391: Interfaces do cuidado em saúde mental | |
Debatedor: Felipe Ferreira Pinto | |
Data: 31/10/2020 Local: Sala 12 - Rodas de Conversa Horário: 08:00 - 10:00 | |
ID | Título do Trabalho/Autores |
7136 | CONSUMO DE MEDICAMENTOS ANTIDEPRESSIVOS POR ESTUDANTES DE GRADUAÇÃO DA UNIVERSIDADE ESTADUAL DE LONDRINA Camila Cristina Lunardelli Zanfrilli, Gabriel Silvério de Souza, Amanda Youssef Peres, Gabrielly Marques Justo, Cecília Valério Martins, Telma Regina Fares Gianjacomo, Edmarlon Girotto CONSUMO DE MEDICAMENTOS ANTIDEPRESSIVOS POR ESTUDANTES DE GRADUAÇÃO DA UNIVERSIDADE ESTADUAL DE LONDRINAAutores: Camila Cristina Lunardelli Zanfrilli, Gabriel Silvério de Souza, Amanda Youssef Peres, Gabrielly Marques Justo, Cecília Valério Martins, Telma Regina Fares Gianjacomo, Edmarlon Girotto
Apresentação: O ingresso no ensino superior representa uma fase com diversos aspectos positivos para os jovens, como possibilidade de fazer novas amizades e adquirir novos conhecimentos, porém também envolve situações que podem torná-los vulneráveis a determinados riscos à saúde, incluindo a depressão. Os transtornos psiquiátricos e o consumo de antidepressivos são considerados importantes problemas de saúde pública, o qual abrange as mais variadas faixas de idade, incluído jovens estudantes. Sendo assim, o objetivo deste estudo foi determinar a prevalência do consumo de antidepressivos por estudantes de uma universidade pública do sul do Brasil. A população de estudo foi composta por estudantes com matrícula ativa na universidade no ano de 2019. A coleta de dados ocorreu entre maio e junho com a utilização de um instrumento eletrônico de coleta (GoogleForms), com link de acesso divulgado entre os estudantes por mídias sociais, lista de alunos da universidade e visitas às salas de aula. A partir dos medicamentos informados, aqueles com Anatomical Therapeutic Chemical Classification System, da Organização Mundial de Saúde, foram classificados como antidepressivos os medicamentos do grupo N06A. O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade. Foram avaliados 3.272 estudantes, a maioria do sexo feminino (%), com média de idade de 21,9 anos. Dos avaliados (n=3.272), 1.047 (32%) faziam uso de medicamentos de uso contínuo, sendo destes, 32,3% (n=339) em uso de antidepressivos. Entre as classes de antidepressivos, destacaram-se os inibidores seletivos da recaptação de serotonina (61,9%). Os medicamentos mais relatados foram o cloridrato sertralina (20,4%), escitalopram (20,1%), fluoxetina (13,4%), bupropiona (8,8%), venlafaxina (7,2%) e desvenlafaxina (6,7%). Os resultados revelam alto consumo de antidepressivos e indicam a necessidade de medidas a serem adotadas com o objetivo de suporte à saúde mental aos estudantes universitários. |
7226 | APLICAÇÃO DE MASSAGEM TERAPÊUTICA EM USUÁRIOS DE UM CENTRO DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL EM BELÉM (PA): UM RELATO DE EXPERIÊNCIA Alessandra Silva Pantoja, Amanda Beatriz Gomes Furtado, Bruna Larissa Pinto Rodrigues, Jaíne Dos Santos Queiroz, Karollyne Quaresma Mourão, Nathália Cantuária Rodrigues, Ricardo Luiz Saldanha da Silva, Larissa Ribeiro de Souza APLICAÇÃO DE MASSAGEM TERAPÊUTICA EM USUÁRIOS DE UM CENTRO DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL EM BELÉM (PA): UM RELATO DE EXPERIÊNCIAAutores: Alessandra Silva Pantoja, Amanda Beatriz Gomes Furtado, Bruna Larissa Pinto Rodrigues, Jaíne Dos Santos Queiroz, Karollyne Quaresma Mourão, Nathália Cantuária Rodrigues, Ricardo Luiz Saldanha da Silva, Larissa Ribeiro de Souza
Apresentação: A massoterapia, entendida como massagem com finalidade terapêutica, utiliza o toque, pressionamento e amasso para redução de diversas sintomatologias tais como estresse e dor. Além disso, ela também proporciona relaxamento, a sensação de prazer ultrapassa problemas físicos e ajuda a libertar bloqueios emocionais, ao restabelecer o equilíbrio de diversas estruturas humanas e desencadear efeitos mecânicos, analgésicos, psicológicos, térmicos e estruturais. Os Centros de Atenção Psicossociais (CAPS) são serviços de atenção diária em saúde mental, de caráter substitutivo ao hospital psiquiátrico. Têm a responsabilidade de atender pessoas com transtornos mentais severos e persistentes, trabalhando sob a lógica da territorialidade. Diante disso, o cuidado prestado pela enfermagem a pessoas com doenças psicológicas e transtornos mentais no Brasil vêm ganhando destaque e beneficiando essa clientela. Esta corrobora para fortalecer os princípios constitucionais que garantem o acesso, a qualidade e o atendimento das necessidades humanas básicas, dentre as quais está inserido os serviços em produção de saúde. Dessa forma, o objetivo do presente trabalho é relatar a experiência de acadêmicas de enfermagem sobre a aplicação da massagem terapêutica em usuários de um Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) de Belém (PA). Desenvolvimento: Trata-se de um estudo descritivo do tipo relato de experiência, de caráter qualitativo, realizado por acadêmicas do curso de Enfermagem da Universidade do Estado do Pará (UEPA) em um CAPS, no período de novembro de 2020, o trabalho seguiu três etapas. À princípio foi realizada uma visita técnica para observar e conhecer o local e seu funcionamento, bem como saber o público atendido; já em um segundo momento, houve uma reunião com a orientadora para levantar os pontos-chave observados e por fim para a realização de atividade curricular da disciplina de Saúde Mental I, decidiu-se realizar uma ação para aplicação de massoterapia nos usuários da unidade. Resultado: Percebeu-se, que a unidade precisava de atividades que nunca foram aplicadas na mesma, como a massoterapia. Mediante a experiência da execução da ação, os participantes apresentaram uma boa aceitação sobre a aplicação da massoterapia, relataram que estavam se sentindo relaxados, mesmo com todo o seu histórico de ansiedade, insônia e depressão, além de serem comunicativos e demonstrarem interesse em aprender a técnica e assim realizar em outro momento, o que remete a questão de conseguir favorecer a aplicação do autocuidado e da corresponsabilidade pela sua saúde. Ademais, a ação contribuiu de forma significativa para a formação das discentes, fazendo uso também da ausculta terapêutica, bem como o cuidado humanizado. Considerações finais: A partir desse trabalho foi possível notar que a visão de cuidado do profissional da enfermagem colabora de forma significativa para a efetividade da assistência integral à saúde da pessoa com transtornos mentais, promovendo melhora na qualidade de vida, principalmente no que diz respeito à saúde mental. Além de perceber que ofertar a massoterapia nos CAPS proporciona bem-estar e pode reduzir os níveis estressores, bem como a importância de ter trabalhado com esse público pela primeira vez, o que despertou o interesse em dar continuidade na aplicação de ações e trabalhos como esse. |
7236 | TRABALHO AFETIVO ANTIMANICOMIAL: UMA EXPERIMENTAÇÃO FOTOGRÁFICA Ariadna Patricia Estevez Alvarez, Isabella Cunha Alves da Silva, Maria Isabel Quiñonez de Oliveira, Thais Silva dos Santos TRABALHO AFETIVO ANTIMANICOMIAL: UMA EXPERIMENTAÇÃO FOTOGRÁFICAAutores: Ariadna Patricia Estevez Alvarez, Isabella Cunha Alves da Silva, Maria Isabel Quiñonez de Oliveira, Thais Silva dos Santos
Apresentação: O objetivo do trabalho é partilhar uma experimentação fotográfica realizada por um grupo de estudos composto por quatro mulheres a respeito do trabalho afetivo antimanicomial, a partir de uma pesquisa com os Centros de Convivência e Cultura (CECOs). Os CECOs estão ligados a Rede de Atenção Psicossocial com a proposta de sustentar as diferenças na cidade através da cultura. É um dispositivo de base comunitária que não conta com financiamento próprio e funciona com uma articulação muito forte com os territórios que ocupam. Esse trabalho tem sido sustentado por uma luta política dos profissionais que defendem uma sociedade sem manicômios em condições de trabalho extremamente precárias no SUS da cidade do Rio de Janeiro (demissão em massa de mais de 55 mil trabalhadores, atraso nos salários, fechamento de unidades etc.). Nosso grupo de estudos foi formado em agosto de 2019 com o propósito de debater esse trabalho enfocando o conceito de afeto e a luta antimanicomial, com encontros quinzenais. Consideramos necessário articular as leituras com a vivência no tema estudado, e por isso pactuamos de participar do Fórum dos CECOs, espaço de encontro das diversas experiências do Estado, que reúne usuárias/os, trabalhadoras/es, gestoras/es, estudantes, professoras/es, realizado na UFF em novembro de 2019, e realizarmos uma experimentação fotográfica com foco no protagonismo do trabalho feminino. Como referencial teórico-metodológico, nos inspiramos em Spinoza e na oficina de fotos da clínica da atividade em que a fotografia é usada como mediadora do debate sobre a atividade de trabalho. Para Spinoza, há dois tipos de afeto dos quais variam todos os outros: a alegria, que aumenta nossa capacidade de agir e pensar; e a tristeza que reduz nossa capacidade de pensar e agir. E o trabalho afetivo é um tipo de trabalho imaterial que é o predominante no contemporâneo. Problematizar como esse trabalho afetivo, no caso antimanicomial, pode ampliar a potência de agir dos trabalhadores foi a tônica de muitas das discussões do grupo. Das mais de 30 fotos produzidas, selecionamos 4 usando como critério a multiplicidade da expressão do trabalho afetivo antimanicomial, as quais sua autoria e/ou atravessamento pertence a cada integrante deste grupo. Finalmente, a partir de nosso estudo-experimentação, consideramos que: 1) Há um protagonismo feminino na luta pela implementação de CECOs no Rio de Janeiro; 2) A arte funciona como um elemento ativador da sensibilidade necessária para que este trabalho aconteça; 3)O movimento antimanicomial tem feito composição com outros movimentos minoritários tais como movimento negro, feminista, indígena; 4) a alegria é mais alegre quando é compartilhada no coletivo, as conquistas e desafios de cada CECO geram um afeto político comum que contagia a todas/os. A união ou interseção de distintas forças faz parte da luta por uma política da convivência, uma política antimanicomial em que as diferenças estão em comunicação na vida da cidade. |
7297 | ANTES SÓ, AGORA BEM ACOMPANHADO NA RUA: RELATO DE EXPERIÊNCIA DAS ANDANÇAS DE UM ACOMPANHANTE TERAPÊUTICO DENTRO E FORA DO CENTRO DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL ÁLCOOL E OUTRAS DROGAS, EM SALVADOR (BA) JULIANA FERREIRA DO ROSÁRIO, LEANDRO DOMINGUEZ BARRETTO ANTES SÓ, AGORA BEM ACOMPANHADO NA RUA: RELATO DE EXPERIÊNCIA DAS ANDANÇAS DE UM ACOMPANHANTE TERAPÊUTICO DENTRO E FORA DO CENTRO DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL ÁLCOOL E OUTRAS DROGAS, EM SALVADOR (BA)Autores: JULIANA FERREIRA DO ROSÁRIO, LEANDRO DOMINGUEZ BARRETTO
Apresentação: A assistência no território é um valioso recurso, utilizado também para realização de práticas de cuidado, principalmente na Saúde Mental. Orientada pela Reforma Psiquiátrica, a desinstitucionalização possibilita o deslocamento dos sujeitos dos locais centrais de cuidado para a vivência em sociedade. A intensificação do cuidado no território também é uma prática do Acompanhante Terapêutico (AT), prática essa que perpassa os muros do CAPS AD. O presente trabalho tem por objetivo compartilhar a experiência do cuidado intensificado em saúde mental, em pacientes de difícil manejo, assistidos e envolvidos em situações de violência-tensão no Centro de Atenção Psicossocial Álcool e outras Drogas (CAPS AD) - Gregório de Matos, localizado na Faculdade de Medicina da Bahia da Universidade Federal da Bahia (FAMEB/UFBA). O cuidado intensificado é uma estratégia utilizada no cuidado em saúde mental que facilita as intervenções do profissional na vida do paciente. Além das situações de violência, existem usuários com situações sociais e clínicas difíceis e que necessitam de uma presença maior, de um acompanhamento para auxiliar em suas questões que se encontram desorganizado e que podem prejudicá-los posteriormente. Os resultados mostram que a organização da vida do paciente requer do Acompanhante Terapêutico levantar informações sobre sua história social e familiar, os entraves e suas potencialidades da sua relação com a vida cotidiana, principalmente com o CAPS AD e os serviços que os acompanham. Conclui-se com a experiência, que a prática do Acompanhante Terapêutico empresta seu poder de contratualização – do profissional – para que o usuário acesse determinados espaços e também construa seus contratos/vínculos nestes acessos, contribuindo assim, para a reabilitação psicossocial do indivíduo. Estratégia de cuidado eficaz para pacientes que se encontram em total desorganização, visando novos vínculos sociais e o restabelecimento de sua autonomia cidadã, por presença constante e orientada. |
7365 | A PRODUÇÃO DO CUIDADO EM SAÚDE MENTAL Fernanda Biglia de Souza, Ana Lúcia De Grandi A PRODUÇÃO DO CUIDADO EM SAÚDE MENTALAutores: Fernanda Biglia de Souza, Ana Lúcia De Grandi
Apresentação: Cuidar é um ato essencial para todos os tipos de vida e pode ser obtido de diversas maneiras. Como seres únicos, com vontades, ideias e experiências diferentes, geramos necessidades diferentes, por exemplo, a mesma enfermidade pode se manifestar de forma variada em diferentes indivíduos e, consequentemente, o mesmo cuidado ser mais ou menos eficaz; seguindo os princípios dos SUS encontramos, basicamente, o direito ao serviço de saúde por todos, sem discriminação alguma, de forma igual, porém única de acordo com as necessidades. O cuidado é uma via de mão dupla e, para que ocorra, necessita de encontros, sendo que esses encontros são guiados pelo que chamamos de tecnologias. Essas tecnologias podem ser chamadas de leves, leve-duras e duras, sendo todas essenciais na produção do cuidado, sendo que sua correta utilização interfere diretamente na produção e qualidade do mesmo. As tecnologias duras podem ser descritas como os objetos de uso do profissional, exames e aparelhos; as leve-duras se tratam do conhecimento do profissional, como a epidemiologia, sinais e sintomas e, as leves, são o vínculo, a intimidade entre paciente-profissional e o apoio, basicamente. Ao criar-se um vínculo com o paciente, compreender suas expectativas e visões sobre o caso, considerar suas vivências e assim, interliga-las com os conhecimentos epidemiológicos, sinais e sintomas e possíveis causas, comprovando isso por meio de exames, temos então, como exemplo a inclusão de todas as tecnologias em um mesmo caso, não prevalecendo nenhuma e atendendo todas as necessidades do paciente, com o foco não apenas na enfermidade, mas também em seus medos, esperanças e anseios sobre si mesmo e seu caso. Com esse olhar mais amplo em relação ao paciente e suas necessidades há a possibilidade de ajudar também os familiares e sociedade que está incluso, já que a mesma interfere de forma direta no processo saúde/ doença. Visto assim que, a qualidade do cuidado depende das tecnologias e o diferencial é saber utilizá-las, o objetivo fica de mais fácil alcance. Em saúde mental, o objetivo do cuidado é proporcionar a pessoa um equilíbrio e devolução de sua autonomia para com a própria vida, tomando decisões de forma consciente e coerente, sem causar danos a mesma. Para o desenvolvimento desta pesquisa, tivemos como objetivo conhecer as práticas de cuidado adotadas na produção do cuidado em serviços de saúde mental e a visão do usuário sobre o que é cuidado e sua respectiva importância. Está sendo realizado um estudo de natureza qualitativa no município de Bandeirantes, Paraná, com um usuário-guia do serviço de saúde mental, indicado pelo serviço do CAPS. Apresentaremos neste trabalho, apenas resultados parciais. Bandeirantes é um município de pequeno porte, localizado na região norte do Estado do Paraná e que conta com apenas um serviço especializado de saúde mental, o Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) I. Para conhecer as práticas de cuidado em saúde mental, optamos pela pesquisa qualitativa, que tem como objetivo entender a vivência humana, seu comportamento e percepções e sua a interpretação pode ser realizada pelo próprio pesquisador com base nas coletas de dados e perspectivas sobre o assunto, não reduzindo o resultado da pesquisa em números. O usuário-guia, dispositivo metodológico utilizado devido as características do campo da saúde e do modo de viver, singular de cada pessoa, pode ser entendido como um usuário do serviço, que produziu narrativas durante os encontros realizados centradas em si e suas percepções de cuidado oferecido e prestado nos serviços utilizados. Realizada identificação do usuário e conhecimento de seu estado por meio do prontuário, a visão dos profissionais sobre ele e posterior encontro com o mesmo, obtivemos como resultado de pesquisa a possibilidade de conhecer, por meio de relatos do usuário o que para ele é cuidado. Em narrativas sobre as utilizações que faz do serviço de saúde, destacou em sua fala dois acontecimentos que, para ele marcou como cuidado. Por conta de seu problema de saúde, o qual o levou a buscar acompanhamento do serviço de saúde mental, não pode mais trabalhar da forma como o fazia. Durante o acompanhamento realizado pelo serviço de saúde, os profissionais identificaram a necessidade financeira desse usuário devido à falta de trabalho, os quais o ajudaram no processo de aposentadoria. Dessa forma, o usuário diz ser muito grato pelo auxílio, pois sua vida melhorou significativamente após isso. Foi então possível identificar que, com o vínculo criado entre paciente-profissional, por meio da tecnologia leve, foram identificadas necessidades além das de saúde, podendo notar que, apesar de ter buscado ajuda em um serviço de saúde, sua necessidade era para além da doença, mostrando as relações possíveis entre os serviços. É notável em sua narrativa a melhora de vida após a resolução da situação financeira e, sabendo que a qualidade de vida está diretamente ligada ao processo saúde/doença, o cuidado gerado a partir de necessidades secundárias interfere no objetivo traçado a partir da necessidade primária. Em outro momento da sua narrativa, o usuário-guia relata um acidente ocorrido em sua residência com uma panela de gordura. Ele sofreu várias queimaduras pelo corpo e necessitou de uma internação de 58 dias em um hospital de grande porte que fica em uma cidade vizinha de sua residência, com ala específica para queimados. O usuário-guia acredita ter sido por conta dos cuidados oferecidos pelos profissionais daquele serviço, não ter sequelas maiores. Seu relato nos descreve um cuidado técnico com relação às queimaduras, com objetivo de cura do problema pelo qual procurou o serviço, mas que, para ele foi satisfatório, pois supriu suas necessidades como usuário do serviço, mostrando que mesmo em serviços de saúde com objetivos diferentes, o cuidado foi produzido de forma agradável. A partir das narrativas, foi percebido que o cuidado pode ser produzido e entendido de diversas formas, e que sua produção se dá sempre por meio de encontros, oportunidades essas que o trabalhador possui para conhecer melhor seu usuário e suas necessidades. Se o cuidado for entendido como algo indispensável para a vida, seu conhecimento se faz de extrema importância, pois para podermos cuidar de alguém e até de nós mesmos, precisamos ter o mínimo de conhecimento, visado sempre a melhora. Com o acompanhamento do usuário-guia e suas narrativas, foi possível conhecer práticas de cuidado que foram adotadas no serviço de saúde mental e também no serviço terciário devido sua internação. O cuidado produzido para esse usuário se deu a partir da identificação das suas necessidades tanto de saúde como sociais e financeiras, com união dos diferentes tipos de tecnologias. Olhar para o usuário como ser único e singular, estabelecendo vínculos nos encontros entre ele e o profissional, permitiu que o profissional trabalhasse de forma ampla, olhando não apenas seu diagnóstico clínico, mas suas demais fragilidades, seus familiares, amigos e a sociedade em que está incluso, atuando, dentro do seu limite e conhecimento, de modo a favorecer o outro. Conhecer como se produz cuidado na visão dos usuários propicia se readequar e corrigir as falhas entendendo a amplitude do mesmo, que vai além da cura e cessamento de sinais e sintomas. |
7602 | ENTRE SEMENTES E RAÍZES: SENTIDOS E AÇÕES INOVADORAS NOS CENTROS DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL Mússio Pirajá Mattos, Daiene Rosa Gomes ENTRE SEMENTES E RAÍZES: SENTIDOS E AÇÕES INOVADORAS NOS CENTROS DE ATENÇÃO PSICOSSOCIALAutores: Mússio Pirajá Mattos, Daiene Rosa Gomes
Apresentação: A formação e qualificação dos trabalhadores devem acompanhar o desenvolvimento dos processos de cuidado em saúde. No Brasil, a Política Nacional de Educação Permanente em Saúde (EPS) se configura como a principal estratégia institucional para a qualificação dos profissionais do Sistema Único de Saúde (SUS). A EPS se constitui como um recurso importante para fomentar mudanças nos processos de trabalho, especialmente no que diz respeito à atenção em saúde mental, devido às especificidades éticas, técnicas e políticas que a definem como um campo em permanente reconfiguração. Com as diretrizes da Reforma Psiquiátrica, lei vigente no Brasil desde 2001 (Lei n.10.216, de 6 de abril de 2001), gradativamente começam as transformações no modelo assistencial e, com isso, propondo uma mudança teórico-prática do cuidado em saúde mental, tendo a desinstitucionalização com um dos seus principais pilares. Nesse contexto, os Centros de Atenção Psicossociais (CAPS) são elementos essenciais, pois a parte da criação desse dispositivo se iniciou de forma concreta a organização de uma rede substituta aos hospitais psiquiátricos no país. Entretanto, ainda são muitos os desafios para as equipes, havendo um descompasso entre formação dos profissionais, suas práticas e a Política Nacional de Saúde Mental. Assim, o presente trabalho tem o objetivo de compartilhar a vivência com ações de EPS nos CAPS com uso de metodologias ativas de ensino-aprendizagem, visando contribuir com um dispositivo formativo-reflexivo em redes. Desenvolvimento: Trata-se de um relato de experiência referente a ações de EPS nos CAPS no período de novembro a dezembro de 2018. As metodologias ativas de ensino-aprendizagem foram aplicadas nos CAPS tipo II e Álcool e outras Drogas (AD) em um município no interior da Bahia. Foram pesquisados 30 trabalhadores do serviço, incluindo psiquiatras, psicólogos, enfermeiros, farmacêutico, terapeutas ocupacionais, musicoterapeuta, assistentes sociais, educadores físicos, artista plástico, gerente, técnicos de enfermagem, motorista, recepcionistas, cozinheiras, agentes de portaria e auxiliares de serviços gerais, visto que todos intervêm na produção do cuidado dos serviços de saúde. As ações foram elaboradas com base na educação ativa por permitir o desenvolvimento da reflexão e criação de estratégias para a melhoria do trabalho, a partir da junção entre a teoria e a prática, com valorização dos saberes prévios dos participantes, levando-os a uma melhor compreensão dos temas abordados e do processo ensino-aprendizagem. Sendo assim, serão explanadas as principais iniciativas que compuseram a construção desse ambiente de aprendizagem: Acolhimento: O Colar Diversidade: Nessa perspectiva, os educados deveriam escrever em tarjetas coloridas: nome, profissão, qualidade e defeito e, em seguida, houve a exposição dessas informações em forma de um “colar”; Viagem Educacional: Plantando Sementes: A viagem educacional (VE) ocorreu em primeiro momento, em grande grupo, com a exposição de curta metragem e documentários. No segundo momento, utilizamos perguntas norteadoras referentes aos sentimentos, ideias e racionalidades relacionadas à percepção das emoções conquistadas na atividade. No terceiro momento, ocorreu o compartilhamento assegurando o espaço de fala para todos; Memórias da Loucura: Desencaixotando emoções e recuperando sentimentos: Nesse momento, a VE se destinou a exposição do documentário “Dos Loucos e das Rosas” (2011), a fim de comunicar saberes a respeito da reforma psiquiátrica em associação com estratégias de cuidado. Posteriormente, realizou-se a exposição do documentário “internetdoc Brasil, aqui tem SUS - Riachão do Jacuípe – BA” que retrata atividades extramuros através da itinerância da equipe multiprofissional de saúde do CAPS; Construção do Mural do Futuro: Enraizando Esperanças: Nesse momento, se destinou a exposição do documentário “Alike” (2015) e, posteriormente, os trabalhadores foram convidados a expressar, com uma palavra, como eles se imaginam após 5 anos. Resultado: A análise de como se dá o processo educativo em saúde na sua prática cotidiana revela como as ações em saúde influenciam e modificam as concepções e percepções dos trabalhadores no contexto de sua prática. Ao iniciar o acolhimento com os trabalhadores do serviço foram montados grupos diversidade onde foram plantadas sementes de vínculo, escuta e respeito à singularidade, possibilitando compreender o sujeito a partir da valorização de suas experiências. Esse processo se configurou como um processo que enraizou sentimentos de luz, paz, tranquilidade, controle e enfrentamentos aos obstáculos e adversidades que se vivencia ou que possam surgir. Esse espaço permitiu harmonia, sendo um importante instrumento facilitador e transformador, estratégico no desenvolvimento da autonomia e inclusão, e no agenciamento de modos “menos endurecidos” de trabalho. A VE com exposição do documentário “Dos Loucos e das Rosas”, permitiu um olhar ampliado no cenário psiquiátrico brasileiro. Os significados percebidos permitiram desencaixotar emoções e recuperar sentimentos relacionados à exclusão social, de direitos, desigualdade, marginalização, reforma psiquiátrica, desospitalização, direitos humanos, desinstitucionalização, manicômios, sofrimento psíquico, tristeza, violência, loucura, falta de humanidade, perversidade, barbárie humana, constrangimento, vulnerabilidade e transtornos mentais. Ao permitir a reflexão sobre as práticas de saúde foi possível considerar o uso adequado das tecnologias em saúde de acordo com as necessidades singulares de cada pessoa a fim de não tornar a relação entre profissional e paciente/ativente/usuário/assistido centrada apenas em procedimentos, normas e prescrições. Ao disparar sentimentos e racionalidades em relação ao documentário “internetdoc Brasil, aqui tem SUS - Riachão do Jacuípe – BA”, foi possível ressignificar novas práticas e olhares sobre o sofrimento psíquico. Nesse momento, os profissionais se apresentaram bastante entusiasmados por se tratar de um documentário com ações itinerantes em um município que faz parte do mesmo estado. Assim, os profissionais demonstraram sentimentos de esperança, alegria, surpresa, sensibilidade, desafios e união. Nessa construção do saber utilizou-se a exposição do curta metragem Alike com a intencionalidade de atribuir forma, cor e disparar sentimentos e emoções, além de possibilitar a reflexão acerca da importância da criatividade na aprendizagem e no processo do cuidado em saúde. Através dessa vivência foram semeados sentimentos de esperança e alegria, ao ver como a criatividade tem o poder de devolver as cores à vida presente no ambiente do trabalho, sem imposição de uma fórmula única do processo de cuidado em saúde. Entretanto, essa sensação também foi atrelada a tristeza ao perceberem que muitas vezes, pela exigência burocrática do ambiente de trabalho, é drenada (ou drenamos) a ação criativa, tornando os profissionais, sem cor, cinzas e endurecidos. Nesse clima reflexivo, foi construído o Mural do Futuro com as seguintes representações: conquista profissional, empatia, realização, confiante, focado, felicidade, saúde, união, paz, viagem, good vibes, o Brasil ser um país mais justo, mais humanização, fortalecida, mais sabedoria, sempre produtiva, um pais melhor, reforma psiquiátrica, mais satisfeita comigo mesma, mais justiça, mais amor, mais amor ao próximo, um Brasil das oportunidades, direitos humanos respeitados, mais habilidades holísticas, um grande espaço terapêutico, CAPS AD com unidade própria e equipado. Esse mural contribuiu para o desenvolvimento de um ambiente de esperança e enfrentamento das adversidades, com a apropriação de conceitos e condutas que poderão ser adotadas no processo de trabalho em saúde mental. Considerações finais: Nesse sentido, as oficinas se mostraram assertivas por gerar sementes de reflexão sobre a transformação das práticas, com a construção de novas relações e o conhecimento de suas potencialidades e limites, ressignificando a desinstitucionalização e o processo de cuidado psicossocial, além de enraizar o sentimento esperançoso de um cuidado criativo e focado na necessidade social do sujeito. |
7647 | ALONGAR SAÚDE: PRÁTICAS CORPORAIS COMO UMA ESTRATÉGIA DO CUIDADO EM SAÚDE MENTAL Emanuella Cajado Joca, Francisca Suyane Silva Nascimento, Aline Souza da Costa, Magda Ferreira Mendes, Luana Lopes Eleuterio, Vanessa Maria Aguiar ALONGAR SAÚDE: PRÁTICAS CORPORAIS COMO UMA ESTRATÉGIA DO CUIDADO EM SAÚDE MENTALAutores: Emanuella Cajado Joca, Francisca Suyane Silva Nascimento, Aline Souza da Costa, Magda Ferreira Mendes, Luana Lopes Eleuterio, Vanessa Maria Aguiar
Apresentação: O presente trabalho tem como objetivo apresentar e refletir sobre uma experiência de cuidado em saúde mental realizada em um Centro de Atenção Psicossocial Geral (CAPS geral) da cidade de Fortaleza (CE). Tal experiência diz respeito a um grupo terapêutico, denominado Grupo Alongar Saúde, coordenado por uma psicóloga e uma artista do serviço, cuja finalidade é promover o cuidado de si, do mundo e do outro. A atenção ao corpo em saúde mental faz-se extremamente importante. Historicamente tem sido alvo de teorias e práticas que se baseiam principalmente na medicalização. Atualmente se tem disponível uma ampla variedade de medicamentos que por vezes causam diversos efeitos colaterais, tratados exclusivamente através da ingestão de mais drogas. Pensar no cuidado de si, pela ampliação do saudável é retirar o foco da doença e propor a abordagem da saúde. Desenvolvimento: O grupo Alongar Saúde nasceu há cerca de seis meses e segue um cronograma de dois encontros semanais com duração de uma hora cada, ocorrendo logo no início das manhãs. O grupo é aberto para os usuários e familiares do serviço que podem ingressar na atividade por encaminhamento dos profissionais ou por demanda espontânea. As atividades desenvolvidas envolvem práticas de alongamento propostas a partir do ensino de posturas e posições que auxiliam na ampliação dos movimentos corporais, fortalecimento do equilíbrio. Há também as práticas de relaxamento através de exercícios de respiração calmante. Perfaz-se ainda todo um cuidado com o ambiente onde os encontros ocorrem, recorrendo-se ao uso de uma luz mais fraca, a retirada dos chinelos ao entrar no local, ao uso de colchonetes e de músicas relaxantes. Tais recursos favorecem presentificação dos participantes no momento e na percepção do próprio corpo, possibilitando práticas de concentração para o equilíbrio físico e mental. Outros recursos das terapias integrativas e complementares em saúde fazem parte de alguns encontros, como uso de aromas, massagens ou de chás. Tais práticas visam oportunizar maior contato com diversas possibilidades de cuidado em saúde e a experiência de outros recursos terapêuticos. Resultado: O desenvolvimento dos participantes têm sido bastante perceptível ao longo do tempo em que o grupo vem funcionando, inclusive vem sendo uma questão central nos relatos dos usuários durante momentos de diálogo. Alguns participantes ressaltam melhora no funcionamento intestinal, na circulação sanguínea, alívio de dores e tensões corporais. Outros relatam ampliação da percepção corporal e dos movimentos do corpo. Considerações finais: As práticas corporais como práticas de cuidado em saúde mental constitui uma ampliação da clínica. Com a percepção de que somos um todo, quebrando com a dualidade corpo-mente e fomentando a necessidade de cuidar integralmente. Trabalhar o corpo reverbera ainda na autonomia dos usuários, uma vez que potencializa ferramentas disponíveis para o cuidado de si. Trabalhar o corpo é um outro modo de fazer clínica, é um outro modo de produzir saúde mental e tais reinvenções são fundamentais para fazer saúde no contexto da saúde pública brasileira. |
7653 | TRANSTORNO MENTAL COMUM EM COMUNIDADES QUILOMBOLAS DO SUDOESTE DA BAHIA Maria Helena De Oliveira Santana, Tarcísia Castro Alves, Caleb de Oliveira Flores, Ricardo Franklin de Freitas Mussi TRANSTORNO MENTAL COMUM EM COMUNIDADES QUILOMBOLAS DO SUDOESTE DA BAHIAAutores: Maria Helena De Oliveira Santana, Tarcísia Castro Alves, Caleb de Oliveira Flores, Ricardo Franklin de Freitas Mussi
Apresentação: Comunidades quilombolas enfrentam situação de vulnerabilidade social, presente nas condições de vida e saúde precárias, historicamente negligenciadas. A supressão do acesso aos recursos de proteção e prevenção potencializa os agravos de saúde, sobretudo, no tangem a saúde mental. Ressaltam-se, entre os mais recorrentes, os Transtornos Mentais Comum (TMC), caracterizados por um conjunto de sintomas como insônia, fadiga, irritabilidade, esquecimento, dificuldade de concentração e queixas somáticas, cujos impactos repercutem na história de vida e nas relações interpessoais e laborais. Objetivo: Analisar a prevalência do TMC em comunidades quilombolas localizadas no sudoeste baiano. Método: Trata-se de um estudo com abordagem quantitativa realizado da microrregião de Guanambi (BA), composta por 42 quilombos. O desenho amostral seguiu-se por duas etapas: sorteio dos quilombos e coleta censitária. Obtendo fruto de 850 quilombolas como amostra final. As coletas ocorreram por meio de entrevista com formulário, realizadas em sistema de mutirão. A variável Transtorno Metal Comum, foi definida por sete ou mais respostas positivas ao Self-Reporting Questionnaire-20 (SRQ-20). Resultado: O TMC foi prevalente em 29,6% dos adultos quilombolas. Os sintomas de TMC mais referido na população quilombola foram sentir-se nervoso, tenso ou preocupado (62,0%), assustar-se com facilidade (40,1%) e sentir-se triste ultimamente (39,7%), todos relacionados à dimensão do humor depressivo. Entre as mulheres os sintomas mais citados foram sentir-se nervosa, tensa ou preocupada (71,2%), assustar-se com facilidade (50,3%). Entre os homens, sentir-se nervoso, tenso ou preocupado (47,5%) e ter dores de cabeça frequentemente (28,1%), foram os sintomas mais frequentes. Dentre os sintomas investigados, 13 apresentaram prevalência significativamente maior entre as mulheres. Considerações finais: Os achados revelam a necessidade do desenvolvimento de ações políticas de saúde, sociais e econômicas capazes de garantir a melhoria da qualidade de vida e saúde mental da população quilombola, bem como, ações preventivas e terapêuticas relacionadas aos problemas causados pelo TMC. Fazem-se necessários estudos que retratem de forma aprofundada a situação de vida e saúde mental dessa população. |
7791 | A PRÁTICA DA PSICOLOGIA: VIVÊNCIAS DE ESTAGIÁRIAS EM UMA UNIDADE BÁSICA DE SAÚDE DE CAMETÁ (PA) Daniela Baldez Diniz, Renata Christine da Silva Melo, Karol Veiga Cabral A PRÁTICA DA PSICOLOGIA: VIVÊNCIAS DE ESTAGIÁRIAS EM UMA UNIDADE BÁSICA DE SAÚDE DE CAMETÁ (PA)Autores: Daniela Baldez Diniz, Renata Christine da Silva Melo, Karol Veiga Cabral
Apresentação: A atenção básica é o contato inicial que a população tem com um serviço de saúde público, é nela que são desenvolvidas ações de prevenção, promoção e recuperação da saúde e é por meio desta que os usuários são atendidos, acompanhados e encaminhados para outros serviços do Sistema Único de Saúde (SUS). Para que o serviço funcione com qualidade, diversas áreas trabalham em conjunto, como: enfermagem, medicina, nutricionista, educação física, odontologia, nutrição, terapia ocupacional, psicologia, entre outras. Historicamente, é na década de 80 que a psicologia começa a se aproximar das instituições de saúde; conferências, a nova constituição e uma visão mais ampla de saúde permitem que a atuação desse profissional adentre à atenção básica. A psicologia dentro das unidades de saúde (UBS) está inserida, principalmente, em equipes estratégicas, como o Núcleo de Apoio Saúde da Família (NASF), este é responsável em auxiliar unidades que estão vinculados ao programa saúde da família. No entanto, apesar de estar presente no SUS, observa-se ainda uma formação acadêmica que privilegia um modelo clínico, o que limita a atuação desses profissionais na rede pública de saúde, uma vez que a prática ainda está muito vinculada à um tipo de clínica individualizada caracterizada pela consulta psicológica, podendo dificultar a atuação da psicologia na saúde, visto que suas amplas formas de promoção de saúde são, muitas vezes, desconhecidas e/ou limitadas no campo de trabalho. Em relação à cidade de Cametá, localizada na região Baixo Tocantins no Pará, em 2009 foram registrados 34 estabelecimentos do SUS na cidade, e vivenciamos a rotina e realizamos atividades em duas unidades básicas de saúde no município, as quais recebem os serviços da psicologia por meio do NASF, esta por sua vez conta com duas psicólogas que realizam atendimento e atividades em 5 unidades de saúde. Objetivo: Relatar a prática da psicologia, através da experiência de estagiárias de psicologia em uma unidade básica de saúde de Cametá durante a realização da imersão em campo através do projeto Multicampi Saúde da UFPA. Descrição da Experiência: Estudo descritivo, do tipo relato de experiência vivenciado por acadêmicas de psicologia, ambas do oitavo semestre, bolsistas do Projeto Multicampi Saúde UFPA. Inicialmente, as estagiárias buscaram conhecer a rotina e os profissionais das unidades, entre eles: médico, enfermeiro, agentes comunitários de saúde, psicólogas entre outros; além disso, observou-se as demandas mais frequentes, o público que comumente se encontra na unidade e as atividades promovidas pela e dentro da unidade básica de saúde. Posteriormente, e quando possível, foram observadas as responsabilidades da psicologia, mediante o contato com duas psicólogas da equipe do NASF, as quais visitavam as unidades em dias alternados. Por fim, as estagiárias realizaram atividades em conjunto e separadas com o objetivo de promover saúde mental durante o mês de agosto de 2019. Resultado: A rotina das unidades eram mais corriqueiras no período da manhã, sendo a tarde, portanto, mais tranquila, utilizada muitas vezes para planejamento da semana, organização de papelada e reuniões entre equipe. Os coordenadores das unidades organizavam a semana de acordo com demandas específicas com o objetivo de atender públicos que merecem um acompanhamento mais próximo como: puérperas, crianças e idosos. Além disso havia dias em que ocorria “demandas espontâneas”, este caracterizado por realização de atendimento ao público diverso, incluindo os já citados, mas também: homens, adolescentes e mulheres, entre outros. Quanto ao trabalho da psicologia, foi comum este estar associado ao atendimento clínico, através das falas de outros profissionais que entendiam a prática psicológica somente por esse ótica e também das falas das próprias psicólogas quando admitiram a dificuldade de se distanciar deste encaminhamento, ou pela formação ou pela extensa demanda e carga horária. Este processo, foi visto de perto, pois ao participar da rotina das unidades, pudemos notar um número elevado de pessoas que buscavam atendimento psicológico individual na unidade. Este processo torna ainda mais difícil a atuação psicológica em outras frentes, visto que os atendimentos possuem uma duração longa, abarcando todo o horário disponível que as psicólogas teriam na unidade. Em relação às atividades organizadas pelas unidades, foi comum a existência de palestras para alertar a população de uma determinada doença e com isso prevenir a sua aparição, além disso o NASF junto com profissionais da educação física, pedagogia, serviço social e a psicologia, organizavam um grupo voltado para idosos chamado “Viver Bem”, com o objetivo de promover saúde mental e física, o grupo realizava danças, conversas grupais e atividades físicas. Porém, além desse, não havia outros grupos destinados a outros públicos. Diante de tudo o que foi exposto, e seguindo orientação da supervisora e das psicólogas, foi planejado e realizado atividades com o objetivo 1) evitar atuar apenas na consulta psicológica individualizada e 2) abranger outros públicos. Estas duas questões, foram contempladas com a criação de dois grupos: um voltado para crianças e outro para profissionais de saúde. O primeiro surgiu com a necessidade de aproximar o público infantil das unidades driblando o medo e ao mesmo tempo promovendo conhecimento sobre cuidados pessoais, através de brincadeiras, jogos e dinâmicas. As crianças passaram a interagir mais com os profissionais da própria unidade. O segundo surgiu, a partir, de relatos constantes de estresse ocupacional, suicídio de uma profissional de saúde e também suspeitas de depressão, pelas estagiárias, em relação a uma profissional de uma UBS. Sendo assim, nesse segundo grupo foi trabalhado principalmente escuta grupal e manejo de estresse. Considerações finais: A organização dos atendimentos se mostrou de extrema relevância para organização dos horários das profissionais, pois como o NASF é uma equipe que transita entre várias unidades, a organização de atendimento das mesmas permitiu que as psicólogas pudessem estar presente pelo menos uma vez na semana em cada unidade. Infelizmente, fatores como: demanda muito alta, carga horária extensa, formação acadêmica e ausência de educação permanente, acaba privilegiando um modelo clínico, voltado para o atendimento individual. Ressaltamos que não busca-se neste resumo diminuir o valor do atendimento individual, no entanto a experiência no estágio permitiu concluir que há uma necessidade de realizar ações diferenciadas, através da criação dos grupos, nos quais os usuários podem encontrar suporte e manutenção, porém isso requer no mínimo 1) formação acadêmica que abranja outros meios de se praticar a psicologia e 2) a existência de mais profissionais de psicologia no SUS para reforçar e suportar uma grande demanda existente. Ambos os grupos criados, se mostraram de extrema importância para o cotidiano das unidades, visto que foi um momento não só de desmitificar a prática psicológica, como também, o retorno positivo das unidades e dos próprios participantes dos grupos, nos fez concluir a necessidade de ampliação da prática. Por fim, a experiência de estágio proporcionou uma grande oportunidade de crescimento profissional, visto que a vivência diária dentro da UBS permitiu que as acadêmicas pudessem praticar ações de saúde mental, sem a visão clínica mais comum. Ademais, afirmamos a necessidade de investir em projetos e estágios voltados para a atenção básica, visto que é um local propício para o processo de ensino-aprendizagem, principalmente porque oferece aos futuros profissionais outras possibilidades de atuação. |
7945 | A EXPERIÊNCIA DE CONSTRUÇÃO DO GUIA PRÁTICO DE ECONOMIA SOLIDÁRIA E SAÚDE MENTAL: DÁ PARA FAZER! Angela Pereira Figueiredo, Ariadna Patricia Estevez Alvarez, Neli Castro Almeida A EXPERIÊNCIA DE CONSTRUÇÃO DO GUIA PRÁTICO DE ECONOMIA SOLIDÁRIA E SAÚDE MENTAL: DÁ PARA FAZER!Autores: Angela Pereira Figueiredo, Ariadna Patricia Estevez Alvarez, Neli Castro Almeida
Apresentação: A experiência se trata da construção do Guia prático de economia solidária e saúde mental, um instrumento de intervenção em saúde coletiva, desenvolvido no período de setembro a dezembro do ano de 2017. Como objetivos, busca-se apresentar a experiência de construção do guia e as questões acerca do processo de elaboração dessa ferramenta, que tem como meta principal contribuir para novas formas inventivas de trabalho, baseadas na Economia Solidária, subsidiando avanços às práticas na rede de atenção psicossocial. A metodologia de construção do guia baseou-se no oferecimento de conceitos e orientações fundamentais para os diferentes atores - usuários(as), familiares, trabalhadores(as), estudantes, militantes - que participam da implementação dos empreendimentos de geração de trabalho e renda nos serviços. Também foram incluídas questões para serem discutidas pelos leitores em seus diferentes espaços de atuação, tendo por objetivo final a escrita coletiva de seus próprios projetos de geração de renda. Como resultado obtivemos uma publicação que está organizada em quatro seções: a primeira trata das interfaces entre a economia solidária e a saúde mental; a segunda discute as diretrizes e os conceitos fundamentais norteadores das práticas solidárias; a terceira volta-se à instrumentalização da escrita e ao desenvolvimento de projetos de geração de trabalho e renda; a quarta apresenta um conjunto de experiências exitosas no eixo Rio-São Paulo, no intuito de demonstrar que sim, Dá para fazer!O trabalho solidário pode possibilitar ampliação de direitos e construção da cidadania de pessoas em processo de vulnerabilidade social, incluindo-as nas trocas sociais, materiais e afetivas. Apesar do aumento de experiências de geração de trabalho e renda na rede de atenção psicossocial, elas ainda apresentam dificuldades de formalização e são frágeis do ponto de vista financeiro, tanto para a manutenção do empreendimento, quanto na geração de renda significativa para subsistência dos artesãos. Os projetos de geração de trabalho e renda precisam se articular com outras redes sociais e comunitárias para tornarem-se potentes. É necessária também a ampliação de políticas públicas efetivas e permanentes para a inclusão social pelo trabalho. O guia pretende colocar essas questões em pauta e instrumentalizar os grupos para ajudar a diminuir as barreiras e dificuldades na escrita e na implantação de projetos de geração de trabalho e renda. |
7952 | PERCEPÇÃO DE ADOLESCENTES ESCOLARES SOBRE A ATUAÇÃO DE INSTÂNCIAS SOCIAIS ANTE OCORRÊNCIA DO BULLYING Juliette Viana Melo Heringer, Tadeu da Costa Lessa, Gláucia Formozo Alexandre, Juliana Caroline de Araujo Pimentel Dias, Beatriz Roldan Salgado, Naiane Abreu Leal, Polyana Pessanha Lourenço PERCEPÇÃO DE ADOLESCENTES ESCOLARES SOBRE A ATUAÇÃO DE INSTÂNCIAS SOCIAIS ANTE OCORRÊNCIA DO BULLYINGAutores: Juliette Viana Melo Heringer, Tadeu da Costa Lessa, Gláucia Formozo Alexandre, Juliana Caroline de Araujo Pimentel Dias, Beatriz Roldan Salgado, Naiane Abreu Leal, Polyana Pessanha Lourenço
Apresentação: O Bullying classifica-se como um problema de Saúde Pública que aflige consequências no desenvolvimento físico, psicossocial e na fase escolar de crianças e adolescentes. Por ser um problema complexo há necessidade crescente de incentivo na aplicação de políticas sociais existentes e fomento em pesquisas cientificas acerca do tema. Objetivo: Analisar a estrutura e o conteúdo a respeito da percepção de adolescentes escolares do município de Macaé (RJ) em relação às ações de instâncias sociais de referência aos próprios e as suas consequências após o relato da ocorrência de Bullying. Método: trata-se de estudo exploratório-descritivo de abordagem qualitativa, pautado na abordagem estrutural das representações sociais. Participaram 120 adolescentes escolares de duas instituições públicas de ensino de Macaé (RJ), com idades entre 15 e 19 anos. A coleta de dados ocorreu por questionário sociodemográfico e questões específicas que abordavam o objeto de estudo com análise por estatística descritiva com auxílio dos softwares Excel e SPSS. Resultado: Após as análises realizadas, obteve-se como dados que (71,7%) dos adolescentes consideraram ter sido vítimas de Bullying. Na questão referente ao que ocorreu após haver relato sobre ter sido vítima de Bullying em (5,8%) das análises houve providência e o Bullying continuou, (10,8%) houve providência e o Bullying parou, (13,3%) não houve providência porém o Bullying parou, (5,8%) não houve providência e Bullying continuou, (4,2%) não souberam responder, (8%) não responderam e (59,2%) não se aplicava a questão. Considerações finais: Apesar de as intervenções terem apresentado resultados mais positivos, ainda é alto o número de casos em que não houve providência ou que as intervenções não foram suficientes. Assim, há necessidade da execução de ações contínuas e eficientes que cercam o tema do bullying ultrapassando as barreiras escolares. |
8024 | PRODUÇÕES CIENTÍFICAS ACERCA DA ATUAÇÃO DE PSICÓLOGOS NAS UNIDADES BÁSICAS DE SAÚDE ENTRE 2015 E 2019 Wenderson Barros Santiago, Mauricio Amaral de Souza, Eden Henrique Costa Ramos, Gilda Leticia Oliveira Andrade, Wagner Moraes de Souza PRODUÇÕES CIENTÍFICAS ACERCA DA ATUAÇÃO DE PSICÓLOGOS NAS UNIDADES BÁSICAS DE SAÚDE ENTRE 2015 E 2019Autores: Wenderson Barros Santiago, Mauricio Amaral de Souza, Eden Henrique Costa Ramos, Gilda Leticia Oliveira Andrade, Wagner Moraes de Souza
Apresentação: O Núcleo de Apoio a Estratégia de Saúde da família (NASF) foi criado como forma de aumentar a abrangência das ações da atenção básica. Suas intervenções devem partir das demandas indicadas pelas equipes da atenção primária e ocorrer de forma integrada. O NASF conta com profissionais de saúde mental, entre esses, o psicólogo. Uma série de atividades pode ser realizada por esses profissionais, como discussões de caso, atendimento em conjunto e individual compartilhado, construção de Plano Terapêutico Individual (PTS), intervenções intersetoriais, ação em prevenção e promoção de saúde, entre outras. Percebe-se que há variedade de possibilidades de atuação. Dessa forma, este trabalho objetiva levantar as produções de artigos científicos acerca da atuação de psicólogos nas unidades básicas de saúde entre os anos de 2015 e 2019. Método do estudo de revisão a cerca das produções de artigos científicos acerca da atuação de psicólogos. Utilizou-se os descritores “psicologia”, “unidade básica de saúde”, “atenção básica”, “atenção primária” nas bases de dado PubMed e LILACS e biblioteca eletrônica ScieELO entre os anos de 2015 e 2019. Selecionou-se os artigos com base na leitura dos títulos e resumos. O critério de exclusão foram artigos de reflexão teóricos, revisão de literatura, dissertações e capítulo de livro. Resultado: encontrados Foram encontrados 96 artigos a partir da biblioteca SIELO, 2 artigos da plataforma PubMed e 3 artigos da plataforma Pepsi, totalizando 101 resultados. Com base na leitura dos títulos e resumos foram selecionados 14 artigos. Destes, todos eram pesquisas qualitativas, sendo que sete eram de entrevistas com psicólogos e demais profissionais, seis eram relatos de experiência e um tratava-se de uma pesquisa intervenção. A pesquisa-intervenção relatava a prática de um consultório de rua aproximar um usuário e integra-lo as atuações da UBS e um artigo relatava a criação de um grupo para debater alcoolismo entre homens. Contudo, a maior parte dos trabalhos focava na atuação cotidiana do psicólogo dentro das unidades de saúde a partir do NASF. Cinco apontavam ações semelhantes ao previsto para os psicólogos do NASF, como reuniões de matriciamento, discussões de casos, intervenções coletivas em saúde, atendimento psicoterápico individual breve, quando necessário, construção de PTS, visita domiciliar. Enquanto que seis trabalhos demonstram atuação que não condiz com as diretrizes, como falta de reuniões para discussão de casos e falta de atuação interdisciplinar, restrição de ação em saúde mental aos profissionais da psicologia, atendimento individual ambulatorial recorrente e falta de integralização entre NASF e ESF e poucas ações intersetoriais. Considerações finais: A pesquisa apontou que trabalhos ainda apontam a dificuldade de inserção do psicólogo na atenção básica de saúde. Com ações vinculadas ao atendimento clínico, individualizado e sem integração com outras áreas, além da dificuldade em realizar o apoio matricial com discussões de caso, construção de PTS e ações intersetoriais. Outros trabalhos também mostram a relevância da sua atuação quando ocorre conforme a portaria e caderno da atenção básica. Faz-se necessário a realização de novas pesquisas quantitativas que verifiquem qual a realidade da atuação desse profissional no NASF de forma precisa. |
8262 | ATIVIDADE EDUCATIVA SOBRE O ESTRESSE NO AMBIENTE ACADÊMICO: RELATO DE EXPERIÊNCIA Ana Eduarda Bastos da Costa, Bianca de Souza Vaz, Emilly Vasconcelos Goulart, Yasmin Janaina Silva de Sousa, Thamires Rosa Freitas do Nascimento, Érika Marcilla de Sousa Couto ATIVIDADE EDUCATIVA SOBRE O ESTRESSE NO AMBIENTE ACADÊMICO: RELATO DE EXPERIÊNCIAAutores: Ana Eduarda Bastos da Costa, Bianca de Souza Vaz, Emilly Vasconcelos Goulart, Yasmin Janaina Silva de Sousa, Thamires Rosa Freitas do Nascimento, Érika Marcilla de Sousa Couto
Apresentação: O estresse, como um processo, é a relação do indivíduo e o seu ambiente, onde o agente estressor é percebido como ameaça e supera a capacidade de enfrentamento do indivíduo, haja vista que o potencial do agente estressor depende diretamente da percepção deste. Assim, as pessoas estão sujeitas ao estresse em diferentes fases da vida, por isto, a entrada para o ensino superior representa para muitos estudantes um momento marcado por estresse em decorrência das inúmeras mudanças e adaptações exigidas por esse novo ambiente. O objetivo deste estudo é relatar a experiência de acadêmicas de enfermagem acerca de uma atividade educativa sobre o estresse no ambiente acadêmico. Desenvolvimento: Trata- se de um estudo descritivo, do tipo relato de experiência, baseado na Metodologia da Problematização - MP, segundo o Arco de Maguerez, realizada por docente e discentes do 4° semestre do curso de Enfermagem da Universidade do Estado do Pará (UEPA) para às Ações Integradas em Saúde (AIS). Resultado: A partir do relato dos graduandos foi possível identificar os principais estressores, são estes: adaptação ao ambiente acadêmico, excesso de atividades acadêmicas, vida social prejudicada, e a relação com outros problemas psicológicos, como a ansiedade, dessa forma, influenciando de forma negativa o aprendizado e desempenho acadêmico. Considerações finais: Diante disto, a experiência vivenciada foi de ampla relevância, pois com base nesta observamos que o estudo permitiu maior entendimento quanto ao assunto em questão, no que concerne ao panorama da ocorrência do estresse entre acadêmicos e as possibilidades de enfrentamento, além disso, a metodologia utilizada foi de significativa importância, já que esta aproxima o discente da realidade, o que possibilita o aperfeiçoamento de habilidades de resolução mais rápidas e eficazes. |
8279 | RISCO DE SUICÍDIO EM USUÁRIOS DE SUBSTÂNCIA PSICOATIVAS DA 11ª REGIÃO DE SAÚDE DO ESTADO DO CEARÁ Marcos Pires Campos, ELIANY Nazaré OLIVEIRA, JESSICA PASSOS XIMENES FURTADO RISCO DE SUICÍDIO EM USUÁRIOS DE SUBSTÂNCIA PSICOATIVAS DA 11ª REGIÃO DE SAÚDE DO ESTADO DO CEARÁAutores: Marcos Pires Campos, ELIANY Nazaré OLIVEIRA, JESSICA PASSOS XIMENES FURTADO
Apresentação: O uso de substâncias psicoativas (SPA) é considerado um grave problema de saúde pública. Percebe-se que o uso abusivo pode influenciar no desenvolvimento de doenças clínicas, assim como há associações significativas entre o uso de substâncias psicoativas e o risco de tentativa de suicídio. O suicídio apresenta-se como um fenômeno complexo, fruto da interação de vários fatores seja pessoal, familiar ou até mesmo e social. Objetivo: A pesquisa objetivou analisar a existência do risco de suicídio em usuários de substância psicoativas da 11ª Região de Saúde do Estado do Ceará. Método: Trata-se de um estudo com abordagem quantitativa e de análise diagnóstica classificada como transversal com caráter exploratório-descritivo. A pesquisa foi realizada nos municípios de Cariré, Coreaú, Forquilha, Santa Quitéria e Varjota, escolhidos por meio de sorteio, e, os participantes do estudo foram usuários de substâncias psicoativas acompanhados na ESF. A pesquisa contou com 141 usuários. A coleta de dados ocorreu no período de fevereiro a setembro de 2019 e, para tal, foi utilizado como instrumento de coleta de dados o Índice de Risco de Suicídio (IRIS). Este estudo é parte de uma pesquisa mais ampla intitula: Saúde Mental e o Risco de Suicídio em Usuários de Drogas, e, possui aprovação do Comitê de Ética sob o parecer 2.739.560. Os dados foram organizados no Microsoft Excel 2017 e analisados no software R versão 3.4.2. Resultado: e Discursões: De acordo com o IRIS, identificou-se que 36 (25,5%) têm risco leve, 77 (54,6%) têm risco moderado, e 28 (19,9%) têm alto risco de suicídio. Logo em seguida estão descritos quantitativamente os critérios de repercussão da classificação do risco dos usuários participantes. Quanto as aspectos relacionados ao suicídio, 91 (64,5%) eram do sexo masculino, em relação a idade 73 (51,8%) apresentam idade maior ou igual que 45 anos, 40 (28,4%) apresentaram isolamento, 77 (54,6%) tiveram alguma perda recente marcante, 131 (92,9%) relataram abuso de uso de drogas, 19 (13,5%) tem histórico de internamento psiquiátrico, 22 (15,6%) apresenta histórico familiar de suicídio, 23 (16,3%) tem história pessoal de comportamento suicida e 8 (5,7%) plano suicida. Em estudo realizado em 2017, que avaliou a incidência e preditores de ideação suicida (IS) e tentativa de suicídio (TS) nos serviços de Atenção Primária, foi identificado um percentual relevante de IS 12% (n=104) e TS 39,8% (n=345) correlacionado ao uso de SPA. Estudos apontam que um número significativo de pessoas que tiveram como causa da morte o suicídio, procuraram auxílio na Atenção Primária à Saúde momentos antes de realizar o ato, enfatizando a importância da identificação dos fatores de risco e melhor adaptação dos profissionais diante de cada caso. Considerações finais: Diante disso, é necessário uma reflexão crítica sobre a associação do uso abusivo de SPA com o processo de saúde/doença e o riso de tentativa de suicídio. Mostrando a importância de fomentar ações de promoção da saúde nessa perspectiva, visando o cuidado do indivíduo de forma integral, dando suporte às necessidades que estão interligadas ao campo biopsicossocial. |
8329 | ATENDIMENTO COMPARTILHADO EM GRUPO TERAPÊUTICO. RESSIGNIFICANDO O CUIDADO NA SAÚDE MENTAL. Cassia Regina Santana de Souza, Juliane Bárbara Andrade dos Santos ATENDIMENTO COMPARTILHADO EM GRUPO TERAPÊUTICO. RESSIGNIFICANDO O CUIDADO NA SAÚDE MENTAL.Autores: Cassia Regina Santana de Souza, Juliane Bárbara Andrade dos Santos
Apresentação: Caracterizada como “transtorno do controle do impulso não específico” ou um dos sintomas do transtorno de personalidade Boderline, a automutilação é uma manifestação crescente entre os adolescentes. No cenário escolar, é verificado que aqueles que apresentam: conflitos familiares recorrentes; vulnerabilidade socioeconômica e; estão vivenciando processo de aceitação e descoberta da sexualidade, compõe o grupo de maior incidência desta prática. Tendo em vista o aumento de casos do referido transtorno, foi elaborado em um município baiano um serviço terapêutico a fim de responder esta demanda sanitária. Neste sentido, objetiva-se relatar o impacto de um grupo terapêutico de saúde mental, desenvolvido sob a ótica dos preceitos defendidos pela reforma psiquiátrica. Desenvolvimento: Relato de experiência, desenvolvido por equipe multiprofissional da Secretaria Municipal de Educação de Teolândia - BA no segundo semestre do ano de 2019. Tece como fundamentação teórica a abordagem sócia histórica, cujo sujeito é parte fundamental para o entendimento de sua relação com o meio interno e social. Foi solicitado que as escolas da rede municipal encaminhassem ao serviço, juntamente com pais e/ou responsáveis, os escolares que apresentavam baixo rendimento escolar associado à prática de automutilação. Houveram quatro grupos, cada um composto por 10 sujeitos, cujo objetivo permitiu trabalhar demandas de ordem psicológicas e fonoaudiológicas, realizando cinco encontros com eixo central de “prevenção à saúde mental” e enfoque nas emoções e suas manifestações. Resultado: O grupo terapêutico conseguiu alcançar 40 estudantes de 04 escolas. Inicialmente, houve dificuldade no estabelecimento de vínculo e confiança entre os membros do grupo. Com o passar dos encontros notou-se a criação de sentimento de pertencimento e entendimento sobre o porquê eles estavam naquele espaço, tornando-se assim um lugar seguro e acolhedor. As mudanças de olhares sobre os sujeitos, desmistificando questões de ordem educacional, comportamental e sexual, foram imprescindíveis para que os mesmos se vissem representados a partir de um grupo social com questões de ordem comum, possibilitando mudança comportamental dos hábitos de automutilação e melhorando o desempenho escolar. Como produto terapêutico, durante os encontro, foram elaborados produções escritas, desenhos e manifestações artísticas em forma de poesia e música, no intuito de possibilitar o acompanhamento do processo de cuidado. Além do trabalho coletivo, houveram atendimento individuais e encaminhamentos, para os casos graves e, orientações aos familiares e instituições de ensino. Considerações finais: Com a concepção ampliada sobre o processo saúde-doença, é necessário que as instituições de ensino, os serviços de saúde, e de assistência social estejam integrados na realização de ações preventivas e terapêuticas numa perspectiva de trabalho intersetorial. Grupos como este revelam potencialidade do trabalho da Atenção Primária à Saúde, desmistificando que questões de saúde mental devam ser responsabilidades exclusivas de serviços de média e alta complexidade. Valorizar iniciativas como o Programa Saúde na Escola, bem como a criação de centros de atendimento multiprofissionais, quando necessário, são meios para a garantia do acesso deste público aos serviços de saúde. Por fim, adotar outras estratégias, como artes e diálogos na terapêutica, apontam para resultados surpreendentes. |
8353 | UMA CASA QUE VIVE EM REFORMA: CUIDADO EM SAÚDE MENTAL DENTRO DO HOSPITAL GERAL Francine Rodrigues Trindade, Marcus Cristian Muniz Conde UMA CASA QUE VIVE EM REFORMA: CUIDADO EM SAÚDE MENTAL DENTRO DO HOSPITAL GERALAutores: Francine Rodrigues Trindade, Marcus Cristian Muniz Conde
Apresentação: Se trata de um relato de experiência de uma trajetória profissional atravessada pela busca curiosa do entendimento do lugar no qual desenvolvi minha prática profissional como enfermeira assistencial. Como fazer para que nosso cuidado não seja pautado por uma objetividade fantasmal pela coisificação das relações humanas? O presente trabalho objetiva abordar o cuidado em saúde mental dentro de um hospital geral, trazendo a reflexão da produção de conhecimento a partir dos encontros e do trabalho vivo em ato, na atuação do profissional como ator de práticas em saúde. Desenvolvimento: Busco na Especialização em Saúde Mental Coletiva um ciclo formação-trabalho-formação, no qual se colocam como premissas a formação profissional básica, o exercício profissional do trabalho e a educação permanente. Admitindo o desconforto do meu trabalho na internação em saúde mental em um hospital geral, e na disposição em produzir alternativas, busco a narrativa desses desconfortos, sobretudo a narração de encontros, na busca de suas potencialidades, na perspectiva da reflexão sobre a prática de cuidado e da necessidade de produzir transformações. Falo da necessidade, então, de uma escuta sensível, em que o outro me convida a ajudar a dar sentido ao que ele fala, acompanhada da interlocução, que pressupõe a existência de sujeitos que se comunicam a partir de situações da realidade social concreta em que se encontram, originalmente significa diálogo, mas o significado foi estendido a toda forma de interação e comunicação entre os sujeitos. Resultado: Fica evidente a necessidade da educação permanente, que assegura ao profissional um lugar de ator social do trabalho e das práticas resolutivas e acolhedoras de gestão e atenção em saúde, que supõe um outro entendimento social em relação às formas de produzir e prestar serviços à população, e nas relações que envolvem gestores e trabalhadores e suas experiências cotidianas do trabalho em saúde. Nessa perspectiva podemos dizer que a formação pela educação permanente pode proporcionar o cuidado em saúde com vistas nas reais necessidades da população atendida evitando o desgaste dos profissionais. “porque sempre seremos poucos, sempre estaremos desatualizados, nunca dominaremos tudo o que se requer em situações complexas de necessidades em/direitos à saúde”. Considerações finais: O exercício do trabalho e a busca pela formação através da educação permanente, que trata de se encarregar de proporcionar os encontros, encontros que compõem, e possibilitam o desenvolvimento de dispositivos clínico políticos para construção de um cuidado que possibilite atenção integral, considerando que os trabalhadores de saúde são construtores de uma casa que, por concepção, deve estar sempre em reforma. |
8534 | GRUPOS DE OUVIDORES DE VOZES: UM ESTUDO SOBRE SEUS BENEFÍCIOS E SUAS POTENCIALIDADES Larissa Raiza Costa Carneiro, Ana Júlia Chaves Melo, Paula Marília Nascimento Moura, Beatriz Fragoso Cruz, Elon de Sousa Nascimento GRUPOS DE OUVIDORES DE VOZES: UM ESTUDO SOBRE SEUS BENEFÍCIOS E SUAS POTENCIALIDADESAutores: Larissa Raiza Costa Carneiro, Ana Júlia Chaves Melo, Paula Marília Nascimento Moura, Beatriz Fragoso Cruz, Elon de Sousa Nascimento
Apresentação: O Movimento Internacional de Ouvidores de Vozes surgiu na Holanda na segunda metade dos anos 1980, pela necessidade de uma visão alternativa e não patologizável sobre o fenômeno de ouvir vozes. Assim, os Grupos de Ouvidores de Vozes caracterizam-se por serem espaços de ajuda mútua, nos quais indivíduos que ouvem vozes podem coconstruir experiências e sentidos sobre suas vivências, que vão para além do estigma tradicional da psiquiatria e do senso comum. O objetivo deste trabalho é reunir experiências benéficas provenientes dos grupos e descrever a potencialidade do mesmo para os participantes. Para isso, uma revisão sistematizada de literatura foi realizada e a investigação ocorreu por meio de três bases de dados: SciELO, PePSIC - BVS e Periódicos Eletrônicos UFPel, sem limite temporal e com os seguintes descritores: “ouvidores de vozes”; ouvir vozes; ajuda mútua. A pesquisa indicou o total de 35 títulos de artigos e os mesmos foram examinados quanto à adequação do objetivo. Assim, identificaram-se 27 para análise de texto completo, dos quais 16, após verificação, preencheram o critério de inclusão. A partir das literaturas consultadas foi possível perceber que a participação em grupos de ouvidores de vozes tende a ser uma experiência muito agregadora e potente para os participantes, afinal, são espaços que permitem a essas pessoas, geralmente isoladas da sociedade, compartilharem suas vivências subjetivas como ouvidores de vozes. Nesse sentido, os benefícios que foram identificados em todos os textos são: compartilhamento de experiências; ressignificação das vozes e apoio mútuo. O compartilhamento de experiências entre os ouvidores gera alívio e tende a diminuir a ansiedade; a ressignificação dos conteúdos das vozes é um dispositivo imprescindível para o favorecimento da aceitação e melhora do relacionamento com as vozes e o apoio mútuo é ocasionado pelas interações entre os membros. Também se observou, de forma variada nos artigos, que os grupos legitimam o contato e a aceitação positiva da experiência, bem como buscam ver ouvidores como sujeitos ativos nos próprios processos de mudança, contribuindo para a reconquista de autonomia. Além disso, proporcionam sentimento de pertencimento, trocas de estratégias para lidar com as vozes, esperança de reconstrução da saúde mental e desconstrução de estigmas. Ademais, verificou-se que existem Grupos de Ouvidores de Vozes em meio virtual, que complementam a rede de suporte e cuidado para ouvidores, familiares e profissionais; tal como ampliam a possibilidade de interação entre os pares e favorecem o processo de ajuda mútua nos momentos de crise, pois através da conectividade os diálogos podem ser instantâneos. Dessa forma, acredita-se ser fundamental que um maior número de pessoas conheça o Movimento de Ouvidores de Vozes e a sua potência diante de um contexto de saúde em que, muitas vezes, o diagnóstico é a primeira resposta para as vozes, apesar de criar mais sofrimento. A Nova Abordagem em Saúde Mental dos Grupos de Ouvidores de Vozes, assim, surge como um meio inovador que explora a história e relação entre o ouvidor e seu fenômeno. |
8883 | UM SAMBA COMO ESTE TÃO LEGAL – QUEM VAI QUERER QUE ELE CHEGUE AO FINAL? REDUZINDO OS DANOS NA ATUAL POLÍTICA DE DROGAS Károl Veiga Cabral, Marilda Nazaré Nascimento Barbedo Couto, Artur Nascimento Barbedo Couto, Márcio Mariath Belloc UM SAMBA COMO ESTE TÃO LEGAL – QUEM VAI QUERER QUE ELE CHEGUE AO FINAL? REDUZINDO OS DANOS NA ATUAL POLÍTICA DE DROGASAutores: Károl Veiga Cabral, Marilda Nazaré Nascimento Barbedo Couto, Artur Nascimento Barbedo Couto, Márcio Mariath Belloc
Apresentação: A Redução de Danos (RD) foi introduzida no Brasil em 1989, na cidade de Santos (SP), inicialmente com o programa de troca de seringas e, após alguns anos transformou-se em política pública através da Política de Atenção Integral a Usuários de Álcool e outras Drogas (2003) do Ministério da Saúde, constituíndo-se como importante diretriz ética para o cuidado em saúde mental. Porém, em seu percurso de implementação enfrentou muita resistência dos setores mais conservadores da sociedade e dos operadores da industria da loucura, interessados em lucrar e não cuidar das pessoas respeitando suas singularidades e decisões. As questões morais que definem o que é considerado droga, os usos e as substâncias autorizadas nunca foi consenso em nossa sociedade. As falsas polêmicas que colocam a redução de danos como vilã, frente a uma sociedade de adictos que define quais adições podem ser consideradas toleráveis em nossa aldeia global, bem como as relações histórico-políticas envolvendo o campo das drogas e seu tratamento estão longe de encontrar solução no Brasil. Apesar das resistências, os programas de troca de seringas passam a se configurar como um dispositivo de cuidado presente em diferentes espaços da rede de atenção psicossocial, viável apenas pelas alterações impressas na cultura do cuidado, como espaços e práticas mais democráticos e cidadãs. As forças conservadoras e morais que sempre atuaram no território perdem forças frente aos significativos resultados que a política de redução de danos vai desenhando no país, conjuntamente com uma produção técnica disseminada nas publicações e pesquisas na área. Ou seja, um cenário técnico-político favorável permite a RD florescer. Com ela, a autonomia e o protagonismo das usuárias(os) sobre suas vidas. Porém, ainda que a prática vigore e várias iniciativas se configurem no território nacional, a disputa pela velha forma de cuidar, as linhas de forças de um tratamento higienista, prescritivo e curativo sempre estiveram presentes tensionando pelas formas controladoras e autoritárias no “cuidado”. A proposta de um tratamento prescritivo baseado no modelo biomédico no qual o profissional determina o que o outro deve ou não fazer sempre esteve presente no setor saúde. Nesta modelagem não há espaço para o saber do usuário sobre o seu uso, ou mesmo de como realizar o tratamento. O sujeito, destituído de desejos, torna-se objeto de aplicabilidade dos saberes profissionais. Esta disputa de modelo seguiu como realidade em nosso país, ainda que a política de RD tenha se configurado como norma nas portarias ministeriais, que seu uso nas equipes tenha se redimensionado e que as publicações de artigos científicos tenham aumentado significativamente a popularidade da RD. Na esteira desse processo, as mudanças seguem ocorrendo e esgaçando o tecido social e com ele a cultura. As forças conservadoras, o discurso da intolerância, a polarização das ditas forças “do bem e do mal” se avolumam, ainda que esta seja uma ideia totalmente simplista para ler o que se passa na sociedade, ela ganha espaço e domina os discursos vigentes. Neste cenário conservador e obscurantista a RD perde terreno e vai desaparecendo da macropolítica. Assim, tal conjuntura de desmonte das políticas públicas, de estado mínimo e de avanço das forças conservadoras de orientação neopentecostais, traçam o risco da extinção da RD, através de uma política que preconiza a internação e a abstinência como modelo único a ser seguido. Tal orientação tende a transformar a ainda incipiente rede de serviços substitutivos, que deveriam acolher as pessoas que buscam cuidado em nosso país, em verdadeiros espaços de restrição, julgamento e absolvição. Tal realidade pouco acolhedora, afasta as (os) usuárias(os) com demanda espontanea e passam a ser frequentados por demanda alheia a sua vontade, ou mesmo compulsória. A deslegitimação das práticas de redução de danos pode ser vislumbrada, por exemplo, pela promulgação da nova lei brasileira sobre drogas, a Lei nº 13.840 de 2019. Após intensos conflitos entre forças conservadoras e as ditas progressistas, o termo Redução de Danos, presente na legislação anterior (Lei 11.343 de 2006), é extinto do escopo da lei. Assim sendo, as práticas orientadas pelo cuidado que privilegia os saberes dos usuários e o fortalecimento de sua autonomia perdem sua proteção legal. Como no passado, quando os serviços atendiam pessoas somente a partir de um projeto de abstinência, que se quebrado culminava no afastamento do usuário por falta de “adesão ao tratamento”, a política atual propõe barreiras de acesso aos serviços, contrariando desta forma os princípios do SUS, uma vez que a regulação do acesso na rede de serviços, refere-se sempre a melhor alternativa de cuidado e não a exclusão do sujeito, em função de suas necessidades e escolhas. O acesso reflete a qualidade das relações e aceitabilidade entre usuários e os serviços, no acolhimento, no projeto e continuidade do cuidado, garantindo o direito à saúde previsto na Constituição Brasileira. Um dever do Estado. Com a RD os serviços abriram-se à diversidade, alargaram-se, flexibilizaram-se, sendo tocados diariamente por linhas flexíveis e de fuga que forjavam mudanças éticas e estéticas nos serviços. Um claro movimento que se abre a improvisação, que territorializa, desterritorializa e reterritorializa, a partir dos ritmos cotidianos e diversos. Um lugar de busca, que incluia inclusive a quebra das resistências e das linhas duras. A RD permitiu que os serviços experimentassem uma ética nômade, um movimento prudente. Os ritornelos. Como ficamos então após este ciclo elástico de possibilidades? Como silenciar essa orquestra a partir de um comando sem maestria que vem de longe? Como reduzir os danos que a política atual causa em nossos corpos (trabalhadores e usuários) no cotidiano do cuidado? O que faremos com a experiência da nossa abertura à diversidade e improvisação – o nosso ritornelo? Como deixar de tocar o nosso samba? Frente ao atual estado de forças, o objetivo deste trabalho é dar visibilidade aos conflitos que atravessam as políticas de cuidado para com o usuário de álcool e outras drogas no Brasil, destacando discursos e práticas que insistem em silenciar e deslegitimar a redução de danos como estratégia de cuidado e garantia de direitos, bem como aquelas práticas que apostam nela como um dos caminhos possíveis para repensar a política do cuidado, atravessando os campos da prevenção, do tratamento, da reinserção social, de contenção do poder punitivo e seus efeitos na política criminal de drogas. Assim, cabe no atual contexto analisar como podemos reduzir danos na micropolítica de cuidado instituindo espaços de acolhida e mantendo vivas as diretrizes éticas da redução de danos nos serviços de saúde espalhados pelo país, que podem ser replicadas nos pequenos gestos de cuidado. A experiência mundial nos aponta que instituir um projeto de guerra as drogas, produz mais morte e que o cuidado em liberdade, com respeito ao usuário e seu percurso, é a única forma de abordagem que garante uma adesão genuína daqueles que querem experimentar este cuidado. O sujeito precisa poder desejar e desenhar seu projeto de vida com apoio da rede de serviços. Não existem vidas prescritas. Para tanto, partiremos de experiências vividas a partir de oficinas sobre cuidado em saúde mental, em especial com profissionais da rede de atenção à saúde e assistência social. |
8980 | Tratamento Multidiciplinar de Transtornos Alimentares: desafios, dificuldades e novas perspectivas Marcela Vieira Morais de Paula, Beatriz Ramos Santiago, Ana Caroline dos Santos Rocha, Larissa Megale de Aguiar Tratamento Multidiciplinar de Transtornos Alimentares: desafios, dificuldades e novas perspectivasAutores: Marcela Vieira Morais de Paula, Beatriz Ramos Santiago, Ana Caroline dos Santos Rocha, Larissa Megale de Aguiar
Apresentação: Transtornos alimentares (TAs), se caracterizam por patologias que podem alterar padrões de alimentação que afetam a saúde mental e física de uma pessoa. O tratamento destes vai além de uma intervenção medicamentosa como a maioria das enfermidades no modelo biomédico. Tal modelo de cuidado proporciona uma visão focada nos sintomas físicos e suas consequências no corpo, desconsiderando influências biopsicossociais. TAs são exemplos de doenças que apresentam causas psicológicas para o seu desenvolvimento como problemas com autoimagem, depressão, sentimento de falta de controle, entre outros; bem como sintomas físicos. Essas patologias, que hoje são algumas das maiores causas de mortalidade feminina e que vem também crescendo em prevalência no sexo masculino, exigem um tratamento multidisciplinar que compreenda também os fatores ambientais e sociais envolvidos. O Sistema Único de Saúde (SUS) preconiza que o usuário seja assistido integralmente em suas necessidades, sejam elas psíquicas, orgânicas ou sociais. Isso requer uma discussão interprofissional sobre como lidar com o fenômeno, realizada a partir da Clínica Ampliada. Entretanto, alguns fatores ainda precisam ser superados para implementar uma assistência efetiva para estes usuários. Dessa forma, o presente trabalho busca identificar quais os maiores empecilhos existentes na intervenção destes transtornos no SUS na última década. Foi realizada uma revisão de literatura com buscas em bancos de dados online como o SciELO , periódicos CAPES e BVS utilizando descritores em português pertinentes ao tema como “transtornos alimentares”, “intervenção multidisciplinar” e “desafios”. Foram incluídos 26 estudos dos últimos 10 anos e que abordassem o fazer multiprofissional com TAs. Em seguida, foram selecionados apenas estudos que abordassem temáticas referentes à perspectiva do sus, assim foram utilizados um total de nove estudos para elaborar a discussão do presente trabalho. Os TAs devem ser entendidos a partir de um conjunto de causas biopsicossociais. Dessa forma, encarar o transtorno de uma perspectiva exclusivamente biomédica dificulta o processo de cura do paciente e o reduzem ao transtorno. Apesar do pleno entendimento do diagnóstico ser importante para que a pessoa entenda o que está vivenciando e o que está acontecendo, é importante que ela se veja para além disso e enxergue potencialidades em seu tratamento, o que evita que ela construa uma conceito patologizado de si. A visão biomédica também dificulta com que seja efetivado o trabalho multidisciplinar, a medida que a problemática é vista de uma perspectiva limitada do sujeito, o que acaba sobrecarregando o profissional nutricionista responsável, que muitas vezes é visto como o único responsável pelo tratamento do usuário com TA. Tais fatores vão na contramão do princípio de integralidade do sujeito, previsto pelo SUS. Além disso, quando falamos de tratamento em TAs, não podemos esquecer o âmbito para além do paciente, a adesão ao tratamento não é composta por um único sujeito atuante, é preciso entender a necessidade de uma rede de apoio para aquele paciente, esta serve de ponte entre o paciente e o mundo e é necessário que exista dentro e fora das instituições de saúde. Existe uma demasiada importância de iniciativas de grupo não somente para os sujeitos acometidos pela doença mas para os que o cercam, a dificuldade principal encontrada nesse quesito tem sido de trazer esses sujeitos da rede de apoio para um contexto que eles percebam seu papel nisso tudo. A falta de diálogo, seja com a rede, com o paciente ou entre os profissionais é ainda um grande entrave nesse contexto visto que dificulta o processo subjetivo de cada um destes durante o tratamento. Ademais, ao se tratar de medicalização é preciso pensar todos os âmbitos da vida do paciente, o uso de medicamentos como a Fluoxetina é um exemplo de como nem sempre eliminar os sintomas é garantia de saúde. Para a OMS, saúde se trata de uma situação de perfeito bem-estar físico, mental e social o qual muitas vezes vai para além da retirada dos sintomas. Quanto a questão da Fluoxetina, é um ponto muito crítico, visto que é um dos medicamentos mais indicados pelo SUS de acordo com a cartilha da OMS quando falamos de TAs, depressão e ansiedade e muito pouco se é comunicado aos pacientes sobre seus possíveis efeitos adversos. A falta de comunicação entre a equipe é um dos pontos cruciais quando se pretende uma melhora na adesão de TAs, os pacientes por vezes não têm ideia das interações medicamentosas e como elas poderiam acarretar em efeitos colaterais indesejados; assim, fica perceptível como a não comunicação médico-paciente dificulta não somente a adesão ao tratamento mas o progresso em si. Num contexto de mudanças, o abandono e o absenteísmo aparecem como principais críticas ao tratamento ambulatorial com uma média de 25% de respostas negativas a esse novo modelo. A dificuldade de estabelecer vínculos de confiança com o profissional é a crítica mais notória, visto que os pacientes não conseguem se sentir confortáveis para expressar o que desejam de modo a não se sentirem julgados. Outro fator é a falta de competência técnica sentida pela equipe multiprofissional para trabalhar com TAs, devido à sensibilidade existente e possíveis riscos físicos envolvidos. Em suma, a ausência afetiva e a falta de humanização - apesar da existência de programas como o HumanizaSUS - ainda são queixas recorrentes no contexto de TAs. Diante disso, é interessante perceber que, ao longo da história de desenvolvimento do Tratamento de TAs, houve uma evolução na superação de um modelo de internação para a ascensão de práticas ambulatoriais. Desse modo, observa-se o quanto que as premissas internalizantes do SUS foram capazes de modificar discursos medicalizantes e começar a considerar outros fatores influentes na melhora da saúde. Além do mais, os pressupostos da integralidade também fizeram vir à tona a necessidade de um equipe multidisciplinar que atenda todas as necessidades do paciente. No entanto, o cenário atual de saúde relacionado ao tratamento de TAs ainda apresenta sérios entraves e desafios, ou seja, percebe-se que apesar de todo o aporte filosófico e técnico muitos pacientes ainda abandonam o tratamento, há um falta de comunicação entre as esferas envolvidas, reclamações advindas dos pacientes relacionadas a forma com a qual são tratados pela equipe além de preconceito dos próprios profissionais de saúde ao tratar desta temática. Entretanto, apesar do cenário contraditório, existem alternativas de tratamento humanizadoras e criadas com a prática clínica do dia a dia entre esses profissionais, isto é, diante de um contexto de dificuldades o interessante é que novos caminhos foram e estão sendo apontados. A modificação de algumas posturas com o paciente e a forma de lidar com os questões de cuidado têm sido revolucionárias. Um tratamento baseado na relação horizontal que considera não só os saberes médicos mas também os saberes empíricos do paciente sobre ele mesmo e seu próprio corpo, bem como o estabelecimento de uma relação afetuosa e de confiança estão sendo foco de debates e devem ser encarados como princípios norteadores na abordagem dos TAs. Assim, o tratamento ambulatorial ganharia voz e vez e não ficaria apenas renegado numa cartilha do SUS e os processos curativos e de saúde como um todo poderiam ganhar um status de construção social e dialógica entre atendente e atendido promovendo os objetivos principais de uma equipe multidisciplinar: o cuidado e o bem-estar dos envolvidos. |
10023 | SAÚDE E BEM VIVER PELAS DIMENSÕES DA FELICIDADE INTERNA BRUTA: PROPOSTA DE PROJETO TERAPÊUTICO SINGULAR PARA A ATENÇÃO PSICOSSOCIAL ALEXANDRE TRINO SAÚDE E BEM VIVER PELAS DIMENSÕES DA FELICIDADE INTERNA BRUTA: PROPOSTA DE PROJETO TERAPÊUTICO SINGULAR PARA A ATENÇÃO PSICOSSOCIALAutores: ALEXANDRE TRINO
Apresentação: Esta pesquisa aborda o modelo de atenção adotado no Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) Carlos Augusto Magal, situado na cidade do Rio Janeiro, a partir do seu Projeto Terapêutico Singular (PTS), que se destaca como um indutor da organização do cuidado em torno de processos de trabalho instituídos pela incorporação de um modelo de PTS através da Felicidade Interna Bruta (FIB) e pelo conceito de Bem Viver. A mobilização para esta pesquisa se deu no sentido de desenvolver um PTS pela lógica da FIB. Para isso, foi realizada uma cartografia do conceito de PTS no âmbito da Atenção Psicossocial para identificar espaços que permitissem propor um PTS orientado pela Felicidade Pública ou Coletiva, ao mesmo tempo em que o CAPS citado estava sendo implantado. Assim, pela formulação deste modelo de PTS, junto aos profissionais e gestores de saúde do CAPS, o seu processo de elaboração também orientou estratégias de organização do cuidado no CAPS onde destacamos o PTS pela relação centrada no sujeito promovendo pactuações do cuidado, pela processualidade do vínculo e autonomia, e relacionando-o com projetos para a vida. Apresentamos o conceito de Felicidade Interna Bruta (FIB) e suas nove dimensões, e descrevemos sua aplicabilidade pelo PTS formulado, de forma a torná-lo mais operativo e dinâmico junto ao sujeito, a partir de experiência inovadora de sua utilização no CAPS. Finalmente, a pesquisa desenvolveu dois grupos Focais (GF) com usuários, familiares e trabalhadores do CAPS cujo objetivo foi trazer reflexões sobre o funcionamento do CAPS e a produção de sentidos e de transformação na vida dos usuários diante das ofertas de cuidado e reabilitação psicossocial através de seus Projetos Terapêuticos Singulares. Os resultados da pesquisa, de cunho interdisciplinar e qualitativo demonstram que a estratégia de cuidado fez diferença pelo PTS nas dimensões da FIB, abrindo novas perspectivas de práticas de cuidado. Verifica-se que o cardápio de ofertas de atividades voltadas para o fortalecimento de ações territoriais, impulsionaram a vitalidade comunitária dos usuários, com diversas ações de resgate da cidadania e de inclusão social dos usuários, ampliação da rede de apoio social, promoção de espaços de convivência comunitária, e ações para o Bem Viver. |