317: Processos de Trabalho, Interprofissionalidade e Educação Permanente: Qualificando o Cuidado em Saúde
Ativador: Camilla Maia Franco
Data: 31/10/2020    Local: Sala 15 - Távolas de trabalhos    Horário: 10:30 - 12:30
ID Título do Trabalho/Autores
11183 A QUALIFICAÇÃO DE PROFISSIONAIS DA ATENÇÃO BÁSICA ENQUANTO ESTRATÉGIA DE EDUCAÇÃO PERMANENTE EM UMA REGIÃO DE SAÚDE NO ALTO SERTÃO DA PARAÍBA: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA
Marina Gomes Fagundes, Anne Caroline Ferreira de Freitas, Jéssyca Alana Oliveira Pereira, Jéssica Ingrid de Araújo Gomes, Alexsandra Layani Faustino de Andrade, Michaella Shamy Nunes Melo

A QUALIFICAÇÃO DE PROFISSIONAIS DA ATENÇÃO BÁSICA ENQUANTO ESTRATÉGIA DE EDUCAÇÃO PERMANENTE EM UMA REGIÃO DE SAÚDE NO ALTO SERTÃO DA PARAÍBA: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA

Autores: Marina Gomes Fagundes, Anne Caroline Ferreira de Freitas, Jéssyca Alana Oliveira Pereira, Jéssica Ingrid de Araújo Gomes, Alexsandra Layani Faustino de Andrade, Michaella Shamy Nunes Melo

Apresentação: O atual cenário da gerência regional de saúde possibilita a atuação em variados contextos, a saber, a avaliação e monitoramento dos serviços de saúde da região, a colaboração com os municípios e o suporte com a municipalização em saúde, conferindo, dessa forma, um caráter de promoção da qualificação profissional pautada na educação permanente. Mediante visitas técnicas em ações de acompanhamento dos serviços de saúde executados na Atenção Primária a Saúde da Nona região de Saúde da Paraíba, encontrou-se enquanto principal fragilidade o modelo de funcionamento das Unidades Básicas de Saúde (UBS). Além disso, em reunião da Comissão Intergestores Regionais (CIR), foi levantada a necessidade de compreender o excesso de demanda não urgente nos serviços de urgência e emergência da região, sendo reflexo de uma má absorção da atenção primária nesses casos, em que o usuário deveria ter enquanto referência a UBS, entretanto busca os demais serviços de saúde com caráter porta de entrada, sendo um importante entrave para o bom funcionamento das redes de atenção nesta região. A partir do levantamento dessas problemáticas, a gerência de saúde da região ofertou uma oficina de "Qualificação para os profissionais da Atenção Básica da nona região de saúde", buscando discutir esses assuntos emergentes, identificar as maiores fragilidades e, a partir da apresentação das experiências exitosas, traçar estratégias para que esses profissionais potencializem a assistência na atenção primária da região. Visa-se com esse relato descrever esta ação de educação permanente em saúde e discutir acerca da importância dessa política no cenário desta região enquanto potencial modificadora na prestação dos serviços públicos de saúde e melhoria do mesmo, bem como facilitadora dos processos de gestão em saúde. A qualificação para os profissionais das UBS consistia numa proposta de intervenção da gerência de saúde que despontou dos próprios gestores, apontando o gargalo da atenção primária dessa região, referindo as dificuldades com as próprias equipes de saúde, necessitando de qualificação profissional, a fim de conhecerem os modelos de atendimentos da atenção primária no amplo sentido da promoção e prevenção da saúde, como também da eficácia da própria assistência. Fora disponibilizada uma vaga por profissional de cada UBS da nona região, tendo em vista que esse profissional tenha perfil de multiplicador para que a equipe de saúde como um todo tivesse acesso ao conteúdo desenvolvido nesta qualificação e, dessa forma, reproduzir estas estratégias e práticas na UBS em que este profissional está inserido. Foram dois dias de imersão onde os profissionais foram ouvidos e os principais problemas detectados foram discutidos. Durante o primeiro dia foi ministrado sobre a política do Programa Nacional de Atenção Básica (PNAB) e discutido em grupos temas importantes no contexto da Estratégia de Saúde da Família (ESF) que se tornaram problemáticas no contexto da nona região, grupos estes: Acolhimento com classificação de risco; Práticas Integrativas Complementares Grupais; Cuidando do Cuidador; Longitudinalidade do Cuidado e Intersetorialidade; refletindo numa nova perspectiva de trabalho para estes profissionais, que identificaram todas essas áreas como deficitárias. Ainda, foi trabalhado no turno da tarde sobre o Planejamento Participativo da ESF. Nesse momento, o expositor, através de sua experiência exitosa estimulou e preparou os profissionais à implantação desse método na UBS. Esta atividade demandou para o encontro seguinte o compartilhamento da experimentação desse método pelos profissionais da equipe. No segundo encontro, ocorreu o círculo de diálogo com os demais níveis de atenção à saúde, representantes dos hospitais da região e da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) trouxeram a problemática da alta demanda de casos não urgentes que deveriam ser absorvidos na atenção básica refletindo em alta demanda nesses serviços. Apresentou-se, em seguida, as motivações coletivas com temas trazidos por profissionais da nossa região locados em UBS que desenvolve ações na atenção primária como preconizada na PNAB, mostrada em diversas vertentes. No turno da tarde, houve a devolutiva da experiência de implantação do planejamento participativo sugerida no primeiro encontro. A qualificação encerrou-se com uma vivência de cuidado ofertado a esses trabalhadores que sempre oferece o cuidado para o usuário e, na maioria das vezes, não tem esse tempo dedicado a sua própria saúde. A educação permanente em saúde emerge enquanto uma ferramenta importante de fortalecimento do serviço de saúde em que o trabalho é o principal motivador da formação e qualificação do trabalhador. Considerando os objetivos dessa qualificação, que possuiu por finalidade tornar o serviço da atenção primária em saúde mais resolutivo, por meio de estratégias simples que demandam apenas de tecnologias leves, mitigando os demais setores, refletindo sobretudo no usuário, sendo inserido num serviço público que realmente lhe assiste na sua necessidade. Todos os profissionais o qual foi disponibilizada a vaga compareceram na qualificação e o discurso desses trabalhadores relacionado ao aprendizado e da qualidade das informações, em tese, foi favorável, embora apenas uma pequena parcela trouxe experiências de tentativa de implantação do planejamento participativo como solicitado do primeiro para o segundo encontro. Acredita-se que o grande desafio é compreender qual o alcance da Educação Permanente, uma vez que a demanda foi detectada, a qualificação ofertada, mas até que ponto essa formação reflete no serviço. Compreende-se a mudança enquanto um processo complexo e inserida em um contexto de etapas paulatinas e laboriosas, portanto, por meio da qualificação enquanto processo formativo, o profissional irá refletir as formas de enfretamento das problemáticas expostas a partir de uma aprendizagem significativa alcançando, mesmo que gradualmente, a transformação do ambiente de trabalho. Percebe-se, portanto, a necessidade de que se forneça ao profissional uma continuada qualificação que resulte em modificação e potencialização do serviço. Esta necessidade foi gerada a partir dos gestores, coordenadores da atenção básica, como também detectada pela própria gerência de saúde, revelando a “Qualificação para os profissionais da Atenção Básica da Nona Região de Saúde” enquanto ferramenta de extrema relevância para o conhecimento de experiências de uma atenção primária resolutiva, modelos de gestão compartilhada da UBS e discussão de estratégias para o enfrentamento de problemas que demandam de tecnologias leves. Todavia, busca-se compreender o alcance dessa informação e a capacidade de mudança que uma qualificação pautada na educação permanente oferece para o trabalhador do SUS e a apropriação do próprio serviço de saúde desse conhecimento ofertado.

11779 REFLEXÕES ACERCA DA INTERDISCIPLINARIDADE NA PRODUÇÃO DO CUIDADO EM SAÚDE
Mayara Menechini Mazotto, Rayza Garcia Nascimento, Nereida Lúcia Palko dos Santos

REFLEXÕES ACERCA DA INTERDISCIPLINARIDADE NA PRODUÇÃO DO CUIDADO EM SAÚDE

Autores: Mayara Menechini Mazotto, Rayza Garcia Nascimento, Nereida Lúcia Palko dos Santos

Apresentação: A multiplicidade da produção da existência, uma vida complexa, que sob a perspectiva do conceito ampliado de saúde, implica o bem estar, ampliando as vistas do ponto sobre o cuidado em saúde pelos profissionais da área da saúde. Sob a perspectiva da multiplicidade na produção da vida e do cuidado, a abordagem interdisciplinar, amplia as possibilidades de construção do cuidado em saúde, uma vez que a produção da existência não se dá por profissionais / profissionais isoladamente, se dá nos encontros, a partir de construções em processos relacionais, superando a fragmentação estabelecida, inclusive, na formação de profissionais da saúde, formação em disciplinas distintas, com saberes especializados, balizando a atuação de cada profissional, reafirmando as bases fragmentárias da formação, isolada e restrita à sua própria área de atuação. A integralidade é defendida como um valor expresso na forma como os profissionais de saúde respondem às demandas dos usuários, no uso dos conhecimentos sobre a doença e no campo da reabilitação, ampliando para a funcionalidade a partir de um processo de construção compartilhado do processo terapêutico frente as necessidades expressas e sentidas sob matriz de viés holístico, englobando múltiplas percepções. Na discursividade sobre as práticas de cuidado na perspectiva interdisciplinar há arranjos do trabalho em saúde em linha de ruptura com modelos fragmentários e de campos disciplinares herméticos, ampliando o campo da produção do comum e da associação de frentes distintas da produção do cuidado em saúde. Nesse sentido, o cuidado com a saúde de pessoas com deficiência carece de práticas embasadas na produção de cuidado interdisciplinar como arranjo possível que dê conta da multiplicidade da produção da vida dos usuários, tomando como eixo central do trabalho da saúde os vínculos com os usuários, conhecendo as subjetividades que envolvem a vida, a saúde e a doença, construindo com os interessados os enfrentamentos necessários para viver as diversas fases da vida e para a superação das situações difíceis que fazem parte do viver humano. Diante do exposto, a revisão integrativa que subsidia as bases conceituais e de reconhecimento da produção científica utilizada na pesquisa qualitativa de inspiração cartográfica desenvolvida em uma unidade de reabilitação neurológica pediátrica no Rio de Janeiro é apresentada e nos coloca em questão quanto a matriz norteadora da produção do cuidado em saúde frente a multiplicidade e complexidade da produção da existência na produção acadêmica. Objetivo: O presente estudo tem por objetivo reconhecer a necessidade da interdisciplinaridade na relação dos profissionais na produção de cuidado em saúde. Método: Trata-se de uma revisão integrativa da literatura sobre o tema interdisciplinaridade e cuidado em saúde dos últimos quinze anos motivada pela escassez de produtos sobre o tema. A pergunta norteadora foi ‘Qual a relação da interdisciplinaridade na produção de cuidado em saúde?’ A busca de artigos foi realizada nas bases eletrônicas Medline, Lilacs e Bdenf via Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) utilizando a seguinte combinação de descritores e palavras chaves: “interdisciplinaridade”, “cuidado”, “saúde” e “enfermagem”; e na Scientific Electronic Library Online (SciELO), utilizando a combinação: "interdisciplinaridade" e "cuidado". Inicialmente foram encontrados 67 trabalhos na BVS, onde foram aplicados seis filtros, ou critérios de inclusão, sendo estes: Base de dados - Medline, Lilacs e Bdenf; Idioma - Português; Tipo de documento - artigos; Limite - humanos e Assunto Principal – Equipe de Assistência ao Paciente, Enfermagem, Comunicação Interdisciplinar, Cuidados de Enfermagem e Assistência à Saúde -, o que resultou em um total de 24 artigos, sendo 10 advindos do Lilacs, 1 do Medline, 15 do Bdenf. Na Scielo foram encontrados 7 artigos com a aplicação do filtro ‘Palavras do Título’. Em primeira análise, artigos provenientes da Bdenf foram excluídos pois se repetiam no Lilacs, ficando um total de vinte e nove artigos, tendo sido aplicados os critérios de exclusão, que foram: artigos de revisão, relato de experiência, reflexão e estudo de caso, A amostra final contou com dez artigos. Após a leitura na íntegra dos artigos, apenas cinco responderam à pergunta de pesquisa. Discussão: A interdisciplinaridade apresenta-se, no mundo contemporâneo, como um tema a ser utilizado no plano teórico e, especialmente, no delineamento das práticas multiprofissionais, onde está inserido o setor saúde. Elementos como a instabilidade profissional no mundo do trabalho, a inadequação da formação dos docentes e dos trabalhadores da saúde e os modelos vigentes de gestão, que favorecem a predominância de ações de saúde, são dificultadores para a implementação da interdisciplinaridade. Na literatura em saúde, poucos são os relatos de experiências interdisciplinares desenvolvidas no campo da prática assistencial, pode-se observar que os obstáculos e desafios para as práticas interdisciplinares do cuidado se mostram prevalentes. São evidenciadas lacunas entre o prescrito e o realizado, fator gerador de dificuldade para se concretizar a cooperação e o trabalho integrado nas ações de saúde. Esse dado traz à luz as barreiras que a interdisciplinaridade tem enfrentado para efetuar-se na prática, e o fato dos profissionais dos serviços de saúde não estarem habituados a relatarem suas experiências, o que contribuiria para a articulação teoria-prática e para a divulgação de experiências bem sucedidas que promovam o avanço da perspectiva de atuação interdisciplinar. Tais informações destacam, a importância do fortalecimento do trabalho em equipe de forma interdisciplinar, pois desse modo permite a redução da reconhecida fragmentação para a articulação e a integração das ações de saúde. O processo de trabalho pautado na matriz da interdisciplinaridade tende a aumentar a resolubilidade dos serviços e a qualidade da atenção à saúde, pois possibilita evitar duplicações de cuidados ou omissões, evitar adiamentos desnecessários, esperas e intervalos entre consultas espaçados, melhorar e ampliar a comunicação entre os profissionais. O principal beneficiário possui o foco no usuário, que é visto de forma integral e dinâmica por uma equipe que é capaz de oferecer, de forma simultânea e integrada, contribuições específicas de cada área que tem suas fronteiras sobrepostas, com a dinamização dos papéis profissionais, o que contribui para o cuidado em saúde eficaz. Resultado: Conclui-se que a perspectiva da interdisciplinaridade em saúde é um caminho promissor para a qualidade do cuidar em saúde, apostando em práticas de planejamento coletivo, de reuniões sistemáticas de equipe e com familiares/usuários, corresponsável e compartilhada, o que contribui para a integralidade do cuidado em saúde, para a educação permanente e para a satisfação no trabalho. Enfatiza-se a importância da interação interprofissional e outras formas de encontro entre a equipe de saúde e os usuários como um sentido adicional da integralidade. Por sua vez, a integralidade só se realizará com a incorporação de atitudes profissionais individualizadas à equipe de saúde e seus processos de trabalho. Ressalta-se a importância da interdisciplinaridade na qualidade do acolhimento às demandas de saúde do indivíduo, não somente restrita à resposta das suas necessidades morfológicas e funcionais, mas diante de todo contexto social. Há a necessidade de criação de espaços de reflexão e discussão sobre a relevância da pedagogia interdisciplinar, ressaltando ainda o limite imposto na etapa de levantamento bibliográfico vinculado à pesquisa na área da reabilitação, um “cruzamento” de informações que ainda está em elaboração, para contribuir ao processo de investigação neste campo específico. Observa-se  a necessidade de investimento em campo de pesquisa e prática clínica de perspectiva interdisciplinar, vislumbrando a consolidação de uma práxis comprometida com o cuidado integral à saúde, o processo saúde-doença-cuidado-recuperação/reabilitação.

11883 DESAFIOS DA COLABORAÇÃO INTERPROFISSIONAL NO COTIDIANO DE TRABALHO DAS EQUIPES NA ESTRATÉGIA SAÚDE DA FAMÍLIA
Danielly Maia de Queiroz, Lucia Conde de Oliveira, Pedro Alves de Araújo-Filho

DESAFIOS DA COLABORAÇÃO INTERPROFISSIONAL NO COTIDIANO DE TRABALHO DAS EQUIPES NA ESTRATÉGIA SAÚDE DA FAMÍLIA

Autores: Danielly Maia de Queiroz, Lucia Conde de Oliveira, Pedro Alves de Araújo-Filho

Apresentação: O processo de trabalho na Estratégia Saúde da Família (ESF) envolve múltiplos aspectos para estar alinhado às necessidades de saúde da população sob sua (co)responsabilidade sociossanitária. Nesse contexto, considera-se a colaboração interprofissional no cerne de um trabalho em equipe efetivo, alicerçado numa prática clínica ampliada e compartilhada, norteado pelo princípio da integralidade da atenção à saúde. Nessa concepção, Feuerwerker (2011) destaca que a gestão do cuidado “dentro das unidades” implicaria dispositivos de análise do trabalho em espaços coletivos e discussão coletiva de casos, a partir de casos traçadores ou projetos terapêuticos singulares (PTS), com mediação de apoios (institucional e matricial) quando possível. Segundo Campos e Domitti (2007), o apoio matricial envolveria tanto retaguarda assistencial quanto suporte técnico pedagógico de equipes de apoio em relação às equipes de referência no contexto da ESF. Todavia, apesar de dispormos de múltiplas evidências científicas e de argumentos bem fundamentados em favor de um trabalho em equipe alicerçado numa prática clínica colaborativa, as últimas decisões do atual governo federal de descontinuidade de financiamento das equipes de apoio, que primeiramente se referia às equipes do Núcleo de “Apoio” à Saúde da Família e, a partir de 2017, passou a ser denominada na Política Nacional de Atenção Básica como Núcleo “Ampliado” de Saúde da Família na Atenção Básica (NASF-AB), apontam para um desmonte e extinção do processo de trabalho dessas equipes que cumprem um importante papel na ampliação da qualidade do cuidado e na resolutividade da ESF. Sem perder de vista esse preocupante cenário atual, objetiva-se aqui sistematizar os desafios relacionados à colaboração interprofissional no cotidiano de trabalho das equipes no contexto da ESF de um município cearense de grande porte. Desenvolvimento: Trata-se de um recorte da tese de doutorado em saúde coletiva intitulada “Estratégia Saúde da Família na gestão do cuidado em rede: avaliação participativa com trabalhadores de saúde, lideranças comunitárias e equipe gestora”, pesquisa empírica vinculada ao projeto: “Avaliação da qualidade da atenção à saúde a usuários com agravos crônicos em duas regiões de saúde no Ceará”, financiado pelo Edital 01/2017 do Programa Pesquisa para o SUS: gestão compartilhada em Saúde/ PPSUS–CE/ FUNCAP-SESA-Decit/ SCTIE/ MS-CNPq. Assumiu-se como inspirações teórico-metodológicas a “Avaliação de Quarta Geração” de Guba e Lincoln (2011) e a “Hermenêutica Filosófica” de Gadamer (2011). A fase de campo se deu entre os meses de janeiro e outubro de 2018, em Maracanaú (CE), município de grande porte pertencente à 3ª Região de Saúde do Ceará. O recorte aqui apresentado envolveu o grupo de interesse composto por 38 trabalhadoras de saúde da ESF, sendo 30 integrantes das equipes de referência e oito integrantes da equipe de apoio. Dentre as diversas técnicas utilizadas, foram realizadas entrevistas coletivas com quatro equipes de referência e duas equipes de apoio, que atuavam no território adstrito da unidade de saúde pesquisada. Seguindo as proposições de Guba e Lincoln (2011), os resultados foram organizados em quadros, destacando-se as “reivindicações” (aspectos favoráveis), as “preocupações” (aspectos desfavoráveis) e as “questões” (conflitos) identificadas. A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Estadual do Ceará, Parecer nº 2.448.058. Resultado: Os desafios da colaboração interprofissional no cotidiano de trabalho das equipes na Estratégia Saúde da Família compuseram o eixo de análise da “dimensão organizacional” da gestão do cuidado, no qual se buscou evidenciar as situações-limite enfrentadas na organização interna do processo de trabalho no cotidiano da unidade de saúde. De acordo com Cecílio (2011), a “dimensão organizacional da gestão do cuidado” está atravessada pela divisão social e técnica do trabalho realizado. Esses processos têm repercussão, por exemplo, nas ações ofertadas, no modo de construção da agenda de trabalho, na concretização ou não do trabalho em equipe, na possibilidade de tomada de decisões compartilhadas, na participação efetiva em reuniões, na construção das relações intersubjetivas entre integrantes de equipes de referência e de apoio e na relação entre trabalhadores de saúde e equipe gestora. Dentre os desafios relacionados à concretização da colaboração interprofissional, podem ser destacados: I – Limitações da construção das agendas de trabalho, devido à inexistência de turnos intercessores das agendas das equipes de referência e das equipes do NASF-AB; II – Limitações relacionadas à participação em reuniões de equipe, expressas pela justificativa de inexistir reuniões ampliadas com todos os integrantes da equipe devido à grande demanda de atendimentos na unidade; III – Fragilidades na relação entre equipes de referência e equipes do NASF-AB, expressas nas narrativas como sensação de invisibilidade do trabalho realização pelo NASF-AB ou ainda como iniciativas pouco exitosas relativas às tentativas de aproximação da equipe NASF-AB junto às equipes de referência na intenção de divulgar suas atribuições e atividades realizadas; e IV – Desconfortos de integrantes da equipe do NASF-AB relacionados à equipe gestora, expressos nas narrativas pela flexibilização desconcertante da agenda de trabalho do NASF-AB promovida pela gestão ou sensação de que as ações realizadas pelo NASF-AB só são valorizadas quando ocorrem auditorias de processos avaliativos externos, tais como aqueles desenvolvidos no Programa Nacional de Melhoria do Acesso e da Qualidade da Atenção Básica (PMAQ). Matuda et al. (2015), ao realizarem uma pesquisa qualitativa no município de São Paulo, objetivando captar a percepção de integrantes das equipes da ESF e do NASF sobre o trabalho compartilhado e a colaboração interprofissional, identificaram que as formas de interação, o papel do apoio especializado matricial e o modo como as metas de produção são percebidas apontaram para tensões entre a lógica profissional tradicional e a lógica de trabalho colaborativa. Em consonância com os achados de nossa pesquisa avaliativa, os autores evidenciaram uma insuficiência de dispositivos organizacionais que favorecessem a colaboração interprofissional. Considerações finais: O desencontro de agendas, a falta de entrosamento e distanciamento justificados pela grande demanda, as iniciativas frustradas de divulgação dos fluxos de atendimento e atividades realizadas, a escassez de encaminhamentos das equipes de referência para as integrantes da equipe do NASF e o mal-estar causado pela sensação de um trabalho invisibilizado, foram alguns dos aspectos apontados que expressam uma relação ruidosa e incômoda entre integrantes das equipes de apoio com integrantes das equipes de referência e com a própria equipe gestora. Mesmo diante desses desafios relacionados à organização do processo de trabalho, considera-se que o investimento em ações que promovam a colaboração interprofissional entre equipes de referência e equipes de apoio possibilitariam aos indivíduos, famílias e coletividades práticas de saúde pautadas na integralidade e um cuidado mais resolutivo. Para tanto, faz-se necessário também investir em articulações políticas que possibilitem frear e reverter o atual desmonte que tem avançado rapidamente por dentro das arenas decisórias da política pública de saúde brasileira.

8411 DIMENSÃO TÉCNICO PEDAGÓGICA DO APOIO MATRICIAL NO NÚCLEO AMPLIADO DE SAÚDE DA FAMÍLIA E ATENÇÃO BÁSICA (NASF-AB) DE BELO HORIZONTE
Thayna Larissa Aguilar dos Santos, Julia Costa Oliveira, Cláudia Maria Filgueiras Penido

DIMENSÃO TÉCNICO PEDAGÓGICA DO APOIO MATRICIAL NO NÚCLEO AMPLIADO DE SAÚDE DA FAMÍLIA E ATENÇÃO BÁSICA (NASF-AB) DE BELO HORIZONTE

Autores: Thayna Larissa Aguilar dos Santos, Julia Costa Oliveira, Cláudia Maria Filgueiras Penido

Apresentação: O apoio matricial é um arranjo organizacional e uma metodologia de gestão do trabalho em saúde que tem por objetivo expandir as possibilidades de se fazer uma clínica ampliada e compartilhada. Na Atenção Primária à Saúde, permite a integração de diversos especialistas que compõem o Núcleo Ampliado de Saúde da Família e Atenção Básica (NASF-AB), junto aos profissionais das Equipes de Saúde da Família (esF), responsáveis pelo cuidado longitudinal dos usuários adscritos em determinado território. O trabalho organizado pelo apoio matricial se divide em duas dimensões, uma assistencial e outra técnico-pedagógica. A primeira delas corresponde à ação clínica realizada com os usuários e a segunda refere-se ao apoio educativo com e para as eSF. Interessa-nos a dimensão técnico-pedagógica do apoio matricial nas práticas do NASF-AB, por seu potencial de contribuir para qualificar as ações em saúde realizadas pelas eSF, produzindo maior grau autonomia dessas equipes. Nesse contexto, a literatura sobre o tema aponta que um dos grandes desafios é fazer com que o NASF-AB não se reduza à assistência individual de forma não compartilhada com a eSF e invista também em ações de cunho técnico-pedagógico. Portanto, este estudo teve como objetivo geral analisar a dimensão técnico-pedagógica do apoio matricial no NASF-AB de Belo Horizonte (BH) e como objetivos específicos: conhecer como a dimensão técnico-pedagógica se apresenta nas concepções e expectativas dos profissionais da eSF e NASF-AB; compreender como acontece o compartilhamento de saberes e a responsabilização pelos casos entre NASF-AB e eSF; entender potencialidades e possíveis dificuldades na execução das práticas técnico-pedagógicas no âmbito do NASF-AB. A produção de dados se deu por meio de dezoito observações participantes de reuniões de matriciamento e grupos de promoção à saúde, três grupos de reflexão inspirados em grupos focais e duas entrevistas semiestruturadas. Os sujeitos participantes da pesquisa foram: médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem e agentes comunitários de saúde, integrantes das eSF; profissionais do NASF-AB de diferentes categorias; atual coordenadora do NASF e ex-coordenadora do NASF-AB, que atuava no momento da implantação dos núcleos em BH. Trata-se de uma pesquisa-intervenção participativa para a qual foi constituído um coletivo ampliado de pesquisadores, provenientes da universidade e do serviço, que participou da concepção desta pesquisa, de decisões referentes ao campo, da análise dos dados e de restituições processuais. Foi realizada análise temática dos dados dos grupos de reflexão e das observações. De forma geral, a análise contou com a contribuição do coletivo ampliado de pesquisadores, de maneira processual. Foram utilizados como materiais de consulta para a pesquisa as entrevistas, os registros das restituições e atas de reuniões realizadas com o coletivo ampliado. A análise dos grupos de reflexão resultou nos seguintes temas relacionados a dificuldades para operar a dimensão técnico-pedagógica do apoio matricial: priorização da assistência individual no NASF-AB; excesso de demanda; atravessamentos da gestão e gerência do processo de trabalho; perfil e formação dos profissionais; concepções e experiências sobre ensinar e aprender a partir do matriciamento; entraves à participação dos Agentes Comunitários de Saúde no matriciamento. Notou-se, a partir das observações de reuniões de matriciamento, que há uma realidade muito diversa entre as equipes. Houve encontros em que havia compartilhamento de saber entre todos os profissionais envolvidos e, em outros, encontrou-se dificuldade de participação de algumas categorias, com destaque para os agentes comunitários de saúde, que pouco se manifestavam durante as reuniões. Em relação à responsabilização, a realidade encontrada também foi diversa. Em algumas reuniões, os profissionais nos pareceram apropriados e resolutivos em relação às demandas da população adscrita, mantendo o vínculo com o usuário mesmo em face de eventuais encaminhamentos para outros pontos de atenção da rede. Contudo, em outras situações observadas, isso não acontecia e os profissionais não discutiam efetivamente os casos, havendo apenas a transferência da responsabilidade de um profissional para outro, sem preocupação quanto ao vínculo com o usuário. A partir dos grupos de reflexão, foi possível conhecer como a dimensão técnico-pedagógica se apresentava nas concepções e expectativas dos profissionais quanto ao apoio matricial do NASF-AB. Os profissionais consideraram que o apoio matricial está aquém daquilo que poderia ser, muitas vezes se resumindo às reuniões de matriciamento dominadas pela “passação” de casos de um profissional para o outro, em detrimento da discussão desses mesmos casos. De acordo com os profissionais, houve um aumento na demanda dirigida às eSF por razões como o grande número de pessoas que perderam o plano de saúde em função da crise econômica e envelhecimento da população, fazendo com que a disponibilidade para encontros com o NASF-AB tenha diminuído, seja para reuniões de matriciamento ou realização de atividades compartilhadas. Os profissionais do NASF-AB relataram que a organização de seu processo de trabalho depende do entendimento que os gerentes possuem em relação ao apoio matricial, visto que alguns gerentes determinam que as agendas do NASF-AB estejam voltadas para a realização de atendimentos clínicos individuais em detrimento de atividades coletivas e compartilhadas. Houve, também, o relato de que os apoiadores se sentem despreparados para o trabalho que realizam, por falta de formação. Além disso, a pertinência da participação dos agentes comunitários de saúde nas atividades matriciais, tais como visita domiciliar ou reunião de matriciamento, foi questionada pelos participantes da pesquisa. Eventualmente se menciona uma dificuldade de tempo para que a dimensão técnica-pedagógico aconteça, associada à uma compreensão mais “formal” da situação de ensino e aprendizagem, como uma aula sobre um tema específico. Há, portanto, uma dificuldade em se assumir as situações de aprendizado diluídas no cotidiano, como sendo atividades técnico-pedagógicas. Considera-se que os profissionais não reconhecem prontamente a dimensão técnico-pedagógica do apoio matricial, mas que ela está presente nas práticas, ainda que despotencializada pelo desconhecimento da sua função pelos profissionais; pelo pouco investimento na formação dos apoiadores; por problemas de gestão da demanda; por atravessamentos da gestão e da gerência da UBS; pela dominância da prática do atendimento individual não compartilhado e por eventuais dificuldades de participação de algumas categorias, com destaque para os agentes comunitários de saúde. Os profissionais têm dificuldade de reconhecer a formação que não se passa em ambientes formais de ensino e o elemento pedagógico presente na relação de troca entre as equipes. Entretanto, ainda que os profissionais não reconheçam a dimensão técnico-pedagógica do apoio nas relações dialógicas informais de construção de conhecimentos o desconhecimento dessa dimensão não impede que ela se dê, mesmo nos corredores. Nessas situações, a dimensão técnico-pedagógica do apoio se sustenta menos na reprodução dos elementos instituídos pela política ou pelas portarias, e mais nas necessidades surgidas “a quente” no cotidiano do cuidado, a partir do ineditismo dos casos. Incorporar essa potência instituinte do apoio matricial em favor do alargamento das possibilidades pedagógicas para ampliação da clínica dos profissionais talvez se constitua em um de seus maiores desafios.