45: Quando a diversidade reinvidica cidadania: saberes populares, culturas e práticas de saúde como participação
Debatedor: A definir
Data: 02/06/2018    Local: FCA 02 Sala 11 - Piracuí    Horário: 08:30 - 10:30
ID Título do Trabalho/Autores
3168 Reflexões sobre a difusão dos conhecimentos de plantas medicinais com jovens de uma comunidade ribeirinha
Thaline Castro de Lima, Marcelo Gustavo Aguilar Calegare, Débora Cristina Bandeira Rodrigues, Evelyn Barroso Pedrosa, Mayara dos Santos Ferreira, Paulo Ricardo de Oliveira Ramos, Rommel Gonçalves de Sá

Reflexões sobre a difusão dos conhecimentos de plantas medicinais com jovens de uma comunidade ribeirinha

Autores: Thaline Castro de Lima, Marcelo Gustavo Aguilar Calegare, Débora Cristina Bandeira Rodrigues, Evelyn Barroso Pedrosa, Mayara dos Santos Ferreira, Paulo Ricardo de Oliveira Ramos, Rommel Gonçalves de Sá

Introdução O alicerce dos conhecimentos de povos residentes em comunidades tradicionais rurais na Amazônia é majoritariamente oriundo de povos indígenas que fizeram e ainda se fazem presentes na região. Estes conhecimentos são herdados e perpassam através das relações sociais e históricas, demonstrando um processo dinâmico e complexo, entendendo que os segmentos sociais que compõe esse contexto não são homogêneos, o que representa uma diversidade de práticas, identidades e culturas em conjunto às peculiaridades regionais. Um dos elementos da cultura dessas comunidades é a utilização de plantas medicinais no trato com a saúde, cujas práticas baseiam-se principalmente nos conhecimentos de sociedades tradicionais e a da medicina tradicional e/ou popular em diferentes culturas. Comunidades tradicionais são definidas como grupos diferenciados pela cultura que reconhecem, e por possuir organização social, cultural e econômica própria, através da utilização de conhecimentos e práticas mantidos pela tradição oral e transmitidos de geração a geração. Particularmente, as populações tradicionais não-indígenas da Amazônia, dentre as quais as comunidades ribeirinhas, caracterizam-se por proporcionar relevante contribuição para manutenção da diversidade biológica devido às diversas formas de uso e manejo dos recursos naturais dispostos no seu ambiente, baseados nos princípios da sustentabilidade e dos conhecimentos tradicionais que possuem. O conhecimento tradicional das comunidades ribeirinhas está relacionado aos saberes transmitidos oralmente e às atividades desenvolvidas, adaptadas a cultura local e o ambiente, que acabam por assumir tanto valor de uso, como valor simbólico. Ademais, no decorrer da propagação deste conhecimento de geração a geração, um papel essencial é exercido por todos os grupos etários, sejam jovens, adultos ou crianças. Diante disto, questionamos quais os processos psicossociais envolvidos no reconhecimento, valorização e preservação destes conhecimentos para os jovens. Os conhecimentos tradicionais sobre plantas medicinais, bem como sua utilização no tratamento em saúde são amplamente utilizados na Atenção Primária à Saúde (APS), considerados pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como importantes instrumentos da assistência farmacêutica. A prática de oferecer à população brasileira a utilização de produtos à base de plantas medicinais nos seus cuidados com a saúde incentiva o desenvolvimento comunitário, a solidariedade e a participação social. Sendo assim, o presente trabalho visa refletir com base na pesquisa de iniciação científica e um projeto de intervenção de trabalho de conclusão de curso, os conhecimentos tradicionais sobre plantas medicinais como um elemento importante à promoção de saúde dentro da comunidade ribeirinha a partir da participação de jovens nesse contexto. Desenvolvimento Utilizou-se de observação participante, através de inserção na comunidade ribeirinha localizada no rio Manacapuru – AM realizando registros em diário de campo para posterior análise. Além disso, foi realizado um grupo focal como parte do projeto de iniciação científica, e em seguida iniciou-se o trabalho interventivo que dispôs de duas etapas: 1) uma excursão pela comunidade para conhecer as plantas medicinais; 2) realização de um jogo de tabuleiro humano para testar o conhecimento adquirido na excursão. O acesso a comunidade se deu por meio da participação da pesquisadora no projeto de extensão vinculado ao Grupo Inter-Ação (UFAM), que atua em comunidades ribeirinhas da região. A equipe foi formada por múltiplas áreas de conhecimento no decorrer da implementação deste projeto, sendo composta por seis pessoas do serviço social, sendo a professora coordenadora, duas mestrandas e três estudantes em serviço social e uma estudante de psicologia. Resultados Inicialmente, com a proposta do grupo focal observou-se pouco relato dos jovens sobre o manuseio das plantas medicinais. Verbalizaram sobre a importância de utilizá-las, porém, não identificaram situações que tenham por conta própria utilizado desse conhecimento. Por outro lado, no trabalho interventivo, que se deu através da excursão, as jovens puderam identificar as plantas medicinais e qual o uso delas no tratamento da saúde, sob orientação de duas comunitárias. Finalizada a excursão, foram formados grupos e realizado um jogo de perguntas e respostas, em que a cada acerto o grupo ganhava pontos. Neste momento as jovens demonstraram conhecimentos relevantes sobre as plantas medicinais, bem como seu manejo para a saúde. Sobre os processos psicossociais envolvidos no reconhecimento, observou-se que as participantes atribuem efeitos positivos ao uso das plantas medicinais. Quanto a questão de valorização, as jovens relataram que as plantas medicinais são elementos centrais dentro da comunidade para o tratamento na saúde. No entanto, demonstraram pouco conhecimento sobre as plantas e suas aplicações, caracterizando então que o processo de preservação e valorização não ocorre amplamente, pois, os mesmos não se efetivam em suas práticas. Além destas questões elucidadas no momento da realização da pesquisa através do grupo focal, as jovens verbalizaram preferência por outras alternativas de medicamentos em razão de considerarem desagradável ingerir os oriundos de plantas medicinais, além do longo intervalo de espera que precisam dispor para obter melhora. Foi possível perceber que as jovens não dispunham de tantas experiências práticas no manejo das plantas medicinais, uma vez que não verbalizaram situações cotidianas do uso. Observou-se que as jovens percebem que a promoção de saúde baseada nos conhecimentos tradicionais sobre plantas medicinais são importantes para a comunidade. Porém, verificamos que aparentemente as jovens não se reconhecem como atores na propagação e aplicação desse conhecimento ou na promoção da saúde através deste recurso, apontaram os adultos como os detentores desses saberes e os responsáveis pela eficácia do uso de plantas medicinais. Considerações finais Considerando que os conhecimentos tradicionais são construídos através de gerações, das relações sociais e históricas, dinâmicas, complexas e não homogêneas, através da pesquisa para elucidar o caráter contextual dos jovens, foi possível observar que as mesmas reconhecem os conhecimentos tradicionais sobre plantas medicinais, mas não têm desempenhado o papel de mantenedoras desse conhecimento, bem como o de promoção de saúde a partir deste recurso natural. Acredita-se que o cerne dessa problemática é a cisão de um diálogo entre os detentores desse conhecimento com as jovens. Ademais, percebemos que o trabalho interventivo fortaleceu o caráter da oralidade presente como característica fundamental do conhecimento tradicional sobre plantas medicinais. Posto isso, adentrar os conhecimentos tradicionais sobre plantas medicinais através de recursos lúdicos e atividades em grupo mostrou-se como uma ferramenta importante à promoção de saúde dentro da comunidade ribeirinha a partir da participação de jovens nesse contexto. Consideramos também importante a extensão dessas experiências para as equipes de saúde da região, uma vez que a parceria com a comunidade nos encontros e reuniões de educação em saúde permite a identificação de líderes locais, formação de alianças e o aumento da autoestima dos indivíduos e do coletivo. Portanto, nesse contexto, o psicólogo (a) pode atuar em espaços interdisciplinares considerando as singularidades e similaridades de cada grupo ribeirinho, direcionando a devida importância aos aspectos étnicos e identitários que contribuem com a constituição das subjetividades locais, assim como também, na reflexão e sugestão de estratégias para trabalhar promoção de saúde com jovens a partir da realidade de seu próprio contexto.

907 PRÁTICAS DE SABER E PODER ACERCA DO CUIDADO EM SAÚDE PRESENTES NO COTIDIANO DE MULHERES RIBEIRINHAS NO INTERIOR DA AMAZÔNIA
LAYLA DE CASSIA BEZERRA BAGATA MENEZES, EDNA Ferreira Coelho GALVÃO

PRÁTICAS DE SABER E PODER ACERCA DO CUIDADO EM SAÚDE PRESENTES NO COTIDIANO DE MULHERES RIBEIRINHAS NO INTERIOR DA AMAZÔNIA

Autores: LAYLA DE CASSIA BEZERRA BAGATA MENEZES, EDNA Ferreira Coelho GALVÃO

A presente pesquisa teve como objetivo analisar as práticas de saber e poder presentes no cotidiano de mulheres ribeirinhas, acerca do cuidado em saúde, bem como conhecer o perfil, modo de vida e organização social das mulheres ribeirinhas, analisar as condições de produção dos discursos das mulheres ribeirinhas sobre as práticas de cuidados de saúde na comunidade, além de verificar as relações de saber/poder no cuidado de si de mulheres ribeirinhas a partir das práticas discursivas e não discursivas. Apoiado no referencial teórico das Práticas Populares de Cuidado, tendo como base o Método Arqueológico de Michel Foucault. Para a produção dos dados foram realizadas entrevistas e aplicação de questionário sócio epidemiológico. Participaram dessa pesquisa 22 mulheres da Comunidade de Mentai, localizada na Resex Tapajós-Arapiuns em Santarém – PA, além de 4 profissionais que atuam na Unidade Básica de Saúde da referida comunidade, com dados coletados no período de julho de 2017. A análise dos dados se dará por meio da Análise Foucaultiana do Discurso. A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa, de acordo com protocolo CAAE: 66666817.8.0000.5168. E mediante autorização do Instituto Chico Mendes de Biodiversidade (ICMBio), bem como da Secretaria Municipal de Saúde de Santarém. O presente estudo foi desenvolvido seguindo as exigências da Resolução do Conselho Nacional de Saúde-CNS Nº466/2012. O cotidiano vivenciado na comunidade proporcionou observar um pouco da rotina das mulheres, suas vivências, suas redes de cuidado e seus papeis sociais, e também conhecer a realidade da comunidade de Mentai a partir destas mulheres.

3915 O Sofrimento Mental e o Cuidado em Saúde: vivenciando a troca de saberes junto ao Movimento das Mulheres Camponesas de um município no interior de Santa Catarina
Lauren Pieta Canan, Jane Kelly Oliveira Friestino, Graciela Soares Fonsêca, Maria Eneida Almeida, Rosângeka Maria Do Nascimento, Helder Oliveira Cavalcanti

O Sofrimento Mental e o Cuidado em Saúde: vivenciando a troca de saberes junto ao Movimento das Mulheres Camponesas de um município no interior de Santa Catarina

Autores: Lauren Pieta Canan, Jane Kelly Oliveira Friestino, Graciela Soares Fonsêca, Maria Eneida Almeida, Rosângeka Maria Do Nascimento, Helder Oliveira Cavalcanti

As demandas de Saúde Mental encontram-se visíveis nas infindas queixas manifestadas por parte dos pacientes no serviço de saúde, principalmente na Atenção Básica. Cientes da necessidade de discussões sobre o tema, dentro e fora dos serviços de saúde, professores e acadêmicos de uma Universidade pública do interior de Santa Catarina, desenvolveram a atividade de extensão intitulada “O Sofrimento Mental e o cuidado em Saúde: variáveis ambientais e as plantas medicinais” juntamente com o Movimento das Mulheres Camponesas – MMC de Palmitos. O presente trabalho objetiva relatar a experiência dessa atividade de extensão desenvolvida por professores e acadêmicos envolvidos em um projeto de pesquisa com o tema Sofrimento Mental na Atenção Básica. A experiência transcorreu na Linha Santa Terezinha no município de Palmitos/SC. A atividade foi realizada no dia 08 de novembro de 2017, simultaneamente com o IV Encontro Municipal da Alimentação Saudável, e contou com aproximadamente 90 pessoas, entre elas homens e mulheres de faixas etárias distintas. O objetivo da atividade foi de proporcionar um momento de discussão e reflexão sobre o sofrimento mental, além de propiciar a troca de saberes entre o coletivo das Mulheres Camponesas de Palmitos que realiza atividades práticas relacionadas às plantas medicinais e cultivo de hortos medicinais no município. O foco da ação desenvolvida foram os meios de produção de saúde, na qual foi utilizada a abordagem global do assunto: cuidado ao sofrimento mental, e está sistematizada ao conjunto de saberes do grupo de mulheres do MMC. O uso de plantas medicinais para o cuidado em saúde, é uma marca do MMC, e a dinâmica presente no cultivo dos hortos comunitários contribuem para a promoção da saúde, constituindo-se como importantes fontes de matéria-prima, como locais para ações de educação em saúde e para a participação das pessoas no cultivo das espécies, destacando-se como um importante dispositivo terapêutico no campo da Saúde Mental. O evento desenvolvido se apresentou como um espaço potente para o fortalecimento das ações voltadas ao campo da saúde mental, assim como das plantas medicinais, e para a integração dos mais diversos saberes, que proporcionou uma melhora na forma de abordar o tema em questão. Sabendo que o sofrimento mental é responsável por levar os indivíduos à perdas significativas em seu cotidiano, julgou-se necessário e comprovou-se que o mesmo é uma pauta importante a ser tratada na realidade das mulheres que fazem parte desse movimento social. Desta forma, o espaço de discussão proporcionado pela atividade de extensão foi capaz de evidenciar aspectos do sofrimento mental nas atividades diárias dos indivíduos, assim como fortalecer o vínculo da Universidade com o MMC, oportunizando um espaço de trocas e experiências significativas.

3918 Plantas medicinais: o conhecimento popular dos raizeiros da cidade de Imperatriz – MA.
Yara Nayá Lopes de Andrade Goiabeira, Adailton Richards da Silva Mota Marques, Érika Ferreira Tourinho, Ana Márcia Coelho dos Santos, Isaura Letícia Tavares Palmeira Rolim

Plantas medicinais: o conhecimento popular dos raizeiros da cidade de Imperatriz – MA.

Autores: Yara Nayá Lopes de Andrade Goiabeira, Adailton Richards da Silva Mota Marques, Érika Ferreira Tourinho, Ana Márcia Coelho dos Santos, Isaura Letícia Tavares Palmeira Rolim

Introdução: As plantas medicinais representam um fator de grande importância para a manutenção das condições de saúde das pessoas e parte importante da cultura de um povo. Objetivo: Caracterizar o perfil dos comerciantes e catalogar as etnoespécies usada na medicina popular através das feiras no Município de Imperatriz-MA. Metolodogia: Foram aplicados questionários do tipo semiestruturado em 6 feiras. As plantas foram coletadas e identificadas a partir de bibliografia especializada. As indicações terapêuticas condizem com a Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde proposta pela Organização Mundial da Saúde. Resultados: Quanto ao perfil dos entrevistados, os maiores índices correspondem a pessoas: do sexo feminino (66,6%), nativos do Estado, idades acima de 36 anos (83,3%), residentes com familiares (100%), casados (50%), com mais de quatro filhos (66,6%). Constatou-se que a aquisição de conhecimento dos feirantes ocorre pelo repasse de gerações. Foram listadas 39 espécies, sendo a família Leguminosae a mais citada. Dentre as etnoespécies com maiores citações de usos destaca-se: Schinus terebinthifolia Raddi, Pimpinella anisum L., Matricaria chamomilla L., Melissa officinalis L., Hibiscus sabdariffa L. e Peumus boldus Molina. As partes mais usadas foram: folhas (26,78%), cascas e entrecascas (23,21%) e flor (14,28%). As indicações mais citadas foram: anti-inflamatório, constipação e calmante, utilizando-se principalmente sob a forma de chá (42,85%). Considerações Finais: Durante a entrevista constatou-se que todos retiram do comércio de plantas o subsidio familiar. Porém, nenhum comerciante indicou a substituição dos medicamentos comercializados por medicamentos naturais. A proposta enfatizada é aumentar as opções terapêuticas para os profissionais da saúde e pacientes.  

2358 Mulheres ao léu: Construção de uma ação de saúde dirigida a um grupo específico
Rodrigo Oliveira Farias, Raquel Patrícia Quereza e Silva Faria, Paulo Henrique Dias da Silva Dantas

Mulheres ao léu: Construção de uma ação de saúde dirigida a um grupo específico

Autores: Rodrigo Oliveira Farias, Raquel Patrícia Quereza e Silva Faria, Paulo Henrique Dias da Silva Dantas

O trabalho em saúde abrange grande parte da população. No entanto, há grupos específicos que possuem necessidades particulares de atenção. Apesar do esforço do poder público, existem coletivos que não são alcançados de forma adequada pelo sistema de saúde e que são extremamente vulneráveis. Dentre eles pode ser citada a população de profissionais do sexo. Esse trabalho tem por objetivo focar na saúde do público das mulheres que trabalham como profissionais do sexo em seu contexto geral, e não apenas analisá-las sob os paradigmas que se reduzem, geralmente, às Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs); analisando a pessoa como uma mulher que também possui uma vida normal com necessidades a serem supridas, se expondo a outros riscos, ficando susceptível a outras doenças, que poderiam abranger qualquer outro indivíduo, como diabetes, hipertensão, câncer, anemia, pneumonia, tuberculose, entre outras. Esse grupo foi escolhido, pois seu acesso ao sistema de Saúde possui diversos obstáculos, uma vez que são pessoas excluídas e estigmatizadas, que por seu estilo de vida, não possuem um dia comum, trocando, por vezes, o dia pela noite e vice-versa, o que pode modificar até mesmo seu estado de  sono e vigília. Isso dificulta seu acesso a bens e serviços de saúde, ou mesmo que, por estigmas em relação a seu modo de ganhar a vida, podem não se ver dignas de procurar ajuda médica ou um hospital. Para tanto, foi organizado, por acadêmicos de Medicina, um evento em parceria com uma associação de trabalhadoras do sexo, onde se realizou um atendimento coletivo às mulheres que fazem parte da associação. Foi aplicado a elas um formulário que continha perguntas relacionadas à situação de saúde atual, baseado na Caderneta de Saúde da Mulher Curitibana e nos Protocolos de Atenção Primária:  Atenção à saúde da mulher, do Ministério da Saúde; sendo que através dele poderiam ser analisadas as queixas, contribuindo para atender às necessidades de cuidado que elas procuravam.  O evento ocorreu no dia 07 de dezembro de 2017; houve a participação de cerca de 100 mulheres e um total de 10 alunos, juntos ao preceptor; os organizadores também entraram em contato com uma assistente social que pôde dar suporte ao evento. Por intermédio dessa ação foi possível analisar o quanto é importante que públicos como esse tenham estratégias desenhadas particularmente para garantir-lhes acesso e inclusão pelo Sistema Único de Saúde, fazendo-se cumprir os princípios do SUS de universalidade, de igualdade, de integralidade e, principalmente, de equidade. Acredita-se que através dessa experiência, os acadêmicos de Medicina, puderam compreender a realidade de saúde dessa população e posteriormente podem ser agentes de transformação na realidade de saúde desse grupo específico e também atrair a outros profissionais a se atentarem para essas populações excluídas.

3732 Participação popular nas decisões cotidianas de um serviço de saúde mental
Gustavo Emanuel Cerqueira Menezes Junior

Participação popular nas decisões cotidianas de um serviço de saúde mental

Autores: Gustavo Emanuel Cerqueira Menezes Junior

A Reforma Psiquiátrica no Brasil, marcada pela promulgação da Lei 10.216 em 2001, impulsionou o processo de criação de uma rede de serviços substitutivos às instituições manicomiais de tratamento psiquiátrico, com progressiva redução dos leitos de internação, estabelecendo os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) como dispositivos que assumem papel estratégico na organização da Rede de Atenção Psicossocial. No entanto, a existência dos serviços substitutivos não significa automaticamente uma adesão aos princípios, diretrizes e novos paradigmas propostos pelo movimento da Reforma Psiquiátrica. Além disso, há de se considerar que a implantação de um novo modelo de atenção implica não apenas em definição de novas diretrizes políticas e na reorganização dos serviços de saúde, a concretude de um novo modelo está intrinsecamente ligada às mudanças das práticas profissionais e dos elementos culturais. Observa-se que esta transição paradigmática implica em disponibilidade técnica, ética e política dos profissionais para a construção de outros propósitos, outras formas de organização dos serviços, das modalidades de gestão, dos processos de trabalho, das práticas profissionais, onde haja estabelecimento de relações que incluem usuários e usuárias como sujeitos, e não o observem como meros objetos de intervenção, projetando composições “mais abertas à produção negociada do viver em sociedade, propiciadoras da construção de sujeitos autônomos”. Ao pautar a garantia da participação das pessoas que utilizam os serviços de saúde mental nos espaços de decisão, é primordial afirmar a necessidade de forjar espaços que possibilitem a construção de autonomia. É fundamental a inclusão destas pessoas no cotidiano institucional no intuito de oferecer um ambiente para que possam construir conjuntamente as diretrizes administrativas do espaço que utilizam e do tratamento que recebem. Essa estratégia possibilita horizontalizar as relações de poder presentes na relação terapêutica. No que diz respeito à participação dos usuários nas decisões do cotidiano dos serviços de saúde mental, o relatório da IV CNSM-I indica que “é necessário adotar um modelo de saúde humanizado que considere o cuidado integral e a ativa participação de todos, principalmente a dos próprios usuários, na elaboração e condução dos seus projetos terapêuticos, fortalecendo o 'protagonismo social', no sentido de desenvolver autonomia e autodeterminação”. O exercício da participação popular é uma das importantes estratégias de empoderamento dos usuários dos serviços de saúde mental abrindo campo para o protagonismo social e a defesa de direitos. O empoderamento aqui é entendido como um processo de fortalecimento do poder e autonomia pessoal e coletiva de indivíduos e grupos sociais nas relações interpessoais e institucionais, principalmente daqueles submetidos a relações de opressão, dominação e discriminação social. A construção de processos terapêuticos que possibilitem a autonomia dos sujeitos que usam os serviços de saúde mental, no sentido de construção conjunta das decisões que devem ser tomadas no cotidiano dos mesmos fortalece os princípios da participação popular no SUS e abre a possibilidade de uma gestão ampliada e compartilhada que produz mudanças nas organizações de saúde. Neste estudo, de delineamento qualitativo, com caráter exploratório-descritivo, toma-se como referencia a garantia de espaços de participação popular no cotidiano de um serviço de saúde mental, sendo um recorte do projeto “Diagnóstico situacional da atenção à Saúde Mental na Bahia: repensando as práticas”. Os dados foram coletados entre os meses de novembro de 2013 e janeiro de 2014, sendo realizado um total de 17 entrevistas a usuários, familiares e profissionais de um dado serviço de saúde mental do estado da Bahia. Para realizar os procedimentos de aplicação dos instrumentos de coleta de dados foi formado um Grupo de Trabalho composto por distintos representantes (usuários, profissionais, familiares e gestores) para discutir as ações referentes ao projeto e seus desdobramentos, e formada uma Comissão de Visitas, de composição também diversificada, de forma a garantir a representatividade de diferentes segmentos da sociedade. A partir da sistematização dos dados obtidos através de seleção por amostragem intencional das entrevistas realizadas com 06 profissionais, considerando o aspecto da garantia da participação dos usuários do serviço de saúde mental em processos autonomizantes, emergiram as seguintes categorias de análise: espaços de participação popular e empoderamento dos usuários do serviço. A participação popular, entendida sob a perspectiva da afirmação das singularidades possíveis, que se forja a partir dos encontros, das dificuldades encontradas para a condução de problemas do serviço, de conflitos estabelecidos por conta das divergências de opiniões e das demais discussões que surgem no cotidiano do serviço, tanto nos espaços instituídos formais quanto nos encontros que compõem o dia a dia da vida de um usuário ou usuária da saúde mental. As transformações nos serviços de saúde mental precisam ser cotidianas, sendo necessária a construção de práticas institucionais que não reproduzam as observadas nas instituições manicomiais. Neste sentido a participação dos usuários nas decisões que envolvam o andamento do serviço é uma ferramenta que potencializa as rupturas institucionais importantes para uma clínica que se aproxime mais da realidade dos sujeitos que utilizam o serviço e do território onde este serviço está inserido. As falas revelaram que, apesar de possuir elementos que apontam para uma prática próxima do modelo de atenção psicossocial com vistas à garantia de espaços formais de participação popular, o referido serviço de saúde mental ainda apresenta elementos que se contradizem. A inclusão dos usuários nas decisões cotidianas do serviço não foi percebida, apesar da existência de espaços formais de denúncia e de uma assembleia mensal. No campo da Saúde Mental, o exercício participativo nos processos de controle social esbarra no desafio de superar o estigma social e a tradição da tutela que incidem sobre os sujeitos em sofrimento mental. O estigma e a tutela contribuem para o não empoderamento e o não reconhecimento destes sujeitos enquanto cidadãos e atores do processo participativo e do controle social. Os serviços de saúde mental possuem uma singularidade no seu funcionamento que é a existência de assembleias que devem discutir o cotidiano do serviço. No entanto, não basta instituir espaços de escuta, é importante a existência de condições concretas e métodos de empoderamento dos sujeitos. Há referência ao espaço da assembleia, onde a participação do usuário é estimulada e ele pode interferir nas decisões do CAPS. Revela-se uma incipiente cultura institucional de participação e decisão do usuário. Nesta direção também aparece no discurso dos sujeitos a primazia do saber técnico, o que os faz capaz de decidir o que é melhor para o usuário. A equipe reconhece que apesar da existência de espaço para fala, colocações, reclamações – individualmente ou em assembleias, não há uma priorização desse espaço como espaço de decisões acerca do cotidiano do serviço, mas sim como uma das atividades terapêuticas. Conclui-se que os espaços de participação e discussões não devem se restringir à assembleia, é importante que este processo transversalize todas as atividades do serviço, desde as oficinas de geração de renda aos grupos terapêuticos, destacando-se, no entanto a importância da assembleia como espaço de deliberação, onde todos os sujeitos envolvidos (trabalhadores, gestores, usuários e familiares) tenham possibilidade de participação. A reorientação das práticas representa uma importante ruptura paradigmática, sendo necessário o investimento em dimensões praxiológicas que dizem respeito à construção da cidadania e transformação das relações nos diversos âmbitos da vida das pessoas que usam o serviço.

1292 SAÚDE MENTAL - PREVENÇÃO E REINSERÇÃO SOCIAL ATRAVÉS DA RODA DE CONVERSA: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA.
Reviane Santos Bernardo

SAÚDE MENTAL - PREVENÇÃO E REINSERÇÃO SOCIAL ATRAVÉS DA RODA DE CONVERSA: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA.

Autores: Reviane Santos Bernardo

Reviane Santos Bernardo, Suely Mascarenhas, Adriana Rosmaninho Caldeira Oliveira A saúde em sentido amplo, é um bem indisponível de toda pessoa, sendo sua promoção, dever do Estado e direito do cidadão brasileiro.  A roda de conversa é um método participativo, de ressonância coletiva que consiste na criação de espaços de diálogo, em que pessoas podem se expressar e, sobretudo, escutar os outros e a si mesmos. Seu referencial teórico parte da articulação de autores da psicologia social, da psicanalise e da educação. Seu fundamento metodológico se alicerça nas oficinas de intervenção psicossocial, tendo por objetivo a constituição de um espaço onde seus participantes reflitam acerca   do cotidiano. Atualmente as rodas de conversas são bastante utilizadas como ferramentas na prevenção e promoção de saúde de pessoas privadas de liberdade no sistema prisional, criando possibilidades de produção e ressignificação de sentido – saberes – sobre as experiências vivenciadas dentro do cárcere e pós cárcere. Nesse contexto, este trabalho tem como objetivo: Relatar os benefícios da roda de conversas como ferramenta na prevenção e promoção de saúde mental de mulheres privadas de liberdade. Método: Trata de um estudo exploratório, realizado no Hospital de Custodia e Tratamento Psiquiátrico na cidade de Itamaracá /PE a partir das rodas de conversas.  Os encontros eram iniciados com uma atividade prática: dinâmicas, atividades lúdicas terapêuticas, desenhos, vídeos, e também, através da reflexão direta sobre o tema que era discutido de acordo com a percepção das necessidades do grupo. utilizando papel, lápis de cor, lápis e borracha para atividades expressivas e apresentação em slide show para visualização mais dinâmica Foram realizadas aproximadamente 10 rodas de conversa, semanais com um público de 15 mulheres, em média, com uma hora e meia de duração. Os temas foram escolhidos de acordo com a percepção das necessidades que elas apresentavam no momento.  Resultados: Com a execução da roda temas como: identidade, visão do futuro, autoconfiança, autoestima, família, trabalho, sexualidade, resiliência, autodeterminação, e projeto de vida.  Os temas foram discutidos a partir do conhecimento que elas possuíam, criando um espaço de discussão da experiência de cada uma e possibilitando a partir deste momento um espaço para reflexão em grupo na busca por identificação e cooperação entre elas. A fim de ter capacidade de reconhecer suas emoções e suas potencialidades, e assim, fortalecê-las em buscar alternativas para melhorar suas fragilidades nestas mesmas questões. Conclusão: Da análise das informações aportadas pela pesquisa, conclui-se que, a roda de conversas pode ser usada como importante instrumento na prevenção e promoção de Saúde mental de pessoas privadas de liberdade por favorecer a identificação de riscos e de vulnerabilidade e o fortalecimento da prevenção, tendo como princípio, a efetiva promoção de saúde. Por fim pode se observar que a roda de conversas, pode funcionar com um método de intervir nas dificuldades, visando fortalecer e instrumentalizar o grupo na busca do clareamento de suas queixas e a compreensão de sua participação nos problemas e soluções, frente à complexidade do processo de ressocialização.

3539 A PRÁTICA DE GRUPOS TERAPÊUTICOS EM CENTROS DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL – CAPS II: um relato de experiência no Município de Santarém-PA
Nilce da Silva Baltazar, Inglith Rodrigues de Lima, Rogéria da Silva Farias, Maria das Dores Carneiro Pinheiro, Eliane dos Santos Campos

A PRÁTICA DE GRUPOS TERAPÊUTICOS EM CENTROS DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL – CAPS II: um relato de experiência no Município de Santarém-PA

Autores: Nilce da Silva Baltazar, Inglith Rodrigues de Lima, Rogéria da Silva Farias, Maria das Dores Carneiro Pinheiro, Eliane dos Santos Campos

Os grupos terapêuticos são caracterizados como um tipo de encontro, realizado por pessoas que exercem um contato face a face, a qual promove uma integração e troca de vivências entre sujeitos de diversos contextos sociais, culturais e com suas particularidades. Os grupos terapêuticos do Centro de Atenção Psicossocial – CAPS II, são realizados semanalmente, com o objetivo de promover a interação e troca de vivências entre os usuários. Nesse sentido, este estudo objetiva apresentar a importância das práticas exercidas nos grupos terapêuticos realizados no CAPS II do Município de Santarém-PA. Utilizou-se como metodologia de estudo, vivências tidas por estagiários do curso de Psicologia durante o Estágio Básico de saúde II, na qual embasaram-se no fazer psicológico juntamente com usuários e equipe técnica atuante do CAPS II. Os grupos terapêuticos eram realizados semanalmente com a presença de usuários cadastrados no CAPS II, e juntamente com a equipe técnica de saúde que atua no local, com duração de cerca de uma hora e meia por encontro, por meio de técnicas como dinâmicas, acolhimento e troca de vivências. Entende-se através da experiência tida no CAPS II, que os grupos terapêuticos são estratégias utilizadas para promover a inclusão e integração dos usuários do Centro, bem como um meio de fortalecer para gerar no sujeito um sentimento de pertencimento para com o lugar e com a equipe de saúde atuante.  As práticas realizadas dentro dos grupos terapêuticos promovem aos usuários uma participação continuada, promovendo assim diálogos empáticos, na busca pelo resgate da autonomia desse sujeito. Ressalta-se também que, dentro dos grupos terapêuticos é trabalhado o processo da redução de danos para com o uso de álcool e outras drogas, e para a boa execução desta estratégia, os grupos terapêuticos se fazem imprescindíveis.

3959 O processo de identidade grupal no CAPS: Construindo a autonomia e cidadania na coletividade
Camila da Silva

O processo de identidade grupal no CAPS: Construindo a autonomia e cidadania na coletividade

Autores: Camila da Silva

1.Introdução: A trajetória do ser humano não se limita a si mesmo, onde parte do seu desenvolvimento se dá a partir de outros, onde conclui-se que grupos possuem um papel bastante importante no comportamento e na subjetividade das pessoas. Define-se o grupo como uma unidade que se dá quando os indivíduos interagem entre si e possuem normas e objetivos comuns. Entende-se por identidade de grupo, aquilo que o caracteriza como tal frente a outros grupos. O Centro de Atenção Psicossocial II do município de Ponta Grossa no Paraná, desenvolve ações pautadas em eixos considerados essenciais dentro do processo de reabilitação da pessoa em sofrimento mental como a autonomia, cidadania, expressividade, controle social, etc. Quando realizadas em grupo, essas ações possibilitam a troca de experiências, o compartilhamento de vivências e principalmente a escuta e o apoio dos outros participantes, não limitando o tratamento na medicalização e em atendimentos individualizados dentro de um consultório, onde a liberdade, coletividade e dinamismo tornam-se fundamentais no processo terapêutico. 2.Objetivos: Viabilizar o trabalho em grupo dentro do serviço CAPS a partir da significação da sua função, partindo da lógica da partilha, territorialização, apoio mútuo entre os participantes e desenvolvimento da autonomia e cidadania de maneira coletiva. 3. Método: A atividade de identidade grupal foi desenvolvida em quatro encontros. A primeira proposta de trabalho foi a confecção de um “porta-retrato” que representasse o grupo através de uma atividade de corte e colagem. Cada usuário foi convidado a procurar em revistas algo que eles gostassem e que se identificassem. O objetivo era reconhecer as singularidades de cada um na construção do todo. A proposta do segundo encontro foi a construção coletiva dos objetivos do grupo, onde os usuários discutiram ativamente e definiram diversos objetivos, de maneira bastante consensual. Isso contribuiu na percepção de cada um em relação aquilo que há de comum entre eles. No terceiro encontro foi feita a divisão do grande grupo em grupos menores, tendo como critério a proximidade das residências dos usuários, sendo então solicitado que fizessem levantamento de recursos e dispositivos encontrados em seus territórios, como por exemplo: serviços de saúde, serviços da assistência social, lugares de lazer, etc. Após esse levantamento, foi solicitado que cada grupo elegesse um local para visitarem e realizar uma atividade não habitual em grupo e que pudessem no próximo encontro compartilhar com os demais. No último encontro os grupos puderam relatar as suas visitas para os demais e por fim, foi realizado um feedback com todos sobre esses quatro encontros. 4.Resultados: Ao fim dos encontros percebeu-se uma melhora no vínculo entre os participantes com a equipe, maior interação e maior participação nas decisões e atividades do grupo, transformando-o em um lugar mais acolhedor e efetivo no tratamento. Percebeu-se também um maior reconhecimento do próprio território e daquilo que pode-se utilizar, bem como o incentivo ao lazer e contribuição no desenvolvimento do senso crítico, cidadania e autonomia de cada um.    

1091 Deslocamentos na pesquisa em saúde coletiva a partir dos encontros com a Comunidade Indígena Potyguara de Mosenhor Tabosa-Ceará
Maria Lidiany Tributino de Sousa

Deslocamentos na pesquisa em saúde coletiva a partir dos encontros com a Comunidade Indígena Potyguara de Mosenhor Tabosa-Ceará

Autores: Maria Lidiany Tributino de Sousa

Acompanhar a trajetória dos encontros com as pessoas pertencentes à comunidade indígena dos Potyguaras em Monsenhor Tabosa no Ceará, bem como o que afetou dos filmes assistidos, das participações em eventos, das leituras de livros, artigos, jornais e documentos, possibilitou deslocamentos e aproximações com os modos de vida em combinação. Pode-se apreciar processos de subjetivação com questões macroestruturais imbricadas, assim como encontrar também traçados de singularização. O desejo esteve em percorrer os mapas de singularidades que não estão, completamente, subjugados pelas tramas das instituições, identidades e categorias conceituais, buscando deslocamentos e não origens. Os mapas foram uma redistribuição de passos, impasses, e descobertas de novas terras. Ao longo do trabalho de campo e dos encontros com as lideranças, surgiram perguntas acerca da ideia de saúde indígena e dos “devires que o modelo de saúde dominante diz ser impossível” (DELEUZE, 1997, p. 3). Assim, esses contatos ofereceram espelhos que refletiram o adoecimento dessa expressão Saúde Indígena na literatura acadêmica, e o pensamento humilde, marginal e “minoritário” de Deleuze abriu linhas de fuga para ver o mais simples, criando frestas em campos institucionais e sociais rígidos, pois parte-se do desejo de que mesmo com a criação de identidade fechadas, algo “vaza de todos os lados” (DELEUZE, 2006, p. 127). A experiência nas comunidades indígenas tem aproximado os pesquisadores de combinações vividas de saúde que não se restringem a ausência de doença, mas integra a ideia de adoecimento, bem como das relações entre vida espiritual, convivência comunitária e ecológica. Falar de saúde para o Potyguaras é dizer dos seus antepassados e do seu presente, inclui o conhecimento sobre as plantas medicinais; tratamento natural (ervas, barro, água, pedra, fumaça, terra); trabalho do pajé, curadores, rezadores e parteiras; cuidados com as crianças, com os velhos e o ambiente, assim como do seu contato com o sistema formal de saúde. Vai se percebendo o quanto essas pessoas são geradoras de novos agenciamentos, outras configurações técnicas, políticas, estéticas e éticas de produção de saúde e de si. Desse modo, anda-se por entre terras do que se produz como saúde, e o corpo acorda e passa a fluir e ser afetado, estando vivo não como instrumento, mas como uma combinação de sensações. Não se tem a pretensão de medir ou enquadrar essas combinações, mas possibilitar que elas causem mutações na forma de ver, escutar e pensar dos pesquisadores. Que os devires possam romper com os padrões e séries produzidas pelas concepções de saúde. Também não se pretende mitigar os devires transformando-os em modelos ou referências, mas se contaminar pelas intensidades e deixar que esses fluxos desmanchem essas ideias de saúde como unidade. 

1941 BARREIRAS ENFRENTADAS POR UMA COMUNIDADE INDÍGENA DO EXTREMO ORIENTE DA AMAZÔNIA NO ACESSO À SAÚDE INTEGRAL E CULTURALMENTE EMBASADA
SANDE DE ALMEIDA MOREIRA, ERIKI HIROYUKI CUNHA MIYAZAKI, TÁSSIO RICARDO MARTINS DA COSTA, HENRIQUE CALIXTO SANTOS DA SILVA, JOBSON DA MOTA FONSECA, WILLIAM DIAS BORGES

BARREIRAS ENFRENTADAS POR UMA COMUNIDADE INDÍGENA DO EXTREMO ORIENTE DA AMAZÔNIA NO ACESSO À SAÚDE INTEGRAL E CULTURALMENTE EMBASADA

Autores: SANDE DE ALMEIDA MOREIRA, ERIKI HIROYUKI CUNHA MIYAZAKI, TÁSSIO RICARDO MARTINS DA COSTA, HENRIQUE CALIXTO SANTOS DA SILVA, JOBSON DA MOTA FONSECA, WILLIAM DIAS BORGES

Apresentação: No Brasil, historicamente existem indiferenças, discriminação e desrespeito às idiossincrasias culturais dos povos indígenas. Além disso, é notável o descaso à saúde e políticas desses povos, consequentemente os índios vêm sendo expropriados e exterminados revelando, assim, a triste realidade da atenção à saúde indígena no Brasil. Contudo, a Teoria da Enfermagem Transcultural aponta novos rumos para o cuidado e atenção em saúde de povos específicos e com diferentes crenças e culturas. Objetivo: Esse estudo objetiva-se refletir sobre atenção à saúde indígena e as barreiras enfrentadas por uma comunidade indígena do extremo oriente da Amazônia no acesso à saúde integral e culturalmente embasada. Método: Trata-se de um relato de experiência pontual que se propõe a descrever um tema ainda pouco explorado no meio acadêmico, partindo da descrição da realidade vivenciada e do aporte teórico. Esse estudo foi realizado a partir de levantamentos bibliográficos, palestras de membros de uma comunidade indígena do extremo oriente da Amazônia e as experiências de professores e monitor a respeito das barreiras para o acesso à saúde integral e a teoria da Enfermagem Transcultural de Leininger que expressa a diversidade e universalidade do cuidado cultural dos povos indígenas. Resultados: Entre as barreiras relatadas sobre o acesso a saúde destacam-se: A localização  dessa comunidade, a qual está concentrada em pequenas e afastadas regiões no extremo oriente da Amazônia, o que contribui para as dificuldades no acesso aos programas assistenciais e sociais na perspectiva da integralidade; A rotina de trabalho esporádica dos profissionais nas aldeias, em especial do médico, pois apenas a equipe de enfermagem permanece nesses locais por um período de tempo maior; O conflito ambiental, como a exploração ilegal de madeira no território indígena, pois existe uma suposta associação parental de integrantes da equipe de saúde com madeireiros e consequentemente conflitos e desconfiança dos indígenas para com parte da equipe ao ponto de serem suspensos alguns serviços do Posto de Saúde nas aldeias; As crenças, cultura, rituais e métodos próprios de lidar com o processo saúde-doença da comunidade; A carência estrutural das Redes de Atenção à Saúde no âmbito da Média e Alta complexidade para a continuidade do acesso à saúde e A dificuldade na seleção de profissionais para trabalharem na comunidade. Considerações Finais: O desrespeito cultural e social, além da falta de boas estratégias fortalecem as barreiras entre os povos indígenas e a saúde com qualidade. Traçar estratégias entre governo-profissionais-comunidade é imprescindível para resolver problemas e superar barreiras.

2314 Reflexões sobre o protagonismo de moradores de uma comunidade indígena citadina na promoção da saúde
Mayara dos Santos Ferreira, Marcelo Gustavo Aguilar Calegare, Rayza de Sousa Ramos, Renata Fernanda Cabral Ramos, Rosa Mirtes Araujo, Simone da Graça Campelo

Reflexões sobre o protagonismo de moradores de uma comunidade indígena citadina na promoção da saúde

Autores: Mayara dos Santos Ferreira, Marcelo Gustavo Aguilar Calegare, Rayza de Sousa Ramos, Renata Fernanda Cabral Ramos, Rosa Mirtes Araujo, Simone da Graça Campelo

Há muito tempo percebem-se a existência de processos migratórios, e a presença de povos indígenas em contexto de cidade. Posto isto, consideramos a necessidade de direcionar devida atenção às condições de saúde que se fazem presentes nesses contextos. Alguns autores apontam como um dos principais fatores da migração dessa população às cidades, a dificuldade de acesso à saúde e educação. No Amazonas, sobretudo por questões geográficas, considerando a extensa área de rios que dão acesso às comunidades ribeirinhas e de base, percebe-se a locomoção de moradores destas localidades, para áreas citadinas, na tentativa de facilitar tais acessos. Considerando os pressupostos da Psicologia Social, área de estudo que tem direcionado suas reflexões e atuações acerca de camadas populares, fora realizado um projeto de extensão, que deu base para os apontamentos aqui apresentados. Através da Pesquisa Ação Participante, utilizando como instrumentos de coleta entrevistas semi-estruturadas, conversas informais, e reuniões com moradores e liderança, este estudo foi desenvolvido na comunidade indígena Sol Nascente, localizada na zona norte da cidade de Manaus. Os relatos dos moradores desta comunidade apontam para dados preocupantes a respeito da saúde. Uma das colocações da liderança comunitária diz respeito a ausência de políticas públicas direcionadas para a realidade indígena citadina, sobretudo acerca da saúde. Afirma-se que ao procurarem serviços em alguns hospitais e unidades básicas, o atendimento lhes é negado, e cotidianamente justificado com o discurso de que não estão oficialmente na área a qual estes setores são responsáveis. Esta questão nos remete a outra problemática que inicialmente parece não estar associada à promoção da saúde, e diz respeito a legalização/demarcação das terras indígenas. A comunidade Sol Nascente está localizada em uma área de ocupação, atualmente em processo de legalização perante o Estado, processo este que já vem se estendendo há cerca de quatro anos. Isto faz com que, mesmo a comunidade estando localizada entre dois grandes e reconhecidos bairros da cidade de Manaus (Francisca Mendes 2 e Alfredo Nascimento), esta não se encaixe na área de atendimento proposta pelos dispositivos de saúde presentes. Ponderamos então, a relevância de considerar aspectos estruturais na promoção da saúde de modo a agregar todas as variáveis que envolvem o acesso à saúde de comunidades indígenas, sobretudo em ambientes de cidade. Alguns discursos expõem ainda a dificuldade de atendimento em dispositivos de saúde associada ao fato direto de ser indígena. Há relatos de que muitas vezes profissionais destes setores negam-lhes atendimento em razão de considerarem que esta assistência deve ser realizada por setores especializados, voltados somente para a população indígena, como por exemplo, a Casa de Saúde Indígena (CASAI) que na verdade atua como um hospital de trânsito para pacientes indígenas de outras procedências, e, neste caso não se aplica aos moradores indígenas residentes na cidade de Manaus. Diante disto, também percebemos a necessidade de maior contato das realidades indígenas citadinas nos dispositivos de atendimento em saúde da cidade de Manaus, com o intuito de orientar e informar os profissionais desta área em suas atuações nesse contexto. Diante destas considerações, refletimos sobre o processo de articulação da comunidade como atores sociais, de modo a minimizar as problemáticas em relação à saúde, e alcançar acesso a estes serviços, até então negados ou dificultados. Assim, percebemos que o protagonismo da comunidade em relação a possíveis mudanças e melhoras no contexto da saúde, é possibilitado principalmente pela presença de ações da igreja católica, através do desenvolvimento de atividades da pastoral da saúde. As atuações da pastoral da saúde, promovidas por uma igreja do bairro vizinho, tem promovido autonomia dos moradores da comunidade, formando multiplicadores. As atividades são estabelecidas pelos membros da pastoral da igreja, mas quem as efetiva no ambiente da comunidade são os próprios moradores, considerando suas particularidades, inclusive étnicas. Os principais responsáveis pelas ações semanais e mensais são líderes (internos à comunidade) orientados pela pastoral, que correspondem a um grupo de moradoras da Sol Nascente. As atividades propostas tem permitido mapear e registrar o desenvolvimento das crianças da comunidade. O grupo responsável visita as casas, conversam com as famílias, passam algumas informações pertinentes à manutenção da saúde, e uma vez por mês fazem medição e pesagem das crianças. As informações são repassadas aos setores da pastoral, que por sua vez, posteriormente, também formulam novas ações na comunidade e orientam as líderes moradoras. Verificamos de forma nítida que a comunicação entre as mulheres líderes da pastoral na comunidade, com seus moradores, é favorecida através das visitas nas casas e da proximidade que é promovida através destas, fortalecendo os laços sociais e comunitários. Percebemos que a presença das ações de saúde da pastoral da igreja católica, promove mesmo que de forma tênue, o desenvolvimento de protagonismo dos membros da comunidade, e a multiplicação de atores sociais na promoção da saúde. Apesar de considerarmos um grande déficit a realidade indígena na cidade ainda precisar depender de ações assistenciais de setores além do Estado, ponderamos a necessidade e a articulação da própria comunidade na promoção da saúde que é possibilitada através da pastoral, esta que tem sido uma das – senão a principal – ação no estabelecimento de saúde das crianças deste lugar. Os atores sociais desta comunidade, tem se destacado principalmente pelas ações de membros da liderança comunitária, que de forma autônoma, buscam alternativas de facilitar o acesso dos moradores da comunidade aos dispositivos de saúde, em busca de atendimentos, que, principalmente, considerem as suas especificidades culturais, étnicas e estruturais. O que podemos perceber diante desta realidade, é uma grande dificuldade desta população acessar os setores de saúde, mas que acaba por ser parcialmente sanada, pelos próprios moradores. Diante desta problemática estes tem se articulado com diversas outras coletividades e instituições, no intuito de tentar alcançar os acessos até então não efetivados. Considerando os relatos e as observações realizadas, notamos que formas tradicionais indígenas de cuidado com a saúde são resgatadas a partir desta realidade, notadas principalmente através da utilização de plantas medicinais na confecção de remédios e chás caseiros. Podemos ponderar que os conflitos e as necessidades têm impulsionado os moradores da comunidade na busca pela sua resolução – inclusive perante o Estado através de reivindicações formais – e esta articulação, principalmente entre as mulheres e mães da comunidade – promovida pelas ações da pastoral – tem fortalecido suas relações em rede. Por fim consideramos que mesmo que, por muitas vezes por intermédio de ações externas a comunidade, os moradores da Sol Nascente tem se empenhado em estruturar práticas que possibilitem acesso e estruturação dos serviços que lhe são negligenciados. Deste modo, estes sujeitos tem se inserido de forma atuante em seus espaços sociais e promovido ações de mudança em sua realidade, com o objetivo de melhorar suas condições de saúde e qualidade e vida.

704 A luta feminista pela atenção integral à saúde da mulher.
Ana Letícia Santos Silva

A luta feminista pela atenção integral à saúde da mulher.

Autores: Ana Letícia Santos Silva

Quando se discute a saúde da mulher, são levantadas sempre as questões óbvias e limitadas: relações sexuais; HPV e gestação. O que levanta outra questão para o debate: A mulher é única e exclusivamente definida pelo seu órgão reprodutor? A resposta é “Sim” não por causa do modelo sociocultural ao qual estamos submetidos, mas por conta dos processos de formação social pelos quais a imagem da mulher passou ao longo dos séculos. É quase inevitável falar em saúde feminina e não pensar na imagem do ginecologista. Em 2010, foi apontado que mais da metade da população brasileira é composta por mulheres, em uma pesquisa feita pelo IBGE e mesmo assim a política de saúde voltada para o sexo Feminino era, e ainda é pouco explorada e, mesmo com a supervalorização da reprodução, assuntos como a vacinação gratuita contra o HPV só começaram a serem postos em pauto em meados de 2013, mesmo que no maior estado do país, Amazonas, a morte de 35% da população feminina é causada pelo Câncer no colo do Útero. Hipócrates tratava a Histeria como uma doença de caráter psicológico partido do não cumprimento do papel biológico da mulher, a qual podia ser curada a partir da gestação, ligada ao matrimônio. Na Revolução industrial do Século XIX os papéis de gênero foram “firmados” tornando a maternidade algo célebre, resultando na atual apresentação da mulher como parte da sociedade, que é confinada aos trabalhos domésticos, destinadas à maternidade e aos fatores subsequentes. É aqui que a saúde voltada para elas, limita seu papel à procriação, ignorando o fato de que a saúde feminina consiste em fatores biológicos, psicológicos e sociais exclusivos do gênero. Saúde da mulher nunca foi o ponto, este sempre apontou única e exclusivamente para reprodução. (Renata Mencacci,2015) É partindo disso que se entende a luta por uma atenção integral à saúde da mulher como parte da luta feminista. No entanto, com a chegada do século XXI e o progresso emancipação, a mulher vem conquistando seu espaço e abrindo mão de “obrigações” antes impostas pelos já mencionados papéis de gênero. A saúde da mulher começou a requerer novos olhares, voltados não só para o ventre. Mas, a figura feminina ainda está ligada ao doméstico, o que resultou na dura vida da trabalhadora na sociedade brasileira que lida com a dupla jornada e seus males. Pouco se discute o fato de que a rotina das brasileiras é marcada pelo estresse e, diminuir as obrigações femininas é quase impossível, e isso fez com que os principais meles a saúde da mulher no Brasil sejam o Estresse, doenças Cardiovasculares, câncer de mama e Osteoporose e que de todos, apenas o câncer recebe a devida atenção, talvez porque qualquer problema nos seios interferiria no papel da maternidade, nada comprovado, mas isso nos leva a questão principal do texto, aonde o movimento feminista ainda não conseguiu desconstruir: A mulher é única e exclusivamente definida pelo seu órgão reprodutor? A resposta continua sendo “Sim”.

3428 “ACENDE CANDEIA, CANDEIA ACENDE LÁ, O MATO, A TERRA E O MAR”: REFLEXÕES SOBRE AS RESISTÊNCIAS COMUNITÁRIAS A PARTIR DO PROCESSO DE TERRITORIALIZAÇÃO DA RESIDÊNCIA INTEGRADA EM SAÚDE EM SÃO GONÇALO DO AMARANTE – CE
Wanessa Maria Costa Cavalcante Brandão, Beatriz de Sousa Pinho, José Edmilson Silva Gomes, Marcela Maria Araújo Braga, Raphaelle Santos Monteiro, Victor Brunno Moreira Gomes, Iara Vanessa Fraga de Santana

“ACENDE CANDEIA, CANDEIA ACENDE LÁ, O MATO, A TERRA E O MAR”: REFLEXÕES SOBRE AS RESISTÊNCIAS COMUNITÁRIAS A PARTIR DO PROCESSO DE TERRITORIALIZAÇÃO DA RESIDÊNCIA INTEGRADA EM SAÚDE EM SÃO GONÇALO DO AMARANTE – CE

Autores: Wanessa Maria Costa Cavalcante Brandão, Beatriz de Sousa Pinho, José Edmilson Silva Gomes, Marcela Maria Araújo Braga, Raphaelle Santos Monteiro, Victor Brunno Moreira Gomes, Iara Vanessa Fraga de Santana

Esse estudo surge a partir das reflexões advindas da inserção no cenário de prática enquanto equipe da IV Turma da Residência Integrada em Saúde (RIS/ESP). A experiência pioneira de Educação Permanente no município de São Gonçalo do Amarante, situado no litoral oeste cearense, ocorre no período de 2017-2019, através da ênfase – Saúde da Família e Comunidade. O processo de territorialização evidenciou uma série de protagonismos no que se refere à mobilização, inclusão produtiva, arte e produção de cuidado na comunidade Amarantina. Diante disso, buscamos aqui, identificar algumas resistências comunitárias no município de São Gonçalo do Amarante a partir do processo de Territorialização da RIS/ESP. Para isso, procuramos descrever algumas experiências de mobilização, inclusão produtiva, arte e produção de cuidado no cenário de prática e apontar as principais possibilidades e desafios de intervenção em saúde junto aos protagonistas locais. O cenário local enfrenta um processo de expansão industrial acelerado, sobretudo, pela ampliação do Complexo Industrial e Portuário do Pecém (CIPP), fato que desde a década de 1990, acarreta mudanças nos processos de trabalho, saúde e doença da comunidade. A instalação do Porto, dos Parques Eólicos, da Termelétrica, da Siderúrgica e da recém-aprovada Refinaria coloca em cheque os modos de vida da população ali residente. Apesar do cenário, as comunidades continuam resistindo aos impactos do CIPP de diversas formas. Ao definirmos o território a partir de seu conceito ampliado utilizado na saúde, compreendemos este, não só pela limitação de espaço ou demografia, mas também, como espaço material e imaterial, que comporta relações sociais, espaço de disputas (políticas, econômicas e culturais), modos de vida, de produção (trabalho), especificidades ambientais e regionais, particularidades nas formas de organização e identidade da comunidade que ali habitam ou que compõem a rotina da população flutuante. O cotidiano no território aparece como resultado das relações entre os diversos aspectos que o compõem, concebendo nesse contexto, relações de disputas entre os modos de vida das populações tradicionais e os grupos que detém o poder hegemônico. A Territorialização fomentada pela Escola de Saúde Pública do Ceará para a IV Turma RIS/ESP e a revisão de literatura subsidiou metodologicamente este trabalho. A partir de Rigotto; Santos (2011) a territorialização é ferramenta primordial na organização dos processos de trabalho-produção e no reconhecimento da relação entre saúde-ambiente na Atenção Básica, devendo aquela, ocorrer de forma permanente e intersetorial. O intuito do processo não foi o mapeamento geográfico das áreas de abrangência, mas sim, a apreensão da dinâmica social que impacta as relações de produção da tríade saúde-doença-intervenção. As particularidades da questão regional do Nordeste, por exemplo, demandam uma atenção especial no que se refere à territorialização como ferramenta de operacionalização do SUS. Ao reconhecermos a conformação sócio-histórica dessa região, a partir da trajetória de emigrações, mendicância e enfrentamento ao semiárido, percebemos as singularidades expressas nas formas tradicionais de produção da saúde, assim como, as determinações do adoecimento dos diversos grupos populacionais. Pudemos identificar algumas experiências de mobilização, inclusão produtiva, arte e produção de cuidado. Com destaque para a Associação de Moradores de Acende Candeia, que desenvolve atividades de produção agrícola e inclusão produtiva, mesmo diante de um cenário de crise hídrica, assim como, a Associação de Mulheres Anacetaba no bairro da Lagoinha, que transformam as cabaças em peças de decoração, como tentativa de superação das diversas vulnerabilidades; Os mestres do Coco e do Reisado que protagonizam um movimento intergeracional de arte e cultura, e, que lutam cotidianamente contra a invisibilidade e desvalorização, diante do novo cenário econômico e social no Pecém; A organicidade da população Anacé que tem sido potencializada na atualidade, a partir dos processos de mobilizações e resistências frente às obras de perfusão de poços no Aquífero do Cumbuco, Barra do Cauípe, Jenipapeiro (Silpé), Taíba e Pecém, com destaque, para uma Ação Popular junto ao Ministério Público da União, o que nos últimos dias trouxe a revogação das obras em prol do abastecimento hídrico do CIPP. As rezadeiras e curandeiros locais, que têm produzido processos de cuidado em saúde, fomentando o saber popular em saúde historicamente construídos no município. Diante do exposto, podemos apontar que a aproximação desses protagonistas comunitários tem sido fundamental para as intervenções junto as Estratégias de Saúde da Família, ancoradas nos potenciais existentes no município, nos seus modos de fazer saúde, cultura e arte, e, ainda geração de renda. As assessorias junto a Farmácia Viva, a Rádio Escola CUCA, as oficinas de produtos naturais, ambas, ativadas pela Educação Popular em Saúde tem sido um dos mecanismos da equipe de fomentar os saberes e potenciais comunitários. A valorização desses potenciais comunitários tem possibilitado ações em saúde ancoradas na realidade social, fomentando no cotidiano dos serviços a necessidade de valorização e protagonismo desses sujeitos. Já no que se refere aos desafios, percebemos que a própria lógica de expansão Industrial tem modificado a sociabilidade das comunidades, as desapropriações e acentuação da população flutuante fazem com que os níveis de organicidade da população sejam impactados. Por reconhecermos o Território no Sistema Único de Saúde (SUS) como matriz e matéria prima de trabalho, especialmente a partir da estruturação da regionalização, hierarquização e descentralização como diretrizes do sistema e a Estratégia de Saúde da Família (ESF) como ordenadora do serviço, pautamos que as equipes de referência definam a organização dos processos de trabalho a partir do território, vinculado a adscrição de clientela por microáreas, mas, sobretudo, a partir da conformação sócio-histórica da comunidade. Segundo Oliveira e Furlan (2008) os “olhares” para o conceito de território impactam nos processos de saúde-doença-intervenção, demandando além de competência técnica, compromisso ético-político no sentido de intervir de forma comprometida com a população, nas correlações de forças existentes nos territórios/serviços. Ao considerarmos as determinações sociais da saúde existentes no território como “fatores sociais, econômicos, culturais, étnicos/raciais, psicológicos e comportamentais que influenciam a ocorrência de problemas de saúde e seus fatores de risco na população” Buss; Filho (2007), faz-se necessária a observância das relações de poder, da organização dos serviços e do modo de vida da comunidade, para o reconhecimento dos territórios a partir da territorialização como metodologia de diagnóstico e reconhecimento situacional da Rede de Atenção à Saúde. Como síntese, percebemos que a população local não tem sido favorecida com as ofertas de emprego e os movimentos populares se deparam com a devastação dos recursos naturais e desvalorização dos seus saberes. Nos territórios em disputa estão os mestres do Samba de Coco e Reisado, as (os) artesãs (os), os jangadeiros, as marisqueiras, as rezadeiras, curandeiras e população indígena Anacé, que têm promovido saúde e trabalho intergeracional junto às comunidades locais. Reconhecemos que a Residência Integrada em Saúde Comunitária tem diversos desafios para desenvolver intervenções em saúde junto a comunidade, especialmente frente à poluição ambiental, desapropriações, deslocamento logístico e cenário do desmonte do SUS, porém ações pautadas no resgate dos saberes tradicionais em saúde, recorrente no cotidiano da população local têm sido incorporados no cenário de prática como forma de enfrentamento ao cenário crítico e multifacetado.