416: Ações em saúde e as essências do cuidado | |
Debatedor: Eliane Andrade | |
Data: 28/10/2020 Local: Sala 10 - Rodas de Conversa Horário: 16:00 - 18:00 | |
ID | Título do Trabalho/Autores |
8172 | A ASSISTÊNCIA DA POPULAÇÃO LGBT E A PROMOÇÃO DA HUMANIZAÇÃO DO CUIDADO NAS PERSPECTIVAS INTEGRAL E INTERPROFISSIONAL EM SITUAÇÕES DE ABORTAMENTO Samuel Gonçalves Pinto, Adriane das Neves Silva, Rebecca Barbosa de Decco Monteiro Marinh, Elisa Beatriz Braga dell’Orto van Eyken, Juliana Candido Pinto, Erida Aparecida José da Silva, Angélica Barra Mariano, Sylvia Helena Vicente Rabello A ASSISTÊNCIA DA POPULAÇÃO LGBT E A PROMOÇÃO DA HUMANIZAÇÃO DO CUIDADO NAS PERSPECTIVAS INTEGRAL E INTERPROFISSIONAL EM SITUAÇÕES DE ABORTAMENTOAutores: Samuel Gonçalves Pinto, Adriane das Neves Silva, Rebecca Barbosa de Decco Monteiro Marinh, Elisa Beatriz Braga dell’Orto van Eyken, Juliana Candido Pinto, Erida Aparecida José da Silva, Angélica Barra Mariano, Sylvia Helena Vicente Rabello
Apresentação: Esse relato de experiência diz respeito à utilização da metodologia ativa de ensino-aprendizagem durante o curso de especialização em ativação de processos de mudança na formação superior de profissionais de Saúde, da ENSP/FIOCRUZ, Polo Itaperuna, em dezembro de 2019. Para reflexão sobre a conjuntura brasileira atual de desmonte democrático e moral, crise política e econômica, precarização dos direitos sociais, que condiciona os mais necessitados em situação de vulnerabilidade, utilizou-se a Situação Problema. Esta situação repercute tanto no campo social como no epidemiológico, por isso, durante a formação em saúde, faz-se necessário a reflexão sobre formulação e implementação de cuidados eficientes e eficazes para a população LGBT. Resultado: A reflexão se deu através do processamento de síntese coletiva, a partir das sínteses individuais dos especializandos, após discussão em fórum de ensino a distância sobre a assistência da população LGBT e a promoção da humanização do cuidado nas perspectivas integral e interprofissional em situações de abortamento a partir de revisão bibliográfica. Levou-se em consideração ainda o subfinanciamento do SUS; problemas de regulação e de gestão com dificuldades para fazer valer direitos, participação e controle social. O não atendimento da Política de Humanização, da Saúde da População Negra, LGBT e Saúde da Mulher com ênfase nas situações de abortamento e saúde reprodutiva, aponta para a necessidade de ativação de mudanças: ações de atenção à saúde realizadas com base na intervenção direta ou através do apoio matricial que oferecem suporte assistencial e técnico-pedagógico com ações de promoção de saúde. O apoio matricial baseia-se na transdisciplinaridade, que busca transformar a prática tradicional específica de cada profissional, a fim de realizar o atendimento das necessidades das equipes de saúde, para atendimento da população. Rompendo a verticalização do conhecimento, a partir do cotidiano dos profissionais das equipes saúde da família, no cenário da atenção primária. há o compartilhamento sincrônico de saberes torna-se efetiva a promoção ampliada de saúde. Embora a Política Nacional de Atenção Integral a Saúde da População LGBT preconize a qualificação e discussão dessa temática no âmbito da saúde e educação, o tema permanece marginalizado e excluído das grandes discussões. Estratégias que objetivem discutir as peculiaridades da prevenção, promoção e assistência à saúde desses grupos devem ser estimuladas e reproduzidas, tendo em vista uma melhor qualidade do atendimento, a fim de captar os usuários em um ambiente favorável a práticas integrativas com respeito a diversidade sexual. Considerações finais: A metodologia utilizada para reflexão e aprendizagem levou à solução do problema baseada no movimento necessário para a promoção da saúde, no acolhimento Saúde da Mulher e Saúde Reprodutiva, com caráter reflexivo sobre a sexualidade humana. Notou-se a partir das discussões o tabu em relação ao corpo quando a consciência de uma pessoa é despertada para sexualidade e o direito a reprodução. A ética e a dignidade no acolhimento da população LGBT, a recusa de qualquer forma de preconceito e discriminação, a afirmação dos direitos individuais, e a justiça social na diversidade e arranjos políticos em jogo, foram os caminhos apontados a partir das discussões. |
8180 | PRODUÇÃO DO CUIDADO À PESSOA COM DOENÇA FALCIFORME: PERCEPÇÃO DE PROFISSIONAIS DE SAÚDE DE UMA UNIDADE BÁSICA DE SAÚDE Gilglécia dos Santos Mendes, Marcio Costa de Souza, Evelin Duarte Serpa, Gabriella de Carvalho Madureira PRODUÇÃO DO CUIDADO À PESSOA COM DOENÇA FALCIFORME: PERCEPÇÃO DE PROFISSIONAIS DE SAÚDE DE UMA UNIDADE BÁSICA DE SAÚDEAutores: Gilglécia dos Santos Mendes, Marcio Costa de Souza, Evelin Duarte Serpa, Gabriella de Carvalho Madureira
Apresentação: A Doença Falciforme (DF) é uma patologia de origem genética com alta prevalência na população negra e, na maioria das vezes devido ao racismo estrutural existente na sociedade brasileira, ela é pouco conhecida pelos profissionais da saúde, além de ser vista com um olhar simplório. Objetivo: Compreender a produção do cuidado à pessoa com Doença Falciforme sob percepção de profissionais de Saúde de uma Unidade de Saúde da Família (USF) do Distrito Cabula-Beirú/Salvador Método: Nesse sentido, por meio de uma pesquisa de campo, de caráter exploratório e descritivo, com abordagem qualitativa, realizada no município de Salvador, em uma Unidade de Saúde da Família no Distrito Cabula-Beirú, bairro Doron. Para composição da amostra, foram considerados os seguintes critérios de inclusão: ser profissional devidamente registrado em seu conselho, estar alocado no serviço há pelo menos um ano e desejar, voluntariamente, participar da pesquisa. A coleta de dados aconteceu por meio de um roteiro de entrevista aberta com os participantes e contou com tópicos norteadores, a saber: (1) Comente sobre seus primeiros contatos com a DF no atendimento em saúde (2) Fale um pouco sobre os portadores da DF que você acompanha; (3) Comente sua percepção sobre o cuidado produzido para esse público. As entrevistas foram gravadas com autorização dos participantes e, posteriormente, foi realizada análise do conteúdo. Na unidade supracitada foi entrevistada uma profissional médica que cuida do Programa de Anemia Falciforme na unidade e uma Agente de Saúde que também é mãe de um filho de 26 anos que possui a Doença Falciforme. Nesse sentido, a análise de conteúdo do discurso da Agente de Saúde possibilitou duas visões de análise e por meio destas analisar as convergências, divergências e complementaridades: de profissional de saúde e usuária do serviço voltado à pessoa com DF. Resultado: Os discursos de ambas as entrevistadas apontaram para a negligência na produção o cuidado à pessoa com Doença Falciforme, sobretudo na rede particular de atendimento à saúde. Segundo a médica, ela não teve contato com a Doença Falciforme nas suas aulas na faculdade (Universidade Federal da Bahia/UFBA, ironicamente situada na Bahia, Estado com maior quantidade de negros fora da África e local com um dos maiores números de pessoas com DF), tendo apenas contato com a DF quando começou a trabalhar em USF, principalmente por meio de cursos de qualificação ofertadas por entes federativos em que atuava. A médica mantém uma visão que os pacientes com DF são melhores atendidos nos serviços especializados por um hematologista, como HEMOBA, sendo o trabalho da USF reforçar as orientações que lhes são fornecidas nesses serviços, como tratamento e cuidados como a alimentação. Notou-se, desse modo, um certo distanciamento dos potenciais de trabalho da USF para além de reforçar as orientações do serviço especializado, tais como cuidados mais holísticos como orientações acerca da aceitação da doença, hidratação da pele (para evitar que a espessura fina torne-se uma vulnerabilidade para instalação de úlceras), exposição à temperaturas extremas, realização de exercícios físicos e USF vinculada à escola, orientações estas que muitas vezes passam despercebidas no olhar do médico especialista, que muitas vezes se direciona para as condições biológicas apresentadas seu consultório. Além disso, na visão da médica entrevistada, a doença não tem relação com a cor dos portadores da DF, mas sim com o nível socioeconômico baixo, revelando uma negação, ainda que inconsciente, do viés racial que marca o negligenciamento da doença falciforme. Com relação à Agente de Saúde, percebe-se que esta usa muito da sua vivência com usuária do SUS e também de plano de saúde privado do Governo em seu processo de trabalho na produção do cuidado à pessoa com DF. No momento das visitas nas residências para cadastramento dos moradores do território que a USF no território a qual é responsável, a agente informa que fica atenta a todos os relatos de dores em articulações, pois podem ser sintomas que indiquem DF, dessa maneira, a profissional muitas vezes escreve para o morador procurar a médica da USF e solicitar “teste falcêmico”, fazendo referência ao teste eletroforese de hemoglobina. Dessa maneira, percebe-se uma maior sensibilidade por parte da agente, que poderia descartar as dores com olhar para DF e relacionar apenas com idade (no caso de pessoas mais velhas) ou até mesmo esforço físico. Percebe-se que essa atenção relaciona-se muito à sua experiência como mãe de um portador de DF, o qual foi diagnosticado quando criança em um posto de saúde da família por uma médica pediatra, que relacionou dores muito fortes na garganta tanto à infecção bacteriana por Streptococcus ou à DF: enquanto os exames para infecção bacteriana deram negativos, para doença falciforme foram positivos, demonstrando a importância da visibilidade da doença para à assistência aos seus portadores seja efetiva. A agente de saúde relata que durante o cuidado com seu filho nos estabelecimentos de saúde notou muitas vezes desconhecimentos da equipe de médicos no tratamento da doença, sobretudo na rede particular, tendo ela algumas vezes nos serviços de emergência que orientar o profissional, com base em suas experiências anteriores, sobre a conduta médica que seu filho precisava para melhorar das crises. Evidencia-se na análise desse discurso a omissão das escolas de medicina, assim como dos profissionais atuantes nos serviços de plantão, no processo de produção de cuidado à pessoa com DF, na medida em que falta a aplicação de protocolos na abordagem ao paciente com dor. Quando questionada sobre contato anterior com a DF para além do diagnóstico de seu filho, a agente de saúde relatou que por existirem outros casos de DF na família, ela já tinha noção de como a doença se manifestava e da importância do cuidado, principalmente porque teve familiares que morreram antes dos trinta anos de idade por conta negligência do cuidado da doença. Além disso, a profissional de saúde relaciona a falta de atenção à DF ao fato dos maiores atingidos serem pessoas negras e, somando a isso, pobres. Ademais, a relatos agente de saúde e também mãe de filho com DF, revelaram uma dificuldade do filho em aceitar a doença crônica, acarretando em crises recorrentes por conta do abandono dos cuidados que o portador precisa ter consigo mesmo no que diz respeito a alimentação, exposição solar, tomar o ácido fólico corretamente e até mesmo ir para as consultas médicas que ocorrem a cada seis meses com os médicos especialistas no HEMOBA. Existe, portanto, um desafio instalado, pois a mãe precisa incentivá-lo diariamente a cuidar de si e lutar ao mesmo tempo por uma assistência de saúde digna ao seu filho. Considerações finais: Nesse sentido, essa pesquisa buscou entender sobre as práticas do cuidado em saúde à pessoa com DF, além de discutir sobre os processos de visibilidade do cuidar a essa população, fazendo investigação paralela do racismo institucional dentro desse processo. Enxerga-se que o desenvolvimento desse trabalho em outras USF tem potencial para o aperfeiçoamento do serviço estudado, pois, após conhecê-lo melhor, é possível sugerir estratégias para aprimorar os pontos frágeis, e ampliar os fortes, com chances de interferir positivamente na negligência relacionada à assistência necessária às pessoas com DF. |
8214 | A PRÁTICA CLÍNICA DO ENFERMEIRO DIANTE DA VULNERABILIDADE SOCIAL: AVANÇOS E DESAFIOS NA DEMOCRATIZAÇÃO EM SAÚDE Darciane Da Silva Ferreira, Ingrid Tavares Cardoso, Laressa Silva A PRÁTICA CLÍNICA DO ENFERMEIRO DIANTE DA VULNERABILIDADE SOCIAL: AVANÇOS E DESAFIOS NA DEMOCRATIZAÇÃO EM SAÚDEAutores: Darciane Da Silva Ferreira, Ingrid Tavares Cardoso, Laressa Silva
Apresentação: A enfermagem representa um conjunto de ações assistenciais e gerenciais voltadas em atender as necessidades biopsicossociais de um indivíduo, em busca de uma visão holística do cliente a ser tratado. Na constituição de seu cuidado, atribui-se o conceito artístico de Nightingale e o olhar científico de Horta, associando a ciência com a arte, e trazendo a diversificação das competências de enfermagem em todos os níveis de atenção à saúde. Sendo predominante no número de funcionários nos serviços hospitalares, a enfermagem possui um importante papel em promover saúde, prevenir doenças, e reabilitar o receptor do cuidado nas esferas sociais. Considerando a cartografia brasileira e seu caráter subdesenvolvido, torna-se evidente a apresentação de diversas injúrias atreladas a indivíduos pertencentes a determinados grupos socioeconômicos e culturais. As disparidades sociais contribuem significativamente na morbidade de agravos à saúde, uma vez que pessoas pobres e com baixo nível de escolaridade se encontram mais suscetíveis a vícios e outros desequilíbrios na saúde, seja por instrução insuficiente para entender os riscos causados pela exposição à agentes tóxicos, ou pela falta de recursos na prevenção. Como resultado, temos o predomínio de pessoas de baixa renda na epidemiologia e nos fatores de risco de diversas patologias. Conquanto seja o fator econômico um dos principais determinantes no processo saúde-doença, seu caráter não é singular na constituição da intitulada população em situação de vulnerabilidade. Sendo assim, o racismo, homofobia e outras práticas de discriminação ocasionam tanto a violência física e psicológica, como a formação de barreiras institucionais nos serviços de saúde, corroborando para maior exposição a riscos em saúde de afrodescendentes e religiosos de matriz africana, mulheres, pessoas LGBTQI+, e da população baixa renda. Na enfermagem, o cuidado é centrado na pessoa humana e em suas dimensões de saúde, utilizando das tecnologias leve, dura e leve-duras para favorecer as potencialidades dos sujeitos e melhorias das condições humanas. Para tal, a compreensão ontológica das populações vulneráveis torna-se imperativa a práxis do enfermeiro, uma vez que a vulnerabilidade delineia as condições de vida e a suscetibilidade de agravos em saúde. Ademais, mesmo com o princípio doutrinário da integralidade enraizado na construção de todas as ações de enfermagem, observa-se maior falta de adesão aos serviços fornecidos pelo Sistema Único de Saúde à população mais carente, expondo falhas durante o plano terapêutico, seja no reconhecimento das singularidades do sujeito, ou na transmissão de orientações. O presente estudo tem por objetivo discutir o conceito de vulnerabilidade e suas implicações para a clínica de enfermagem, enfatizando o Sistema Único de Saúde como estratégia de democratização na saúde. Desenvolvimento do Trabalho Nesta investigação, adotou-se como método a revisão integrativa, por sintetizar resultados obtidos em pesquisas sobre um tema ou questão, de maneira sistemática, ordenada e abrangente. Esse método permite a inclusão de dados de literatura teórica e empírica, proporcionando compreensão mais completa do tema de interesse. A variedade na composição da amostra da revisão integrativa proporciona como resultado um quadro completo de conceitos complexos, de teorias ou problemas relativos ao cuidado na saúde, relevantes para a enfermagem. Para a construção da revisão integrativa, foram utilizadas produções bibliográficas contidas no banco de dados da Scientific Electronic Library Online (SciELO), publicadas no período de 2009 a 2019, nos idiomas Português e Inglês. Nesta revisão teórica, a bibliografia utilizada foi organizada em três categorias: 1) Base Conceitual Filosófica, 2) Impactos do SUS na Democratização em Saúde e 3) A Construção de Uma Prática Clínica em Enfermagem Criativa. Resultado: Base Conceitual Filosófica O presente estudo e os elementos contidos nele possuem uma base conceitual filosófica que está alicerçada na fenomenologia. Entende-se por fenomenologia a ciência dos processos humanos, com a análise das experiências e percepções do indivíduo. Heidegger descreve a fenomenologia como o estudo no qual a elucidação do existencialismo humano se dá por análise do próprio indivíduo. Heidegger impõe como base para sua teoria, o “ser aí no mundo com”, que diz respeito à convivência coletiva e a perda do aproveitamento total da essência humana para se encaixar em um padrão social, como "parafusos", exemplificado por Aristóteles. Em suma, se o indivíduo não escolhe onde será inserido, isso afeta o exercício de suas potencialidades no mundo, tornando-o predestinado a seguir um padrão de encaixe. Quando trazemos as condições socioeconômicas dos grupos em situação de vulnerabilidade para a discussão, percebemos que sua inserção em um ambiente precário irá limitar as potencialidades de sua essência, trabalho, modo de vida, sendo uma ameaça à autonomia humana e consequentemente, determinante no processo saúde-doença.Impactos do SUS na Democratização em Saúde É importante ressaltar neste ponto o caráter revolucionário do SUS. O momento anterior à sua implementação caracterizava uma cartografia em saúde precária, onde uma porção massiva da sociedade não possuía acesso integral à saúde que não fosse por atividades filantrópicas, tornando uma População já excluída, cada vez mais vulnerável. A reforma sanitária que ocorreu considera e almeja atenuar esses agravantes, tendo como marco a universalidade em saúde. Com a evolução desse sistema, presenciamos a existência de políticas públicas que objetivam o atendimento integral às heterogeneidades. Não obstante a essas constatações, ainda há muitas discussões e incógnitas sobre como atender os usuários, contornando de fato essas vulnerabilidades e promovendo a equidade. Sua máxima de “tratar desigualmente os desiguais” pela lei nº 8.080/90 nos desafia a propor uma terapêutica realmente satisfatória à população vulnerável. A Construção de Uma Prática Clínica em Enfermagem Criativa O conceito de vulnerabilidade é definido como um conceito que representa as múltiplas determinações que incidem sobre os contextos de cidadãos que vivenciam frágil ou nulo acesso a direito. Florence Nightingale revolucionou o modelo assistencial de cuidado durante a guerra da Criméia, sendo pioneira na teoria ambientalista, que propõe o ambiente como influenciador no processo saúde-doença. Ao longo dos anos, a enfermagem foi caracterizada por mulheres que se voluntariavam a cuidar de feridos em combate, e de pessoas carentes. Compreendendo os preceitos da teoria de Nightingale, podemos constatar o local de moradia, trabalho e estudo como influenciadores na saúde ou adoecimento da população. Portanto, assim como Florence fora intervencionista nos condicionantes do adoecimento em sua época, a enfermagem deve-se manter intervencionista em situações problemáticas da cartografia nacional atual. No tocante a população em situação de vulnerabilidade, a humanização do cuidado deve possuir abrangência dos sentidos vinculados à terminologia. É inverossímil prestar uma assistência de enfermagem efetiva sem compreender as necessidades implicadas no adoecimento, impondo-as na estratégia dos planos de cuidado. Considerações finais Para alcance do entendimento acerca das necessidades do cotidiano, a utilização de uma escuta terapêutica é indispensável. Por meio dela, podemos elucidar questão da diferenciação social como categorizador das pessoas, sendo este fator atenuante ou agravante de doenças em determinados grupos, reforçando ainda mais as desigualdades. Diante de tal problemática, surgem diversos desafios para a prestação de um cuidado equânime. Dentre eles, podemos destacar o questionamento sobre como promover um agir solidário em meio a assimetrias e desequilíbrios nas relações sociais. Ademais, há um grande óbice na proposição de esforços para desocupar a opressão, exploração e demais violações dos Direitos Humanos, sendo tais elementos, fontes de sofrimento no adoecimento. Através de um comportamento ético na advocacia das liberdades e diversidades, espera-se o surgimento de propostas progressistas no SUS, com um cuidado transcendental aos duros conhecimentos técnicos. |
8228 | AS VOZES SILENCIADAS: MULHERES VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA DE GÊNERO E SOFRIMENTO PSÍQUICO NO MUNICÍPIO DE RIO DAS OSTRAS (RJ) Fabiana Paschoal dos Santos, Emerson Elias Merhy, Kathleen Tereza da Cruz AS VOZES SILENCIADAS: MULHERES VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA DE GÊNERO E SOFRIMENTO PSÍQUICO NO MUNICÍPIO DE RIO DAS OSTRAS (RJ)Autores: Fabiana Paschoal dos Santos, Emerson Elias Merhy, Kathleen Tereza da Cruz
Apresentação: Este resumo é parte da pesquisa realizada com as mulheres vítimas de violência de gênero que são acompanhadas pela equipe de saúde mental no Ambulatório de Saúde Mental - ASM - no município de Rio das Ostras, localizado na região litorânea do Estado do Rio de Janeiro, como requisito para conclusão do Mestrado Profissional em Saúde Coletiva com ênfase em Atenção Primária à Saúde, da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ. Considerando que cada ser humano é único, em sua subjetividade, possuindo uma visão de mundo própria, o objetivo de nossa pesquisa foi discutir como a violência de gênero contribuiu para o sofrimento psíquico das mulheres atendidas no ASM. E também investigar a percepção delas sobre as repercussões das expressões da violência de gênero em sua saúde mental. Desenvolvimento: Nosso estudo foi uma pesquisa com abordagem qualitativa, na qual buscamos por meio de uma metodologia sistemática e direcionada à violência contra a mulher, conhecer as percepções das mulheres que vivenciaram situações de violência. Para tanto utilizamos dois instrumentos, um questionário sócio demográfico com objetivo de conhecer a realidade social na qual as entrevistadas estavam inseridas, tais como: raça/etnia, nível de escolaridade, situação no mercado de trabalho, renda individual e familiar; e também criamos um questionário, totalmente direcionado aos tipos de violências, caracterizado por perguntas que poderiam ser adaptadas de acordo com a capacidade de compreensão de cada entrevistada. A pesquisa foi iniciada após aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa da Escola de Enfermagem Anna Nery (CEP EEAN) da instituição proponente (UFRJ), sob o parecer de número 3.054.324. E com autorização da instituição coparticipante (Secretaria Municipal de Saúde de Rio das Ostras). Consideramos que o sofrimento mental também é social, logo não basta apenas um olhar sobre o sintoma, sobre a queixa que as leva a procurar tratamento no ASM, é preciso um olhar sobre a produção de vida destas mulheres, de como as experiências violentas afetaram seu modo de andar a vida, enfim de como tiveram que se reinventar, ressignificando suas relações afetivas e sociais. Deste modo, ao construirmos na produção do cuidado relações democráticas, nas quais demos espaço para elas falarem livremente, sem julgamentos, sem a preocupação com a duração do atendimento, respeitando o tempo de cada uma, foi possível o estabelecimento de vínculo com as mesmas, o que contribuiu para uma escuta mais apurada e atenta, sobre seus sentimentos e também de suas necessidades singulares de saúde. Assim, muitas relataram vivências, que nunca antes haviam contado para outras pessoas de suas relações pessoais, bem como para profissionais da área de saúde mental, com os quais foram acompanhadas por um período. Talvez devido a nenhum outro profissional ter tido uma abordagem tão direcionada e sistemática sobre a violência, ou possivelmente por existir uma invisibilidade ou banalização no serviço de saúde mental sobre as violências. Resultado: Entrevistamos nove mulheres, e a maior parte das entrevistadas foram jovens, na faixa etária de 31 a 40 anos, três mulheres. No tocante a como se declaram em relação a sua raça/etnia, cinco mulheres se autodeclaram pardas e duas negras. Assim, em nossa amostra as mulheres pardas foram as que mais vivenciaram situações de violência, seguidas pelas negras, duas, e brancas, duas. A metade de nossas entrevistadas vive em condições de grande vulnerabilidade social, pois duas vivem somente com o Benefício do Programa Bolsa Família - PBF, e duas trabalham na economia informal, possuindo renda flutuante, tendo meses, nos quais, segundo seus relatos, conseguem chegar a meio salário mínimo, e em outros não. A precarização do trabalho e a dificuldade de conseguir um emprego formal apareceram em destaque na fala de nossas entrevistadas. Assim, uma, que reside sozinha, sobrevive apenas com o benefício assistencial do PBF, no valor de R$ 89,00, e informou que recebe ajuda da igreja e dos filhos para sua subsistência. Outra usuária que está desempregada há cerca de três anos, reside com os três filhos, com idades de 10, 11 e 12 anos; e a família sobrevive apenas com o benefício do PBF no valor de R$ 342,00, e algumas vezes recebe cesta básica da igreja. No tocante as expressões de violência de gênero vivenciadas as principais categorias encontradas, as principais foram: abuso sexual na infância e/ou adolescência - 7 mulheres, violência física - 8 mulheres, violência sexual - 4 mulheres, violência psicológica - 9 mulheres, violência patrimonial - 4 mulheres, violência moral - 7 mulheres, assédio moral - 3 mulheres. Em relação aos efeitos na saúde mental, as entrevistadas relataram dificuldades para estabelecer relações afetivas e sociais. Relativo ao sofrimento psíquico, os principais relatos foram de baixa autoestima, tentativas de suicídio, tristeza, culpa, insônia. Buscamos conhecer os territórios existenciais, no qual ocorreram às situações de violência, quais foram as conexões possíveis naqueles momentos. Diante disso, constatamos que todas as entrevistadas possuíam uma rede de existência empobrecida, com mínimos vínculos, o que em alguns casos, colaborou para a dependência emocional em relação ao agressor. Ao falarem a respeito, notamos os impactos das situações de violência na potência de vida para estabelecer novas relações, pois devido a terem vivido relacionamentos abusivos, terminaram estabelecendo dependência emocional, e muitas se isolaram de seus familiares e amigos. Todas as nossas entrevistadas relataram que após os episódios de violência sofridos, passaram a ter dificuldades para estabelecer relações sociais e afetivas. Pois tem medo de envolvimento afetivo com outros homens, e quando conseguem tem muita dificuldade para ter relações sexuais. Considerações finais: Com esta pesquisa possibilitamos a fala, as vozes silenciadas, que talvez tenham sido silenciadas por não encontrarem apoio em suas redes afetivas e sociais, na rede de saúde, na assistência social dentre outras. Silenciadas como uma estratégia de fuga, de guardar bem escondido para que assim não pudessem olhar para o que causou, e ainda causa tanto dor e sofrimento. Ao falarem sobre suas percepções, sobre as repercussões das situações de violência em sua saúde mental, elas conseguiram avançar e trazer a tona o que, em alguns casos, ainda não tinha emergido. Assim, conseguiram relacionar algumas atitudes e sintomas de sofrimento psíquico com os episódios de violência de gênero vivenciados. Assim, em minha atuação como assistente social, decidi estudar a relação entre as situações de violência de gênero vivenciadas e o sofrimento psíquico, para tentar entender melhor, e também pensar possíveis formas de ajudar a estas mulheres, pois acredito que o tratamento vai para muito além dos psicotrópicos prescritos, enfim da medicalização da vida. Quiçá oferecer opções de tratamento mais leves, tais como: rodas de conversa, oficinas de poesia, de música, dentre outras. Afinal, o adoecimento psíquico destas mulheres está diretamente relacionado com a violência do que constitui ser mulher nesta sociedade tão atravessada pela cultura patriarcal. 5 REFERÊNCIAS SANTOS, Fabiana Paschoal. As vozes silenciadas: mulheres vítimas de violência de gênero e sofrimento psíquico no município de Rio das Ostras – RJ. 2019. 137f. Dissertação de Mestrado – Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2019. |
8237 | MULHERES NEGRAS NA MEDICINA: A IMPORTÂNCIA DO LUGAR DE FALA NA MICROPOLÍTICA DO CUIDAR Gilglécia dos Santos Mendes, Marcio Costa de Souza, Evelin Duarte Serpa MULHERES NEGRAS NA MEDICINA: A IMPORTÂNCIA DO LUGAR DE FALA NA MICROPOLÍTICA DO CUIDARAutores: Gilglécia dos Santos Mendes, Marcio Costa de Souza, Evelin Duarte Serpa
Apresentação: Historicamente, a medicina é ocupada por pessoas brancas, sobretudo homens e de classe econômica média alta. Com o desenvolvimento de políticas públicas que objetivavam o ingresso nas universidades públicas por meio das cotas raciais, esse cenário vem aos poucos mudando: mulheres negras, aquelas que ocupam a base da pirâmide social em um mundo marcado por racismo institucional, vêm quebrando ciclos de exclusão histórica ao ingressarem na Medicina, não poucas vezes sendo a primeira pessoa de suas famílias a ingressarem no ensino público superior. Por sua vez, o lugar de fala da mulher negra na medicina inserida na micropolítica do cuidar permeia pela problematização da seguinte questão: nos espaços de debate do processo de cuidar fala-se muito sobre populações que vivenciam situações de precariedade, população esta muitas vezes negra e pobre, sem no entanto protagonizar a perspectiva e interseccionalidade social daquela que possui, de forma geral, realidades comuns com a população abordada: a mulher negra. Objetivo: Descrever a importância e evidenciar o impacto do lugar de fala da mulher negra na medicina no grupo de pesquisa Micropolítica do Cuidado e Formação em Saúde da Universidade Estadual da Bahia. Método: Análise do discurso das estudantes de medicina negras presentes nas rodas de conversa quinzenais do segundo semestre de 2019 no grupo de pesquisa supracitado. Resultado: No semestre analisado, as discussões no grupo de pesquisa permearam sobre temas de projetos desenvolvidos no grupo, tais como “Entrelaçamento de saúde e justiça: Produção do cuidado à pessoas em situação de rua sob contexto de audiência de custódia”, “Processo de produção do cuidado em saúde ao portador de Doença Falciforme” e “Uso do DIU como método contraceptivo: capacitação de profissionais médicos de unidades básicas de saúde”. Nesse sentido, a presença da mulher negra nessas discussões ressaltaram, sobretudo, um viés da fragilidade das redes de cuidado dos grupos populacionais abordados, passado por vezes despercebido no olhar geral: tendo em vista que cerca de 80% da população atendida no SUS autodeclara-se negra, esse cenário pode ser denúncia do motivo para existirem tantas lacunas a serem melhoradas no processo de cuidar voltado para esse grupo. Além disso, as pontuações acerca dos trabalhos ressaltaram pontos como: 1) Enxergar a etnia negra como fator de vulnerabilidade para estar em situação de morador de rua naturaliza essa realidade como pertencente de qualquer pessoa negra, ferindo a dignidade dessa população; 2) Quando comparado com a distância da pesquisa e assistência para o tratamento da AIDS, a Doença Falciforme, a qual atinge majoritariamente a população negra, surge como mais um braço do racismo institucional já que essa distância teve quase um século comparado a trinta da AIDS, doença que inicialmente atingiu várias pessoas brancas. 3) Sendo o DIU tão eficaz como método contraceptivo, seu baixo uso de aplicação no SUS denuncia um descaso ao cuidado integral da saúde da mulher negra. Considerações finais: Foi observado que as pontuações realizadas sob a ótica das estudantes de medicina negras apresentaram-se como ampliadores positivos do campo de visão de problematização do conteúdo discutidos no grupo de pesquisa. |
8448 | O SOFRIMENTO PSÍQUICO DAS MULHERES E AS RELAÇÕES DE OPRESSÃO E EXPLORAÇÃO: UMA EXPERIÊNCIA NO AMBULATÓRIO DE SAÚDE MENTAL DE RIO DAS OSTRAS Fabiana Paschoal dos Santos, Aline Cristina Barboza Pontes Lira, Daniel Francisco de Souza Santos O SOFRIMENTO PSÍQUICO DAS MULHERES E AS RELAÇÕES DE OPRESSÃO E EXPLORAÇÃO: UMA EXPERIÊNCIA NO AMBULATÓRIO DE SAÚDE MENTAL DE RIO DAS OSTRASAutores: Fabiana Paschoal dos Santos, Aline Cristina Barboza Pontes Lira, Daniel Francisco de Souza Santos
Apresentação: Este texto busca evidenciar como as opressões de gênero fortalecidas em meio às relações sociais desiguais refletem sobre a vida das mulheres na cena contemporânea configurando diversas formas de adoecimento. Para tanto, buscamos compreender como se dá o sofrimento psíquico no modo de produção capitalista – sistema que pressupõe as desigualdades em sua base, debruçando-nos, deste modo, sobre as particularidades das relações de gênero, classe e raça. Isto, pois, para que análisemos o sofrimento psíquico ou adoecimento vivenciado pelas mulheres na sociedade brasileira, é necessário que partamos da perspectiva das desigualdades sociais, raciais, econômicas e de gênero como geradores de angústia, inseguranças, medo e etc., sobretudo às mulheres trabalhadoras, pobres e negras. Esta pesquisa é resultante da análise do perfil de uma amostra das mulheres atendidas no Ambulatório de Saúde Mental – ASM - no município de Rio das Ostras, realizada pelos estagiários de Serviço Social do ASM, sob supervisão da assistente social supervisora de estágio. Desenvolvimento: No período de 26 de abril a 28 de junho de 2018 realizamos uma pesquisa sobre o perfil das mulheres atendidas pelo Serviço Social no Ambulatório de Saúde Mental de Rio das Ostras. O perfil das usuárias foi elaborado com base em questionários aplicados pelos estagiários de Serviço Social da Universidade Federal Fluminense – UFF do campus do município de Rio das Ostras sob a supervisão de campo da assistente social integrante da equipe de saúde mental de adultos e idosos. Foram realizadas 40 entrevistas com questões apreendidas em meio aos atendimentos no cotidiano profissional, sobre ótica analítica da “divisão sexual do trabalho”, mais precisamente relacionadas ao histórico de vida das usuárias, as violências sofridas; acesso a direitos sociais e políticas públicas. Resultado: Das mulheres entrevistadas 42% não possui qualquer tipo de renda, 20% recebem de 2 a 4 salários mínimos, 18% um salário mínimo, 15% meio salário mínimo (muitos advindos de renda informal), e 1% recebem o valor mínimo do Programa Bolsa Família. Algumas mulheres buscam sua subsistência através de atividades informais como higienização doméstica. A grande maioria afirmou quando questionada, que está em busca de emprego formal. Ademais, 33% sofreram violência física, 18% sofreram violência sexual, 16% sofreram violência psicológica e 8% sofreram violência moral. Apenas 25% das mulheres entrevistadas relatam nunca ter sofrido nenhum tipo de violência. De acordo com as entrevistas, o sofrimento psíquico das mulheres é por vezes, gerado pela relação com a violência, juntamente com a dificuldade em suprir necessidades sociais básicas, e/ou pelas diversas responsabilidades no campo do cuidado. O que nos direciona para determinados debates acerca da violência de gênero, assim como outras expressões da questão social geradas em meio à conjuntura neoliberal por via das transformações no mundo do trabalho. Ressalta-se que os diversos tipos de violência contra a mulher que se expressam na sociedade através de ações relacionadas ao machismo, sexismo ou qualquer outro tipo de discriminação relacionada ao gênero e a sexualidade, são fatores que contribuem diretamente para o sofrimento psíquico da mesma. Como principais repercussões na saúde mental elencamos: alterações do apetite, ansiedade, concentração e atenção reduzidas, diminuição da autoestima, diminuição da autoconfiança, fadiga, humor deprimido, insônia, medo, pânico, perda de interesse e prazer e queixas somáticas. Dentre os sintomas apresentados pelas entrevistadas, registram-se problemas de ansiedade, sintomas depressivos, oscilação emocional, dificuldades com o sono, crises de pânico, irritabilidade, ideação suicida e outros. Ademais, para além dessas questões, as usuárias também apresentam outros tipos de adoecimento que foram somatizados. Afirmam nas entrevistas que seus sintomas se iniciaram a partir de uma situação ou contexto determinados, como por exemplo, demissões, acúmulo de tarefas no trabalho e no lar, violências sofridas e etc. Observa-se que são nesses momentos de sofrimento intenso, quando as atividades cotidianas passam a ser prejudicadas pelo adoecimento que as mulheres decidem buscar ajuda profissional para lidar com a angústia e suas dores emocionais. Parte destas, chegam em condições de extrema vulnerabilidade social, nas quais também findam em receber orientações sobre a política de transferência de renda da assistência social. Isto, devido a muitas delas se encontrarem inseridas em trabalhos informais, ou seja, sem garantias, ou pelo fato de que foram demitidas de seus empregos formais, ou devido às condições opressoras vivenciadas no trabalho as quais por não conseguirem mais suportar, preferiram pedir demissão. Um grave indicativo social no qual acende o alerta é o aumento significativo de feminicídios, esse que, através do sentimento de medo, pode repercutir negativamente no psicológico das mulheres. Vale destacar que a denúncia contra a violência de gênero se faz imprescindível, no sentido de proteger a mulher de futuras agressões e até mesmo da morte. No entanto, das entrevistadas que relataram algum tipo de abuso ou violência, apenas 33% denunciaram, e 67% não denunciaram. Considerações finais: Em relação à mulher e a divisão sexual do trabalho, é preciso compreender que a pessoa do gênero feminino acumula uma dupla responsabilidade ao assumir o cuidado da casa e das crianças juntamente ao sustento material de seus dependentes. Ou seja, essa dupla jornada de trabalho lhe confere uma “dupla carga de culpa” devido as suas insuficiências quando não obtém êxito em alguma dessas atividades. Para além, as construções históricas acerca da mulher e do cuidado, relação que pressupõe da mesma uma preocupação maior com o que está a sua volta, particulariza a questão da culpa e as refrações a saúde mental dos trabalhadores pela ótica do gênero. Portanto, é possível inferir que o sofrimento psíquico da mulher está diretamente interligado às estruturas socioeconômicas da sociedade burguesa. Isto, pois, possui determinantes históricos que se expressam em uma série de desigualdades sociais que perpassam a vivência feminina. Essa afirmação pressupõe dizer que, para além de uma experiência individual, as demandas das mulheres no que se refere ao sofrimento psíquico são atravessadas, primordialmente, por problemáticas coletivas, que pressupõem estratégias da coletividade no enfrentamento. Deste modo, ressaltamos que a condição da mulher na sociedade, necessita de respostas efetivas no que tange a sua proteção e promoção à saúde. Assim, como resposta estratégica, foi criado um Grupo de Mulheres no Ambulatório, conduzido pela assistente social supervisora dos estagiários de Serviço Social e por uma psicóloga da instituição. O referido Grupo busca dar uma direção coletiva as demandas das usuárias atendidas, acompanhando-as e buscando politizá-las, desnaturalizando, deste modo, as relações de opressão vivenciadas pelas mulheres no seu cotidiano. Ademais, uma de suas finalidades é favorecer a intersetorialidade da rede de serviços do município, mais precisamente com o Centro Especializado de Atendimento à Mulher – CEAM, inaugurado após a realização da pesquisa, configurando uma grande conquista na garantia de direitos das mulheres usuárias do município. Referências: LIRA, Aline C. B. Pontes. Relatório de estágio 2. Universidade Federal Fluminense, Rio das Ostras. 2018. SANTOS, Daniel F. Souza. Relatório de estágio 2. Universidade Federal Fluminense, Rio das Ostras. 2018. SANTOS, Fabiana P. As vozes silenciadas: mulheres vítimas de violência de gênero e sofrimento psíquico no município de Rio das Ostras – RJ. 2019. 137f. Dissertação de Mestrado – Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2019. |
8515 | ESSE RIO É MINHA RUA: ATENDIMENTO DA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE A POPULAÇÃO RIBEIRINHA NO ESTADO DO PARÁ SÂMELA STEFANE CORREA GALVÃO, LILIANE SILVA DO NASCIMENTO, SÂMIA CRISTINE RABELO BORGES, SYLMARA CORREA GALVÃO, ANDREA MARASSI LUCAS, TAMIRIS FARO CASSEB, PETTRA BLANCO LIRA MATOS, ATILA AUGUSTO CORDEIRO PEREIRA ESSE RIO É MINHA RUA: ATENDIMENTO DA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE A POPULAÇÃO RIBEIRINHA NO ESTADO DO PARÁAutores: SÂMELA STEFANE CORREA GALVÃO, LILIANE SILVA DO NASCIMENTO, SÂMIA CRISTINE RABELO BORGES, SYLMARA CORREA GALVÃO, ANDREA MARASSI LUCAS, TAMIRIS FARO CASSEB, PETTRA BLANCO LIRA MATOS, ATILA AUGUSTO CORDEIRO PEREIRA
Apresentação: A atenção primária à saúde (APS) por meio da Estratégia Saúde da Família (ESF) e seus arranjos organizacionais para populações especificas, constitui um novo modelo concebido para viabilizar cuidados básicos em saúde, visando a cobertura universal para populações ribeirinhas da Amazônia, que vivem dispersos espacialmente em vários agrupamentos de 20 a 40 casas de madeira construídas em palafitas, mais adequadas ao sistema de cheias dos rios, que utilizam essencialmente como meio de transporte as embarcações fluviais cuja navegação pode durar dias, principalmente quando for para ter acesso às comunidades mais remotas do estado do Pará. Este modelo (APS/ESF) para produzir saúde nas comunidades que margeiam os rios traz o desafio da diversidade social, cultural e geográfica. O estado do Pará possui 1595 equipes de Saúde da Família (eSF), destas 1182 fizeram parte do 3º ciclo do Programa de Melhoria do Acesso e Qualidade da Atenção Básica (PMAQ-AB), instituído em 2011 pelo Ministério da Saúde como uma política de monitoramento e avaliação dos serviços de saúde ofertados pela APS. Objetivo: Analisar as equipes de APS que realizam atendimento à população ribeirinha no Pará a partir dos dados do 3º ciclo do PMAQ -AB. Método: Trata-se de estudo descritivo transversal, de natureza quantitativa, com base em dados obtidos da avaliação externa das equipes aderidas ao PMAQ/AB, realizado nos meses de junho a agosto de 2018 em 130 municípios do estado do Pará, 1182 equipes de saúde da família. Foram analisadas informações do módulo II da avaliação externa do programa. A variável selecionada foi referente ao atendimento para população ribeirinha. As análises foram realizadas por meio do software IBM SPSS versão 20.0 Resultado: Do total de 1182 equipes, 688 (58,2%) realizavam atendimento para população rural destas 292 (42,4%) equipes responderam que atendiam população de comunidades ribeirinhas. Infere-se o caráter dialógico entre a APS e o território ribeirinho que vai de encontro à realidade das pessoas superando as dificuldades, respeitando os direitos e promovendo acesso a comunidades que estiveram por muito tempo isoladas. Um atendimento característico que deve considerar o ciclo das águas com a enchente, cheia, vazante e seca, movimento este que produz mudanças nos territórios e faz com que a vida nas áreas de várzea e ribeirinha seja um desafio para os serviços de saúde da APS. Considerações finais: As populações ribeirinhas têm em seus rios a sua “estrada” e lhes deve ser ofertado um modelo de atenção à saúde que garanta um dos preceitos fundamentais do SUS, o acesso Universal e a Equidade às políticas públicas de saúde, capaz de superar dificuldades impostas pelas características do território em constante movimento das águas. Dessa forma é necessário instituir um planejamento de gestão em saúde capaz de fortalecer a APS para as comunidades ribeirinhas, para reduzir as desigualdades associadas principalmente a elevada concentração de profissionais e a ações de saúde nos espaços urbanos, além de dar respostas adequadas às necessidades de saúde dessas comunidades. |
8546 | O ATENDIMENTO À VÍTIMA DE VIOLÊNCIA NA EMERGÊNCIA DE UM HOSPITAL PÚBLICO DO RIO DE JANEIRO Juliana Queiroz Loureiro da Silva de Queiroz Rodrigues, Juliana Letícia Janotti, Juliana Berguer Guimarães O ATENDIMENTO À VÍTIMA DE VIOLÊNCIA NA EMERGÊNCIA DE UM HOSPITAL PÚBLICO DO RIO DE JANEIROAutores: Juliana Queiroz Loureiro da Silva de Queiroz Rodrigues, Juliana Letícia Janotti, Juliana Berguer Guimarães
Apresentação: A violência é um fenômeno complexo, influenciado por fatores sociais, ambientais, psicológicos, políticos, econômicos e culturais. Ainda que não seja um problema específico do setor saúde, a OMS reconhece a violência como um grave problema de saúde pública, capaz de acarretar dano e adoecimento às pessoas acometidas por um ato violento. Alinhado à essa ideia, é mandatório a estruturação das redes de atenção à saúde e proteção social, bem como dos fluxos e protocolos de atendimento para uma assistência integral e qualificada às vítimas de quaisquer tipos de violência. Considerando a importância do tema para a saúde pública e os constantes encaminhamentos aos serviços hospitalares, este trabalho tem o objetivo de descrever as experiências de uma equipe multiprofissional no atendimento a pacientes vítimas de violência atendidas na Emergência e nas unidades de internação em um hospital estadual de uma metrópole. Método: O estudo consiste em um relato descritivo de experiência, baseado nas vivências experimentadas de uma equipe multiprofissional no período de junho a dezembro de 2019. A descrição dos acontecimentos foi pautada na observação dos membros da equipe de saúde e gestores, bem como na participação ativa dos profissionais na atenção às vítimas de violência. Resultado: No período compreendido, observamos que grande parte das violências notificáveis foram a violência doméstica, seguida pela autoprovocada (suicídio). Identificamos muitos casos de violência comunitária na população masculina, porém não se trata de um agravo notificável. Para o atendimento a vítimas de violência, foi elaborado, por uma equipe de profissionais, o documento “Procedimento Operacional Padrão de Atendimento às Vítimas de Violência”. Para implementação efetiva do protocolo, problemas estruturais foram identificados: (1) a falta de computadores, (2) o não cadastramento da equipe no sistema de informação, e (3) formulário padrão de atendimento indisponível. Problemas relacionados ao processo de trabalho também foram identificados: a dificuldade da equipe médica no preenchimento do Sinan. De acordo com o protocolo, ao identificar um caso de violência, uma equipe multiprofissional treinada, especificamente para o atendimento a essas vítimas, é acionada, realizando o acolhimento, a coleta do histórico clínico e social, avaliação do estado de saúde, e encaminhamento da vítima para exames laboratoriais e de imagem, caso seja necessário. Em seguida, o profissional realiza a notificação do evento e dá o seguimento para a rede de cuidados e de proteção social. Cada uma dessas etapas são compostas de ações padronizadas que deverão fazer parte do atendimento integral realizado pela equipe multiprofissional. Considerações finais: Em termos gerais, a descrição das experiências apontou para o avanço da instituição nas ações voltadas ao atendimento à vítima de violência, bem como a sistematização do processo de trabalho como uma importante estratégia de política pública que viabiliza o cuidado integral e humanizado. Ao mesmo tempo, identificou importantes lacunas, oportunizando o planejamento e a implementação efetiva de intervenções de melhoria. |
8600 | ACESSO Á SAÚDE PELA POPULAÇÃO INDÍGENA NO BRASIL: UMA REVISÃO INTEGRATIVA DE LITERATURA Isadora do Nascimento Ribeiro, Catarina Cristina Fraga da Silva ACESSO Á SAÚDE PELA POPULAÇÃO INDÍGENA NO BRASIL: UMA REVISÃO INTEGRATIVA DE LITERATURAAutores: Isadora do Nascimento Ribeiro, Catarina Cristina Fraga da Silva
Apresentação: No ano de 1948, a Organização Mundial da Saúde (OMS) definiu saúde como um estado de completo bem-estar físico, mental e social do indivíduo. Para tanto, os aspectos a serem avaliados para a definição desses critérios variam conforme cada população, grupo étnico e indivíduo. No que se refere a população indígena brasileira, a distância até às unidades de saúde e as divergências culturais de práticas curativas são empecilhos para a promoção à saúde. Para solucionar isso foi criada a Política Nacional de Atenção à Saúde dos Povos Indígenas que deve assegurar o acesso à saúde, analisar e respeitar a pluralidade cultural existente entre eles. Contudo, a atuação dos profissionais de saúde são empecilho para que isso ocorra. Objetivo: Avaliar os êxitos e dificuldades da implementação de um sistema de saúde para os povos indígenas, reconhecendo suas especificidades e a forma adequada de interação entre os profissionais de saúde e eles. Método do estudo: Trata-se de um estudo descritivo do tipo Revisão Integrativa de Literatura (RIL), a cerca da saúde indígena no Brasil, desenvolvida entre outubro e novembro de 2019. A busca para realização deste estudo ocorreu nas bases de dados: Coleciona SUS e Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo (Sec. Munic. Saúde SP). Foram critérios de inclusão no estudo: artigos na íntegra indexados nos bancos de dados Descritores em Ciências da Saúde (DeCS): (Saúde de Populações Indígenas, População Indígena e Cultura Indígena) e artigos publicados em português no período de 2014 até 2019. Foram critérios de exclusão do estudo: artigos não relacionados, outro idioma, repetidos e não disponível em texto completo. Resultado: Foram avaliados 4 artigos que se adequavam nos critérios de inclusão e exclusão estabelecidos anteriormente, dentre as quais 3 estavam disponíveis na Coleciona SUS e 1 na Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo. O estudo permitiu identificar que na última década o número de médicos prestando assistência nos territórios indígenas aumentou devido ao Programa Mais Médicos (PMM), mas ainda sendo necessário a ampliação da cobertura de profissionais e mudanças no modo de atuação profissional, unindo os saberes tradicionais de cuidados ao modelo biomédico, levando em consideração que todo tipo de conhecimento deve ser respeitado como parte do indivíduo. Ademais é importante o aumento do tempo de contato com os povos nativos, podendo ser solucionado a partir de uma melhor supervisão e cuidado dos profissionais de saúde. Considerações finais: Conclui-se que medidas governamentais já foram implementadas para assegurar às populações indígenas no Brasil do direito constitucional à saúde. Porém, a forma em que elas estão sendo empregadas não garante que os objetivos traçados sejam alcançados. Isso ocorre em decorrências de práticas dos profissionais de saúde que não associam o saber cultural da população local aos cuidados científicos, ocasionando um distanciamento entre o profissional da saúde e o paciente. Ainda, o contato entre eles precisa ser intensificado para que ocorra mais vínculo entre a população local e os profissionais da área. |
8607 | SAÚDE: DIREITO DE TODOS? REFLEXÕES ACERCA DO ACESSO À SAÚDE DE MULHERES PROFISSIONAIS DO SEXO Darciane Da Silva Ferreira, Jovina De Fátima Rocha da Silva SAÚDE: DIREITO DE TODOS? REFLEXÕES ACERCA DO ACESSO À SAÚDE DE MULHERES PROFISSIONAIS DO SEXOAutores: Darciane Da Silva Ferreira, Jovina De Fátima Rocha da Silva
Apresentação: "Ninguém nasce mulher, torna-se". O uso desta expressão pela escritora Simone de Beauvoir trouxe nos últimos anos diversos questionamentos acerca da significação do gênero feminino. No contexto da saúde, fora instituído em 1984 o Programa de Assistência Integral a Saúde da Mulher (PAISM) e em 2004, a Política Nacional de Atenção Integral a Saúde da Mulher, ambos tendo em vista a promoção de saúde e prevenção de doenças, tendo enfoque nas mais prevalentes no público feminino, com ações e campanhas específicas para o mesmo. Não obstanteà importância desta política, tem-se observado nos últimos anos a intensificação de estratégias voltadas para a saúde reprodutiva como foco das ações de saúde. Ademais, percebe-se que mulheres que são profissionais do sexo e mulheres trans encontram-se negligenciadas nas abordagens em saúde, tornando o Sistema Único de Saúde limitado em estender sua integralidade à essa população. Apesar da máxima "Saúde é um direito de todos, e dever do Estado", existem diversas barreiras entre o serviço de saúde e as profissionais do sexo, tornando-as vulneráveis e expostas a agravos em saúde evitáveis. Desta forma, o objetivo desta pesquisa é identificar os aspectos do acesso à saúde de mulheres profissionais do sexo no contexto da saúde pública. Desenvolvimento do TrabalhoO presente estudo possui como método a pesquisa exploratória, por possuir um aspecto flexível e não estruturado. Tem-se adotado nesta pesquisa a aborgadem qualitativa de uma revisão de literatura. A análise fora de artigos publicados na plataforma Scientific Electronic Library Online (SciELO) nos idiomas Português Espanhol e Inglês, entre os anos de 2009 e 2020. Resultado: As produções bibliográficas demonstram uma noção de cuidado específica entre profissionais do sexo. As mulheres consideram como cuidado a questão de higiene, relatando fazer uso de banhos e produtos cosméticos. Em cuidados com o corpo, muitas consideram a prática de depilação e exercícios físicos para manter a forma e atender às demandas de seu cotidiano. A preocupação com o corpo e com a higiene íntima mostram-se intrínsecos à profissão, embora o uso de preservativos nem sempre seja relatado, por exigências da clientela. Este fato expõe as fragilidades acerca da compreensão do conceito de saúde por essas mulheres. No que tange ao acesso, estudos mostram a incipiência no relacionamento entre os profissionais de saúde e profissionais do sexo, tendo poucos relatos a respeito de orientações prestadas. Em contrapartida, a Organização Mundial de Saúde afirma que prostitutas possuem 13,5% mais chances de contrair o vírus HIV do que outras mulheres em idade reprodutiva e profissionais do sexo feminino possuem prevalência dez vezes maior do vírus HIV do que as demais mulheres. Apesar do SUS objetivar a universalidade e equidade em saúde para todos os cidadãos sem distinção, os estigmas presentes nos profissionais de saúde formam barreiras institucionais, corroborando para a vulnerabilidade em saúde das prostitutas. Diversos relatos evidenciam a inadequação ao serviço por horários inflexíveis e comportamentos discriminatórios, onde a postura da equipe de saúde se diferenciam como punição pelas usuárias do serviço optarem pela atividade sexual como fonte de renda. Ademais, a necessidade das prostitutas de atenderem os diversos fetiches, releva novas demandas no contexto da Educação em saúde sexual e reprodutiva, bem como propostas de atendimento em horários flexíveis, para que as ações de saúde sejam inclusivas para elas. No Seminário Nacional “AIDS e Prostituição” foram sugeridos: considerar que o grupo profissionais do sexo não é homogêneo, mas inclui segmentos com características, culturas, necessidades e linguagens diferentes e, assim, ações de saúde deverão contemplar essa diversidade; contemplar, nas ações de prevenção, os insumos necessários (preservativos, lubrificantes, kits com seringas e agulhas descartáveis, materiais de informação e educativos); incluir, obrigatoriamente, ações educativa na disponibilização de insumos, uma vez que seu fornecimento não assegura o uso e são frequentes os desperdícios; promover a intervenção preventiva, desenvolvendo e valorizando o autocuidado e o estímulo à busca de tratamento que não conflitem com este objetivo integral, limitem ou ponham a perder o esforço educativo; incluir, nas ações de prevenção, o alcance a clientes, amigos(as), companheiros(as) e parceiros(as);incentivar a articulação entre organizações governamentais e não governamentais, procurando desenvolver ações de prevenção e assistência, mantendo independência e os objetivos de cada parte, sem submissões. Considerações finaisO estudo em questão expõe algumas fragilidades na cobertura do SUS para mulheres profissionais do sexo. Parte desse atendimento incipiente é resultado dos estigmas carregados pelos próprios profissionais de saúde durante o atendimento, o que impossibilita qualquer vínculo entre profissional-cliente. Seja por ações discriminatórias ou inflexibilidade do horário de atendimento dos serviços de atenção básica para quais elas são referenciadas, a falta de adesão dessas usuárias fomenta a desigualdade de gênero, onde mulheres possuem 25 vezes mais chances do que um homem de contrair o vírus HIV, ou então de serem culpabilizadas por utilizarem do sexo como profissão. Além da saúde sexual e reprodutiva, a saúde mental dessas mulheres torna-se abalada, uma vez que sofrem diversas violências em seu ofício, e com o abandono familiar. Desta forma, urge a necessidade de implementação de programas sociais com atenção específica a esse grupo, voltadas às suas necessidades, fornecendo um ambiente acolhedor. Não foram encontradas durante a pesquisa programas que ampliem o acesso à saúde dessa população, o que torna essa discussão cada vez mais relevante e emergente em nosso meio. Como reflexão, retomamos a ideia de que o exercício da prostituição em si não pode ser tomado como causa de maior vulnerabilidade à aquisição de doenças, sexuais ou não. O conceito de vulnerabilidades, enquanto elemento que se constrói e varia a partir de diferentes contextos e relações, precisa então ser considerado. É necessário destacar, ainda, os diferentes recursos acionados pelas mulheres que participaram da pesquisa para lidar com a saúde, os quais caracterizam o que poderíamos chamar de práticas de cuidado em rede. O cuidado à saúde dessa população deve envolver ações relacionadas à violência, uso e abuso de drogas, prevenção da DST/AIDS, atenção psicológica e a outros agravos à saúde, a redes de apoio e acesso aos serviços públicos. Uma assistência includente, para um público que requer da equipe de saúde e dos gestores governamentais medidas para a efetivação dos seus direitos. |
8969 | SENTINDO OS FLUXOS EUGÊNICOS NO CUIDADO À POPULAÇÃO MORADORA NA RUA POR DENTRO DA MICROPOLÍTICA DO TRABALHO EM SAÚDE Luiz Gustavo Duarte, Maira Sayuri Sakay Bortoletto SENTINDO OS FLUXOS EUGÊNICOS NO CUIDADO À POPULAÇÃO MORADORA NA RUA POR DENTRO DA MICROPOLÍTICA DO TRABALHO EM SAÚDEAutores: Luiz Gustavo Duarte, Maira Sayuri Sakay Bortoletto
Apresentação: Esse trabalho faz parte de um projeto maior o recorte exposto aqui é produto de uma incursão cartográfica realizada num Consultório na Rua (CnaR) em um município de grande porte no sul do país. A vivência se deu no segundo semestre de 2019 após parecer favorável no Comitê de Ética em Pesquisa. Para o estudo adotou-se uma posição de pesquisador in-mundo considerando que não há uma neutralidade na relação pesquisador-objeto, onde as referências e motivações estão implicadas diretamente na experiência. Devidamente in-mundo no campo de pesquisa, a cartografia foi utilizada como modo de produzir conhecimento, esta que teve seu termo cunhado por Gilles Deleuze e Félix Guatarri utilizando do conceito da geografia de produção de mapas, contudo a cartografia utilizada aqui não diagrama terras ou espaços físicos, mas sim linhas de afeto que permeiam os corpos. A fim de caracterização, o CnaR é um serviço multidisciplinar criado pelo Ministério da Saúde na Política Nacional de Atenção Básica de 2011 que atua de modo itinerante, integrado à atenção básica desenvolvendo ações em saúde e articulando tanto com a Rede de Atenção à Saúde quanto com outros equipamentos institucionais ou movimentos sociais. No município ele foi criado em 2012. Neste período de encontros, uma das afetações que produziram o desejo de aprofundar esta autoanálise que é feita na cartografia, parte da história de uma mulher vivente de rua lidando com sua gravidez. Chamada aqui de Lyta, uma mulher negra, idade entre 35 e 40 anos com um histórico de idas e vindas da rua, com transtorno mental, vivendo em casas, mocós e viadutos, que estava na sua oitava gestação, porém sem conviver com nenhum filho, visto que foram abortos e natimortos, além do único filho vivo que teve sua guarda colocada ao Estado.Lyta cresceu em uma família pobre, com seus pais e irmãos. Foi abusada na infância, especialmente pelo seu irmão, do qual acabou engravidando da sua primeira gestação. A criança foi a óbito após o nascimento, mas as brigas e discussões continuaram, de modo que culminaram na sua ida para as ruas ainda adolescente. Acabou se tornando um ir e vir característico dela, em um território que não respeitava as estrias que conhecemos ela acabou por desenrolar sua existência em um devir nômade.Várias segmentaridades e desejos podem ser sentidos nos encontros com Lyta, e dentre eles o desejo em exercer a maternidade era sentido tanto pelo pesquisador quanto pela equipe. Questão que era discutida recorrentemente, visto que este desejo a faria continuar na busca da maternidade, independentemente do desfecho que a atual gestação iria ter. Pautando-se nisto a equipe se equipava no preparo para as possíveis intervenções. No decorrer da gestação, muitas ações e intervenções foram propostas pela equipe, e para a surpresa dos profissionais Lyta estava aceitando, na mediada que suas conexões existenciais permitiam ela comparecia a atendimentos, seguia orientações para internamentos visando a diminuição do uso de drogas, sempre pautado em seu desejo de ser mãe. Como desfecho seu filho nasce, contudo, é retirado da instituição hospital e segue diretamente para outra instituição, no caso um lar de acolhimento. E deste processo Lyta, como ela mesma relata, seguiu todas as orientações propostas e mesmo assim acaba sem seu filho.Lyta luta impulsionada por seu desejo, mesmo caminhando entre desespero, angustia e alucinações, continuou seguindo orientações, comparecendo a reuniões, consultas e atendimentos, no aguardo da decisão do juiz sobre o seguimento de sua história. Em meio a tudo isto a equipe do CnaR sempre esteve a acompanhando com uma boa relação da equipe com ela. Todas as discussões sobre Lyta neste período gestacional também se pautavam no que seria o corpo de Lyta pós-nascimento de seu bebê. Algumas soluções eram propostas, como o acompanhamento de Lyta e seu bebê juntos em alguma instituição, ou mesmo ela ficando na casa de seu pai, junto com o bebê. Opções que por mais criativas que fossem pareciam sempre esbarrar na barreira moral e institucional presenciada no serviço. Disso as propostas eram repetições, como o oferecimento de anticoncepcional e prevenção de novas gestações, sem excluir as propostas de laqueadura que sempre ganhavam uma fala ou outra nas discussões, mas também ganhavam o contraponto de que Lyta não iria aceitar e que não seria possível. No final da vivência, Lyta estava fazendo uso de anticoncepcional injetável (ACI) durante período que aguardava a decisão do poder judiciário sobre o destino de seu bebê, e no momento da aplicação rotineira do ACI a enfermeira fala sobre laqueadura e surpreendentemente Lyta aceita. Seu desejo que outrora tinha sido produzido numa ideia de cuidado e convivência com seu filho, é esmagado e outra produção toma o lugar, um devir desmaternizante. Não tem importância aqui se o processo de laqueadura seja concretizado ou não, mas sim a supressão de um desejo por outro e como isto se deu. Depois de toda esta trajetória, de anos em um desejo de maternagem, dos caminhos traçados para manter a gestação até o final, dos sofrimentos vividos por ela seja nas ruas, na casa de seu pai ou nas instituições, seu filho nasce, ela já caminha para um idade onde engravidar se torna cada vez mais arriscado e o que parece ser mais factível é continuar na luta para a guarda de seu filho recém nascido e nunca mais viver isto de novo. Mas isto não foi produzido por Lyta e somente Lyta, esta produção de desejo foi agenciada, nos encontros de Lyta, nas normas sociais, no que se esperava dela como vivente de rua. As normatizações biopolíticas atuam no enquadramento de pessoas como Lyta, anormais do desejo que não correspondem ao que é esperado como padronizado. Outros casos de laqueadura em quem está vivendo na rua aconteceram antes, com relatos de procedimentos realizados sem o consentimento da mulher. Esta proposta de esterilização do vivente de rua aparece nas relações micropolíticas, em fluxos que agenciam os profissionais através de enquadramentos e protocolos que limitam a atuação e visão a alguns procedimentos tecnicistas, e diante da falta de opções a oferta da laqueadura começa a se tornar um caminho naturalizado, tanto para a equipe quanto para a mulher vivente de rua. Estes agenciamentos parecem se pautar em um eugenismo num vislumbre de elevação moral da sociedade através do controle de hereditariedade, ou seja, ditando quem merece se reproduzir, e no caso de Lyta, todas as instituições estão engatilhadas na oferta de esterilização. Assim estes fluxos agiram na tentativa de que ela não tenha outras gestações, que o desejo de Lyta se orientasse para a desmaternização, demonstrando ao mesmo tempo que há uma organização institucional visando um modelo de sociedade onde estas pessoas não merecem se reproduzir, nem viver, sendo um fluxo eugênico. Por fim, este recorte da cartografia pretendeu suscitar a discussão de como os fluxos de agenciamento do desejo buscam o controle sobre os vivos por um ideal de sociedade através de como as instituições e profissionais estão organizados. Lyta não precisou ter seu caso judicializado para uma laqueadura compulsória, as próprias instituições, bem como a sociedade, se encarregaram de produzir nela o desejo de esterilização. Diante disto, sugere-se novos estudos que permitam vislumbrar e clarificar como estas maquinarias atuam na produção de desejo e controle dos viventes de rua. |
9060 | VIOLÊNCIA URBANA E O COTIDIANO DO ATENDIMENTO PRÉ-HOSPITALAR MÓVEL: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA SOBRE AS DIFICULDADES, DESAFIOS E POSSIBILIDADES Daniel Laprovita, Wagner Luiz de Melo Bonin, Elvis da Silva Silveira, Alessandra Cristina Conceição de Souza, Anderson Lima Guidini, Ana Lucia Abrahão da Silva, Magda de Souza chagas, Vera Maria Sabóia VIOLÊNCIA URBANA E O COTIDIANO DO ATENDIMENTO PRÉ-HOSPITALAR MÓVEL: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA SOBRE AS DIFICULDADES, DESAFIOS E POSSIBILIDADESAutores: Daniel Laprovita, Wagner Luiz de Melo Bonin, Elvis da Silva Silveira, Alessandra Cristina Conceição de Souza, Anderson Lima Guidini, Ana Lucia Abrahão da Silva, Magda de Souza chagas, Vera Maria Sabóia
Apresentação: Cada vez mais o tema violência urbana vem se tornando prioridade nas agendas públicas devido à sua consequência na sociedade, sendo capaz de produzir impactos importantes no setor saúde, seja como fator de agravo à população ou como barreira de acesso aos serviços. Em 2008, o governo do Estado do Rio de Janeiro lançou as Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) como experiência piloto no morro de Santa Marta, em Botafogo. A proposta tinha como objetivo consolidar o controle estatal sobre comunidades sob forte influência da criminalidade e devolver à população local a paz e a tranquilidade pública. No entanto, durante a territorialização das UPPs houve a migração e expansão do “poder paralelo” para outras regiões da cidade e do Estado do Rio de Janeiro, caracterizando a metropolização da criminalidade. Após a “tomada de território”, criminosos migraram para outras regiões comandadas pelas mesmas facções criminosas ou até mesmo ampliaram sua abrangência, consolidando uma dinâmica de migração e expansão territorial. Desse modo, a implicação da expansão territorial da criminalidade sobre a sociedade urbana provoca a inacessibilidade aos serviços de saúde e, consequente, desassistência do usuário frustrando os princípios doutrinários do SUS. Estudo tem como objetivo descrever a dificuldade encontrada pelas equipes que atuam no atendimento pré-hospitalar móvel realizarem atendimento em territórios dominados pela criminalidade. Trata-se de um relato de experiência frente à atuação como enfermeiro de uma Unidade Móvel de Saúde Avançada (USA) em um município do Estado do Rio de Janeiro. Desenvolvimento Em seu relatório a Organização das Nações Unidas sobre Drogas e Crimes (ONUDC), destaca que o Brasil ocupa a segunda taxa de homicídio da América Latina. Portanto, a ocupação do tráfico de drogas em alguns espaços do Estado do Rio de Janeiro, gera conflitos entre as forças de segurança e constantes disputas por territórios entre quadrilhas rivais. Soma-se a atuação do “poder paralelo” que vem contribuindo para a impossibilidade de atuação do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU), com consequente desassistência aos usuários que necessitam ter suas necessidades de urgência atendidas. Vale ressaltar que a proposta fundamental do atendimento pré-hospitalar móvel é acessar a vítima o mais rápido possível, diminuindo assim os riscos imediatos à vida, assegurando atendimento adequado e transporte rápido à rede de urgência e emergência do Sistema Único de Saúde (SUS), o que resulta no cumprimento de suas diretrizes. Resultado: Observa-se que o aumento da violência e a ocupação dos traficantes em alguns territórios do estado geram conflitos entre as forças de segurança em constantes disputas por territórios entre quadrilhas rivais e o “poder paralelo”, representado por milícias, dificultando a atuação do SAMU junto aos usuários que necessitam de atendimento de urgência. Diariamente percorremos territórios que se transformam em grandes fortalezas, visto que são localidades onde o acesso é totalmente cerceado. Constata-se que as pessoas vêm perdendo o direito de ir e vir, com isso, perde-se também o direito ao acesso aos serviços essenciais e fundamentais para sobrevivência, entre eles o acesso à saúde. Consequentemente, as unidades móveis do SAMU em muitos casos, não podem adentrar nesses territórios, sendo assim algumas equipes optam por solicitar ao usuário que traga a vítima para fora do território hostil, procedendo ao atendimento. Em situações em que as equipes optam por acessar, esse acesso na comunidade ou local considerado “área de risco” se constrói mediante uma negociação, ou seja, o usuário solicitante negocia com os “donos do território” que permitem ou não a entrada da unidade móvel no território dominado. Certa feita, nossa equipe foi acionada pela Central de Regulação (CR) para realizar atendimento a vítima que sabidamente já se encontrava em óbito, isso no interior de uma comunidade com alto grau de criminalidade. Nesse caso, o atendimento era para constatação de óbito e posterior emissão do Atestado de Óbito pelo Instituto Médico Legal (IML) ou unidade hospitalar. Ao chegar ao local a equipe se deparou com a guarnição da Polícia Militar com veículo blindado denominado “Caveirão”. Havia um clima de tensão entre os policiais e a população. O atendimento foi realizado e o momento mais tenso para equipe foi à saída da comunidade, já que nossa viatura foi escoltada pelo “blindado/caveirão”, ficando exposta ao risco de ser atingida caso houvesse conflito entre forças policiais e criminosas. Há registro de abordagem por traficantes a uma equipe de suporte básico de vida (USB), sendo obrigada a entregar celulares que imediatamente foram inspecionados. A ideia era averiguar se havia elo da equipe do SAMU com agentes de segurança pública. Acabamos por desenvolver mecanismo que objetivam preservar a equipe como, por exemplo, acionar o localizador do GPS para que outras equipes de saúde monitorem conjuntamente o desfecho da ocorrência. Um estudo desenvolvido em duas instituições de serviço pré-hospitalar móvel do extremo sul do Brasil em 2017, objetivou descrever as dificuldades do cotidiano dos profissionais de enfermagem no atendimento pré-hospitalar móvel, aponta para deficiência e a necessidade de articulação entre os entes públicos para consolidação do atendimento de forma eficiente, tranquila e segura frente a violência urbana. Com objetivo de identificar as principais dificuldades do atendimento pré-hospitalar móvel descrita na produção científica nacional dos últimos 10 anos, um estudo realizado em 2019, destaca que a exposição à violência urbana têm sido um fator que vem dificultando a atuação do serviço em determinadas áreas. Percebe-se a ausência de diretrizes que descreva o papel dos gestores do SAMU, da Central de Regulação Médica e das equipes que atuam no serviço no que diz respeito à atuação do atendimento pré-hospitalar móvel em áreas consideradas de risco. Considerações finais: A violência se manifesta historicamente em todas as classes sociais, no entanto, fatores como aumento da desigualdade social, econômica e ausência de políticas públicas contribuem para segregação e criminalização das classes menos favorecidas. O SAMU se constitui a primeira porta de entrada na rede de urgência e emergência e está presente em quase todos os municípios do Brasil. Cumprir suas diretrizes vem se tornando um desafio, considerando que a dinâmica do serviço prima pela segurança das equipes que atuam no serviço. Do outro lado, está o usuário que legitimamente é o foco da instituição do programa, mas se vê desassistido. Este estudo busca enfatizar a necessidade de ampliação do conhecimento científico sobre o tema e abre a possibilidade de se investigar a forma que os gestores do SAMU vêm se organizando atuar neste cenário. Torna-se essencial a integração de entes públicos para discussão de novas formas que podem influenciar nas decisões de futuros enfrentamentos. |
9137 | PROCESSOS PRODUTIVOS EM SAÚDE MENTAL E ATENÇÃO PSICOSSOCIAL: TRANSFORMAÇÃO TECNOLÓGICA DO TRABALHO NO CUIDADO À SAÚDE INDÍGENA Herbert Tadeu Pereira de Matos Junior PROCESSOS PRODUTIVOS EM SAÚDE MENTAL E ATENÇÃO PSICOSSOCIAL: TRANSFORMAÇÃO TECNOLÓGICA DO TRABALHO NO CUIDADO À SAÚDE INDÍGENAAutores: Herbert Tadeu Pereira de Matos Junior
Apresentação: Projeto de monografia de especialização em saúde mental e cuidado psicossocial debate o funcionamento dos processos produtivos no trabalho de profissionais de saúde atuando no cuidado em saúde mental com povos indígenas. A pesquisa está estruturada como uma plataforma de reflexão crítica sobre a teoria/prática do processo de trabalho de profissionais no cuidado em estabelecimentos de saúde indígena, com ênfase na perspectiva da micropolítica e das tecnologias de cuidado em saúde, para pensar as mudanças epistemológicas e culturais ocorridas nos serviços de saúde indígena a partir dos efeitos da reforma psiquiátrica brasileira. O objetivo deste estudo é debater o estado da arte sobre os povos indígenas na saúde mental brasileira, considerando duas bases de dados o SciELO e a BVS. Utilizará como palavras-chave “indígena” e “saúde mental” em toda coleção na primeira e na segunda base, os artigos serão assim lidos na íntegra e agrupados de acordo com os temas estudados pelos autores. Entendemos que a complexidade da temática do trabalho em saúde mental e cuidado psicossocial demanda um olhar interdisciplinar, no entanto, a escassez de referências específicas deste cuidado em saúde mental com sujeitos e comunidades indígenas nos convoca a pensar em estratégias de associação com outros campos de saberes e diálogos para avançar no debate, justificado assim a aproximação com o estudo da temática do bem viver, também pela própria constituição da saúde enquanto ciência pautada principalmente por uma cultura biomédica individualizante e medicalizante das práticas de cuidado em saúde, o que destoa das tradições indígenas, baseadas no coletivismo e complexidade dos acontecimentos vividos. Norteados por essas problematizações debate-se: Como trabalham as equipes de saúde no cuidado em saúde mental aos povos indígenas na atualidade brasileira? Quais tecnologias de cuidado em saúde são agenciadas por esses sujeitos em seu processo de trabalho? A fundamentação teórica e metodológica servirá de base para a formulação das questões norteadoras que, ajudarão a compreender sentidos atribuídos e construir o debate de discussão sobre transição tecnológica no cuidado em saúde mental na saúde indígena. Para compreensão das informações, os artigos encontrados serão lidos na integra e organizados em subgrupos a partir dos temas abordados pelos autores, com foco no processo de trabalho do profissional de saúde na saúde mental para povos indígenas no Brasil. Mais tarde, os temas serão debatidos com base em autores de referencia da área de saúde coletiva e de uma análise comparativa sobre outros referenciais encontrados. Aqui, produzir conhecimento não significa estabelecer julgamento de efetividade dos serviços ou das práticas de cuidado dos profissionais, como em uma lógica da generalização do objeto, mas sim, pretende-se instituir um processo de construção coletiva entre os diversos interessados, com vistas a assegurar a utilidade do conhecimento na prática dos profissionais na saúde e para os povos indígenas, no desenvolvimento de saber/fazer com características próprias. Os benefícios da conversa se relacionam à possibilidades de um espaço para construção de conhecimento coletivo, com vistas a assegurar a utilidade e aplicação dos resultados em novas formas de saber/fazer na saúde mental indígena. |
9138 | A VIOLÊNCIA URBANA COMO FATOR DETERMINANTE NO COMPROMETIMENTO DO ACESSO A SERVIÇOS DE SAÚDE E MEDICAMENTOS: UMA REVISÃO INTEGRATIVA. Taynah da Silva Pinheiro, Rondineli Mendes da Silva, Selma Rodrigues de Castilho A VIOLÊNCIA URBANA COMO FATOR DETERMINANTE NO COMPROMETIMENTO DO ACESSO A SERVIÇOS DE SAÚDE E MEDICAMENTOS: UMA REVISÃO INTEGRATIVA.Autores: Taynah da Silva Pinheiro, Rondineli Mendes da Silva, Selma Rodrigues de Castilho
Apresentação: O acesso a serviços de saúde e medicamentos é amplamente discutido e meta a ser alcançada por diversos países. Entretanto, diversos fatores podem vir a ser barreiras que determinam a restrição de acesso para os usuários. Dentre os fatores que podem causar este comprometimento está a violência urbana, aqui conceituada como conflitos armados dentro de um território limitado. Portanto, este estudo tem por objetivo avaliar se, através da revisão da literatura, há comprometimento do acesso a serviços de saúde e medicamentos devido à violência urbana. Desenvolvimento: Revisão integrativa da literatura. A composição das palavras-chave foi desenhada através do método PICOT. A busca dos artigos foi realizada inteiramente online, em setembro de 2019 e, novamente, em outubro de 2019, nos bancos de dados LILACS, PubMed e Science Direct. Foram incluídos os estudos publicados entre 2008 e 2018, nos idiomas inglês, português e espanhol. Não foram consideradas neste estudo as publicações em forma de cartas e editorias, reportagens e capítulos de livro. Resultado: Dos 1014 artigos resultantes da busca nas três plataformas, 30 foram selecionados após aplicação dos critérios de exclusão, análise do título, análise do resumo e leitura integral do texto. Os resultados foram tabulados por autor, ano de publicação, continente de origem do estudo e sumário de resultados. A maioria dos estudos selecionados relata a restrição de acesso aos serviços de saúde e medicamentos, com exceção de dois artigos. Os programas de saúde mais afetados pela violência urbana são os referentes à saúde reprodutiva da mulher, incluindo saúde materna, os programas de HIV/AIDS e as campanhas de vacinação. Os artigos também foram avaliados pelos níveis de evidência. Entretanto, os estudos incluídos nesta seleção foram considerados de baixo nível de evidência. Considerações finais: Pode-se afirmar que a violência urbana é fator de comprometimento do acesso a serviços de saúde e medicamentos, porém a literatura é escassa principalmente no que tange o acesso a medicamentos. Os medicamentos necessitam de maior notoriedade no que tange ao acesso. As barreiras de acesso a partir de relatos dos usuários que vivenciam a exposição à violência urbana são primordiais para compreensão deste fenômeno. Desta forma, estratégias poderão ser formuladas para facilitar o acesso aos serviços de saúde, bem como aos medicamentos. |
9377 | CAMINHOS DE UMA PESQUISA SOBRE ACESSO DA POPULAÇÃO RIBEIRINHA AOS SERVIÇOS DE URGÊNCIA E EMERGÊNCIA EM MAUÉS/AM: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA Vanessa Figueiredo de Almeida, Júlio Cesar Schweickardt, Glenda Patrícia da Silva Vieira CAMINHOS DE UMA PESQUISA SOBRE ACESSO DA POPULAÇÃO RIBEIRINHA AOS SERVIÇOS DE URGÊNCIA E EMERGÊNCIA EM MAUÉS/AM: UM RELATO DE EXPERIÊNCIAAutores: Vanessa Figueiredo de Almeida, Júlio Cesar Schweickardt, Glenda Patrícia da Silva Vieira
Apresentação: O acesso aos serviços de saúde é um direito de todo cidadão, assim, as Redes de Atenção à Saúde (RAS) foram pensadas no âmbito do Sistema Único de Saúde como uma estratégia de ampliação desse acesso. Nesse sentido, tomamos a Rede de Urgência e Emergência como um componente da RAS para estudar sobre o acesso da população ribeirinha na Amazônia a esses serviços, seja na Atenção Básica por meio das urgências básicas, seja pelo atendimento de maior grau de atenção. Para isso, buscamos identificar os fluxos de acesso dessa população e como a gestão local organiza e viabiliza o acesso por meio desses fluxos. É importante considerar a população ribeirinha com seu diferencial e suas especificidades, diante dos desafios enfrentados e das potencialidades tanto do território quanto dessa população que ali habita, seu contexto socioeconômico e cultural, suas crenças, habilidades e experiências. O cuidado em saúde nesses locais se faz especialmente a partir dessa vivência e do conhecimento acerca da realidade comunitária. Este trabalho busca apresentar a experiência e início da caminhada como pesquisadora ribeirinha, que se faz junto com os gestores, profissionais e trabalhadores da saúde no município de Maués, Amazonas. Trata-se da descrição de uma experiência em campo de uma mestranda do Mestrado Acadêmico do Programa de Pós-Graduação em Condições de Vida e Situações de Saúde na Amazônia – PPGVIDA. Desenvolvimento: O estudo se dá em um município do interior do Estado do Amazonas, chamado Maués, também conhecido como a “Terra do Guaraná”, situado na Região de Saúde do Baixo Amazonas. Este município possui uma grande extensão territorial e baixa densidade demográfica, cuja população está atualmente em torno de 64 mil habitantes. O primeiro encontro no município se deu numa tarde ensolarada, na Secretaria Municipal de Saúde (SEMSA/Maués), onde reunimos com o secretário de saúde e alguns profissionais que atuam na secretaria, apresentamos o projeto intitulado “Acesso da população ribeirinha à Rede de Urgência e Emergência no Estado do Amazonas”, que é um dos projetos desenvolvidos pelo Laboratório de História, Políticas Públicas e Saúde na Amazônia – LAHPSA. Nesse encontro foram definidas as estratégias e pactuações com a gestão municipal acerca do desenvolvimento do projeto com a participação dos profissionais como pesquisadores locais. Nos propomos ainda a escrita de um artigo por meio da escrita compartilhada entre gestores, trabalhadores e pesquisadores externos. No segundo encontro foi possível dialogar com a coordenação da atenção básica, gerência de vigilância epidemiológica do hospital, a responsável técnica pela regulação do Transporte Fora de Domicílio (TFD) e com a Vigilância em Saúde do município, possibilitando entender um pouco sobre os desafios enfrentados pelos profissionais e pela população, principalmente com relação ao transporte e deslocamento nos diferentes ciclos dos rios (cheia e seca). Resultado: Até o momento estamos finalizando a coleta de dados em campo, por meio das entrevistas e oficinas com os gestores e trabalhadores do município, na qual estão sendo produzidos “mapas falantes” dos fluxos de acesso da população ribeirinha, as entrevistas com gestores e profissionais responsáveis pelo cuidado dessa população foram concluídas no terceiro encontro, em janeiro de 2020. Incialmente nosso trabalho se daria apenas com os gestores de saúde do município: secretário de saúde, diretor do hospital local, gerente da vigilância epidemiológica e com os gerentes das equipes ribeirinhas. Entretanto, ao adentrar nesse território e nesse contexto ribeirinho percebemos que para entender a saúde dessa população de forma mais ampla, precisamos adentrar nesse universo, então resolvemos abrir um leque para trazer os Agentes Comunitários de Saúde (ACS) para junto da pesquisa, ou seja, eles serão também participantes e coautores desse trabalho. No primeiro Propomos aos ACS que fizessem a descrição dos fluxos de acesso da população ribeirinha aos serviços de urgência e emergência através dos mapas falantes, onde a partir de suas narrativas poderemos entender os desafios e potencialidades de seu cotidiano no cuidado em saúde, afinal, eles conhecem a realidade de fato, pois vivenciam ali no dia a dia das comunidades. A construção do texto sobre esses caminhos metodológicos da pesquisa em saúde no município está sendo realizada juntamente com os profissionais locais, ou seja, eles não serão meros participantes, mas são atores e autores desse trabalho que está sendo realizado, onde são chamados de pesquisadores locais, aqueles que pesquisam junto e não apenas são pesquisados, produzem e partilham seus conhecimentos e suas vivências. No terceiro encontro houve a apresentação de alguns Mapas falantes, na qual foram narradas as vivencias e o fluxo de acesso da população ribeirinha aos serviços de urgência e emergência no município. Foi uma experiência enriquecedora, o trabalho e podemos dizer até a “missão” de levar e fazer o cuidado em saúde nesse território singular é difícil, com as barreiras, os desafios, mas ao mesmo tempo é muito gratificante para eles, pois destinam o seu tempo muitas vezes como socorristas em situações de urgência e emergência, especialmente às urgências obstétricas em área e que muitas das vezes necessitam levar até à sede e com o apoio da comunidade e de seus próprios familiares conseguem salvar vidas de gestantes e seus filhos. Ao final desse encontro com os ACS propomos a escrita de textos que relatem a experiência do cotidiano de seu trabalho em saúde, sobre os desafios e as potencialidades dessa “missão” de ser um de fato um Agente Comunitário de Saúde que independente do lugar, horário e tempo (sol ou chuva), se dispõem a levar o cuidado aos ribeirinhos. Considerações finais: É essencial não apenas conhecer, mas compreender como se dá o acesso da população ribeirinha aos serviços de urgência e emergência nesse território diferenciado. Portanto, esta pesquisa visa colaborar com o aprimoramento, organização e planejamento das estratégias de gestão dos fluxos de acesso dessa população específica, possibilitando melhorias para a saúde dos ribeirinhos. Ademais, pretendemos realizar uma oficina de escrita com os profissionais e trabalhadores da área ribeirinha, especialmente os ACS para produzirmos outros trabalhos sobre essas experiências, destacando não apenas os desafios enfrentados no dia a dia, mas as potencialidades que eles desenvolvem no cotidiano do trabalho e do cuidado em saúde nesse território ribeirinho. Ao final da pesquisa buscaremos realizar um seminário local para apresentar os resultados e análises realizadas pela equipe sobre esse acesso à Rede de Urgência e Emergência no município de Maués. Essa pesquisa tem sido uma experiência ímpar, pois adentrar nesse contexto da saúde ribeirinha nos faz repensar nossas atitudes e conceitos enquanto profissional e enquanto usuário, da importância de uma gestão comprometida com o usuário e organização dos serviços de saúde e da atuação dos profissionais, principalmente dos Agentes Comunitários de Saúde, considerando as especificidades amazônicas. |
9392 | LENTE INTERSECCIONAL NOS ESTUDOS DE DESIGUALDADES EM SAÚDE: VISIBILIDADE PARA MULHER NEGRA Etna Kaliane Pereira da Silva, Gisseila Andrea Ferreira Garcia, Sandhi Maria Barreto, Luana Giatti Gonçalves LENTE INTERSECCIONAL NOS ESTUDOS DE DESIGUALDADES EM SAÚDE: VISIBILIDADE PARA MULHER NEGRAAutores: Etna Kaliane Pereira da Silva, Gisseila Andrea Ferreira Garcia, Sandhi Maria Barreto, Luana Giatti Gonçalves
Apresentação: As desigualdades de gênero e raça são constantemente abordadas nos estudos de desigualdades em saúde, ainda que em menor proporção do que as desigualdades socioeconômicas. Os estudos tradicionalmente avaliam raça e gênero de forma independente e não consideram que o indivíduo é constituído por múltiplas identidades - teoria da interseccionalidade. Essa teoria fornece orientações metodológicas mais concretas que permitem desvendar essas múltiplas identidades e identificar novas disparidades em saúde e consequentemente apontar outros elementos para a elaboração de políticas e programas de saúde pública. Diante disso, pretendemos com esse trabalho fomentar discussões relacionadas a importância da abordagem interseccional na saúde pública, tanto nas pesquisas como na formulação de políticas e programas. Desenvolvimento: Para ilustrar os padrões complexos que surgem quando raça e gênero são considerados de forma interseccional, recorremos aos dados de duas pesquisas representativas nacionais. Estimamos a prevalência de situações de violência provocada por pessoas conhecidas entre os adultos participantes da Pesquisa Nacional de Saúde 2013 e de violência física intrafamiliar nos adolescentes da Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar 2015. Resultado: Dos 59.249 adultos participantes, 2,9% relataram situações de violência por pessoas conhecidas. Considerando raça e gênero de forma separada, as prevalências foram 1,6% (homens), 3,2% (mulheres), 2,1% (brancos), 2,9% (pardos) e 3,1% (pretos). Com a abordagem interseccional, observou-se prevalências de 1,5% (homem branco); 2,1% (homem pardo); 2,2% (homem preto); 2,6% (mulher branca); 3,7% (mulher parda); e 3,9% (mulher preta) – p-valor 0,000. E entre os 92.694 adolescentes, 14,0% relataram situações de violência física intrafamiliar. As prevalências foram 13,6% (meninos) 14,9% (meninas), 13,0% (brancos) 14,5% (pardos) e 16,8% (pretos). E com uma perspectiva interseccional foram respectivamente: 12,9% (homem branco) 13,5% (homem pardo) 15,7% (homem preto), 13,2% (mulher branca), 15,3% (mulher parda) e 18,3% (mulher preta) – p-valor 0,000. Considerações finais: Esses resultados evidenciam maiores prevalências de situações de violência em mulheres pardas e pretas na análise interseccional em ambas as populações de estudo, em comparação as prevalências na análise tradicional. Chamando atenção para as complexas relações entre as disparidades raciais e de gênero em saúde descompactando as experiências dos grupos sociais e promovendo principalmente uma maior visibilidade das vulnerabilidades em saúde da mulher negra. A abordagem interseccional elucida não apenas as desigualdades ligadas às características individuais dos sujeitos, mas os processos históricos, estruturais e institucionais que os compõem, o que auxilia delinear vias potenciais de melhoria da saúde da população, com intervenções direcionadas que aborde efetivamente as disparidades em saúde. |
9398 | VISITA A UM AMBULATÓRIO DESTINADO AO CUIDADO DE PESSOAS TRANSEXUAIS: RELATO DE EXPERIÊNCIA Fabiana Fraga, Francisco Jean Gomes de Sousa, Gabriel Fidelis Ferreira, Mariana dos Santos Gomes, Fabiana Albino Fraga, Adriana Lemos VISITA A UM AMBULATÓRIO DESTINADO AO CUIDADO DE PESSOAS TRANSEXUAIS: RELATO DE EXPERIÊNCIAAutores: Fabiana Fraga, Francisco Jean Gomes de Sousa, Gabriel Fidelis Ferreira, Mariana dos Santos Gomes, Fabiana Albino Fraga, Adriana Lemos
Apresentação: Em uma instituição de saúde o acolhimento constitui o momento em que se inicia a relação com o usuário, pautada no respeito e no cuidado possibilitando o estabelecimento de um vínculo de confiança sólido e seguro, tanto com o profissional quanto com o serviço. Com isso, são garantidos o direito do usuário e os princípios dos SUS. O acolhimento não é um espaço ou uma ação de determinado grupo de profissionais, mas sim o modo de atuar de toda equipe e deve estar presente em todos os momentos do atendimento. O ambulatório em questão acolhe pessoas transexuais e suas demandas, além de promover um cuidado especifico a essas pessoas. Objetivo: Descrever uma visita técnica realizada em um ambulatório para pessoas transexuais, com destaque para suas vivências e dificuldades cotidianas. Método: Trata-se de um relato de experiência de uma visita realizada por graduandos de Enfermagem bolsistas de iniciação científica a um ambulatório destinado a pessoas transexuais, organizada por uma professora e seus orientandos (mestrandos), que ocorreu em janeiro de 2020. No primeiro momento, os mestrandos explicaram suscintamente as atividades realizadas no ambulatório e como ocorre o atendimento, ou seja, um momento de conversa e preparação para os graduandos se habituarem ao local. No segundo momento, os graduandos foram convidados para observar a atividade de sala de espera realizada pelos mestrandos, assim conhecendo o trabalho realizado no ambulatório. Resultado: O ambulatório oferece cuidado ligado a ideia de integralidade na assistência à saúde, porém não detém total integralidade no cuidado pela falta de recursos tecnológicos que o usuário demanda. Nele os pacientes são acompanhados por uma equipe multidisciplinar, que exerce apoio psicológico e social, fornecem prescrição de medicamentos, solicitação de exames e acompanhamento clínico. Assim, contribuindo para o bem-estar físico e mental da população atendida. Foi observado que uma fração dos pacientes faz uso de hormônios sem prescrição médica, buscando informações sobre aplicações e efeitos nas redes sociais. Ademais, é importante destacar o apoio da rede familiar, presente em poucoscasos, a ausência desse apoio contribui para a depressão, crescimento do índice de marginalização, prostituição, riscos à saúde e diminuição da expectativa de vida. A transexualidade é marcada por diversos conflitos sociais, onde o direito a dignidade é violado constantemente pela transfobia, exclusão e, abandono. Segundo a Associação de Travestis e Transexuais – ANTRA, cerca de 90% da sua classe sobrevivem de trabalhos informais e marginalizados o que sinaliza a situação de vulnerabilidade vivenciadas por essas pessoas (OTONI, 2014). Considerações finais: Diante dos fatos apresentados, é perceptível que o trabalho realizado pelos profissionais no ambulatório é de grande relevância, visto que a população transexual que em sua maioria tem seu direito a dignidade, dentre outros violados no convívio em sociedade cotididianamente. A visita ao ambulatório proporcionou aos graduandos uma aproximação das vivências dos transexuais nos serviços de saúde bem como de suas dificuldades e demandas e ainda profundas reflexões do compromisso profissional no cuidado a saúde de pessoas trans. |
9408 | ANÁLISE DA INTERNAÇÃO DA POPULAÇÃO NA REGIÃO DO MÉDIO RIO SOLIMÕES, AMAZONAS Ana Carolina Mota de Sousa, Júlio César Schweickardt, Joana Maria Borges de Freitas Silva, Ana Elizabeth Sousa Reis ANÁLISE DA INTERNAÇÃO DA POPULAÇÃO NA REGIÃO DO MÉDIO RIO SOLIMÕES, AMAZONASAutores: Ana Carolina Mota de Sousa, Júlio César Schweickardt, Joana Maria Borges de Freitas Silva, Ana Elizabeth Sousa Reis
Apresentação: A pesquisa tem como objetivo analisar o perfil de internação da população da região de saúde do Médio Rio Solimões, no Estado do Amazonas. Para isso estamos utilizando o Sistema de Informações Hospitalares (SIH), que têm como objetivo proporcionar o conhecimento do custo de hospitalização, tempo de permanência, evolução, bem como possibilitar o conhecimento dos indivíduos hospitalizados, quanto aos aspectos clínicos e epidemiológicos. Por meio desse sistema buscamos conhecer a natureza dessas internações, perfil dos usuários, suas prevalências e estimar as necessidades do serviço. Desenvolvimento: É um estudo do tipo transversal, descritivo, de abordagem quantitativa. Os dados foram pesquisados no Sistema de Informações Hospitalares (SIH) do DATASUS, no período entre 2014 a 2018. Resultado: A Região de Saúde do Médio Rio Solimões é composta pelos seguintes municípios: Tefé, Japurá, Maraã, Juruá, Uarini, e Alvarães. Sendo que durante esse período foram registradas no SIH um total de 29.727 internações. Os seguintes dados analisados estão classificados segundo os capítulos do CID-10 e a lista de morbidade do CID-10. Dentre essas internações, às relacionadas à Gravidez, parto e puerpério representam 49,41% do seu total, com 14.689 internações, e dentro dessa categoria os partos únicos espontâneos foram a principal causa, sendo registrados 9.116 partos (62%). Em segundo lugar estão as doenças do aparelho digestivo com 8,08%, sendo a “Colelitíase e colecistite” a categoria de afecção predominante, com 662 internações (27,57%) seguida da “Doenças do apêndice” com 548 (22,82%) e a “Hérnia inguinal” com 338 internações (14,08%). E logo em seguida temos as doenças do aparelho geniturinário com 7,83%, sendo registrada de maneira inespecífica pela lista de morbidade do CID-10 com: “Outras doenças do aparelho urinário” com 1.079 internações (46,35%) sendo a categoria predominante, seguida de “Doenças renais túbulo-intersticiais” reduzindo para 163 (7,00%) internações e a “Cistite” com 160 (6,87%). Durante esses cinco anos, apenas 1,12% das internações são de pacientes indígenas, sendo a raça parda a de maior prevalência com 93,48% e a raça negra a de menor número, com apenas 0,49%. A população adulta jovem é a mais prevalente nessas internações, sendo o principal motivo de internação por gravidez, parto e puerpério, e nos extremos de idade as doenças do aparelho respiratório. Considerações finais: Esse padrão é congruente com o perfil das internações hospitalares do Brasil no mesmo período em que os maiores motivos das internações também se relacionam à gravidez, parto e puerpério. Porém difere nos demais grupos, em que o segundo e terceiro lugar se encontram respectivamente, as Doenças do aparelho respiratório e Lesões, envenenamento e algumas outras consequências por causas externas, na média nacional. A pesquisa com dados secundários subsidia uma pesquisa mais ampla sobre acesso da população ribeirinha aos serviços de urgência e emergência, coordenada pelo Laboratório de História, Políticas Públicas e Saúde na Amazônia – LAHPSA/Fiocruz Amazônia. Por fim, a pesquisa tem como meta contribuir para a qualidade dos serviços de saúde, respeitando as características da região da Amazônica. |
9623 | AMPLIAÇÃO DO ACESSO À SAÚDE ATRAVÉS DA UBSF NO INTERIOR DO AMAZONAS: UM RELATO ENQUANTO MÉDICO DE FAMÍLIA E COMUNIDADE Jonathan Souza Lima, Maria Adriana Moreira, Fabiana Mânica AMPLIAÇÃO DO ACESSO À SAÚDE ATRAVÉS DA UBSF NO INTERIOR DO AMAZONAS: UM RELATO ENQUANTO MÉDICO DE FAMÍLIA E COMUNIDADEAutores: Jonathan Souza Lima, Maria Adriana Moreira, Fabiana Mânica
Apresentação: As comunidades mais afastadas do interior do Amazonas sempre tiveram muitas dificuldades de serem assistidas por equipes de saúde. Atualmente através do UBS Fluvial, o Município de Tefé tem conseguido ampliar sua assistência médica de saúde para aqueles que vivem à beira dos seus rios. Essa ampliação leva a impactos diretamente proporcionais de curto e longo prazo na melhoria da saúde e gera novos desafios a cada viagem. Objetivo: Mostrar que a ampliação da assistência médica com qualidade, frequência, estrutura adequada e equipe multiprofissional, podem gerar impactos significativos na saúde das comunidades ribeirinhas. Relatar os desafios encontrados dentro da vivência médica nesse estilo de atendimento itinerante através das experiências vividas nas viagens da UBS Fluvial – Vila de EGA. Relato da Experiência: As unidade básicas de saúde(UBS) hoje são as portas de entrada para rede, e no interior do Estado do Amazonas, mais especificamente no Município de Tefé, esse desafio se torna ainda mais complicado por que o município abrange populações que vivem à beira de seus rios. São os conhecidos como “ribeirinhos”, povos que se agrupam e formam suas comunidades, tem seu próprio estilo de vida, sua economia que é baseada na agricultura, principalmente cultivo de mandioca e produção de farinha, vivem também da pesca e da ajuda de custo de programas sociais. Moram em casas feitas de madeira, possuem luz elétrica limitada ao período noturno por algumas horas. Estão regidos pela dinâmica dos seus rios através de dois períodos, cheia e seca, e essa dinâmica dos rios interfere diretamente nas suas condições de vida e saúde, e também impactam no acesso e na assistência à saúde a essas populações. O município de Tefé (AM) possui uma Unidade Básica de Saúde Fluvial (UBSF) que desenvolve todos os programas da Atenção Primária à Saúde. A unidade conta com diversos profissionais da saúde, incluindo um Médico da Estratégia da Saúde da Família, e um consultório equipado para realização da assistência a comunidade. Com a UBS fluvial é possível aproximar esse encontro do Médico com a população ribeirinha. Não que isso seja uma novidade, sempre se levou profissionais às comunidades, mas através da UBS fluvial é possível levar a qualidade na assistência no mesmo nível que nas unidades urbanas. A UBSF conta com os mesma estrutura física, administrativa e organizacional de uma unidade básica tradicional. Isso viabiliza a assistência que vai ser oferecida a essa população, com isso conseguimos ampliar o atendimento de todos os profissionais da saúde, efetivando assim, as ações preconizadas pelos programas e fortalecendo a cobertura e acesso universal. Resultado: Um dos grandes impactos deste tipo de atendimento itinerante é diminuir as distâncias, é chegar na porta das famílias, por que muitas delas desistem da assistência em zonas urbanas, pela falta de oferta dos serviços, pela demora no atendimento, pelo custo de translado, pela dificuldade de locomoção. Na UBSF é possível fazer uma triagem, diagnóstico clínico e laboratorial, assim como um tratamento oportuno. Exemplo de um fluxo de atendimento na UBSF: Uma mulher em idade fértil chega a unidade com queixa de amenorreia, é acolhida pela recepção, é realizado o teste de gravidez, inicia o pré-natal, é feita a coleta de exames do primeiro trimestre no laboratório. Caso detecte-se um caso de sífilis no teste rápido, se encaminha para atendimento médico, é realizado a intervenção de acordo com protocolo vigente, faz se a notificação e busca ativa do parceiro, orienta o casal, encaminha para retorno e seguimento continuado do tratamento. Tudo isso sendo realizado quase que simultaneamente em um atendimento multiprofissional. Essa relação de proximidade e vivência da comunidade é importante para entender o contexto de muitas afecções, e de situações que interferem nas relações de saúde x doença dessas populações. Sobre a dinâmica da UBSF: ela vai em cada comunidade, chegando geralmente no período noturno, para no dia seguinte fazer o acolhimento, triagem e atendimento dessa população, e dependendo do número de pessoas para serem atendidas essa estadia na comunidade pode durar mais de um dia. O médico e a equipe fazem visitas à comunidade, procuram conhecer o cotidiano, verificam se há água potável, saneamento básico, e outro fatores de riscos que possam causar danos à saúde. Essa vivência para o médico da família e comunidade é de extrema importância para que se façam planejamentos e intervenções pontuais e ampliadas. Quando se amplia a assistência médica a essas populações melhoramos o diagnóstico situacional, a vivência contínua nas comunidades desperta um olhar diferenciado àqueles que participam do cuidado. Ter conhecimento amplo das pessoas com doenças crônicas, através dos registros das suas últimas consultas, orientações, encaminhamentos, prescrições e outras informações prevalentes obtidas dos livros de registros dos Agentes Comunitários de Saúde (ACS), bem como através do Prontuário Eletrônico do SUS e dos relatórios realizados nas viagens. Para o médico da família e comunidade é desafiador não perder nenhum paciente na rede, principalmente no período da seca dos rios, onde encontramos a maior dificuldade de chegar até essas populações. O acesso a esses lugares com a UBS fluvial é impossibilitado na seca, é necessário planejar estratégias para dar continuidade mesmo fora das viagens itinerantes. Outro desafio é de que a ampliação da assistência não interfira na cultura e nos costume desses povos. Anteriormente, eles praticavam os conhecimentos populares, e, através das suas benzedeiras, parteiras e puxadores eram cuidados no enfretamento da doença. Ao aumentar a oferta de consultas médicas e distribuição de medicamentos corremos o risco de diminuir a procura pelos cuidados tradicionais. Sendo assim, almeja-se unir a assistência médica à cultura e costumes tradicionais, saber identificar esses atores que também cuidam da saúde. Há vários relatos de uso de chás de cascas de árvores, como do Jatobá, que são eficientes para afecções relacionadas a próstata e ao aparelho urinário, e realmente pude constatar de várias testemunhas a eficácia desses recursos tradicionais na melhoria de sintomas clínicos. Portanto, devemos usar isso a nosso favor. Considerações finais: A UBS fluvial é um marco no atendimento das comunidades sem assistência de saúde no interior do Amazonas, e junto com ela a ampliação da assistência especializada. Os impactos tem sido na sua maioria muito positivos, encurtando distâncias, levando a assistência médica a porta do comunitário com qualidade no atendimento, nos diagnósticos, com equipamentos e tecnologia acessível, atingindo grupos prioritários, fazendo um controle mais amplo, conhecendo melhor o meio onde vivem, e se relacionam, vivenciando experiências, observando, respeitando e atuando com responsabilidade diante dos costumes e culturas dessas populações. Sabemos que existem desafios a serem superados, mas o importante é não perder de vista os princípios da APS, para que junto aos agentes comunitários, às unidades de referência ribeirinha na zona urbana e outras intervenções, que nos ajudem a manter a vigilância em saúde. E com a certeza de que o caminho para se fazer saúde nessas regiões não é uma tarefa simples, é uma tarefa complexa, e especialmente, possível. |
12248 | “CAMINHO SE FAZ AO CAMINHAR”: SISTEMATIZAÇÃO DE ESTUDO DE DEMANDA/COMPREENSÃO DE PÚBLICO E REDESENHOS DE CAMINHOS NO AMBULATÓRIO LGBTT+ DE MOSSORÓ/RN Camila Mesquita Soares, Maria Alexsandra Sabino da Silva, Raissa Paula Paula Sena dos Santos, Tamires da Silva Morais, Adriana Torres da Silva, Glenda Isis Camara Maciel “CAMINHO SE FAZ AO CAMINHAR”: SISTEMATIZAÇÃO DE ESTUDO DE DEMANDA/COMPREENSÃO DE PÚBLICO E REDESENHOS DE CAMINHOS NO AMBULATÓRIO LGBTT+ DE MOSSORÓ/RNAutores: Camila Mesquita Soares, Maria Alexsandra Sabino da Silva, Raissa Paula Paula Sena dos Santos, Tamires da Silva Morais, Adriana Torres da Silva, Glenda Isis Camara Maciel
Apresentação: Trata-se de uma sistematização do estudo de demanda e de compreensão de público realizado durante os dois primeiros meses de atendimento da Linha de Cuidado à Saúde LGBTT+, sediada na Faculdade de Enfermagem (FAEN), na Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN), na cidade de Mossoró/RN. Esta linha de cuidado do ambulatório da UERN é um serviço pioneiro no Estado do Rio Grande do Norte, criado a partir da constatação de invisibilidade, ausência ou negação de acolhimento e atendimento qualificado ao segmento LGBTT+ na saúde do município. Constatações apreendidas por vivência de grupos de residentes multiprofissionais no dia a dia dos cenários de prática da Residência Multiprofissional em Atenção Básica/Saúde da Família e Comunidade (RMABSFC), que são Unidades Básicas de Saúde, com atendimentos estruturados a partir da Estratégia de Saúde da Família. Assim como por Trabalho de Conclusão de Residência (TCR), intitulado de “Trans.formando-se: o dialogar entre identidades trans* e profissionais residentes em atenção básica (SAMPAIO, 2019). Além de ser um serviço recém criado e pioneiro, também é um serviço com intencionalidade de fomentar experiências de atendimento interdisciplinar, formação com-e-para profissionais residentes e profissionais da rede de saúde pública do município e de ser articulador de uma rede mais acolhedora às pessoas LGBTT+ em Mossoró/RN. Dessa forma, os dois primeiros meses do serviço contemplou atendimentos e, ao mesmo tempo, estudo de demanda e compreensão de público realizado pelo Núcleo de Serviço Social. Quanto aos resultados, tivemos os seguintes: Na ficha do estudo havia um espaço para ser colocada a UBS de referência daquele usuário. Das 48 pessoas que responderam ao instrumento, não foram todas que mencionaram sua UBS de referência. Destas, nos chamaram atenção algumas respostas: 04 pessoas não sabem qual sua UBS; 07 pessoas afirmaram que nunca ou raramente buscam UBS, quando precisam de atendimento, buscam Unidades de Pronto Atendimento (UPAs). Das 48 pessoas, 25 são comunitárias de territórios contemplados por residências em saúde da UERN. Dessas 25 pessoas, apenas 05 explicitaram ou sabiam suas UBS de referência (os outros 20 foram catografados por nós, na análise das fichas). Deste já exíguo quantitativo (05 pessoas que explicitaram suas UBS), apenas 02 explicitaram ou souberam informar os nomes dos seus Agentes Comunitários de Saúde (ACS). Quanto às idades, temos 06 usuários adolescentes (com idades de 0 a 17 anos, sendo a pessoa mais nova com idade de 15 anos). 33 usuários jovens de 18 a 26 anos de idade e 03 pessoas jovens de 27 a 29 anos. Quanto aos não jovens, temos 04 pessoas de 30 a 36 anos. E apenas uma pessoa de 37 a 40 anos. Apenas uma pessoa não informou a idade. Tratando-se da renda, tivemos uma limitação na pesquisa de caracterização de público: questionamos apenas a renda familiar e não interrogamos quanto à quantidade de pessoas conviventes na residência. Assim sendo, tivemos um resultado generalista, sem a possibilidade de realizar o cálculo per capita. Ainda assim, nossos resultados foram os seguintes: 02 pessoas com renda familiar de até R$300,00. Ao tempo em que 05 pessoas contam com renda familiar de R$300,00 a R$600,00 reais. Enquanto apenas 02 pessoa conta com renda superior a R$600,00 e inferior a R$998,00. E 06 pessoa possuem renda mensal familiar de exatamente um salário mínimo (R$998,00). O maior quantitativo de pessoas (24 pessoas) têm renda familiar de R$998,00 a R$1996,00. Há, ainda, 07 pessoas que contam com renda familiar mensal de R$2994,00 a R$3992,00. Apenas um usuário tem renda familiar mensal superior a R$3992,00. Além disso, 02 pessoas não responderam a esta questão. Por fim, reconhecemos a limitação deste indicador para a nossa análise (por não ter considerado a configuração familiar e renda per capita). Quanto à raça/etnia, 18 pessoas se autodeclaram brancas. 22 pessoas são pardas. Ao tempo em que 06 pessoas são negras. E 01 é amarela, assim como apenas 01 se diz indígena. Referente à situação habitacional, 18 pessoas residem em casa própria. Ao tempo em que 23 pessoas residem em casa alugada. 04 pessoas em casa cedida, 01 em vila/residência universitária e apenas 02 pessoas não responderam à pergunta. Quanto ao estado civil, 31 pessoas são solteiras. Enquanto 02 são casadas e 02 estão em união estável. No que concerne à ocupação, excluindo 01 pessoa que não respondeu ao questionamento, temos 04 pessoas autônomas; 07 pessoas empregadas; 29 pessoas estudantes (aqui estão considerados os vários níveis de acesso à educação formal: escola, graduação, pós-graduação etc.). Enquanto 06 pessoas são desempregadas e 01 pessoa é estudante e jovem-aprendiz. Quanto aos elementos de destaque temos às principais ocupações de pessoas autônomas: artesanato, barbearia, shows de Drag Queen, promotoria de festa, fotografias, pintura e venda de quadros, dentre outras formas de artes. No que se refere às ocupações formais, destacaram-se serviços como: Auxiliar de Serviços Gerais (ASG), atendente de lanchonete, trabalho em call center/telemarketing, técnico/intérprete de LIBRAS (Língua Brasileira de Sinais) e serviços administrativos, tratando-se de pessoas trans. Ainda, obtivemos as categorias de assistente social e funcionária pública e serviço de Recursos Humanos, tratando-se de mulheres cisgênero. Quanto às identidades de gênero, 13 são as mulheres cisgênero; 06 os homens cisgênero; 12 os homens transexuais; 08 mulheres transexuais; 05 trans não binários; 0 travestis; 01 pessoa Queer e apenas 03 pessoas não responderam. Tratando-se das orientações sexuais, 11 pessoas são heterossexuais; 12 pessoas homossexuais; 11 bissexuais; 7 pam-sexuais; 0 assexuadas. Ainda referente à orientação sexual, 05 pessoas reivindicaram a categoria “outros” e 02 pessoas não responderam. Quanto à categoria “outros”, as afirmações que apareceram foram a de relaciona-se com pessoas (sem centralizar identidade de gênero) e a escolha por não rotular-se. Quanto aos redesenhos de caminhos possibilitados, destacamos aqui a identificação de pessoas do segmento LGBTT+ nos territórios da residência (população antes invisibilizada) e a decisão de, nas próximas reuniões intencionalmente formativas, pensar mudanças, grupos e/ou intervenções nas próprias UBS para acolher esse público. Assim como a necessidade de pensar estratégias para chegar ao público que ainda não conseguimos chegar, como nas travestis. Assim como percebemos que nosso alcance tem sido em maior parte pessoas estudantes e, por isso, a necessidade de chegarmos em outros espaços: como mais fundo às comunidades e às ruas, donde há diversas formas de convivência e trabalho na cidade de Mossoró/RN. Por fim, destacamos a importância da concepção de prática-teoria-prática durante o processo de trabalho em saúde, para constante avaliação e planejamento dos serviços, assim como de redesenho de caminhos. |