaltando que essa se deu por meio da participação popular, construída por meio da união de diversos grupos sociais. A segunda esquete discutiu os possíveis impactos da PEC 55 na saúde pública e a necessidade de lutar pelos direitos já conquistados. A terceira provocou uma interação com os espectadores acerca do papel dos profissionais da saúde quanto ao exercício do seu papel político, no sentido de promover ações, sua cidadania e promocar ações  com o intuito de lutar, mobilizar e articular práticas coerentes com os princípios doutrinários e organizativos do SUS. Resultados e discussões: A arte no ato em defesa do SUS e contra a PEC 55 possibilitou um espaço de interação com usuários do Sistema de Saúde, outros militantes e também permitiu reflexões e construções importantes para o processo formativo dos participantes, tanto da graduação quanto da pós-graduação. Muitas pessoas, atraídas pela curiosidade do teatro, pararam e se inseriram nas discussões de uma forma espontânea e participativa. As esquetes, pautadas no Teatro do Oprimido, foram consideradas pelos envolvidos nesta experiência, metodologia capaz de mobilizar os transeuntes e afetá-los, evidenciado pelo aumento do número de pessoas que foram se agregando à medida que as dramatizações iam se descortinando. Participar dessa experiência reveste-se de grande sentido tanto para militar por lutas sociais quanto por ser repensada as metodologias que favorecam a ocupação de espaços no campo político.  A arte é uma dessas metodologias capaz de promover a mobilização de emoções e reflexões das vivências cotidianas dos usuários, profissionais e gestores de saúde possibilitando a capacidade de mobilização e organização, a fim de promover mudanças na sociedade no eixo saúde. Acreditar que essa mudança possa ocorrer passa necessariamente pela politização dos trabalhadores do campo. Antes de sermos profissionais ou futuros profissionais somos cidadãos numa sociedade que também requer atenção e cuidados, em busca de uma saúde mais justa e equânime para todos. Quando a luta é por todos, os benefícios também serão para todos. É neste contexto que a experiência ora relatada se inscreve e reveste de sentido para os atores em formação na saúde e prática social. Considerações finais: A arte é um caminho a seguir que facilita a aproximação dos usúarios e permite o enfrentamento dos inúmeros desafios na saúde de forma reflexiva e envolvente, por meio dela é possivel o despertar para a necessidade de transformar o ambiente social em que se vive. Nessa ótica, ela é um instrumento nos espaços de militância no processo formativo que deve ser motivadores, provocativos e estimuladores, no sentido de impulsionar o exercício de cidadania, de fortalecer diálogos e lutas por direitos sociais. Promover e protagonizar experiências dessa natureza no processo formativo enriquece sobrenamaneira a capacidade de olhar, refletir e agir dos atores, constituindo base fundamental para a formação e atuação política do profissional da saúde, a qual figura ainda como uma grande lacuna a ser preenchida nesse campo profissional.

2182 ENFERMEIRO E A ARTE DE CONSTRUIR FANTOCHES PARA A PROMOÇÃO DA SAÚDE MENTAL
Alecsandra Fernandes da Silva, Priscila Maria Marcheti Fiorin, Daiany Assolini Dallacort, Giovanna Liuti da Silva, Cristiane Pache Amorim, Aline Barbosa de Santana Garcia, Aryel Soares da Silva, Jander Santos Souza

ENFERMEIRO E A ARTE DE CONSTRUIR FANTOCHES PARA A PROMOÇÃO DA SAÚDE MENTAL

Autores: Alecsandra Fernandes da Silva, Priscila Maria Marcheti Fiorin, Daiany Assolini Dallacort, Giovanna Liuti da Silva, Cristiane Pache Amorim, Aline Barbosa de Santana Garcia, Aryel Soares da Silva, Jander Santos Souza

Apresentação:  O Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) é um serviço de saúde aberto e comunitário para o tratamento de pessoas com sofrimento psíquico. São realizadas várias oficinas terapêuticas nos CAPS, que proporcionam um local de construção de atividades manuais e diálogos sobre vários assuntos de saúde. O enfermeiro utiliza este espaço para relacionamento terapêutico e para a promoção da saúde mental. O objetivo do trabalho foi narrar as atividades desenvolvidas na oficina de construção de fantoches para a promoção da saúde mental. Desenvolvimento do trabalho: é um relato de experiência de uma oficina com 10 usuários do CAPSII. A oficina foi realizada em 3 etapas: roda de conversa sobre as atividades realizadas no final de semana, confecção de fantoches com materiais recicláveis e a dramatização com os fantoches.  A avalição foi norteada através da pergunta: “Como foi para você construir o fantoche?” Resultados: Na construção do fantoche, desenvolveram interesse e autonomia em escolher os materiais necessários. Após a construção, os usuários realizaram uma dramatização apresentando seus fantoches. Percebeu-se que foi uma atividade agradável, que fez com que os usuários se identificassem com os fantoches, o que foi comprovado pela fala: Achei divertido, foi realizar algo de nós mesmos (U1), (...) não vou por cabelo porque sou eu (U2). A construção de fantoche trouxe emoção quando uma paciente lembrou da filha: Realizar o trabalho com meias, lembrei de momentos com minha filha (U3). Também foi observado que a atividade foi agradável, remeteu a lembranças de infâncias, trouxe alegria e harmonia para o grupo. Considerações Finais: Conclui-se que a oficina de construção de fantoches, resultou na interação dos usuários, mostrando que através da arte, o profissional enfermeiro promove e intervém na saúde mental das pessoas em sofrimento psíquico.

2947 Promovendo Saúde através do Teatro do Oprimido: experiência com jovens indígenas Amanayé
Álvaro Pinto Palha Júnior, Ana Marceliano, Eluana Carvalho, Isabela Ramos, Camila Rodrigues, Bianca Tsubaki, Marcela Acioli, Maycon Correia Pinto

Promovendo Saúde através do Teatro do Oprimido: experiência com jovens indígenas Amanayé

Autores: Álvaro Pinto Palha Júnior, Ana Marceliano, Eluana Carvalho, Isabela Ramos, Camila Rodrigues, Bianca Tsubaki, Marcela Acioli, Maycon Correia Pinto

O texto é um relato de experiência de uma vivência que consistiu numa oficina de Teatro do Oprimido realizada com jovens indígenas da Etnia Amanayé, aldeia Barreirinha, no município de Paragominas no Pará, no mês de março de 2016. Esta ação é fruto da parceria entre o Distrito Sanitário Especial Indígena Guamá Tocantins da Secretaria Especial de Saúde Indígena do Ministério da Saúde (DSEI/GUATOC/MS) - e oficineiros do Curro Velho, instituição vinculada a Fundação Cultural do Pará, facilitada pela professora de teatro daquela instituição.  O DSEI GUATOC tem dedicado especial atenção à construção de ações que com o objetivo de prevenir agravos e promover saúde entre os povos indígenas no seu território. Diante da crescente ocorrência de violências e uso abusivo de álcool e outras drogas nas aldeias, se fez necessário construir junto a estas comunidades, estratégias de intervenção que reduzam os danos destes agravos contemporâneos de saúde. Neste contexto, o teatro do oprimido de Augusto Boal foi o caminho encontrado enquanto estratégia de mobilização, encontro e diálogo entre os indígenas da etnia Amanayé acerca das problemáticas da aldeia Barreirinha. O Programa Bem Viver, assim nomeado em março de 2015, é responsável pelas demandas de saúde mental dos povos indígenas do DSEI GUATOC, definidas pelo Ministério da Saúde, tendo como proposta ações voltadas prioritariamente à promoção do bem viver indígena, compreendendo saúde de maneira diretamente proporcional aos níveis de autonomia e protagonismo dos sujeitos e comunidades. Desde então as propostas para ações de saúde têm sido construídas junto aos indígenas, nas aldeias e com abertura para propostas que extrapolam as clínicas tradicionais de saúde. Dentro desta perspectiva de cuidado ampliado é que está inserida a experiência de teatro dentro da aldeia Barreirinha. Nesta e em outras aldeias apresentavam-se relatos de uso abusivo de álcool e ocorrência de violências diversas, contexto que pode provocar a fragilização dos sentimentos de pertencimento ao grupo e dos vínculos de solidariedade entre os integrantes da comunidade, diminuindo o poder de resposta dos mesmos a estes novos agravos, gerando a necessidade de construir coletivamente respostas sustentáveis. Em diálogo com a comunidade indígena o DSEI GUATOC identificou a necessidade de ação direcionada aos jovens e então construiu articulação com a Fundação Cultural do Pará para realização de oficina de teatro para este público alvo, na perspectiva do Teatro do Oprimido de Augusto Boal. Proposta que objetivou provocar os diversos projetos de vida e expectativas sociais a tornarem-se ato criativo e projetos comunitários de futuro, promovendo autonomia e protagonismo destes povos para fortalecimento de soluções locais aos entraves sociais cotidianos. A oficina de teatro teve carga horária de 90 horas, destinada aos jovens da etnia Amanayé e ocorreu no período de 14/03/2016 a 31/03/2016 dentro da aldeia Barreirinha. O Teatro do Oprimido de Augusto Boal trabalha as situações de opressão vividas dentro da realidade em que os participantes estão inseridos, para suscitar o empoderamento dos participantes e incentivar o protagonismo até mesmo do público, isto é, para que todos os envolvidos assumam o papel de espectatores (atores-espectadores). Participaram desta turma 39 pessoas, principalmente jovens, havendo ainda a presença de alguns adultos e crianças.. Neste encontro os jovens registraram no quadro suas impressões a cerca da aldeia, da vida dos homens e da vida das mulheres de Barreirinha, movidos pela pergunta geradora: “O que tem e o que não tem?”. Ex.: “O que tem em Barreirinha?”; “O que tem nas mulheres?”; “O que não tem nos homens?”. Assim foi possível iniciar um debate sem focar a princípio no julgamento de valor, no que seria certo ou errado, bom ou ruim, mas sim criar um espaço de escuta e receptividade das falas destes jovens. Nos encontros que se seguiram foram trabalhados principalmente jogos teatrais - Jogos para Atores e Não Atores de Augusto Boal. Na vida cotidiana somos condicionados a viver no mínimo de nossa energia, no mínimo de reflexão, no mínimo de expressão da subjetividade, no mínimo de liberdade, o teatro estimula os participantes à expansão de todos estes fatores, por isso os jogos teatrais são as maiores armas para libertação à partir do teatro, permitem instaurar a atmosfera de liberdade e ludicidade necessárias para auto expressão e desenvolvimento da consciência de si e do outro. Assim foram aplicados principalmente jogos que estimulassem o trabalho em grupo, uma vez que foi preciso criar uma conexão emocional entre os participantes para que pudessem se concentrar nas atividades e zelar futuramente pelo espaço coletivo criado durante as aulas, sentir-se parte de algo coletivo gera união e fortalecimento da comunidade, bem como o sentimento de proteção produzido no exercício em grupo que permite que aos poucos cada participante se sinta à vontade para expressar sua individualidade. Foram trabalhados também jogos teatrais de Viola Spolin, voltados para extroversão, consciência corporal, foco, concentração, projeção de voz, dicção, ritmo, canto, criatividade, fisicalização (mostrar com o corpo suas próprias idéias), controle da respiração e a auto-confiança. Na segunda semana de trabalho foram introduzidas práticas do Teatro Fórum de Augusto Boal como forma de suscitar o aparecimento de problemáticas. Algumas delas já haviam surgido naturalmente em exercícios despretensiosos, isto é, exercícios que não tinham especificamente o objetivo de suscitar essas temáticas (ex.: aquecimento corporal, vocal, jogos de improviso...). Assim, surgiram os temas: - Conflito de Terras; Álcool; Drogas; Violência Contra a Mulher; Preconceito; Violência Sexual contra criança. Cada uma dessas temáticas foi desdobrada em várias cenas improvisadas pelos participantes e cada uma destas cenas foi debatida até decidirmos coletivamente nos concentrar em apenas três cenas a serem apresentadas abertamente para toda a aldeia: 1. Cena de Abuso sexual infantil; 2. Cena onde bêbado agride a esposa e a filha; 3. Cena de overdose de drogas na festa. A oficina promoveu grande encontro na aldeia em sua culminância, em que foram apresentadas as três cenas de problemas cotidianos da comunidade, para então estabelecer diálogo entre todos sobre possíveis soluções para cada caso. Momento potente que mobilizou diversos sujeitos da aldeia e promoveu diálogos singulares sobre acontecimentos invisibilizados pelo cotidiano local. Todos os envolvidos avaliaram a intervenção como exitosa e após um ano e meio o grupo de teatro dos jovens segue ativo, participando e promovendo momentos de diálogos entre a comunidade Amanayé, da aldeia Barreirinha, no Estado do Pará. A provocação de reflexões e produções de ações voltadas para os jovens da etnia Amanayé, na aldeia de barreirinha foram propostas a partir de diálogo da comunidade com a equipe de saúde do polo base de Paragominas, com o intuito de provocar autonomia e protagonismo dos sujeitos e da comunidade para com as demandas levantadas pelos mesmos de violência e abuso de álcool e outras drogas. A concepção de cuidado ampliado dentro do Programa Bem-Viver visualiza e transversaliza os saberes e epistemologias, utilizando o teatro do oprimido de Augusto Boal como uma forma de proporcionar promoção de saúde, fortalecimento de soluções locais e autonomia da comunidade. Revela-se a importância de funcionamento da rede de atenção à saúde indígena e a busca de novas ligações intersetoriais/interinstitucionais que possam beneficiar e contribuir com promoção de saúde da comunidade.

3087 Teatro e Loucura: possibilidades de cuidado
Deivid Ferreira Lima, Mayra Pereira de Jesus

Teatro e Loucura: possibilidades de cuidado

Autores: Deivid Ferreira Lima, Mayra Pereira de Jesus

O presente trabalho trata-se de um relato de experiência referente a oficina de teatro, que ocorre no programa de residência multiprofissional em saúde mental do Instituto de Psiquiatria da UFRJ – IPUB/UFRJ, que tem como direcionamento ético-político a desinstitucionalização. Que possibilita enquanto cenário de prática estar inserido em ações nas enfermarias psiquiátricas deste instituto, bem como, vivenciar a experiência da internação e institucionalização em um hospital psiquiátrico no município do Rio de Janeiro, de forma a incidir sobre o processo de institucionalização e mapeamento/construção de uma rede de cuidado territorial. Se pensarmos na Reforma Psiquiátrica Brasileira, a mesma nos apresenta um novo modelo de cuidado em saúde mental, que vem como alternativa ao modelo asilar anterior  que era pautado no isolamento, preconizando a internação como única possibilidade de cuidado as pessoas que sofriam de algum transtorno mental.  As ações da residência multiprofissional produzem impacto não somente na rede de cuidado do sujeito em internação como também no próprio sujeito, uma vez que apresenta novas formas de cuidar em saúde mental frente às já estabelecidas dentro de um hospital psiquiátrico. O objetivo principal deste trabalho consiste em discutir os impactos e afetos produzidos pela oficina de teatro, desenvolvida dentro do espaço do hospital e coordenada por residentes multiprofissionais junto a usuários em situação de internação. A  partir de concepções da linguagem teatral que convoca os envolvidos na oficina, tanto profissionais quanto usuários internados,  uma reflexão sobre seu protagonismo no tratamento e também como sujeitos sociais em busca de outras relações que superem os limites impostos pela instituição. Portanto a oficina se apresenta como dispositivo de cuidado e espaço de potencialidades, se utilizando do teatro como disparador desta reflexão, como espaço de elaboração de suas realidades e singularidades , fugindo a lógica medicamentosa e restritiva. A oficina de teatro ocorria uma vez por semana, em um período de uma hora e meia, prioritariamente em um espaço fora das enfermarias, coordenada principalmente por residentes da categoria de serviço social, psicologia e terapia ocupacional, com experiências anteriores de teatro ou não, totalizando uma média de dez encontros e com a constante  rotatividade de usuários internados. Foi estabelecido um método de construção desses encontros a partir da observação e da avaliação da oficina, onde foi necessário estar disponível a acolher as diversidades e principalmente ao novo, a flexibilidade do que fosse produzido a cada encontro e ao fora do planejado. No processo do fazer junto, da construção coletiva e inédita, foi possível avaliar que muitos sujeitos não tinham aproximação com o teatro, nem como ator ou espectador, e também relatado por alguns, que aquele espaço se configurava como um “alívio” durante o período de internação. Avaliamos esse espaço como potente, sendo criativo e criador de narrativas e afetos que se estabeleciam nas relações e no espaço de fala e escuta com o outro, bem como as intervenções do próprio coletivo enquanto contorno e mediação no processo de cuidado individual.. Iventivo e necessário frente a lógica manicomial ainda existente.

3199 JUVENTUDE, ATIVIDADE TEATRAL E REDUÇÃO DE VULNERABILIDADE
Claudia Regina Brandão Sampaio, Adriana Soares Caetano

JUVENTUDE, ATIVIDADE TEATRAL E REDUÇÃO DE VULNERABILIDADE

Autores: Claudia Regina Brandão Sampaio, Adriana Soares Caetano

APRESENTAÇÃO: A juventude tem sido associada à vulnerabilidade, figurando  nos estudos científicos e nas pautas das políticas públicas junto a fatos e indicadores que apontam os riscos variados aos quais estão expostos.  Vulnerabilidade pode ser definida enquanto um potencial negativo resultante da exposição a fatores de risco de diversas naturezas (sociais, econômicas, políticas, culturais, entre outras. É um resultado complexo de um conjunto de fatores e não meramente uma relação direta com os riscos presentes. São reportadas questões como DSTs, gravidez não planejada, abuso de substâncias, violência sexual, a situação de rua, precarização ou não acesso ao trabalho, abandono escolar ou frágil escolarização, a falta de garantias de direito, vitimização (violência e morte por causas externas), e envolvimento com o crime/ato infracional. As vulnerabilidades citadas permitem problematizar acerca dos modos de vida que a sociedade contemporânea tem produzido como possibilidade aos sujeitos compreendidos neste momento significado como a juventude. Uma vez que as relações predispõem de modo distinto os diversos segmentos de sujeitos que compõem o tecido social, faz-se necessário ter um olhar diferenciado sobre o ser jovem, os processos que os vulnerabilizam e os que tornam possível o enfrentamento de tais adversidades. Desafios tem sido colocados no sentido da produção de conhecimentos que permitam subsidiar intervenções que impactem na qualidade de vida de adolescentes e jovens face às vulnerabilidades que vivenciam. Intervenções junto a este segmento envolvendo artes em geral – e atividade teatral especificamente - não são raras. Contudo, faz-se necessário aprofundar o conhecimento sobre estas práticas. A atividade teatral como uma das formas de expressão artística, é um modo de relação entre indivíduo e a sociedade. Como todo fazer humano integra a identidade de quem a executa e impacta na subjetividade. As atividades artísticas em geral têm se tornado alvo de interesse de pesquisas em áreas como a Psicologia, Educação e Saúde, no tocante ao potencial interventivo que estas podem possuir. A utilização da prática teatral tem se dado enquanto intervenção predominantemente como estratégia terapêutica ou educacional/transformadora em especial junto a pessoas com algum tipo de vulnerabilidade. A Psicologia de base histórico-cultural em Psicologia compreende que a atividade artístico-cultural humana abriga sentidos e é mediadora das relações entre sujeito e realidade social. A atividade teatral é uma das formas de arte que privilegia a linguagem corporal e falada, bem como o desenvolvimento da imaginação, consistindo em uma mediação indivíduo-individuo, indivíduo-mundo, podendo ser associada a processos redutores de vulnerabilidade.   Esta atividade pode ter, portanto, sentidos mediadores e ser facilitadora da emergência de processos de proteção,  enquanto um produto vinculado à história de vida do sujeito na sua relação com a sociedade, mas também pode ser uma ferramenta para se trabalhar com produção de novos sentidos. Outro conceito que surge em estudos sobre vulnerabilidade é o de resiliência. A despeito das variações conceituais, é definida de modo geral enquanto a capacidade para enfrentar a adversidade, não somente resistindo a esta, mas ultrapassando a mesma, de modo a não ter as resultantes negativas subsequentes possíveis nestes contextos. A juventude na contemporaneidade tem tido seus modos de vida associados a riscos diversos, expressando então a condição de vulnerabilidade. Ser adolescente e jovem em nossa sociedade implica em ter a vida permeada por vários riscos, como violência no âmbito familiar, violência no bairro em que vivem, uso de drogas, agressões na escola, desemprego, dentre outras. Pesquisadores vem destacando a importância de enfatizar os estudos sobre o potencial de enfrentamento às adversidades, ao invés de pensar estritamente como os riscos afetam a vida dos jovens. Deste modo, preocupam-se em identificar e ativar processos protetivos que integrem essa equação e passem a operar na vida desses sujeitos. A partir da literatura revisada, ponderou-se que a promoção de novos modos de inserção de adolescentes e jovens na realidade social pode ocorrer tendo como um dos veículos a atividade teatral, pois enquanto atividade e expressão artística, favorece transformações que podem auxiliar os jovens a assumir papel mais determinante e menos limitador de suas capacidades. A pertinência de pensar a arte como produção humana e atividades artísticas como mediadoras da construção social e subjetiva, torna-se mais evidente. Acessar as experiências concretas de jovens participantes de grupos de teatro seria, pois, uma das formas de trazer à cena novas contribuições em torno da temática. DESENVOLVIMENTO: Problematizou-se se a atividade teatral teria potencial de promover recursos que funcionassem como transformadores do quadro de vulnerabilidade junto a jovens. Postulou-se como objetivos do presente estudo: conhecer a partir das vivências de um grupo de teatro de adolescentes/jovens da cidade de Manaus, o potencial promotor de transformações no quadro de vulnerabilidade e incremento de resiliência relacionadas às atividades artísticas inerentes à prática teatral; identificar indicadores de vulnerabilidade dos participantes; identificar os recursos indicadores de resiliência dos sujeitos e verificar em que dimensões a atividade teatral relaciona-se à modificação das vulnerabilidades apontadas pelos jovens como presentes em seu cotidiano. Foi feito um estudo exploratório de cunho qualitativo junto 11 participantes de um grupo teatral amador da cidade de Manaus, com idades entre 16 e 21. A estratégia de geração de dados se deu através da realização de oficinas de jogos teatrais segundo a proposta de Viola Spolin, tendo como temática a vulnerabilidade, o teatro e seus recursos. Pesquisou-se sobre teatro fazendo teatro. Os dados foram analisados segundo a Grounded Theory. RESULTADOS: Como resultados, verificou-se que a atividade teatral possui recursos que potencializam a resiliência e o enfrentamento das adversidades, sobretudo na dimensão individual (autoconhecimento, aprender a lidar com as próprias questões emocionais, desenvolvimento da criatividade, reflexividade) e alguns aspectos afetivo-relacionais (espaço para fortalecimento de vínculos, construção de novos modos relacionais e novos modos de lidar com conflitos). Todavia, fazer a atividade teatral em um contexto sócio-cultural que estigmatiza tal prática e rotula negativamente seus participantes, constitui um elemento que instaura novas vulnerabilidades. CONSIDERAÇÕES FINAIS: Os jovens demonstraram capacidade de superação, reinventando seu cotidiano, contudo encontram muitas dificuldades, como não disporem das condições adequadas para a prática artística. Apesar de estarem fortemente vinculados à atividade, acabam tendo que responder a outras situações tidas como prioritárias  em suas vidas. Os jovens participantes, mesmo vivenciando contextos de vulnerabilidade demonstram enfrentamento positivo, analisam suas dificuldades de modo crítico, apontam alternativas de maneira criativa, o que, segundo os mesmos, pessoas que não fazem teatro tem mais dificuldade em realizar. É na dimensão individual que o teatro potencializa mais recursos. Na esfera afetivo-relacional disponibiliza alguns, mas é também nesta esfera, aliado à sócio-estrutral (valores, conceitos), que surgem as maiores dificuldades. O teatro é uma atividade que confere voz e espaço aos seus participantes. Contudo, é também rechaçada, estigmatizada socialmente, levando a travar embates diários com suas famílias, conhecidos e outros que desqualificam suas escolhas. Estes espaços precisam ser construídos nas relações sociais, sobretudo a partir do reconhecimento do valor da atividade teatral como produto humano, pleno de significado e produtor de sentido. Concluiu-se que o potencial da atividade teatral fortalece recursos de enfrentamento das adversidades, inclusive relativo às próprias dificuldades que encontram em realizar e ser aceitos e reconhecidos através de sua prática teatral, podendo ser meio significativo de produção subjetiva, de exercício da cidadania e promoção da saúde.

3339 A carne mais barata no mercado é a carne negra: Intervenção teatral acerca das relações raciais no Brasil
Andreza Cristina da Costa Silva, Claúdia Regina Brandão Sampaio

A carne mais barata no mercado é a carne negra: Intervenção teatral acerca das relações raciais no Brasil

Autores: Andreza Cristina da Costa Silva, Claúdia Regina Brandão Sampaio

“A carne mais barata no mercado é a carne negra” letra interpretada por uma ícone da música brasileira: Elza Soares, artista, mulher e negra. Tal frase carregada de sentido e denúncia é disparadora para a construção de um olhar acerca das práticas voltadas para as demandas desses sujeitos. É importante ressaltar que esse projeto é um desdobramento da pesquisa de mestrado que está em construção e que possui o objetivo de retratar sobre o processo da identidade da mulher negra. Construiremos essa montagem cênica escancarando o racismo e as formas violentas em que o povo negro no Brasil é submetido, sobretudo fazendo um recorte de gênero, onde a mulher negra vivencia uma dupla vulnerabilidade em ser e viver em um país marcado pelo patriarcado e o preconceito racial. O Brasil através de suas particularidades, construiu um processo histórico diferente de outros países no que tange aos direitos do povo negro. Nesse sentido é necessário que localizemos a nossa história e voltemos à ela a fim de resgatar formas de superação como também devolver à população, hoje, um presente para além desse histórico opressor, através da potencialização e positivação do ser negro“A carne” conta a história de várias mulheres negras no Brasil, grita e sussurra uma vivência marcada por estereótipos, ideologias dominantes como o machismo e o racismo que forjam e penetram nesses corpos marginalizados e inferiorizados pela sociedade. A montagem será representada por uma única personagem em cena que embora singular, projeta a dor, sofrimento, resistência, conquista, liberdade e autonomia compartilhada por todas as mulheres negras no Brasil. É um retrato, um reflexo do cotidiano de lutas e conquistas, de perdas e ganhos dessas heroínas brasileiras. Revela não só a existência de mundos diferentes em um mesmo contexto social, mas como ele é silenciado e invisível aos olhos dos Outros. Como ela suporta? Sua pele, cabelo, boca, corpo são negados, inferiorizados, depreciados. Como ela resiste? Seu intelecto, suas relações afetivas e amorosas são apagadas e tolhidas pelo padrão branco, e mesmo assim, ela permanece. “A carne” tem por intuito possibilitar um olhar crítico sobre a vivência da mulher negra, rompendo com as amarras sociais e com os estereótipos que limitam essa identidade. Para isso, o espetáculo transitará entre o riso sarcástico e o riso libertário, entre o horror conivente e o espanto inicial. O público atuará ora como sociedade silenciando essa identidade, ora como o próprio reflexo subjetivo dessa mulher. A disposição dos lugares do público será realizada num espaço de semi-arena, possibilitando uma aproximação espacial e subjetiva com a personagem. “A carne” é uma produção que em seu título já expressa os sentidos de uma vivência em torno de um rótulo, um pedaço de carne atravessada por uma história de subserviência, de solidão, de anormalidade, de invisibilidade social. Em um país que desde o seu processo histórico vem silenciando e oprimindo identidades distantes do padrão eurocêntrico e americanizado, coaduna para que violências das mais diversas ocorram com os “destoantes”. Falar, mostrar, expressar a vivência de uma mulher negra na sociedade em qual estamos inseridos é um ato político, urgente e sobretudo libertador, pois fala de um lugar marginalizado, estereotipado e invisibilizado por uma classe elitista e brancocêntrica. Colocar em cena uma mulher negra como personagem principal, revelando e protagonizando suas angústias, temores, alegrias é subverter o sistema, é desvelar, tirar os véus de uma sociedade adoecida. Com isso, pretende-se possibilitar o reconhecimento da diferença, e desta feita, respeitá-la como tal. Embora carregada de sentidos catárticos, a montagem contará também com o banalizado, o lugar comum, o conhecido, tendo em vista que as cenas fazem parte da realidade brasileira, resultando num arsenal de significados. A relevância da montagem “A carne” está situada em todo o corpo do texto, porém é salutar acrescentar que sua produção é uma ferramenta necessária em tempos de relações de poder tão violentas e ditadoras, onde ser diferente é denotado de sentido negativo, subjugado, inferior, não considerado como um ser legítimo na relação com o outro. A mulher negra é uma figura de resistência, pois mesmo num cenário histórico e cultural onde o seu passado, presente e futuro são negados, ela está ali presente, pulsante, segurando o que lhe resta,ressignificando, transformando e resistindo na carne. Cabe pontuar que neste projeto de intervenção, há o interesse de realizar o workshop “Negritude + Teatro: pistas para criação” que acontecerá durante três dias, com o intuito de se debater e refletir com a sociedade as questões raciais no Brasil e colocá-las em cena. Para isso, o workshop será dividido da seguinte forma: No primeiro dia, será realizado uma conversa acerca das relações raciais no Brasil com os participantes, onde os mesmos poderão compartilhar um pouco de suas experiências, respeitando sempre o lugar de fala dos sujeitos tematizados no trabalho. Vale evidenciar que esse momento será de extrema importância no workshop, pois será a partir dele que iremos construir narrativas de vida que propiciará no prosseguimento do trabalho. Para o segundo dia, o foco do workshop será a criação dentro do espaço urbano, contribuindo com as formas que nosso processo utilizou para a criação cênica. A apropriação da cidade e o diálogo que o corpo tem com a mesma serão um dos pontos a serem experimentados neste segundo dia. Além disso, a partir das histórias compartilhadas no dia anterior, será realizado um experimento dentro da sala de ensaio. O terceiro e último dia, os participantes do workshop levarão seus experimentos, que até então estavam na sala de ensaio, para o espaço urbano, buscando sempre dialogar o corpo com a cidade. É importante pontuar que embora o workshop tenha como proposta evidenciar a vivência da população negra, entendemos que essa identidade não é construída de forma isolada e descolada de seu tecido social. Neste sentido percebemos que todos os sujeitos sociais fazem parte desse processo: negros, não-negros, indígenas entre outros. Logo, a intervenção é aberta para o público em geral, e pode ser aplicada em qualquer espaço, na escola, no trabalho, universidade e na rua. Conclui-se que é dessa maneira que contribuiremos para um diálogo transformador acerca das relações raciais no Brasil.

5300 SETEMBRO AMARELO: O USO DO SOCIODRAMA COMO FERRAMENTA DE SENSIBILIZAÇÃO A CERCA DO SUICÍDIO
Victor Hugo Ribeiro de Sousa, Daiana da Silva Carvalho, Daniele Veloso de Menezes, Antonio Wislley Cavalcante, Moisés Braga Sampaio, Isnara Soares França, Valeska Macêdo Cruz Cordeiro, Constantino Duarte Passos Neto

SETEMBRO AMARELO: O USO DO SOCIODRAMA COMO FERRAMENTA DE SENSIBILIZAÇÃO A CERCA DO SUICÍDIO

Autores: Victor Hugo Ribeiro de Sousa, Daiana da Silva Carvalho, Daniele Veloso de Menezes, Antonio Wislley Cavalcante, Moisés Braga Sampaio, Isnara Soares França, Valeska Macêdo Cruz Cordeiro, Constantino Duarte Passos Neto

APRESENTAÇÃO: De acordo com a Organização Mundial da Saúde, são contabilizados cerca de mais de um milhão de casos de morte por suicídio no mundo anualmente, encontrando-se registros de dez mil casos no Brasil nesse mesmo período. Dados do Ministério da Saúde apontam que no contexto brasileiro é por esse meio que diariamente cerca de vinte e quatro pessoas morrem, ressaltando que ocorrem cerca de 60 mil tentativas. Assim, o suicídio é considerado um problema de saúde pública e pode ser entendido como o ato humano no qual há o desejo consciente de tirar a própria vida, associado à ideia clara da consequência da ação. Esses dados vêm crescendo principalmente entre os adolescentes, sendo a faixa etária que representa o grupo de maior risco. Nessa perspectiva, como forma de sensibilização, a campanha nacional do Setembro Amarelo visa abordar essa problemática por meio de ações preventivas e de valorização da vida. Considerando a importância dessa campanha, foram desenvolvidas atividades voltadas ao público supracitado no ambiente escolar. DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO: Estudo descritivo e qualitativo, do tipo relato de experiência, realizado por 8 profissionais de saúde residentes, do programa Residência Integrada em Saúde (RIS), da Escola de Saúde Pública do Ceará (ESP/CE), no mês de setembro, no município de Brejo Santo-CE. A pesquisa se deu durante as ações de sensibilização sobre o suicídio, em alusão ao Setembro Amarelo, na Escola Estadual de Ensino Profissional Balbina Viana Arrais. As ações aconteceram em dois dias, o primeiro sendo em três turmas do 2º ano do curso técnico de Edificações, e o segundo dia em três turmas do 3º ano do curso técnico de Enfermagem. Durante as ações, foram realizadas atividades utilizando como metodologia o sociodrama, que é uma ferramenta de trabalho em grupo, que usa a dramatização como elemento para trabalhar situações problemas, resolução de conflitos, facilitar discursões a cerca do que se queira abordar, tendo como principal objetivo que cada participante se coloque no papel da situação apresentada. RESULTADOS E/OU IMPACTOS: Durante a realização das atividades percebeu-se que através do sociodrama os alunos conseguiram expressar e compartilhar suas emoções, dúvidas e vivências acerca da temática, facilitando o processo de cuidado, bem como possibilitou entrar em contato com questões conflituosas de forma a assumirem o papel de protagonistas de suas histórias. Assim, foi notório um fortalecimento de vínculos entre os adolescentes participantes. CONSIDERAÇÕES FINAIS: Dessa forma, destaca-se a importância de se trabalhar a campanha de forma leve, uma vez que ainda persiste o mito de que falar sobre o suicídio instiga ao ato, principalmente para o público em questão. Assim, o sociodrama configurou-se como uma metodologia potencializadora do trabalho favorecendo a discussão da temática.

5174 VER-SUS: UM ESPAÇO DE APRENDIZAGEM DIFERENCIADO, AUTÔNOMO E ARTÍSTICO
Maria Raniele Dos Santos, Luiza Maria Parise Morales, Joane Felix, Silas Slva Ferreira, Nayara Alexandra Rodrigues da Silva

VER-SUS: UM ESPAÇO DE APRENDIZAGEM DIFERENCIADO, AUTÔNOMO E ARTÍSTICO

Autores: Maria Raniele Dos Santos, Luiza Maria Parise Morales, Joane Felix, Silas Slva Ferreira, Nayara Alexandra Rodrigues da Silva

Nos últimos meses, algumas esferas de nossas vidas têm sido atacadas diretamente por ondas de conservadorismo que nos faz temer a ditadura de outrora. No entanto, formas mais sutis de repressão ocorrem a bem mais tempo do que possamos nos lembrar. A repressão do social ao individual nos inibe retirando nossa autonomia e liberdade de expressão. Ao enxergarmos saúde para além de um processo saúde-doença, podemos analisar o quanto essas coibições cotidianas adoecem e segregam os indivíduos.Como estudantes de graduação de cursos diferentes podemos perceber o quanto esses processos prejudicam a saúde mental dos graduandos a longo prazo. Vindo de encontro a esses espaços fechados de salas de aula e dos locais onde posteriormente iremos exercer nossas profissões, encontramos o VER-SUS (Vivência e Estágio na Realidade do Sistema Único de Saúde). Esse projeto nacional financiado pelo Ministério da Saúde, mas organizado de aluno para aluno permite um diálogo e troca de saberes mais horizontal e foi nesse espaço que encontramos um local de acolhimento, renovação e desabrochar.No VER-SUS o diálogo era apenas mais uma das formas de expressão. Nós éramos instigados a produzir as mais diversas formas de arte como: cordel, poema, desenho, pintura, dança. Produções essas que alguns dali nunca tinham experimentado ou não sabiam que eram capazes de criar. Essa dinâmica de construção permitia novas formas de explorar nossos corpos e movimentos ao mesmo tempo que fortalecia o sentimento de pertencimento e troca de afeto em trabalho em grupo.Cada sujeito ia a seu tempo perdendo a timidez e ocupando os espaços com cores, sons, versos. A participação no VER-SUS no estado de Alagoas foi uma experiência única e que pretendemos retratar. Pois, ele não foi importante apenas naquele momento, já que as reverberações do que vimos e experienciamos ali irá com toda certeza modificar nossas atuações nos campos profissionais que futuramente iremos ocupar.O objetivo é demonstrar o quanto esse projeto foi eficaz ao trazer à tona espírito artístico que faz parte de cada um de nós. E como podemos derrubar os muros que a sociedade nos impõe ao longo de nossas vidas, e que acaba impedindo esses tipos de experimentação.