Inadmissivelmente chegamos nesta semana à triste marca de mais de 450 mil brasileiras e brasileiros mortos pela Covid-19. A desvalorização da vida e as desigualdades sociais serviram de terreno fértil para o vírus no Brasil. As populações vulnerabilizadas são as que mais morrem, além da rápida disseminação entre trabalhadoras e trabalhadores de serviços essenciais e informais, em meio à situação de esgotamento do setor saúde, exaustão de profissionais e da capacidade dos serviços em várias cidades.
Atravessamos o mês de abril com uma média móvel de cerca de 3.000 mortes diariamente. Com a adoção de medidas restritivas por prefeitos e governadores e avanço da vacinação nos grupos prioritários, e apesar da queda no mês de maio para cerca de 2.000, não pode ser naturalizado. Aponta-se ainda que, diante da inserção de novas variantes em solo nacional, o aumento dos casos diários e o relaxamento das medidas de isolamento indicam a possibilidade de uma situação ainda mais dramática nas próximas semanas com uma terceira onda.
Mesmo com esse quadro de calamidade pública, o Governo Federal continua atuando na contramão da responsabilidade sóciossanitária. Não há orientação quanto à absoluta necessidade de execução das medidas de prevenção e proteção social cientificamente embasadas. Ao contrário, incentivam-se atividades que levam a população a se expor a maior risco, dando exemplos negativos e estimulando aglomerações sociais e o não-uso de máscaras, a exemplo do ato realizado no último domingo (23/05) junto ao general da ativa e ex-ministro Eduardo Pazuello e apoiadores no RJ, que ainda contou com flagrantes ataques à democracia.
Esse não foi um ato isolado. O governo Bolsonaro, ao longo da pandemia, operou uma estratégia institucional deliberada de disseminação do vírus pelo país com o intuito de atingir a tão propagada “imunidade de rebanho”. Ações relevantes de enfrentamento, que deveriam ter sido lideradas pelo governo federal, foram negadas, desconsideradas e/ou sabotadas pelo presidente Jair Bolsonaro. A ausência de coordenação nacional entre as esferas de governo, testes armazenados sem uso, recursos financeiros retidos e minimização do potencial letal da doença são alguns exemplos.