289: Educação Permanente como ferramenta de gestão nos processos de trabalho no cotidiano
Ativador: ELAINE FRANCO DOS SANTOS ARAUJO
Data: 29/10/2020    Local: Sala 15 - Távolas de trabalhos    Horário: 13:30 - 15:30
ID Título do Trabalho/Autores
10000 PLANO DE EDUCAÇÃO PERMANENTE EM SAÚDE DE PERNAMBUCO 2019-2022: DA CONSTRUÇÃO AO MONITORAMENTO
Juliana Siqueira Santos, Célia Maria Borges da Silva Santana, Emmanuelly Correia de Lemos, Gustavo Rego Muller de Campos Dantas, Luisa Macedo Cavalcante, Luciana Camêlo de Albuquerque, Neuza Buarque de Macêdo, Bruno Costa de Macedo

PLANO DE EDUCAÇÃO PERMANENTE EM SAÚDE DE PERNAMBUCO 2019-2022: DA CONSTRUÇÃO AO MONITORAMENTO

Autores: Juliana Siqueira Santos, Célia Maria Borges da Silva Santana, Emmanuelly Correia de Lemos, Gustavo Rego Muller de Campos Dantas, Luisa Macedo Cavalcante, Luciana Camêlo de Albuquerque, Neuza Buarque de Macêdo, Bruno Costa de Macedo

Apresentação: A Secretaria Estadual de Saúde de Pernambuco tem desenvolvido diversas estratégias para implementar a Política de Educação Permanente em Saúde desde a sua criação pelo Ministério da Saúde. Mas foi a partir da Portaria GM/MS nº 1996/2007 que a política estadual se estruturou por meio da implantação de doze Comissões de Integração Ensino Serviço (Cies) regionais e uma Cies estadual, regulamentada por meio da portaria SES-PE nº 541/2014. Entre 2008 e 2017 foram elaborados Planos de Ação Regionais (PAREPS) e cinco Planos Estaduais de Educação Permanente em Saúde. Um dos grandes avanços da PNEPS, além de afirmar o lugar estratégico da educação permanente como política de estado, foi a previsão de financiamento específico e regular. No entanto, a partir de 2012, o financiamento, que, de alguma forma auxiliava na indução da implementação da política nos estados e municípios, é interrompido. No período mais recente é importante destacar a tentativa de retomada da Política Nacional por meio do Programa de Fortalecimento das Práticas de Educação Permanente em Saúde – PRO EPS-SUS (Portaria GM/MS nº 3.164/2017), que apesar de não definir novos repasses regulares, incentivou a construção dos Planos Estaduais de Educação Permanente em saúde nos estados. O objetivo deste relato foi descrever a experiência de construção e monitoramento do plano de educação permanente em saúde em Pernambuco – PEEPS 2019-202Desenvolvimento: A construção do PEEPS iniciou em 2018 com a realização do IV Seminário Estadual de Educação Permanente em Saúde. O encontro debateu o histórico, a conjuntura e as perspectivas da PNEPS, em torno do tema principal O SUS e a Política de Gestão da Educação na Saúde: conjuntura e estratégias de SUStentabilidade. As etapas da construção do plano foram: I- Seminário Estadual de Educação Permanente em Saúde; II- Oficina Estadual de Elaboração do Plano Estadual de Educação Permanente em Saúde; III- Pactuação na CIB (Resolução CIB/PE nº 5036/2018) e no Conselho Estadual de Saúde (Resolução CES/PE nº 772/2018); IV- Oficinas Regionais para consolidação dos Planos Regionais de Educação Permanente em Saúde; V - Oficina de consolidação do Plano Estadual de Educação Permanente em Saúde. Esse processo foi coordenador pela Diretoria Geral de Educação na Saúde e Escola de saúde Pública de Pernambuco (ESPPE) junto à grupo de trabalho estruturado a partir da Cies estadual, e realizado de forma descentralizada e regionalizada. O monitoramento foi realizado nos meses de novembro e dezembro de 2019 por meio de duas oficinas regionais (I e II; III e IV macrorregião de saúde). Participaram das referidas etapas gestores municipais e estaduais, trabalhadores da saúde, controle social, Instituições de Ensino, áreas técnicas da SES, movimentos sociais e atores estratégicos da política de educação permanente no âmbito estadual e nacional. Para cada etapa de construção do Plano foi produzido um relatório com os debates realizados e encaminhamentos pactuados entre os atores participantes, o que posteriormente seria utilizado para orientar a implantação de ações estratégicas e para o monitoramento das mesmas de acordo com cada especificidade regional. Para execução/desenvolvimento do PEPS-PE, foram realizadas as seguintes ações estratégicas: I- mobilização dos atores nas regionais de saúde para realização de oficinas por região de saúde com o objetivo de capilarizar as vivências da construção do Plano com os municípios. II- realização de oficinas por região de saúde para implantação das ações do Plano; III- realização de oficina macrorregional para monitoramento das ações realizadas e debate sobre as ações planejadas pelas regionais de saúde e municípios, por meio da Cies Regional. O PEPS-PE foi organizado em seis eixos: 1) governança da política estadual de educação permanente em saúde em Pernambuco; 2) desenvolvimento da gestão e do controle social no SUS; 3) desenvolvimento e disseminação de capacidade pedagógica no SUS; 4) SUS Escola; 5) Desenvolvimento da atenção - Redes integradas e linhas de cuidado 6) Comunicação e gestão do conhecimento aplicado ao SUS.  Resultado: Foram realizados 1 seminário estadual (91 participantes), 3 oficinas com as equipes técnicas das áreas e políticas estratégicas da Secretaria Estadual de Saúde, 2 reuniões do grupo de trabalho, 2 Oficinas Estaduais (Cies estadual ampliada), 5 oficinas regionais (548 participantes), 2 encontros de monitoramento e planejamento das ações regionais e municipais (95 participantes). Todo o processo foi planejado, monitorado e avaliado nas reuniões ordinárias da Cies estadual. Os produtos foram 8 relatórios, 1 plano estadual quadrienal de educação permanente em saúde (EPS), 12 planejamentos regionais. Os Planos de Ação regionais tiveram sua construção iniciada nas oficinas de planejamento que ocorreram no final de 2019, para acompanhamento e apoio da Secretaria Estadual de Saúde ao longo de 2020. Foram definidas as seguintes ações estratégicas para o ano de 2020: reestruturação das Cies regionais, realização de oficinas para implantação de núcleo de EPS municipal e regional; Qualificação dos Núcleos hospitalares de educação permanente em saúde; qualificação da integração ensino serviço regionais. Resultado: para gestão: qualificação do trabalho colaborativo com as áreas técnicas da SES; promoção de formação em EPS de forma transversal para os evolvidos; maior aproximação/reconhecimento das necessidades/demandas de acordo com as realidades regionais. Inclusão da EPS como pauta transversal nas ações/colegiados/instancias gestoras no nível central da Secretaria Estadual de saúde, nas regiões de saúde e municípios.  Considerações finais: O PEPS de Pernambuco foi construído de forma colaborativa por meio de espaços técnicos e pedagógicos com diferentes sujeitos/atores da educação na saúde, entendendo que a educação permanente em saúde deve ser a estratégia ordenadora da formação e desenvolvimento de trabalhadores e das interações ensino-atenção-gestão-participação. Seguiu-se da mesma forma para a realização do monitoramento, incluindo já nesse processo o assessoramento e a EPS aos trabalhadores e gestores das áreas técnicas da SES. Esse movimento possibilitou ainda a discussão sobre o papel e importância das Cies regionais e os desafios para sua consolidação. Sobre o financiamento, destaca-se que o Plano de Educação Permanente em Saúde apresentado demanda recursos federais, estaduais e municipais para o seu desenvolvimento. Trata-se de uma política pública estratégica para o desenvolvimento dos trabalhadores da saúde, tendo como foco a necessidade de saúde da população e o fortalecimento do SUS. Dessa forma, incluiu-se no PEPS –PE  a previsão  de captação de recursos federais para complementar o financiamento estadual, como uma responsabilidade tripartite.

7967 OS EFEITOS DA EDUCAÇÃO PERMANENTE EM SAÚDE NO COTIDIANO DO TRABALHO E NA VIDA DOS TRABALHADORES
Renata Figueiró, Maria Adriana Moreira, Thayana Oliveira Miranda, Fabiana Mânica Martins, Antônia Naida Pereira do Nascimento, Josiane de Souza Medeiros, Gabriela Duan Farias Costa

OS EFEITOS DA EDUCAÇÃO PERMANENTE EM SAÚDE NO COTIDIANO DO TRABALHO E NA VIDA DOS TRABALHADORES

Autores: Renata Figueiró, Maria Adriana Moreira, Thayana Oliveira Miranda, Fabiana Mânica Martins, Antônia Naida Pereira do Nascimento, Josiane de Souza Medeiros, Gabriela Duan Farias Costa

Apresentação: O objetivo deste trabalho é apresentar os impactos positivos que a Educação Permanente em Saúde – (EPS) têm proporcionado na vida e nos corpos dos trabalhadores da Secretaria Municipal de Saúde (SEMSA) de Tefé (AM), bem como na melhoria do processo de trabalho, com ênfase na valorização profissional. O projeto de Educação Permanente em Saúde que tem como tema “A Educação Permanente como Eixo norteador no agir dos trabalhadores da SEMSA Tefé”, desde 2017, após sua implementação ganhou destaque no município, através de seus inúmeros feitos e efeitos. Entre estes, podemos destacar a maior participação e interação dos profissionais de saúde em seus setores e até mesmo junto às equipes de trabalho. Participação esta que permitiu que esses trabalhadores tivessem voz, fossem protagonistas das suas histórias no trabalho, tivessem autonomia para decidir e opinar quando solicitado, favorecendo seu desempenho profissional e consequentemente melhorando o relacionamento e contato com o outro. O processo de escuta permitiu que a gestão pudesse ter um olhar diferenciado para esses profissionais que no dia a dia apresentam necessidades que muitas das vezes vão além das problemáticas de materiais e equipamentos, mas que também apresentam fragilidades tanto pessoais quanto profissionais que interferem diretamente nos resultados do trabalho. Dessa forma, trabalhar a Política Nacional de Educação Permanente em Saúde - PNEPS é sempre um grande desafio para a gestão e para os trabalhadores, uma vez que não é fácil mudar hábitos corriqueiros que não beneficiam o trabalho, tais como ideias e pensamentos fragmentados e individualistas. Sendo assim, o grupo de facilitadores de EPS da SEMSA Tefé, procurou desenvolver ao longo destes dois anos, um trabalho de excelência voltado ao cuidado, à participação dos trabalhadores, da comunidade e da gestão participativa contribuindo no processo de formação e qualificação dos profissionais de saúde, investimento em materiais, equipamentos e estrutura, bem como incentivos para o crescimento profissional, beneficiando principalmente os usuários do Sistema Único de Saúde. Desenvolvimento: O trabalho de EPS em Tefé, após o prêmio conquistado em 2018 na Mostra Brasil aqui Tem SUS no CONASEMS em Belém (PA), deu um salto quanto as ações desenvolvidas. Foi a partir do reconhecimento desse trabalho que os facilitadores de EPS conseguiram organizar-se através do Fórum de Facilitadores que periodicamente passou a acontecer, assim como as oficinas de EPS com todos os setores da SEMSA que foram realizadas em 2018 e continuam até hoje sendo desenvolvidas pelos facilitadores. Cada subgrupo de facilitadores ficava encarregado de desenvolver as atividades com esses trabalhadores, mantendo assim um elo de confiança e afeto junto a eles. O “tempo protegido” é também umas das conquistas desses trabalhadores, que é justamente por meio desse tempo estabelecido em portaria à partir de janeiro/2019 que se concretizou e reforçou a importância e o papel de cada trabalhador para realizar EPS em seu setor. O tempo protegido é um espaço conquistado pelos trabalhadores que semanalmente durante quatro horas, tem a oportunidade de sentar e participar de momentos de escuta sobre suas maiores problemáticas encontradas no trabalho, mas, destacamos ainda que esse tempo protegido é usado ainda para a realização de cursos/qualificações onde os trabalhadores são liberados e respaldados através desta portaria para se aperfeiçoar e assim melhorar o serviço. Resultado: Vale lembrar ainda, a 1ª Mostra Municipal de EPS com a apresentação de trabalhos exitosos no município, onde foram inscritos 20 trabalhos de profissionais de saúde e alunos de cursos técnicos de saúde. Outro ponto importantíssimo é o investimento e incentivo da Gestão na participação em Congressos e eventos fora do estado para os trabalhadores de saúde, afim de aprimorar seus conhecimentos e incentivá-los a melhoria do trabalho, além da conquista de um espaço físico – o Auditório para as atividades de EPS da secretaria. Entre tantos fatores positivos, é importante frisar o investimento da gestão em qualificar e formar trabalhadores em outras habilidades, como foi o caso do Curso de Auriculoterapia ofertado pelo Ministério da Saúde através da Universidade Federal de Santa Catarina, onde pôde contar com 10 profissionais da SEMSA Tefé em 04 estados brasileiros, garantindo a certificação destes como Auriculoterapeutas, fator este que têm ganhado cada vez mais destaque em Tefé em virtude da implantação das Práticas Integrativas e Complementares em Saúde ­- PICS que vêm transformando a vida não somente dos trabalhadores envolvidos, como também dos cidadãos assistidos. A SEMSA Tefé investiu em capacitações e oficinas de escrita para os trabalhadores, afim de contribuir na escrita de trabalhos realizados na secretaria, como forma de mostrar para o Brasil e para o mundo as experiências exitosas que Tefé tem desenvolvido no âmbito da saúde, como é o caso do livro produzido pelos trabalhadores da saúde de Tefé, com o Título: Educação Permanente em Saúde em Tefé: Qualificação do trabalho no balanço do banzeiro, livro este que destacou ainda mais o trabalho de Tefé e de seus profissionais, mostrando suas peculiaridades, a saúde ribeirinha como é trabalhadas, as oficinas de EPS, a metodologia utilizada para fazer a EPS acontecer, os grandes relatos de experiências dos trabalhadores enquanto facilitadores e protagonistas de um cenário tão cheio de encantos e surpresas e desafios.  Outro ponto importante é o quanto a gestão tem oportunizado os trabalhadores a se qualificarem através de cursos de atualização por exemplo para agentes de saúde que possibilitou mais de 150 agentes de saúde e endemias a realizarem, melhorando o trabalho e dando ferramentas para um serviço de qualidade. A especialização em Vigilância em Saúde também tem causado um grande contentamento e motivação para 45 trabalhadores de nível superior que encontram-se realizando esta pós graduação ofertada pela FIOCRUZ-AM. Considerações finais: Assim, percebe-se  que para ter um trabalho de qualidade é preciso ter profissionais motivados, esforçados e preparados para fazer o melhor. A Educação Permanente vêm conseguindo dia a dia se inserir na vida desses trabalhadores que fazem a missão árdua que é promover saúde, com um olhar de cuidado, de motivação e de valorização. É importante toda essa atenção que a gestão municipal têm dado para a saúde do município, em especial para esses trabalhadores, efetivando e garantindo assim um dos principais objetivos da PNEPS que é a valorização do trabalho e do trabalhador, oportunizando não somente aos trabalhadores, como a toda população essas conquistas que a Saúde de Tefé tem alcançado.

9954 A CAMPANHA "2018: PRIMARY HEALTH CARE NOW OR NEVER", UMA EXPERIÊNCIA ITALIANA NA PROMOÇÃO DA ATENÇÃO PRIMÁRIA
Sara Bontempo Scavo, Mirian Ribeiro Conceição, Martina Belluto, Alienor Ferroni, Ardigò Martino

A CAMPANHA "2018: PRIMARY HEALTH CARE NOW OR NEVER", UMA EXPERIÊNCIA ITALIANA NA PROMOÇÃO DA ATENÇÃO PRIMÁRIA

Autores: Sara Bontempo Scavo, Mirian Ribeiro Conceição, Martina Belluto, Alienor Ferroni, Ardigò Martino

Apresentação: Em um cenário caracterizado por uma transição epidemiológica, demográfica e social que está colocando em crise os sistemas de saúde num nível global, há a necessidade crescente de um modelo de cuidados de tipo comprehensive que vise superar a fragmentação e seja capaz de realizar uma abordagem integrada, proximal e life-long. O progressivo envelhecimento da população e a crescente incidência de doenças crônicas impulsionou, no contexto italiano, o desenvolvimento deste tipo de modelo, porém em modo desigual e com algumas dificuldades. É neste cenário que nasceu "2018: Primary Health Care Now or Never", uma Campanha nacional, formada por jovens estudantes e profissionais das profissões sociossanitárias, para promover atividades de sensibilização, promoção e autoformação sobre o tema da Comprehensive Primary Health Care (C-PHC). Este trabalho visa, portanto, apresentar a experiência da Campanha e os pressupostos que levaram à sua constituição, ressaltando os passos que levaram à progressiva sensibilização dos jovens profissionais, até à elaboração de uma real proposta de reforma da assistência territorial. Desenvolvimento: O sistema italiano, baseado no paradigma biomédico, apresenta modelo de assistência centrado no hospital com forte fragmentação das práticas profissionais e da rede de serviços. Tais configurações não respondem às necessidades atuais do contexto epidemiólogico-demográfico-social, que possuem o aumento das doenças crônicas e condições de fragilidade e vulnerabilidade social. A Organização Mundial da Saúde (OMS) em 1978, com a Declaração de Alma Ata, recomendou a importância de desenvolver sistemas de Atenção Primária fortes e de tipo comprehensive, ou seja, uma concepção de cuidados primários como essenciais ao acesso universal de indivíduos e famílias, sendo esses realizados de modo participativo, próximo aos lugares de vida. Em 2008, há 30 anos de publicação da primeira recomendação, a OMS reafirma e propõe a renovação do modelo da Primary Health Care (PHC), por meio do documento "Primary Health Care Now More Than Ever". Tal renovação é proposta a partir da análise dos efeitos da globalização em tensionamento à coesão social e consequentemente aos sistemas de saúde, exigindo, portanto, a inovação de respostas às atuais necessidades. No contexto italiano, em 2006, foram implementadas as Casas de Saúde (CdS), que são estruturas com referência territorial, com potencial para se desenvolverem segundo o modelo da PHC, em ótica de integração entre serviços e profissionais. O modelo das CdS está sendo desenvolvido em modo muito diversificado em âmbito nacional, mas na Região Emilia-Romagna sua implementação constituiu realidades muito próximas do modelo da Primary Health Care de tipo comprehensive. É neste contexto que o Centro de Saúde Internacional e Intercultural (CSI) da Universidade de Bolonha realizou uma pesquisa-formação-intervenção sobre o desenvolvimento das CdS no distrito de Ferrara. O estudo envolveu muitos estudantes e profissionais que aprofundaram o debate sobre a Atenção Primária e as estratégias de assistência da CdS e posteriormente se questionaram sobre seu potencial e desenvolvimento, suas deficiências estruturais e organizacionais, a importância de um modelo de C-PHC, bem como a falta de formação neste âmbito. Em novembro de 2017, estes atores da área da saúde e de outras áreas, em discussão e análise sobre a Atenção Primária e as competências necessárias para seu desenvolvimento, sentiram a necessidade de organizar eventos de formação e autoformação. Em fevereiro de 2018, em Bolonha, na ocasião do 7º Workshop Internacional do Laboratório Ítalo-Brasileiro de Formação, Pesquisa e Práticas em Saúde Coletiva, foi organizado um encontro de formação e reflexão, que deu origem à Campanha "2018: Primary Health Care Now or Never". O nome é inspirado no documento da OMS de 2008 que reafirmou sua importância 40 anos após a Declaração de Alma Ata. A partir deste momento, a Campanha começou a se auto constituir, definir seus objetivos, tais como: definição do posicionamento ético e político; exploração e formação entre pares e no campo sobre os modelos de Primary Health Care já adotados (no nível nacional e internacional); estudo e desenvolvimento de ferramentas concretas para melhorar o trabalho do Médico de Família na Itália e torná-lo mais eficaz, de qualidade, resolutivo e sustentável. Em dois anos foram realizados dez workshops em todo o território nacional como objetivos de formação e auto formação para o fortalecimento e difusão do modelo C-PHC, de promoção e difusão da própria Campanha, bem como a autorreflexão e organização de suas atividades. Estes encontros também contaram com a participação de convidados internacionais brasileiros e portugueses promovendo, a partir do intercâmbio entre os sistemas de saúde que desenvolveram o mesmo modelo, trocas de boas práticas e de estratégias inovadoras. Resultado: Nos últimos anos a Campanha em movimento ativo de seus membros, mantém sua característica independente, e se fortalece organizando e participando em numerosos eventos. Tais esforços contribuíram para o desenvolvimento teórico e prático da Atenção Primária, publicação de artigos e um livro com difusão nacional. Ainda, em amadurecimento das discussões produzidas ao longo dos anos foram criados temáticos, que trabalham de forma independente tanto a nível local como nacional: (in)formação e autoformação; envolvimento das outras profissões sociossanitárias, em modo a superar a hegemonia da representação da profissão médica e ampliar o diálogo interprofissional e multidisciplinar; estruturação de consultórios experimentais de Medicina da Família; gestão e reorganização dos materiais produzidos e experiências da Campanha; produção do Livro Azul (inspirado pelo Livro Azul português), que presenta uma proposta concreta sobre o desenvolvimento do nosso sistema de Atenção Primária. As atividades destes grupos temáticos são realizadas de forma autónoma, numa base voluntária, tendo em conta os principais interesses de cada participante, e são subsequentemente compartilhadas com o grupo nacional. Na Global Conference on Primary Health Care da OMS (2019) em Astana, a Campanha foi apresentada no contexto do PHC Young Leaders Network. Considerações finais: A Campanha "2018: Primary Health Care Now or Never" é ainda uma experiência recente, que está se fortalecendo no cenário italiano. Contexto este que apresenta ainda uma política que opera em oposição ao desenvolvimento de um sistema universalista e de luta contra as desigualdades, e que promove prioritariamente modelos de privatização dos cuidados, fragmentados, e favorece o aumento das desigualdades e da vulnerabilidade social, minando os fundamentos do direito à saúde para todos. Deste modo, torna-se evidente a importância de discussões e realidades como as da Campanha "2018: Primary Health Care Now or Never", especialmente dirigidas a estudantes e jovens profissionais, que propõem reflexões e estímulos sobre o futuro do nosso sistema sociosanitario. Por fim, vale ressaltar a necessidade de que espaços e movimentos como estes se tornem operacionais, ou seja, que consigam produzir impactos políticos, éticos e práticos promovendo mudanças concretas nos sistemas.

10565 A FORMAÇÃO EM GESTÃO DO TRABALHO E DA EDUCAÇÃO NA SAÚDE: A EXPERIÊNCIA DO CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EDUCAÇÃO EM SAÚDE COLETIVA
MÍRIAM THAIS GUTERRES DIAS, Aline Blaya Martins de Santa Helena, Carolina da Silva Buno, Geisa Neutzling de Moraes, Márcio Hoff, Ágatha Cunha dos Santos, André Phylippe Dantas

A FORMAÇÃO EM GESTÃO DO TRABALHO E DA EDUCAÇÃO NA SAÚDE: A EXPERIÊNCIA DO CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EDUCAÇÃO EM SAÚDE COLETIVA

Autores: MÍRIAM THAIS GUTERRES DIAS, Aline Blaya Martins de Santa Helena, Carolina da Silva Buno, Geisa Neutzling de Moraes, Márcio Hoff, Ágatha Cunha dos Santos, André Phylippe Dantas

Apresentação: O curso de Especialização Educação em Saúde Coletiva: Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde foi elaborado e executado pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, em parceria com o COSEMS (RS), com financiamento do Ministério da Saúde. Projetou-se sobre a necessidade de pessoal capaz de adequada interpretação do processo saúde-doença-cuidado para compor propostas de intervenção na direção da integralidade, em sintonia com o controle social, competentes para o planejamento, gestão de processos, organização e avaliação de sistemas e serviços, identificação dos recursos técnicos, financeiros e intersetoriais mais eficazes e eficientes para fazer frente às realidades encontradas. Além disso, pessoal que seja capaz de compreender e valorizar as ações pactuadas entre entes governamentais, ampliar as suas responsabilidades e dar existência a processos organizacionais, grupais e de liderança inovadores. Desenvolvimento: As condições materiais para a execução das ações e serviços de saúde no âmbito municipal sofrem o impacto do ajuste fiscal do Estado brasileiro, provocando subfinanciamento das políticas sociais, como informam os dados de Mendes (2015): 45% do Orçamento Geral da União executado em 2014 foram comprometidos com o pagamento da dívida pública, e na Saúde, foram 3,98%. Associada a esse fator, a Lei da Responsabilidade Fiscal, Lei Complementar nº 101/2000, um dos instrumentos criados pela reforma do Estado, obriga os entes federados a limitarem o gasto público, principalmente na despesa de custeio da força de trabalho do Estado, priorizando o superávit primário em detrimento dos gastos sociais e dos investimentos em infraestrutura, e consequentemente, desregulamentando e flexibilizado o trabalho e a gestão no setor público. Esta situação reflete-se na ausência de uma política de recursos humanos no SUS, com suas diferenças estruturais entre as esferas de governo, e a multiplicidade de relações de trabalho nos serviços, agravando as condições de trabalho, com “uma grande desestruturação do serviço público, devido às práticas de terceirização sem critério e por muitas vezes ilegal (MACHADO; KOSTER, 2011, p. 197). A consequência está no prejuízo para os cidadãos brasileiros no acesso aos serviços e ações de atenção na saúde. Esta realidade provoca a Universidade pública, no seu compromisso de participar ativamente nas respostas qualificadas às demandas que a sociedade produz, a contribuir no alcance dos propósitos da saúde universal e cidadã, como aliada ao SUS na sua responsabilidade pela formação dos profissionais que atuam diretamente no sistema de atenção à saúde da população (CECCIM, 2016). O Curso de Lato Sensu em Educação em Saúde Coletiva: Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde teve como foco a formação de dois grupos de trabalhadores específicos: Cursistas= os profissionais da saúde em atividades de gestão, das diversas áreas de formações, atuantes nas Secretarias de Saúde de 12 municípios da região metropolitana de Porto Alegre e Apoiadores Institucionais do COSEMS (RS); Cursistas Bolsistas= profissionais egressos de residências em saúde com Bacharelado em Saúde Coletiva e demais profissões da área da saúde, para a vivência e experimentação em intervenção crítico-colaborativa, realizada na rede de gestão do SUS, acompanhados por preceptores. Foram destinadas 27 vagas aos Cursistas e 13 para os Cursistas Bolsistas, totalizando 40 vagas no Curso. A carga-horária total foi de 720 horas distribuídas igualmente entre atividades teóricas e teórico-práticas (360 horas), e nas atividades de ensino e serviço com preceptoria (360 horas) desenvolvidas nos cenários da gestão dos municípios parceiros. As atividades do curso iniciaram-se em setembro de 2018 com término em dezembro de 2019. As 360 horas de atividades teóricas e teórico-práticas se realizaram de forma semipresencial, com aulas presenciais e atividades em Ambiente Virtual de Aprendizado (AVA-Moodle) a cada quinze dias. As atividades práticas de ensino e serviço foram realizadas nos municípios de atuação dos profissionais, com a participação de um cursista-bolsista responsável por ativar processos de educação e gestão do trabalho, buscando propiciar a participação de todos e o aprendizado em grupo, pautando práticas proativas, colaborativas e interprofissionais. Este processo foi acompanhado e dinamizado pela preceptoria, que também buscou a valorização do cotidiano do trabalho dos cursistas, considerando o seu conhecimento conquistado durante sua trajetória de trabalhador do SUS. A preceptoria foi realizada por duas mestrandas de Saúde Coletiva, que foram selecionadas a partir de edital público, junto com os cursistas bolsistas. Os Cursistas participantes foram indicados pelos gestores dos municípios participantes, com a mediação do COSEMS (RS). Resultado: A distribuição da carga horária presencial e via a plataforma Moodle valorizaram as especificidades dos trabalhadores do SUS e a complexa relação de ensino-serviço. Foram adotadas estratégias de apoio e incentivo à participação integral dos trabalhadores, e entre elas se destaca a atividade da preceptoria em saúde coletiva. Esta teve como foco a temática da Gestão do Trabalho e da Educação da Saúde, e as preceptoras acompanharam e deram suporte aos cursistas na realização das atividades EAD e demais propostas do curso. O acompanhamento da realidade dos municípios por meio da preceptoria permitiu que os cursistas realizassem o diagnóstico situacional dos cenários de práticas e a busca por ferramentas de intervenção para a promoção de ações pedagógicas compatíveis às peculiaridades dos cursistas e o manejo de situações inerentes ao trabalho em saúde. As preceptoras promoveram a prevenção de evasões em atividades em ambiente EAD, através de espaços de escuta e acolhimento das demandas, nas plataformas digitais (software de mensagens instantâneas, e-mail, moodle) e de forma presencial. As condições de trabalho dos cursistas revelou sobrecarga de atividades, responsabilidade por variados processos de gestão do cuidado, permanente necessidade de adequação às frequentes alterações nos fluxos municipais e sistemas do SUS, alterações nas composições políticas interferindo no quadro de gestão e, ainda, municípios passaram por situações de ilegalidades, com interferência da polícia federal. Este quadro influenciou sobremaneira a permanência dos cursistas, pois provocou demissões e trocas de posições no trabalho, e consequentemente, desistências de cursistas. Dos 40 matriculados, 28 concluíram o curso, sendo 17 trabalhadores e 11 bolsistas, em um percentual de 70% aprovados e concluintes. Os concluintes realizaram Trabalhos de Conclusão de Curso, cujos temas de estudo ou pesquisa evidenciaram o aproveitamento qualificado da formação realizada. Considerações finais: A experiência do curso traz em discussão a necessária formação profissional em gestão do trabalho e educação na saúde e o uso de ferramentas digitais em Ensino à Distância, permitindo a constituição de grupos heterogêneos e desenvolvendo diferentes conhecimentos na área. Esta formação está em consonância com os propósitos da Política Nacional de Educação Permanente em Saúde, aproximando conteúdos éticos e técnicos complementares ao conhecimento prático e que valorizam o perfil dos cursistas, pautado na interprofissionalidade e na atuação da gestão voltada ao Sistema Único de Saúde. A equipe condutora do Curso foi um elemento diferencial para o aprendizado presencial e de ensino a distância, facilitando as relações entre alunos bolsistas, gestores e curso, propiciando ambientes de cooperação mútua entre os grupos, compartilhamento de responsabilidades e coordenação dos esforços, visto as diferentes formações e vivências dos cursistas. Os 15 meses de encontros, estudos, trocas proporcionou aprendizagem significativa com muitos processos colaborativos, em um contexto adverso para a saúde e a educação públicas e de direito da população brasileira.