315: Saúde Mental, Vulnerabilidades e Violência em Saúde | |
Ativador: Edna Gurgel Casanova | |
Data: 30/10/2020 Local: Sala 16 - Távolas de trabalhos Horário: 13:30 - 15:30 | |
ID | Título do Trabalho/Autores |
8070 | SER LGBTI+ E NÃO SEGUIR A HETERONORMATIVIDADE: EMBATES EM EXPRESSÕES DO CONSERVADORISMO PELOS PROFISSIONAIS DA SAÚDE Rogerio Thales Santana de Almeida, Theodoro De Carvalho Teles SER LGBTI+ E NÃO SEGUIR A HETERONORMATIVIDADE: EMBATES EM EXPRESSÕES DO CONSERVADORISMO PELOS PROFISSIONAIS DA SAÚDEAutores: Rogerio Thales Santana de Almeida, Theodoro De Carvalho Teles
Apresentação: Este trabalho trata de adversidades enfrentadas no acesso à atenção básica por usuárias e usuários LGBTI+ cujos corpos, modos de falar, vestimenta, comportamento não se encaixam no que se diria cis-héteronormativo. Inevitavelmente, versa acerca de como essas e esses usuários são discriminados, seja por seus concidadãos também usuários, seja por profissionais, mas também sobre como agem em relação a isso. Trata-se de uma pesquisa bibliográfica que considerará as diferenças identitárias menos para refletir teoricamente sobre seus aspectos constitutivos do que para criar um território de sua apreciação como ponto de partida, para contextualizar e refletir sobre possibilidades reais de acesso à saúde em caráter universal. O SUS a partir de sua formação, pressupõe um Sistema de Saúde cujo acesso e usufruto deva ser universal, mesmo assim a muitas pessoas LGBTI é negado atendimento, ou determinados procedimentos a medida que sua não cis-hétero passabilidade é percebida por agentes de saúde. Surgindo indagações acerca da garantia do acesso à saúde, por exemplo se desde antes de chegar a um posto de saúde, essas e esses usuários já são alvo de hostilidades dentro e fora do SUS. Nesse sentido, refletimos sobre as gramáticas políticas, modos de ação mobilizadas em processos de acesso, reivindicação, criação e negociação de direitos. |
10778 | SITUAÇÃO DAS MULHERES NEGRAS QUE VIVEM NA RUA: (IN)VISIBILIDADES Nathalia De Sousa Monezi, Debora de Souza Santos SITUAÇÃO DAS MULHERES NEGRAS QUE VIVEM NA RUA: (IN)VISIBILIDADESAutores: Nathalia De Sousa Monezi, Debora de Souza Santos
Apresentação: A Constituição de 1988 garante à população igualdade perante a Lei e, em conjunto com as Leis Orgânicas da Saúde nº 8080 e nº 8142, que regulamentam o Sistema Único de Saúde (SUS), em que seus princípios são a universalidade; integralidade e a igualdade. A equidade equivale à justiça referida como forma de igualdade, entretanto, quando analisamos a Política Nacional de Saúde Integral da População Negra (PNSIPN) de 2007, que fortalece os dizeres da Constituição de 1988 e Lei 8080/90. No Brasil, o povo negro escravizado foi responsável pela economia e a construção da cultura, religião, língua e das artes, além de povoarem o Brasil. A escravidão definiu desigualdades sociais e raciais, arquitetou sentimentos e valores, entretanto, mesmo após a abolição da escravatura, muitas lutas foram travadas pelos negros, por moradia, educação, saúde e respeito como pessoa humana. por outro lado a sociedade racista lutava para que os negros e mestiços permanecessem inferiores e excluídos.Hoje existe uma definição para essa população em situação de rua e censos que mostram que em 2011 estes somavam 14.478 pessoas, sendo os homens em maioria (82%) comparado ao número de mulheres (13%), já em 2015 somavam 15.905 pessoas aglomerada em maior número na região central da cidade de São Paulo. A mulher em situação de rua vivencia as vulnerabilidades da rua, como a fome, a sede, temperaturas e, mais ainda, a violência física, psicológica e a sexual. Estes enfrentamento diários trazem consequências severas as mulheres, como agravos das doenças, doenças mentais, vícios, overdoses e traumas e o difícil acesso aos atendimentos de saúde e tratamentos dessas doenças, por se tratarem de pessoas sem endereço fixo. Para facilitar o acesso a saúde, em 2002, houve a criação dos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), que possui atendimento aberto para as pessoas com transtornos mentais, em 2009 a criação da Política Nacional para a População em Situação de Rua que assegura o acesso amplo, simplificado e seguro aos serviços de saúde e, em 2013, a implantação do Consultório de Rua formam a rede de atendimento a população em situação de rua. As vulnerabilidades vivenciadas pela população em situação de rua se intensificam ao se tratar de mulheres, e mais ainda, das mulheres negras. Estas trazem as marcas históricas e sociais vividas pelos negros e pelas mulheres desde a descoberta do negro como mercadoria pelos portugueses. A intolerância e o descaso contra a população negra são resultados da inversão de valores que ecoa e perpassa os séculos. Portanto, diante de tantas incertezas e vulnerabilidades das mulheres negras em situação de rua, este estudo se justifica pela herança social desse grupo. Fazendo-se necessário a identificação de como se dá o acesso aos serviços de saúde pelas mulheres negras em situação de rua, para que haja uma assistência à saúde voltada às suas necessidades e especificidades. Possui o objetivo de analisar o acesso aos serviços de saúde das mulheres negras em situação de rua. MétodoEste estudo qualitativo trata-se de um projeto de mestrado, que se encontra na primeira fase de levantamentos bibliográficos. Será realizada junto aos equipamentos sociais que acolhem as pessoas em situação de rua, como o Centros de Atenção Psicossocial álcool e outras drogas Independência (CAPS AD) e o Consultório de rua, ambos estruturados na cidade de Campinas/SP e, tendo como facilitadores os trabalhos exercidos pelos profissionais atuantes nestes serviços. Os sujeitos do estudo serão as mulheres negras em situação de rua da cidade de Campinas/SP. Tendo como critérios de inclusão: mulheres acima de 18 anos, que estejam em fragilidade familiar e situação de rua. Serão excluídas as mulheres que se autodeclararam brancas e as menores de 18 anos. Esse estudo se estrutura, a partir de quatro instrumentos de coleta de dados: diário de pesquisa, itinerário terapêutico, prontuários e entrevistas. A análise será de acordo com a Análise de Conteúdo na modalidade Temática. O projeto será submetido à apreciação pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Estadual de Campinas. Todos os entrevistados assinarão o termo de Consentimento Livre e Esclarecido. ResultadoPor se tratar de um estudo qualitativo, os pressupostos, de acordo com os recentes levantamentos bibliográficos, apontam que as mulheres estão em menor número nas ruas, quando comparadas aos homens, porém existem grandes diferenciais como a violência e o uso de drogas. Essas mulheres mantêm vida sexual ativa, enfrentam o risco de infecções sexualmente transmissíveis (IST), algumas utilizam o sexo para obter proteção, amparo financeiro e drogas lícitas e ilícitas. Essas vulnerabilidades refletem em agravos de doenças, doenças mentais, vícios, overdoses, traumas e o difícil acesso aos atendimentos de saúde e tratamentos por não possuírem endereço fixo. Os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), que possui atendimento aberto à população em situação de rua e com transtornos mentais, atua nas regiões da cidade de Campinas e trabalha em conjunto com a Política Nacional para a População em Situação de Rua e o Consultório de Rua. Estes equipamentos da saúde possibilitam o acesso facilitado da população em situação de rua aos serviços de saúde da cidade, entretanto, a busca por saúde ainda é insuficiente quando relacionamos a quantidade de pessoas na rua com a quantidade de pessoas que frequentam os centros de saúde. Considerações preliminaresSabe-se que existem: o racismo institucional, a misoginia e o machismo e, que todos estes interferem no acolhimento às negras, principalmente, as que estão em situação de rua. Por se tratar de um projeto de mestrado, as considerações estão baseadas na perspectiva das pesquisadoras em conhecer as mulheres negras em situação de rua, ouvir destas as dificuldades e os sentimentos frente às trajetórias percorridas na busca pela saúde. Este projeto contribuirá com a visibilidade dessa população e terá resultados que podem contribuir com a diminuição do racismo institucional direcionando os pontos mais frágeis do acolhimento e melhorar a equidade em saúde dessas pessoas. |
7788 | PARA ALÉM DO ATENDIMENTO EM SAÚDE MENTAL À POPULAÇÃO INDÍGENA elenita sureke abilio, Conrado Neves Sathler PARA ALÉM DO ATENDIMENTO EM SAÚDE MENTAL À POPULAÇÃO INDÍGENAAutores: elenita sureke abilio, Conrado Neves Sathler
Apresentação: Este relato de experiência foi construído a partir do processo de trabalho em um Centro de Atenção Psicossocial – álcool e outras drogas (CAPS ad) de um município do Mato Grosso do Sul e da participação em um grupo de pesquisa sobre Saúde Indígena. Tal município apresenta como singularidade localizar-se na fronteira com o Paraguai e integrar a segunda maior população indígena do Brasil. A experiência se deu com a adesão ao plano de desenvolvimento de atividades que estipula a implementação de estratégias de acolhimento aos povos indígenas nas unidades de saúde de média e alta complexidade. Esse plano é regido pela Portaria GM/MS nº 2.663 de 11 de outubro de 2017 que estabelece a realização de atendimento institucional público à população indígena por meio do Incentivo para a Atenção Especializada aos Povos Indígenas (IAE-PI). Para atender a demanda de apoio ambulatorial e terapêutico o CAPS ad deveria direcionar uma ação que aumentasse o acesso da população indígena ao serviço. Então, reuniram-se as unidades gestoras estadual e municipal, os centros de atenção psicossocial e a equipe do Polo Base para elaborar um plano de intervenção. Esse foi um momento importante para as equipes se posicionarem frente a valorização de metas quantitativas e financeiras e a ausência de metas qualitativas. Desenvolvimento: O CAPS ad faz parte da Rede de Atenção Psicossocial e presta atendimento público em Saúde Mental, é referência de tratamento para usuários com transtornos decorrentes do uso e dependência de substâncias psicoativas. A demanda é espontânea, o espaço físico localiza-se em área central urbana e o acesso da população indígena é mínimo. A evidência do pouco acesso de usuários indígenas ao serviço explica a luta da Política Nacional de Atenção à Saúde dos Povos Indígenas (PNASPI) e demonstra a falha do Sistema de Saúde na garantia de acesso com estratégias diferenciadas para essa população. O IAE-PI cita como critério proporcionar serviços de atenção especializada em territórios indígenas, o que exigiria o deslocamento da equipe para as aldeias e uma metodologia de intervenção diferenciada, com seleção e inclusão de um falante da língua guarani nessa equipe. Destacamos ser esse um dos maiores entraves para a intervenção em saúde mental na lógica do cuidado integral e equânime. A partir das pesquisas sobre a Saúde Indígena, entendemos que deve haver uma atenção diferenciada, porém esta não acontece sem que profissionais de saúde entendam as singularidades do processo saúde-doença para esse usuário, buscando seu protagonismo, com vínculo e empatia. Quando falamos sobre o uso de drogas entre os povos indígenas, precisamos fazer um deslocamento para além do cuidado individual e biológico visando à inclusão de relações socioculturais. Essas questões foram impactantes na elaboração do plano de ação, considerando a pouca empatia e desconhecimento de questões essenciais para uma intervenção que atendesse aos objetivos da Portaria, de forma menos invasiva e mais coletivizada. Foi sugerida à equipe a utilização de uma metodologia de trabalho que oportunizasse a imersão no território de forma horizontal, propiciando vinculação, coparticipação, análise de demandas e construção coletiva de uma intervenção a partir das necessidades apresentadas pelas equipes de saúde das aldeias e usuários, atendendo os objetivos da portaria. A escolha da metodologia participativa se deu pela singularidade das questões indígenas relacionadas ao álcool e às drogas e pela necessidade da equipe do CAPS ad compreender os determinantes socioculturais envolvidos no cuidado em saúde, especificamente para este tema, e conhecer a Saúde Indígena, pois, apesar do contexto multiprofissional, o cuidado é fortemente atrelado ao modelo medicalizado e à abstinência. Resultado: A proposta foi de uma intervenção coletiva com a equipe do Polo Base nas quatro unidades de saúde, distribuídas em duas aldeias. Para intervir a equipe do CAPS ad se organizou na realização de quatro dispositivos de saúde mental: Matriciamento, Visita Domiciliar (VD), Estudo de Caso e Projeto Terapêutico Singular (PTS). Em cada unidade de saúde foi feito, inicialmente, o Matriciamento com participação de toda equipe, porém com protagonismo marcante dos Agentes Comunitários Indígenas (ACI). A proposta foi apresentar o serviço oferecido pelo CAPS ad e ouvir dos participantes as questões relacionadas à problemática do álcool e drogas no território. Na sequência, a seleção de alguns casos que necessitassem de um cuidado emergente, e por fim, desenvolver os demais dispositivos. Apesar de estar instituída uma Rede de Atenção Psicossocial no município, as políticas de saúde mental, das quais se originam os CAPS, são desconhecidas, estando a lógica hospitalocêntrica ainda muito presente nos discursos das equipes de saúde e dos usuários, baseados na internação e na medicalização do cuidado para os casos de dependência e abuso de substâncias. A partir do Matriciamento, houve um processo de vinculação com os ACI, visto que estes foram responsáveis por acompanhar os profissionais do Polo Base e do CAPS ad nas Visitas Domiciliares. As VD foram importantes para a equipe do CAPS ad conhecer o território, analisar as demandas, observar a singularidade dos casos e se vincular a outros serviços Intersetoriais como o Centro de Referência de Assistência Social (CRAS). Após as VD, a equipe discutia os casos e analisava as possibilidades de cuidado em cada um deles elaborando um PTS. O planejamento das ações se deu a partir das demandas apresentadas pelos ACI. Em três das quatro unidades de saúde matriciadas, os profissionais de saúde destacaram a necessidade de ações de prevenção às drogas direcionadas às crianças e aos adolescentes, consideradas as situações agravantes a que estão expostos e a importância dessas ações estarem vinculadas às escolas indígenas, destacando, novamente, a importância das ações Intersetoriais. Com a finalização das atividades propostas, definiu-se coletivamente a realização de ações de prevenção às drogas nas escolas em parceria com as unidades de saúde para elaborar as estratégias de cuidado, mantendo o apoio matricial às equipes da saúde indígena, principalmente aos ACI, com investimento na qualificação das equipes de saúde mental para oferta de cuidado diferenciado aos povos indígenas, considerando questões culturais, epidemiológicas, antropológicas etc. e, a elaboração de Projetos Terapêuticos baseados nas atividades de escuta e acolhimento, planejados com os usuários. Considerações finais: A proposta foi reconhecer a demanda baseada nas consequências negativas do uso do álcool e outras drogas, partindo da percepção dos próprios indígenas e não centrada em um modelo verticalizado de cuidado. As inquietações estavam presentes em todas as atividades, pois há um olhar hegemônico das necessidades de saúde mental, sem considerar questões principalmente culturais. Estar no território indígena, conhecer as características de cada equipe, vivenciar o trabalho destas e reconhecer os desafios impostos pelo sistema, constitui um processo de análise da singularidade dos casos e da gestão do trabalho demandante dos objetivos do CAPS ad, conforme preconizado na IAE-PI. Por isso, houve necessidade de uma análise crítico-reflexivo sobre as diretrizes que norteiam o trabalho exigindo dos profissionais o aprimoramento das práticas assistenciais para a Saúde Indígena que, para ser compreendida, necessita da consideração dos valores culturais e reconhecimento do processo histórico. Para ambas as equipes de saúde há a necessidade de elaboração de estratégias de redução de danos e de prevenção às drogas para além da lógica proibicionista, autoritária e excludente para as reais necessidades de saúde decorrentes do abuso de álcool e outras drogas. |
7991 | A IMPORTÂNCIA DO ENTENDIMENTO DE SAÚDE MENTAL PARA O DESENVOLVIMENTO DE AÇÕES DE PROMOÇÃO DA SAÚDE Sandra Aparecida Souza Azevedo, Andreza Gonçalves Vieira Amaro, Claudete Da Silva de Oliveira, Esther Damaceno Soares, Juliana Medina Gomes, Kamila Rosa da Costa, Mariana da Costa Oliveira A IMPORTÂNCIA DO ENTENDIMENTO DE SAÚDE MENTAL PARA O DESENVOLVIMENTO DE AÇÕES DE PROMOÇÃO DA SAÚDEAutores: Sandra Aparecida Souza Azevedo, Andreza Gonçalves Vieira Amaro, Claudete Da Silva de Oliveira, Esther Damaceno Soares, Juliana Medina Gomes, Kamila Rosa da Costa, Mariana da Costa Oliveira
Apresentação: Ainda realizada através do modelo biomédico, a assistência direcionada a saúde mental tem sido desenvolvida com base em tratamento e/ou cura da doença previamente instalada, não tendo um olhar holístico, voltado também para a subjetividade do indivíduo. No entanto, é de interesse da sociedade em geral, que a conceituação da saúde mental não trabalha apenas sobre a patologia, mas no equilíbrio das situações vivenciadas no cotidiano da pessoa, o que envolve a capacidade do indivíduo de gerenciar suas impressões, ações e emoções. A importância desse entendimento, é oferecer serviços efetivos e eficientes para a manutenção da qualidade de vida do outro, levando em consideração diversos fatores sociais, econômicos, ambientais e biológicos. O profissional deve estar atento a individualidade e integralidade do cuidado, ao realizar o acolhimento, escuta ativa, direcionamento de cuidado e criação de vínculo entre profissional e cliente, promovendo assim uma assistência humanizada. O saber reconhecer fatores mais extensos que afetam a saúde mental de um indivíduo é essencial para que possa obter o devido conhecimento do que lhe afeta, sendo uma importante ferramenta para o desenvolvimento de ações para a promoção da saúde. Com o objetivo de reestruturação da assistência de saúde mental no País, a Segunda Conferência Nacional de Saúde Mental (II CNSM) ocorrida em 1992 trouxe como proposta uma rede de atenção substitutiva ao modelo hospitalocêntrico, constituída de serviços que devem se transformar em laboratórios de produção de saúde e de vida, nos quais são apontadas a importância do resgate histórico e de cidadania dos indivíduos. Quando pesquisado o conceito de saúde mental, nota-se que o entendimento é de difícil definição, aja visto, que deve ser levado em consideração o contexto de vida diário da pessoa. Seguindo esse precedente, temos o objetivo de identificar a importância diferenciação entre saúde e doença mental para o desenvolvimento de ações de promoção da saúde. Desenvolvimento: Esta pesquisa foi desenvolvida através do estudo qualitativo, descritivo, bibliográfico, de modo que a análise e interpretação dos registros, permitiram identificar informações que contribuíram para um novo olhar sobre a realidade existente. Resultado: Considerando que a visão sobre o que é ter saúde mental tem impacto com base na cultura, meio social, classe econômica, entre outros fatores relacionados de quem a interpreta, nem sempre é fácil obter uma definição, e entendimento único, dificultando assim a identificação do que a prejudica. Diferente da saúde física, que é facilmente compreendida como um estado de completo bem-estar geral e não apenas a ausência de uma enfermidade. Dentre os fatores sociais e econômicos que influenciam a saúde mental, observa-se alguns determinantes característicos como violação de direitos, confinamento, abandono e outros com consequências ainda mais diretas, como o emprego, a moradia e a educação. O emprego, estabilidade laboral, carga horária, exigências envolvidas, reconhecimento e a satisfação no ambiente de trabalho, estão comumente relacionadas aos melhores níveis de saúde e bem-estar; de maneira oposta, o desemprego, a insegurança no ambiente de trabalho, associados ao medo de perder o emprego, os sentimentos de humilhação e a baixa autoestima, impactam na falta de recursos, dificuldade na manutenção de moradias e alimentação saudável, estando assim diretamente ligadas ao aumento dos níveis de doença e mortalidade precoce. Através das leituras, é possível perceber que este é um cenário regularmente ligado a crises agudas de ansiedade, depressão, e até de tentativa de autoextermínio. Entre os fatores determinantes da educação, diversos estudos têm constatado uma forte conexão inversa entre o nível educacional e a ocorrência de doença mental; nomeadamente perturbações mentais comuns, de modo que, quanto maior o nível educacional, menor a incidência desses casos. Além disso, o fator educação muitas vezes influencia no acesso ao emprego melhor remunerado, melhor condição habitacional e inclusão social satisfatória, por outro lado, a baixa escolaridade, tende a influenciar de modo adverso, produzindo prejuízo na infância, e em alguns casos, a exclusão socioeconômica. Outro fator importante para a saúde mental é a moradia, que quando apropriada, proporciona a pessoa um abrigo físico e psíquico, de proteção contra elementos de seu ambiente, suprindo as necessidades do homem conforme suas condições específicas. Embora uma habitação apropriada, não dê garantias sobre ter saúde mental, a exposição e o risco de adoecimento é diminuída, pois a ligação pode ser entendida por inúmeros fatores de stress e circunstâncias adversas, particularmente o enfraquecimento dos laços familiares, o aumento da população local, dificuldade no acesso aos bens essenciais, estilo de vida menos saudáveis e menor apoio social. Todos esses fatores antes mencionados são circunstanciais e oferecem impacto direto na saúde da pessoa, entretanto, é preciso também levar em consideração os acontecimentos estressantes e adoecedores, como o abuso infantil, violência (familiar, conjugal, em situações de guerra, entre outras), doenças crônicas ou lesões incapacitantes e exposição a situações de catástrofe natural; isso porque, estes estabelecem experiências traumáticas que impactam negativamente na saúde mental de qualquer indivíduo, adoecendo-os diretamente. O conhecimento sobre os aspectos condicionantes e determinantes, sociais e econômicos alusivos à saúde mental é de extrema importância, estando associado na formulação das políticas de saúde, numa perspectiva de Saúde Pública. E é nesse sentido que a promoção da qualidade de vida, remete-se a alteração do estilo de vida da pessoa, visão ampla sobre possibilidades de manutenção e melhorias da saúde, diminuição dos fatores de risco, que possam causar perturbações mentais e comportamentais, tornando-se metas profissionais para criação de intervenções norteadas pelo conhecimento dos determinantes da saúde mental. Uma vez que as ações de promoção a saúde estão conectadas ao comportamento e as circunstâncias vividas pela pessoa, o fortalecimento do conhecimento da população atendida possibilita o papel mais ativo, com tomada de decisão assertiva sobre a manutenção da saúde. Um profissional que reconhece a importância de promover a saúde mental, oferece orientações que levam a alteração no estilo de vida, individual e coletivo, com a realização de atividades que proponham prazer, como criação de hortas comunitárias, desenvolvimento sustentável através de reciclagem, caminhadas matinais, exercícios físicos regulares, alimentação saudável, atividades de socialização, entre outras. Consideração Final: Entende-se que há um vasto caminho para a compreensão real da saúde mental, sendo este, um assunto com carência de assertivas sobre a diferenciação e separação no que diz respeito ao significado de saúde e doença, o que resulta num entendimento comum, não qualificável, onde o indivíduo só é visto quando está adoecido mentalmente. Todavia, é preciso considerar que mesmo através de uma avaliação subjetiva, a saúde mental pode estar desajustada mesmo que não se tenha um diagnóstico de transtorno mental associado. Desse modo, é imprescindível que se desenvolvam estratégias de organização assistencial e capacitação profissional, para que mesmo em momentos de sofrimento mental ou de usual situação de vulnerabilidades, a população tenha qualidade de vida cognitiva e ausência de doenças. |
8566 | A OFERTA DE CUIDADOS FRENTE ÀS NOVAS DEMANDAS: O QUE É UM “CASO CAPS”? Bruna Jandoso A OFERTA DE CUIDADOS FRENTE ÀS NOVAS DEMANDAS: O QUE É UM “CASO CAPS”?Autores: Bruna Jandoso
Apresentação: Cotidianamente nos serviços de saúde mental, sujeitos chegam em busca de ajuda com alguma questão psicológica/psiquiátrica, podendo ser relacionada à um quadro depressivo, crises ansiosas, pedidos de renovação de receituários de medicamentos psicotrópicos, como também outras questões de transtorno mental grave e persistente. A demanda por atendimento na saúde mental vem aumentando, e com ela surgem novas questões sobre o manejo e ofertas de cuidado para os usuários.É necessário retornar à algumas questões que auxiliem na proposição de reflexões e ideias criativas a respeito do tema, sobretudo no atual tempo histórico da saúde mental brasileira, que convoca o potencial inventivo de seus trabalhadores e usuários cotidianamente. A literatura é vasta no que diz respeito aos avanços e importância da reforma psiquiátrica e implementação dos serviços substitutivos, entretanto, mostra-se cada vez mais relevante apontar os novos desafios que se apresentam na oferta do cuidado em saúde mental. A reforma psiquiátrica é um processo que não diz respeito apenas à realocação física do lugar do cuidado, dessa forma, repensar o manicômio é também repensar as práticas do cuidado e a posição social do louco. Meditar acerca do instituído para fazer emergir reflexões e práticas que se proponham a caminhar em consonância com seu tempo histórico. A oferta de cuidados para jovens atendidos pelo serviço de saúde mental pode ser usado como analisador para tal pergunta, por suscitar na equipe diversos questionamentos quanto ao manejo e construção de Projetos Terapêuticos Singulares, já que destoam do público remanescente do manicômio. Como o público jovem usualmente não é caracterizado pela parcela populacional mais numerosa dentro do serviço de saúde, é possível que exista pouca visibilidade desses usuários dentro de um Centro de Atenção Psicossocial - Adulto, sobretudo por tratar-se de uma população não especificada nos documentos de saúde mental. Alguns apontamentos sobre esses sujeitos se fazem necessários, é crucial entender que a juventude é uma fase marcada por inúmeras expectativas sociais relacionadas a trabalho, vida social, relacionamentos amorosos, estudos, e também independência e recursos financeiros. Jovens marcados pelos cuidados em saúde mental podem se mostrar distantes frente a tais expectativas. Eixos como espaços identitários, desejos dos usuários em relação ao seu tratamento, receio do estigma através da inserção em um serviço de saúde mental, são trazidos pela literatura quando o assunto é o público jovem. Apesar de impasses e desafios, os serviços de saúde mental não devem se furtar da discussão acerca de qual cuidado deve ser ofertado. Isso exige da equipe grande esforço inventivo e propositivo que se coloque na contramão do modelo asilar ou da negligência de cuidado. O CAPS como dispositivo substitutivo aos hospitais psiquiátricos, aglutina uma série de representações que se misturam com heranças manicomiais e a necessidade de recriar práticas em saúde mental. Ainda assim, é possível observar certa tendência por uma leitura individualizada dos fenômenos psíquicos no momento atual. Se antes a resposta se dava através dos muros do manicômio, atualmente ainda parece existir entraves na proposição de ações frente ao sofrimento que não se encontrem personificadas em uma instituição. O encontro da loucura, com a ansiedade, com a melancolia e ideação suicida, do “psicótico de manicômio” com o “neurótico” que nunca antes havia sido atendido por profissionais da saúde mental, de idosos com jovens. Fenômeno que pode ser visto pelos olhares da reintegração social como também da medicalização do sofrimento, dois pólos distintos de leitura possível mas capazes de trazer à tona a questão da oferta de cuidados pela instituição. O presente trabalho tem como objetivo fazer emergir reflexões sobre o cuidado ofertado em saúde mental, tendo como analisador os diferentes perfis de usuários, sobretudo a população jovem, atendidos por um CAPS adulto de uma região metropolitana do Estado de São Paulo. Dessa forma busca-se contribuir para futuras reflexões acerca das práticas em saúde mental que caminhem em direção à proposição de saídas criativas para as questões que surgem nos serviços. DesenvolvimentoEste trabalho nasce a partir de reflexões emergentes durante oito meses de inserção em um CAPS de tipo III da região Leste da cidade de Campinas, São Paulo, trazidas por uma residente do primeiro ano da residência multiprofissional em saúde mental da Universidade Estadual de Campinas. Tais questões foram trabalhadas e amadurecidas ao longo de supervisões semanais na instituição de ensino, como também no serviço de saúde mental no qual estava inserida. Resultado: Diante da crescente demanda pela atenção especializada em saúde mental, equipes se deparam com dificuldades e desafios na proposição de cuidado, sobretudo pela distinção de perfis dos sujeitos que demandam pelo serviço, que se diferenciam na sintomatologia, faixa etária e complexidade clínica. Os trabalhadores se questionam sobre qual o público atendido pelo serviço de saúde mental, já que o cenário difere daquele comumente visto no início da implementação dos CAPS nos territórios. Tal fator se soma a um quadro de desmonte da saúde pública nacional, fazendo agravar pontos de tensionamento no cotidiano de um serviço de saúde público. Dessa forma, o caminho aponta para a construção do cuidado em rede, já que, diante das questões colocadas como desafios pelos profissionais, o serviço de saúde mental não consegue sanar suas dificuldades de forma isolada. Considerações finais: A busca pelo serviço e inserção de diferentes “perfis” de usuários, coloca em análise a oferta de cuidados, já que, os CAPS como ponto da RAPS, se configuram como instituição responsável por atender as demandas de saúde mental. Tais demandas podem apresentar-se de diversas maneiras, podendo isso ser fruto do fechamento de manicômios, como também, caracterizados a partir das manifestações dos sintomas na contemporaneidade. Independente da variável, atualmente os serviços de saúde mental projetam-se como dispositivo capaz de ofertar um serviço especializado, e para tal, é necessário ter um olhar sobre sua população atendida, a fim de se ofertar um cuidado condizente com a realidade do serviço, como também coerente com o desejo do usuário. É necessário apontar que, repensar a oferta de cuidados somente, não se projeta como único ponto de resolubilidade, é substancial a realização de uma leitura crítica da conjuntura, sobretudo ao intentar um cuidado que considere o sujeito de forma biopsicossocial. Esse trabalho se propõem a servir como suporte para futuras reflexões, que caminhem em direção da potência inventiva acerca do trabalho em saúde mental. O cenário atual pede abertura de sentido, espaço para repensar e criar, e assim emergir a potência inventiva das equipes. Isso não significa se abster da responsabilidade da leitura crítica dos fenômenos, dessa forma, mostra-se necessário ir além dos muros do CAPS, apontando para respostas criativas em rede. Só assim será possível caminhar na contramão de soluções individualizadas de cunho neoliberal, que se colocam como independentes do contexto. Os dispositivos de saúde mental sozinhos não têm a capacidade, e nem devem ter a pretensão, de agir frente à todos os determinantes de saúde de forma solitária.É expressivo reafirmar que não existe resposta pronta, fazendo valer o alerta para que a necessidade de responder à intensa demanda pelo serviço não culmine em restrição dos espaços de reflexão da prática. |