292: Educação Popular e Comunidades Tradicionais | |
Ativador: Silvio Yasui | |
Data: 30/10/2020 Local: Sala 15 - Távolas de trabalhos Horário: 10:30 - 12:30 | |
ID | Título do Trabalho/Autores |
11819 | PARTEIRAS TRADICIONAIS NOS TERRITÓRIOS DA AMAZÔNIA: UMA EXPERIÊNCIA DE EMPODERAMENTO Raquel Jarquín, Júlio Cesar Schweickardt, Marluce Mineiro Pereira PARTEIRAS TRADICIONAIS NOS TERRITÓRIOS DA AMAZÔNIA: UMA EXPERIÊNCIA DE EMPODERAMENTOAutores: Raquel Jarquín, Júlio Cesar Schweickardt, Marluce Mineiro Pereira
Apresentação: O projeto “Redes Vivas e Práticas Populares de Saúde: Conhecimento Tradicional das Parteiras e a Educação Permanente em Saúde para o fortalecimento da Rede de Atenção à Saúde da Mulher no Estado do Amazonas”, financiado pelo Ministério da Saúde, e executado pelo Laboratório de História, Políticas Públicas e Saúde na Amazônia – LAHPSA//FIOCRUZ Amazônia, em parceria com a Secretaria de Estado de Saúde do Amazonas – SUSAM, tem desenvolvido ações de educação popular com as parteiras tradicionais. Dentre as atividades, destacamos a realização das oficinas de troca de saberes que buscam o diálogo entre os profissionais de saúde e o conhecimento das parteiras. Desenvolvimento: As oficinas utilizaram metodologias participativas que tem como princípio o reconhecimento do saber das parteiras sobre o processo do parto e nascimento. Desde, sua vigência iniciada em 2016 o projeto realizou diversas oficinas de trocas de saberes nos seguintes municípios: em Vila Lindóia em Itacoatiara foi realizada uma oficina com 19 pessoas, sendo 09 parteiras; em Tefé foram realizadas duas oficinas em 2017, com 33 pessoas, sendo 18 parteiras, e em 2019 com 31 pessoas sendo 26 parteiras; em Maués foi realizada uma oficina em 2017, com 30 pessoas, sendo 05 parteiras; em Parintins foi realizada uma oficina em 2017, com 31 pessoas, sendo 20 parteiras; em Nova Olinda foi realizada uma oficina em 2018, com 27 pessoas, sendo 17 parteiras; em Tabatinga foram realizadas três oficinas em 2018, totalizando 123 pessoas, sendo 82 parteiras; em Borba foi realizada uma oficina em 2018 com 24 pessoas, sendo 11 parteiras; em Boa Vista dos Ramos foi realizada uma oficina em 2019 com 23 pessoas, sendo 14 parteiras; em Jutaí foi realizada uma oficina em 2019 com 36 pessoas, sendo 17 parteiras; no Distrito de Iauaretê em São Gabriel da Cachoeira foi realizada uma oficina com 60 pessoas, sendo 32 parteiras; em Maraã foi realizada uma oficina em 2019 com 48 pessoas, sendo 14 parteiras; em Carauarí foi realizada uma oficina em 2020 com 17 pessoas, sendo 08 parteiras e em Manaus foi realizada uma oficina em 2017, com 31 pessoas, sendo 20 parteiras. Os instrumentos e técnicas utilizadas nas oficinas foram os Mapas do Cuidado, que possuem por finalidade identificar em seus territórios de atuação as principais dificuldades vivenciadas pelas parteiras; vídeos-debate, que possuem por finalidade estimular a participação das parteiras a falarem sobre suas experiências, relatando sobre os instrumentos e as técnicas utilizadas durante o parto, bem como a importância da utilização das plantas medicinais. O Cenário Parteira é uma abordagem também utilizada nas oficinas, e consiste em dramatizações da situações-problema apresentada em breves histórias contadas pelos integrantes do projeto e possui como finalidades: identificar as experiências de articulação entre o trabalho da parteira e a gestão; como se dá a assistência ao parto e pós-parto; como se dá assistência dentro da maternidade e a ainda, como se dá a relação das parteiras tradicionais com a equipe de saúde, em cada território de atuação. Em cada oficina foram elaboradas Cartas de Demandas, documento que apresentava os itens necessários para a realização dos partos (kit da parteira), além da solicitação de apoio financeiro para a logística de deslocamento às comunidades longícuas. Ademais, nestas cartas as parteiras manifestaram a necessidade de reconhecimento e valorização de seu trabalho, feito na maioria das vezes de forma voluntária, sem qualquer apoio ou ajuda de custo. Neste espaço compartilhado de saberes tradicionais, as parteiras mais experientes ensinaram sobre a arte do partejar às mais novas e outras parteiras que desejavam aprimorar ou retomar a prática. Deste modo, as oficinas de Troca de Saberes foram utilizadas como importante estratégia para o comprometimento dos municípios em realizar o mapeamento das parteiras em sua área de abrangência, bem como apoiá-las no desenvolvimento de suas atividades, disponibilizando matérias e na vinculação das mesmas às unidades Básicas de Saúde, bem como, pactos e encaminhamentos para o apoio e fortalecimento do parto domiciliar assistidos pelas parteiras participantes das oficinas, e o resgate de parteiras que habitam nas muitas comunidades do município por meio do recadastramento de todas. Dentre os resultados alcançados podemos citar a realização da I Mostra Estadual de Parteiras Tradicionais do Estado do Amazonas, em 2018, no 13° Congresso Internacional da Rede Unida. Neste espaço, atendendo à demanda de mais de 100 parteiras presentes, e com o apoio dos integrantes do projeto, foi fundada a Associação de Pateiras Tradicionais do Estado do Amazonas – Algodão Roxo (APTAM), entidade representativa que vem configurando-se como ferramenta de empoderamento político e social deste segmento. Em fase de organização, encontra-se um livro sobre as produções das parteiras e a experiência dos integrantes do projeto, bem como a produção de um documentário sobre a arte do partejar e do uso de plantas medicinais. Destacamos ainda a efetiva participação das parteiras na conferência para a definição de políticas tanto para os municipais quanto para o Estado. Considerações finais: As discussões sobre o saber tradicional e ações e serviços ofertados, considerando as limitações na oferta pela rede, estimulou maior e efetiva participação das Parteiras Tradicionais na luta pelo seu reconhecimento e valorização, bem como a inclusão das mesmas no SUS, em especial na rede de atenção e cuidados à saúde da mulher antes, durante e após o parto. Possibilitou ainda, colocar em pauta a discussão sobre a necessidade de distintos modelos de atenção ao parto e ao nascimento, sobretudo em regiões econômica e cultural diferenciadas, e geograficamente distantes e/ou isoladas, (onde a oferta de serviços de atenção à saúde da mulher é escasseou de difícil acesso), permitindo assim um repensar sobre políticas públicas locais que atendam as especificidades e necessidades da zona rural, ribeirinha, das populações e indígenas do contexto amazônico. À guisa de conclusão, destacamos que as ações desenvolvidas pelo projeto reforçam a necessidade de continuidade destas ações por se desenvolverem na perspectiva de valorização do trabalho das parteiras nos diferentes territórios da Amazônia. Além disso, entendemos que o projeto tem uma opção política pelo empoderamento das parteiras tradicionais na relação com os serviços e com a gestão municipal para participarem das cenas do cuidado à gestante. |
8361 | O SISTEMA TRADICIONAL DE SAÚDE INDÍGENA: PRÁTICAS E RELAÇÕES Maria do Socorro Litaiff Rodrigues Dantas, Andrea Caprara, Eliane Mara Viana Henriques, Meire de Souza Soares Fontes O SISTEMA TRADICIONAL DE SAÚDE INDÍGENA: PRÁTICAS E RELAÇÕESAutores: Maria do Socorro Litaiff Rodrigues Dantas, Andrea Caprara, Eliane Mara Viana Henriques, Meire de Souza Soares Fontes
Apresentação: Estudo etnográfico procura compreender as práticas da medicina tradicional indígena, na perspectiva de interpretações das culturas, em seus diversos saberes e mapear suas especialidades em duas aldeias no nordeste do Brasil. As práticas de cura tradicionais passam por processos de mudanças ao longo do tempo, e no caso dos índios do nordeste, como parte da cultura, a tradição vai se modificando sem perder sua essência, a parte significativa que se revitaliza e se reflete como resultado de diversas relações, quer seja com a sociedade, com a natureza, com o cosmos. A identificação dos cuidadores praticantes da medicina tradicional indígena e suas especialidades na contemporaneidade apresenta-se como um caminho para viabilizar a compreensão das práticas de saúde e do processo de adoecimento da comunidade indígena. Embora os povos indígenas no nordeste do Brasil seja por muitos consideradas “aculturados” ou “mestiços”, há um consenso entre os pesquisadores, historiadores e antropólogos que a tradição, como um dos elementos da cultura são reelaboradas e revitalizadas, num processo onde os sujeitos coletivos transformam sua realidade de modo ativamente participativo, inaugurando um processo chamado de reemergência, revitalização, visibilidade, etnogênese. O estado de saúde se reflete como resultado de diversas relações, quer seja com a sociedade, com a natureza, com o cosmos e o próprio exercício do poder. A abordagem das práticas médicas tradicionais nos povos indígenas do Nordeste, procura valorizar as práticas médicas indígenas no sentido de compreender sua lógica de adoecimento e cura, na perspectiva de um trabalho associado à medicina convencional. Há uma fragilidade nos preceitos da medicina tradicional indígena e por isso é necessário apontar caminhos para a continuidade das práticas e praticantes dessa medicina tradicional, bem como, a sustentabilidade de suas plantas nativas, da preservação de seus costumes e de suas práticas de cura, para o fortalecimento das práticas e saberes tradicionais. A noção de medicina tradicional indígena são diversos e constantemente revisados e/ou criados em situações dialógicas concretas, o que lhes confere caráter emergente. Se os discursos oficiais usam o poder de nomear para conceituar as medicinas tradicionais, as falas indígenas remetem a saberes e a práticas de auto atenção inscritos em contextos locais particulares. Há diversas características e classificações de cuidadores, detentores de saberes ou, ainda, praticantes tradicionais indígenas, tais como pajé, rezadeiras, parteiras, benzedeiras, com características específicas, onde cada um apresenta e cuida de saberes diferentes entre si mas que se complementam, no pilar da espiritualidade. Os tratamentos são de acordo com sua causa, como o quebrante, o vento-caído, o mal-olhado. No entanto, pouco temos extraído quanto ao seu papel e suas atividades e especialmente sua determinação num sistema ou numa rede de atenção em saúde “invisível” que tem grande credibilidade no meio da comunidade, mas não é valorizada e nem inserida ou articulada com a atenção em saúde convencional. A identificação desses cuidadores tradicionais indígenas demonstra que essas práticas e seu sistema na adversidade da contemporaneidade, pode materializar meios e mecanismos para um trabalho colaborativo entre as duas medicinas, de modo a potencializar saberes e melhorar a qualidade de vida da comunidade e promover a convivência entre populações de origens culturais e étnicas diferentes numa análise aprofundada de fenômenos particulares na observação cuidadosa das práticas realizadas, compreender as práticas da medicina tradicional indígena, em seus diversos saberes e mapear suas especialidades. Metodologia Estudo qualitativo, de abordagem etnográfica das práticas tradicionais de adoecimento e cura e sua articulação com o sistema de saúde biomédico dos índios Potiguara em duas aldeias nordestinas, a partir da abordagem interpretativa hermenêutica de Geertz. Cuidadores tradicionais forma identificados numa abordagem não probabilística de “Bola de Neve”, forma aberta. Os dados de identificação foram coletados por lideranças das comunidades, mediante a indicação por seus pares, totalizando uma amostra inicial de 234 cuidadores tradicionais indígenas em todo o estado no projeto Árvore da Vida, do Distrito Sanitário Especial Indígena do Ceará. Mediante a indicação de lideranças comunitárias foram selecionados 10 daqueles cuidadores tradicionais indígenas identificados das etnias Potyguara, Tabajara, Tapuia-Kariri e Gavião, sendo 5 rezadeiras, 3 pajés e 2 menzinheiras de duas aldeias no semiárido do estado. Mapeados, os cuidadores foram entrevistados, mediante temário contendo questões norteadoras acerca de como o cuidador iniciou suas atividades, quais os cuidados que presta a comunidade e sua especialidade, durante o período de 1 ano. O tratamento dos dados quantitativos extraídos da amostra inicial utilizou uma tabela em Excel® com as variáveis: aldeia, nome, idade, o tipo de tratamento prestado e aldeia(s). Foi aplicado o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, conforme preconizado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Estadual do Ceará. As entrevistas foram gravadas e fotografadas. Utilizamos o programa Word® para a transcrição das entrevistas e procedemos a análise dos conteúdos das entrevistas, por categorias. Resultado: Identificados e mapeados os cuidadores tradicionais, por especialidade, formam uma rede de cuidados informal, reconhecida e identificada pela comunidade. Na categoria dos cuidados, são utilizadas orações e materiais naturais, como folhas, ervas, pedras, argila e raízes, preparadas, benzidas e aplicadas no paciente dependendo da causa, da intensidade e da intenção do próprio paciente. Os preparos são especialmente produzidos pelo próprio rezador-benzedor-curador com materiais são extraídos de hortos medicinais nos quintais das residências nos casos “simples” ou, nos casos complexos, são retirados da mata, sob rezas e cantos, em determinado dia e horário, quando daí já se inicia o tratamento. Concernente a espiritualidade, aquele que procura o tratamento tem fé na cura e se segue as orientações e as orações prescritas, podendo ser proferidas através de falas ou cantos e até mesmo sob pensamentos à distância, dependendo do caso, alcança a cura. Os tratamentos incluem orientações de alimentação e de regras a serem seguidas durante determinado tempo. Os horários das curas e rezas devem ser rigorosamente seguidos, sendo as curas e rezas do bendito pela manhã ou final da tarde. Meio-dia não se reza para o bem, mas para o mal. Há rezas que não podem ser citadas, só oradas mesmo, a não ser que se trate de um treinamento de outro rezador. As doenças tratadas são de acordo com sua causa. Quanto a complexidade as doenças tratadas nas aldeias são aquelas causadas independente do contato com os não indígenas como: vento-caído, mal-olhado, vermelha e quebrante. O tratamento inclui além do uso correto da mistura indicada, a obediência às regras e respeito à natureza e aos costumes, sendo a sua desobediência a punição com a piora da doença. Quanto a relação com a biomedicina, ainda que alguns profissionais conversam e procuram seguir um tratamento conjuntamente. os cuidadores tradicionais percebem distanciamento e pouca valorização do conhecimento pelas Equipes de Saúde Indígena, reportando que a discussão dos casos poderia melhorar a compreensão da doença e sua cura. Considerações finais Os cuidadores tradicionais indígenas são pessoas da própria comunidade que tem dons especiais de cura sobre as doenças tradicionais nas aldeias indígenas, formando um sistema em rede de saúde que atua de modo ainda dissociado da biomedicina, a depender da percepção tanto dos pacientes quanto dos profissionais de saúde acerca da importância do trabalho numa abordagem de perspectiva intercultural. |
8383 | EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA: A HUMANIZAÇÃO DO CUIDADO ATRAVÉS DE ATIVIDADES DE EDUCAÇÃO EM SAÚDE PARA MORADORES DE BRUMADINHO (MG) Dayane Jhenifer Ribeiro Silva, Ana Luiza Marques Teixeira, Jacqueline do Carmo Reis, Hiago Daniel Herédia Luz, Luiz Claudio dos Santos de Paula, Carolina Aguiar Faria, Grasiele Cristine Ferreira, Maria Clara Botelho Vieira Amorim EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA: A HUMANIZAÇÃO DO CUIDADO ATRAVÉS DE ATIVIDADES DE EDUCAÇÃO EM SAÚDE PARA MORADORES DE BRUMADINHO (MG)Autores: Dayane Jhenifer Ribeiro Silva, Ana Luiza Marques Teixeira, Jacqueline do Carmo Reis, Hiago Daniel Herédia Luz, Luiz Claudio dos Santos de Paula, Carolina Aguiar Faria, Grasiele Cristine Ferreira, Maria Clara Botelho Vieira Amorim
Apresentação: Defende-se a extensão universitária como uma via de mão-dupla em que, por um lado, a comunidade acadêmica encontra na atividade prática a produção do conhecimento, e por outro a comunidade/população alvo das ações, se beneficia dessa troca de saberes, tornando-se mais ativa na manutenção do bem-estar pessoal e comunitário. Atualmente a extensão universitária tem sido amplamente difundida na sociedade, pois, leva em consideração as divergências regionais e respeita a cultura local. Dessa forma, suas ações permitem o intercâmbio entre saberes acadêmicos sistematizados e saberes populares, que culminam na produção de novas teorias ancoradas na interlocução destes dois universos. O presente estudo relata a experiência de alunos participantes do “Projeto Integrado de Educação em Saúde”, que teve por principal objetivo desenvolver atividades de educação em saúde para moradores atingidos direta ou indiretamente pelo rompimento da barragem do Córrego do Feijão, no município de Brumadinho (MG), em janeiro de 2019. Foram selecionados para esse projeto alunos dos cursos de Fisioterapia, Enfermagem, Medicina, Biomedicina e Psicologia da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas), campus Betim. As atividades foram desenvolvidas em três localidades distintas, sendo elas: comunidade quilombola do Sapé, reserva indígena Naô Xohã do povo Pataxó Hã-hã-hãe e acampamento “Pátria Livre” do Movimento Sem Terra (MST). Participaram das ações cerca de 24 alunos, que ficaram responsáveis, juntamente com professores orientadores de planejar e executar atividades de educação em saúde nas comunidades alvo no período de agosto a dezembro de 2019. No mês de junho, houve um primeiro encontro entre a PUC e a população de Brumadinho, onde foi firmada a parceria com as três comunidades supracitadas. A partir desse primeiro contato deu-se início ao projeto com a seleção dos extensionistas e divisão dos grupos de trabalho por comunidade. A divisão foi realizada de forma homogênea a fim garantir uma ação multiprofissional, contendo pelo menos um estudante de cada curso descrito. Então, no decorrer do planejamento das ações, cada grupo teve autonomia para elaborar e executar metodologias de educação em saúde de acordo com as demandas de cada região. Na comunidade quilombola do Sapé, as atividades foram realizadas em conjunto com os projetos do curso de Psicologia e Economia e as reuniões aconteceram aos sábados durante a tarde. Inicialmente, foi realizada uma roda de conversa com um grupo de mulheres, onde foram levantadas as principais demandas da comunidade e proposto trabalho com os jovens através de atividades de lazer como: futebol, piquenique, visita a um museu, dentre outras. Além disso, a equipe elaborou e aplicou um questionário para conhecer as condições sociodemográficas e de saúde da comunidade, a fim de entendê-la melhor e planejar futuras atividades. Na reserva indígena Naô Xohã, os encontros também ocorreram aos sábados à tarde e inicialmente foram realizadas visitas de aproximação para conhecer a aldeia e estabelecer vínculo com os indígenas. Após alguns encontros foi definido três eixos de atuação, em conjunto com a comunidade, sendo eles: o fortalecimento da comunidade com redes de apoio social, o cadastramento das famílias da aldeia para favorecer o controle demográfico e oficinas de educação em saúde com temáticas relevantes às necessidades dos indígenas. Foram realizadas duas oficinas com as mulheres sobre métodos contraceptivos e descarte correto e reaproveitamento do lixo reciclável; e uma com as crianças, com objetivo de proporcionar momento de recreação e trabalhar conceitos de amizades e amor através do conto de história. Para a efetivação das atividades no "Pátria Livre", inicialmente foram realizadas visitas para a construção do diagnóstico situacional da comunidade junto aos seus representantes, a fim de escutá-los e levantar as principais demandas dos moradores do acampamento. Dentre os diversos problemas sociais e estruturais encontrados, a comissão de saúde do acampamento levantou a necessidade de treinamentos aos seus cuidadores de saúde para que os mesmos pudessem aperfeiçoar as estratégias de cuidado e os conhecimentos que já possuíam, ampliando alternativas que proporcionariam à comunidade uma melhor oferta de cuidados. Após o planejamento das ações, foram definidos dois dias de oficinas que abordaram temas relevantes para o contexto sócio cultural do acampamento, tais como: como primeiros socorros, doenças crônicas, acidentes com animais peçonhentos, fluxo de encaminhamentos para a rede pública de saúde, entre outros. As atividades ocorreram no Centro de Simulação Avançada em Saúde da PUC Minas em Betim o que possibilitou uma prática realística, participativa e consequentemente mais efetiva. Em relação aos efeitos percebidos através da experiência, na Comunidade Quilombola, os extensionistas e professores participantes do projeto, perceberam no início um certo receio e distanciamento da população, o que foi um grande dificultador. Sabe-se que o contexto das comunidades quilombolas no Brasil é muito amplo e diversificado, e a experiência permitiu aos extensionistas a compreensão da história daquele povo e o aprendizado sobre suas raízes, manifestações religiosas e culturais, sendo esse um momento de grande crescimento humanístico e acadêmico para os envolvidos. O trabalho realizado com o povo Pataxó Hã-hã-Hãe, possibilitou aos alunos quebrar paradigmas, conhecer melhor a cultura indígena, como o processo de construção da equipe de lideranças da aldeia, além de possibilitar a compreensão sobre a relação desse povo com a natureza e de como este vínculo é importante. Em contrapartida, a oficina com recicláveis possibilitou um caminho para nova geração de renda, através de puffs feitos com garrafas plásticas e as crianças puderam ter momentos de recreação, visto que sua principal fonte de lazer que era nadar no rio não pode mais ser praticada. Ainda sobre a educação em saúde, ela preencheu vazios e forneceu ocupações para aqueles que já não tinham o que fazer, de acordo com relatos de alguns indígenas. No acampamento “Pátria Livre”, os extensionistas e professores puderam conhecer a história e a forma como os cuidadores e moradores constroem alternativas para o cuidado em saúde da população local. Os alunos aprenderam e colocaram em prática novas metodologias ativas de ensino/aprendizagem em saúde, além da experiência do planejamento das atividades com alunos de outros cursos, propiciando o trabalho em equipe multidisciplinar. Na avaliação final, os cuidadores relataram estar mais seguros e preparados para contribuir com os problemas de saúde que ocorrem no acampamento, e satisfeitos por receberem um caderno elaborado pelos alunos com o conteúdo ministrado nas oficinas, de forma simples e de fácil leitura. Além disso, a troca de conhecimentos entre os professores, os alunos e os moradores foi relevante, pois levaram o conhecimento acadêmico e retornaram com o aprendizado sobre as plantas medicinais, as experiências vividas por trabalhadores rurais do MST e as consequências sociais e de saúde da destruição do rio Paraopeba. Diante disso, conclui-se que a vivência da extensão universitária possibilita a construção de experiências profissionais sólidas, estreitando os laços entre a universidade e a população, o que promove a humanização do cuidado em saúde, essa que torna o aluno mais sensível às necessidades do outro e principalmente permite por esses a exploração de realidades antes nunca vivenciadas. |