287: A saúde dos estudantes e os processos de adoecimento mental | |
Ativador: Fernando Lopes Tavares de Lima | |
Data: 29/10/2020 Local: Sala 15 - Távolas de trabalhos Horário: 08:00 - 10:00 | |
ID | Título do Trabalho/Autores |
5870 | NÍVEL DE ESTRESSE EM UNIVERSITÁRIOS Juliana Farias Vieira, Lenara da Silva Carvalho, Andressa Regielly Sousa Araújo, Yago dos Santos Quintas, Irineia de Oliveira Bacelar Simplício NÍVEL DE ESTRESSE EM UNIVERSITÁRIOSAutores: Juliana Farias Vieira, Lenara da Silva Carvalho, Andressa Regielly Sousa Araújo, Yago dos Santos Quintas, Irineia de Oliveira Bacelar Simplício
Apresentação: O estresse se caracteriza como um mecanismo fisiológico do organismo que libera mediadores químicos frente a situações que provocam determinada tensão. Ele pode prejudicar a qualidade de vida, o bem-estar e a saúde do ser humano, uma vez que exige esforço máximo, e algumas vezes, pode ultrapassar os limites suportáveis do indivíduo). A carga horária exaustiva, o curto período para entrega de tarefas, o estudo de conteúdos extensos, a auto cobrança e outros fatores podem afetar a saúde do acadêmico, causando exaustão e ameaçando a saúde biopsicossocial e espiritual do estudante. Objetivo: Mostrar os níveis de estresse em acadêmicos de enfermagem de uma Universidade pública no Estado do Pará. Método: Constitui-se de uma pesquisa exploratória, descritiva, de abordagem quantitativa. Realizado no primeiro semestre de 2019, a amostra foi obtida através da aplicação de questionário semiestruturado composto por 19 questões para identificação de dados sócio demográficos e aplicação do Inventário de Sintomas de Stress de Lipp (ISSL), com acadêmicos do 1° ao 10° semestre. Os dados foram tabulados e processados em uma planilha do Microsoft Office Excel Resultado: Dos 135 acadêmicos matriculados regularmente no curso de enfermagem na instituição onde foi realizado o estudo, 105 responderam ao questionário. Desses, 82% eram do sexo feminino, com idade entre 16 e 59 anos; 96% declararam-se solteiros; 40% declararam renda familiar de 3 salários mínimos ou mais; 89% não trabalham; 62% afirmam participar de atividades de extensão promovidas pela universidade; 79% não se sentem bem repousados quando acordam pela manhã; 66% classificam seu sono como pior do que se possa imaginar; 58% realiza alguma atividade física; 62% declararam já ter utilizado algum recurso com o objetivo de tentar reduzir o estresse e 61% já pensaram em abandonar o curso. Em se tratando das fases do estresse mensuradas pelo Inventário de Sintomas de Stress de Lipp (ISSL) observou-se que dos acadêmicos estressados a maioria encontra-se na fase de resistência (47%), seguido pela fase de exaustão (29%), e o restante dos alunos (25%) não foram classificados, ou seja, não se encontram em fase de alerta, resistência ou exaustão. Ressaltando que os acadêmicos cursando o primeiro semestre do curso de Enfermagem apresentaram maior percentual de estresse (28%) em relação as demais turmas. O estudante encontra na universidade uma realidade nova e diferente, que exige do mesmo maior dedicação. Os cursos da área da saúde contribuem para ocorrência do estresse, pois a cada período surgem novas exigências, habilidades e competências que necessitam ser desenvolvidas e, consequentemente, elas vêm em ordem crescente, o que pode ser um dos fatores que demarcam as diferenças apresentadas entre o primeiro ano e os demais. Nesse contexto, observou-se no presente estudo que os universitários buscam aliviar o estresse por meio de recursos externos a universidade, dentre os quais destacamos a atividade física como sendo o meio mais citado pelos alunos, correspondendo a um percentual de 67%. A prática de atividade física tem sido indicada como possível modo de minimizar o estresse e suas reações negativas ao organismo, uma vez que é comprovado fisiologicamente que determinados exercícios estimulam a liberação de endorfinas e proporcionam uma sensação de bem-estar físico e mental. No estudo realizado por Lemes et al relata-se que o exercício físico como hábito de cuidado em saúde, tem se mostrado tão efetivo quanto as técnicas mais tradicionais na redução dos níveis de estresse. Na pesquisa, verificou-se também o uso de drogas lícitas ou ilícitas correspondendo a um percentual de 34% como meio utilizado para reduzir o estresse. Sabe-se que ao ingressar na universidade o estudante encontra-se em um período de mudanças e adaptações, porém alguns acadêmicos não conseguem se adaptar bem as exigências que essa nova fase impõe, ficando suscetíveis ao início do uso de álcool e de outras drogas. Dessa forma, a população universitária encontra-se em um grupo de risco para o uso de tais substâncias. O estudo realizado por Trindade, Diniz e Júnior caracteriza o consumo de drogas como forma de fugir do estresse imposto pela graduação, entre os quais verificou-se em comum com o presente estudo a autonomia forçada que os recém universitários são obrigados a ter, pois muitos saem da casa de seus pais para morar sozinhos ou com amigos levando-os a enfrentar situações que testam seus próprios limites. Considerações finais: O estudo evidenciou os níveis de estresse na rotina do acadêmico de enfermagem, mostrando como o desejo de fuga da realidade pode levar o indivíduo a buscar meios que funcionem como “válvula de escape” e como esse comportamento pode ocasionar prejuízos diretamente na saúde biopsicossocial e espiritual. Nota-se que a grande maioria dos entrevistados tem qualidade de vida afetada, o que é evidenciado pelo sono prejudicado, ausência de bem estar ao acordar, pensamento de desistência, entre outros. Com isso, pelo menos metade dos entrevistados busca algum recurso saudável para melhoria do quadro de estresse, desse modo, constatou-se no estudo que o recurso mais utilizado pelos acadêmicos para combater o estresse é a prática de atividade física. O uso de drogas lícitas ou ilícitas apresentou um percentual de 34% como meio utilizado para reduzir o estresse, hábito considerado arriscado uma vez que tem grande capacidade de comprometer ainda mais o quadro de estresse do acadêmico. O inventário de sintomas de stress de Lipp (ISSL) evidenciou as fases de estresse nas quais os acadêmicos estão classificados, onde a maioria encontra-se na fase de Resistência e outra grande parcela em Exaustão. Isso mostra a necessidade que os estudantes têm de gozar de um acompanhamento profissional efetivo a fim de melhorar a qualidade de vida e o rendimento acadêmico. O objetivo de um enfermeiro assim como de todo e qualquer profissional da saúde é ofertar qualidade de vida aos seus pacientes, no entanto, este profissional deve considerar em primeiro plano sua própria saúde, para então prestar assistência à comunidade. Ressalta-se que o cuidado com a devida saúde deve ser incentivado desde a formação acadêmica, buscando assim, evitar futuros profissionais doentes, frustrados e insatisfeitos. |
11871 | ESTRESSE E DEPRESSÃO EM ACADÊMICOS DA SAÚDE DE UM CAMPUS DO INTERIOR DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS Elane da Silva Barbosa, Sabrina Macely Souza dos Santos, Tarcia Alfaia de Almeida, Rodrigo da Silva Pereira, Eliana Rodrigues Tiago ESTRESSE E DEPRESSÃO EM ACADÊMICOS DA SAÚDE DE UM CAMPUS DO INTERIOR DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONASAutores: Elane da Silva Barbosa, Sabrina Macely Souza dos Santos, Tarcia Alfaia de Almeida, Rodrigo da Silva Pereira, Eliana Rodrigues Tiago
Apresentação: Muitos transtornos psiquiátricos atualmente são considerados “doenças do século” ou “doenças da geração Y/Z” por sua maior visibilidade na era contemporânea, entretanto pode-se afirmar que essa denominação provém da maior busca e conscientização populacional acerca da importância da saúde mental, muito além e concomitante à saúde e integridade física do ser humano. Com diversas causas, a depressão é um transtorno psiquiátrico conhecido como “mal do século” com dados epidemiológicos preocupantes e estimativa de milhões de pessoas mundialmente acometidas, principalmente entre 15 e 29 anos. Enquanto o estresse, estudado por Hans Seyle, consiste numa síndrome de adaptação geral aos fatores, subdividido em três fases (Alerta, Luta e Exaustão) pode ser fator predisponente a outros transtornos quando não há reversão. O presente trabalho aborda um projeto de pesquisa intitulado por “A relação entre depressão e estresse em acadêmicos da área da saúde do Instituto de Saúde e Biotecnologia (ISB) de Coari-AM” realizado em 2017 por acadêmicas de medicina da Universidade Federal do Amazonas (UFAM) ao longo do módulo de Dimensões Psicológicas de uma disciplina da grade curricular no campus supracitado, no município de Coari – localizado há cerca de 367km em linha reta da capital amazonense. O projeto buscou relacionar os transtornos psíquicos de estresse e depressão – que embora comuns, especialmente em acadêmicos e profissionais da saúde, ainda são negligenciado não somente por instituições, mas também no próprio convívio social, tendo em vista a diversidade de fatores contribuintes para o desencadeamento deles, incluindo a transição do ensino médio para a o ensino superior, a vida fora de casa e a busca por uma carreira profissional com muitas cobranças da vida adulta em jovens procedentes da adolescência – além de traçar um perfil psicológico entre os acadêmicos de diferentes cursos da saúde do campus, comparar os resultados e relacioná-los entre os transtornos estudados. Desenvolvimento: O estudo realizado no ISB/UFAM em 2017, de caráter exploratório-descritivo, foi feito com um total de 24 acadêmicos selecionados ao acaso, sendo o único critério de seleção ser aluno da área da saúde do campus – entre 18 e 28 anos e um de 47, a maioria do sexo feminino – dos cursos de Medicina (5), Fisioterapia (9), Nutrição (5) e Enfermagem (5) do Instituto de Saúde e Biotecnologia (ISB/UFAM), no campus de Coari. Foram utilizados dois instrumentos de coleta de dados, ambos com questões fechadas, sendo o Teste de Lipp (ISS) – Inventário de Sintomas de Stress – com as três fases do estresse, 35 sintomas somáticos e 10 sintomas psicológicos, e o Inventário de Depressão de Beck (IDB) que consiste em um questionário com 21 itens para usar entre adolescentes e adultos. Resultado: Do total de participantes, 18 deles são mais acometidos e encontram-se no início da graduação. A maioria apresenta resultado pertinente à Fase de Luta/Resistência (Fase II) do Estresse, sendo unanime nos discentes de Medicina, maioria na Fisioterapia e o maior equilíbrio foi entre os de Enfermagem. Já os graus de Depressão destacaram-se acadêmicos do curso de Fisioterapia, porém sem níveis expressivos quantitativamente para o teste, bem como grande parte dos entrevistados nos cursos de Enfermagem e Nutrição que se classificam em Depressão Leve. Quase 71% (17) dos entrevistados apresentam algum nível de estresse e 54% (13) de depressão e, com isso, foi possível observar que, conforme dados bibliográficos, quem possui esse transtorno tende sempre a desenvolver ansiedade ou depressão, além de gastrite ou qualquer outro sintoma não psicológico; da mesma forma, pessoas com quaisquer níveis de depressão diagnosticados apresentam algum nível de estresse, todavia vale ressaltar que a recíproca não é obrigatória, funcionando o estresse apenas como uma predisposição à depressão. Assim, após análise dos dados do estudo, foi constatado, por curso, que os entrevistados do curso de nutrição sem níveis de estresse não desenvolveram nenhum grau de depressão; na fisioterapia comprova-se pelos acadêmicos sem índices depressivos, mas com estágios intermediários de estresse e predisposição à desenvolvê-la, bem como os demais também em fase intermediária que apresentam grau de Depressão Moderada. Dentre os discentes do curso de medicina – uma peculiaridade dentre os demais cursos, pois nesse caso só havia uma turma de 11 alunos no campus no período e ano da pesquisa, assim sendo todos os acadêmicos da primeira turma, que além das dificuldades ao longo da graduação, se deparam com o pioneirismo do curso no campus no interior do Amazonas – todos os 5 participantes encontraram-se na segunda Fase de Estresse (Luta) com algum grau de Depressão associado, desde o Leve ao Grave que, inclusive, esse último manifestava predisposição à Fase de Exaustão/Esgotamento do Estresse. Considerações finais: Diante dos dados expostos e, levando em consideração que a formação profissional na vida desses alunos é de fundamental importância, com seus percalços e singularidades, o surgimento de transtornos psicológicos como estresse e depressão são comuns. O estudo pode comprovar que as pontuações de estresse acompanharam gradativamente os escores de depressão, correlacionando o objetivo esperado e reafirmando diversos outros estudos na literatura. Os níveis encontrados na pesquisa são superiores ao da população em geral e podem ser explicados pela necessidade de adaptação da nova rotina – seja de estudos conciliando ou não com inserção no mercado de trabalho, a temática da vida adulta, muitas vezes longe da família e do antigo convívio social – com desgastes emocionais, ambientes competitivos, grande carga de novas informações a serem assimiladas, além da vivência em centros de saúde nos seus diversos níveis de complexidade e da pressão pela responsabilidade diante da vida de seu futuro paciente. O curso que ganha destaque no estudo é o de Medicina com os maiores níveis de estresse e depressão associados entre si, explicado na literatura pelo elevado conteúdo de estudo, exigências das disciplinas, ritmo exorbitante das avaliações, aprendizado voltado para memorização a curto prazo contrapondo gestão de tempos livres para lazer. Os impactos do estudo mostraram a necessidade, não somente no Instituto de Saúde e Biotecnologia mas em todas as instituições de ensino, especialmente de saúde que visam formar profissionais para cuidarem da saúde dos seres humanos, mas no decorrer do processo negligenciam a própria, a implementação de programas efetivos a fim de diagnosticar quadros depressivos e reduzir fatores estressantes no meio acadêmico, com criação de projetos de combate ao estresse pelos órgãos/departamentos sociopsicológicos da Universidade, como sugerido ao final do estudo, a fim de proporcionar lazer, relaxamento e novas vivências ao discentes durante a própria rotina das atividades acadêmicas. |
12242 | VIOLÊNCIA INSTITUCIONAL: UMA PESQUISA-AÇÃO ACERCA DO CURSO DE MEDICINA DA UFF Larissa Helena Marineli Pereira, Sônia Maria Dantas Berger, Larissa da Silva Gonçalves, Lucas Caetano de Oliveira, Guilherme Andrade Campos, Ana Luiza Jacob Veríssimo, Mirian Teresa de Sá Leitão Martins VIOLÊNCIA INSTITUCIONAL: UMA PESQUISA-AÇÃO ACERCA DO CURSO DE MEDICINA DA UFFAutores: Larissa Helena Marineli Pereira, Sônia Maria Dantas Berger, Larissa da Silva Gonçalves, Lucas Caetano de Oliveira, Guilherme Andrade Campos, Ana Luiza Jacob Veríssimo, Mirian Teresa de Sá Leitão Martins
Apresentação: A violência institucional, presente no cotidiano da graduação de Medicina da Universidade Federal Fluminense (UFF), pode assumir múltiplos significados e formas. Tal violência é entendida como aquela que, independente do tipo, é exercida no contexto de uma instituição, apresentando-se nos diversos níveis de relações interpessoais – como entre professor-aluno ou entre colegas de turma. Em grande parte, no ambiente da faculdade, ocorre por meio de práticas sem coerção física, o que acarreta em danos morais e psicológicos para o estudante de medicina em geral. Conforme resultados de revisão de literatura realizada, em publicações que possuem a saúde do estudante de Medicina como temática central, essa problemática é ilustrada pelos índices de suicídio referentes a esse grupo, bem como pela suscetibilidade destes discentes aos sintomas de ansiedade, depressão e síndrome de Burnout. Ademais, é observado que recortes socioeconômico, de gênero e de etnia possuem relevância no estudo sobre a violência institucional no curso de Medicina, haja vista que esse meio acadêmico historicamente é caracterizado como elitista e majoritariamente branco. A importância de que os pesquisadores atentem para os diferentes recortes é corroborada pela modificação do perfil de aluno nas universidades desde instituição da Lei 12.711/2012, na qual 50% das matrículas federais estão reservadas para alunos do sistema público de ensino, sendo uma parte reservadas aos alunos negros (pretos e pardos). Valendo-se das evidências obtidas durante uma pesquisa-ação, estratégia metodológica de pesquisa qualitativa utilizada para problematizar e demarcar conceitual e metodologicamente a violência no curso de Medicina da UFF e viabilizar mudanças, foi possibilitada a reflexão e a melhor compreensão das percepções e vivências de alunos e professores envolvidos nesse contexto. A pesquisa-ação prevê uso de técnicas e estratégias onde os sujeitos possam se incluir como indivíduos e coletividades, sendo os tradicionais objetos de pesquisa alçados à posição de sujeitos do conhecimento, com potencial para problematizar, investigar e transformar a própria realidade. Desse modo, o estudo suscitará o desenvolvimento de estratégias em prol da saúde desses estudantes, além do aprimoramento das abordagens adotadas no modelo atual para o enfrentamento das situações que tangenciam a questão da violência institucional, caracterizadas até então como não resolutivas ou insuficientes. Para compreensão do contexto da violência, foram estudados textos de Pierre Bourdieu, Marilena Chauí e Lilia Schraiber para domínio dos aspectos da violência simbólica, dos conflitos entre violência e ética e dos aspectos metodológicos, éticos e epistemológicos no campo da violência, gênero e saúde, o que proporcionou um debate muito rico, com a quebra de pré-conceitos sobre o tema. Já para a compreensão inicial do contexto institucional, foi realizada a análise documental das atas das reuniões de colegiado e dos relatórios das conferências curriculares, eventos em que são estabelecidas demandas por parte do corpo discente para toda a comunidade acadêmica que se relaciona com a medicina. Na análise das reuniões de colegiado, o direcionamento dos objetivos se fez pela leitura dos textos das atas e prospecção das pautas e temáticas relacionadas às situações de violência e às situações em que se discutiu a formação de mecanismos de apoio ao estudante em situação de violência e sofrimento mental. Em adendo, analisou-se os momentos em que a necessidade de construção de programas de apoio ao estudante em sofrimento mental foi pautada. No estudo das atas foi possível entender um pouco mais sobre o funcionamento da faculdade de medicina, verificando-se que o colegiado é visto pelos alunos como um lugar onde podem levar queixas a respeito de violências sofridas do âmbito da formação, esperando uma solução. No entanto, em nenhuma das situações o apoio sistemático à pessoa em situação de violência foi identificado. Acerca das conferências curriculares, foi observada dificuldade no cumprimento do currículo da Faculdade de Medicina da UFF e as demandas apresentadas pelos alunos, em sua maioria, são itens já presentes nas Diretrizes Nacionais Curriculares para os Cursos de Medicina, elaboradas pelo MEC em 2014. Questões como necessidade de integração, articulação e interdisciplinaridade, maior enfoque no que realmente é importante para o curso de medicina - e não para o que o/a professor/a entende ser importante a partir de sua formação, cobranças inadequadas em avaliações, respeito ao horário de aula e maior articulação do colegiado e coordenação de curso para verificação do seguimento do currículo se repetem segundo registros e documentos das conferências. O processo de pesquisa-ação seguiu por meio de seminários de pesquisa e/ou rodas de conversa com a rede de atenção a pessoas em situação de violência para levantamento de informações necessárias à formação da equipe de pesquisa, construção de questionários, roteiros de entrevistas e grupos focais e produção de material educativo. A roda com o “SOS Mulher HUAP”, programa que apoia vítimas de violência sexual e doméstica e com os próprios pesquisadores do projeto, que vivenciam a universidade diariamente, foi uma intervenção processual potente. A abertura de um espaço de reflexão e expressão para os alunos-pesquisadores (sujeitos-objetos da pesquisa) colocou em cena diversas situações vivenciadas pelos mesmos e/ou que tinham conhecimento de ter ocorrido com colegas. Foi possível observar que mesmo passando na prática por essas situações, os alunos não têm acesso a informações acerca da definição de violência, os tipos de violência e quais as ações possíveis diantes desses casos dentro e fora da universidade. Dessa forma, ao longo do processo da pesquisa, foi elaborada uma cartilha, que permitiu a aquisição de novos conhecimentos sobre o assunto entre o grupo de pesquisadores e que em breve será disponibilizada para todos os alunos da universidade. Essa pesquisa-ação tem contribuído, através do incremento de conteúdos técnico-cognitivos sobre a violência institucional, para fornecer aos discentes ferramentas que viabilizem uma melhor compreensão e identificação de situações nas quais essa violência se faz presente, tanto durante o curso da graduação em Medicina, como após sua formação no cotidiano prático, possibilitando uma atuação crítica, o que permite que esses tenham um olhar diferenciado sobre a violência. No seguimento do campo estão ainda previstas entrevistas estruturadas com docentes e alunos representantes de turma, além de grupos focais com discentes. A pesquisa já ganhou reconhecimento da comunidade acadêmica e recebeu menção honrosa. Conclui-se, portanto, a necessidade de que os resultados obtidos na construção e execução da pesquisa sejam repassados para os demais alunos de medicina, visto que houve uma ampliação da noção de violência entre os alunos, um maior engajamento com as questões da universidade e uma melhoria no entendimento do sofrimento mental consequente dessa violência, bem como estratégias e dispositivos a serem utilizadas para combater esse sofrimento. |
7005 | AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DE VIDA DO ESTUDANTE DE MEDICINA E SUA INFLUÊNCIA NA FORMAÇÃO ACADÊMICA NO PRIMEIRO ANO DO CURSO DE MEDICINA Joyce Fernandes Costa, Eleazar Sidney Maillard Oliveira, Raiza da Silva Pereira, Ana Maria Florentino AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DE VIDA DO ESTUDANTE DE MEDICINA E SUA INFLUÊNCIA NA FORMAÇÃO ACADÊMICA NO PRIMEIRO ANO DO CURSO DE MEDICINAAutores: Joyce Fernandes Costa, Eleazar Sidney Maillard Oliveira, Raiza da Silva Pereira, Ana Maria Florentino
Apresentação: A Qualidade de Vida foi escolhida como eixo temático de pesquisa com o propósito de reduzir o abismo existente entre o desenvolvimento científico e tecnológico e, o autocuidado do profissional de saúde. Entende-se, portanto que com o ingresso no curso de medicina o estudante enfrenta uma carga horária por vezes exaustiva, e que pode ocasionar um decréscimo de atividade física, o sedentarismo, sendo este um dos fatores predisponentes da depressão. Ao longo da vida acadêmica no curso de medicina e até mesmo depois como profissional da área médica, é necessário haver um planejamento do tempo, abrangendo tanto as atividades acadêmicas/profissionais quanto as sociais como, prática de atividades físicas, acesso à cultura, arte e lazer. Além disso, é importante que desde a academia o aluno se perceba vulnerável, buscando cuidados com a própria saúde, e dessa forma elevando a qualidade de vida e promovendo a saúde do acadêmico e futuro médico, para que seja formado um profissional com estabilidade emocional para lidar com vulnerabilidades de si e de outrem. O objetivo foi avaliar a influência da qualidade de vida na formação acadêmica do curso de medicina, além de conhecer a influência da formação acadêmica na qualidade de vida dos estudantes de uma Universidade privada no município do Rio de Janeiro. Desenvolvimento: O método inicial utilizado foi a revisão integrativa, utilizando bases de dados, como SciELO, portal de periódicos da CAPES e BVS (Biblioteca Virtual em Saúde) priorizando os últimos cinco anos. Termos descritores utilizados: Medicina, Depressão, Estudante, Estresse, Rendimento Acadêmico e Qualidade de Vida. Critérios de inclusão na pesquisa foram os alunos que estejam no primeiro ano do curso de medicina da Instituição de Ensino Superior (IES) em questão, estejam na sua primeira formação de nível superior e o de exclusão aqueles que não iniciaram o curso nesta IES. O estudo de campo será longitudinal, porém, os dados ora apresentados são de natureza descritiva e exploratória, e compreende como um estudo preliminar se caracterizando como um estudo transversal numa abordagem quantitativa, com aplicação de um questionário já validado na literatura com o objeto semelhante. O universo amostral foi de 60 (sessenta) discentes do primeiro ano da faculdade. A coleta de dados constou da aplicação do questionário WHOQOL – ABREVIADO. As análises foram interpretadas no sentido positivo, fazendo-se a inversão dos valores da escala Likert para aquelas afirmações com sentido negativo para uma boa qualidade de vida. Desta forma, cada item foi analisado em porcentagem que poderá chegar ao total de 100% de qualidade (positiva). A pesquisa foi submetida à aprovação do Comitê de Ética da Universidade, sob o número do CAAE, 12550919.2.0000.5284. Todos os procedimentos propostos e aprovados foram seguidos, garantindo confidencialidade e direito de não aceitar participar da pesquisa. Resultado: Participaram desta primeira etapa 60 alunos do primeiro ano do curso de medicina da referida IES. Dois estudantes foram excluídos por não preencherem o critério de cursar medicina nesta instituição desde o primeiro período. A idade média dos estudantes que participaram da pesquisa foi de 33 anos (18-48 anos), destes, 40% estavam entre 21-23 anos, sendo a faixa etária mais expressiva, seguida da faixa dos 18-20 anos, com 30% dos estudantes. Em relação ao sexo, foram 32 (56,7%) mulheres e 25 (41,7%) homens, 1 estudante preferiu não informar o sexo. Quanto à questão – como os acadêmicos se autoavaliam em relação à qualidade de vida como estudante de medicina – 32 alunos (53,3%) apresentaram resultados classificados como de 7-9, em uma escala de 0-10. Não houve alunos que avaliaram em 0 ou 1 sua qualidade de vida como estudante de medicina. Em relação à qualidade de vida geral, 40 alunos (66,6%) apresentaram resultados classificados como de 7-10, em uma escala de 0-10, apenas 1 aluno (1,7%) avalia sua qualidade de vida geral em 0. Quando perguntados sobre sua saúde, 35% sentem-se satisfeitos ou muito satisfeitos, os que responderam muito insatisfeitos ou insatisfeitos, totalizam também 35%. Em relação à necessidade de tratamento médico para levar a vida diária apenas 20%, respectivamente como extremamente (5%) e bastante (15%). Quando perguntados em relação a frequência de sentimentos negativos como mau humor, desespero, ansiedade e depressão, 1,7% responderam nunca, 33,3% algumas vezes, 21,7% dos indivíduos relataram sempre ter sentimentos negativos e 18,3% muito frequentemente. Em relação ao quanto acham que a vida tem sentido, uma parcela importante, 38,3% respondeu bastante, 36,7% respondeu extremamente e 1,7% respondeu nada, ou seja, a vida não tem nenhum sentido. Sobre as oportunidades de realizar atividades de lazer, apenas 2% responderam completamente, e cerca de 90% relataram muito pouco ou médio. Quando se trata da qualidade do sono, apenas 17% estão muito satisfeitos ou satisfeitos. Aliado a isso, aparece o quanto você consegue se concentrar, 2% relatam extremamente, e 36,7% bastante. Discussão: A percepção de qualidade de vida dos universitários do curso médico pode ou não ser afetada pela graduação em seu decorrer quando ele não se percebe como sujeito e a parte importante para o seu cuidado. Nesse caso, o estresse, decorre então da dificuldade em administrar o tempo exigido pelas diferentes disciplinas e o lazer. Soma-se a isso a grande valorização do desempenho acadêmico durante a graduação, que é diminuído com fatores como falta de sono e atividades de lazer durante o período de aulas. Todos esses fatores contribuem para o esgotamento do estudante, caracterizando a Síndrome de Burnout, um distúrbio emocional ocasionado por excesso de pressão no ambiente acadêmico/profissional e que cursa com sintomas relacionados ao próprio esgotamento tanto físico quanto emocional. Os desafios que o novo universitário precisa enfrentar e que envolvem desde a imaturidade (X̅=18 anos) comum para encarar o meio acadêmico, a competitividade que se mantém e se acentua, tal como a experiência de sair de casa para morar próximo à faculdade, vivendo um processo de separação da família, e viver sozinho com pessoas de diferentes criações e comportamentos até as dificuldades para organizar o tempo de estudo, o novo ritmo de aulas, os afazeres domésticos do dia a dia e a frustração ao entrar em contato com as cadeiras básicas que, no currículo tradicional, além de apresentarem pouca relação com a medicina prática, possuem conteúdos extensos. Considerações finais: Ao estudante do primeiro ano é exigido uma dedicação tanto para o estudo de estruturas anatômicas, quanto para o conhecimento de comportamentos fisiológicos na saúde e na doença, aliados a problemas na didática e na forma de ensino predominantemente bancária. Neste sentido, a formação acadêmica parece ainda estar voltada para o desempenho intelectual. Apesar de disciplinas como Orientação Psicopedagógica e Saúde da Família já estarem presentes na maioria dos currículos médicos, parece haver ainda certa negligência com a inteligência emocional e as habilidades sociais necessárias ao crescimento profissional e ao bem-estar psicológico do indivíduo no decorrer da formação médica. Dessa forma, o treinamento de habilidades sociais e criação de espaços de lazer na Universidade surgem como possibilidades de intervenção para atuar nesse contexto, a fim de colaborar com a formação humana, social e emocional dos acadêmicos. |