417: Demandas e dificuldades ao acesso de serviços de saúde
Debatedor: Luiz André Prange da Silva
Data: 29/10/2020    Local: Sala 09 - Rodas de Conversa    Horário: 10:30 - 12:30
ID Título do Trabalho/Autores
9625 A ASSISTÊNCIA PRESTADA PELO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE AOS POVOS INDÍGENAS NO BRASIL: REVISÃO INTEGRATIVA
vanessa de Oliveira Gomes, Deyvylan Araujo Reis, Esmael Marinho da Silva, Ana Maria Souza da Costa

A ASSISTÊNCIA PRESTADA PELO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE AOS POVOS INDÍGENAS NO BRASIL: REVISÃO INTEGRATIVA

Autores: vanessa de Oliveira Gomes, Deyvylan Araujo Reis, Esmael Marinho da Silva, Ana Maria Souza da Costa

Apresentação: Na saúde indígena, a atenção diferenciada é estabelecida por um subsistema que se integra ao Sistema único de saúde, seguindo os seus princípios e diretrizes de forma especificada que respeita as crenças e a cultura de cada etnia. Com a ampliação desse sistema, as ações de acessos aos serviços de saúdes disponibilizados pela rede pública, passaram a ter pro designo uma assistência equânime e integral, que se baseia na Política de Atenção à Saúde dos Povos Indígenas (PNASPI), na qual, o cuidado é disponibilizado pelos Distritos Sanitários Especiais Indígenas (DSEI) e outras instâncias responsáveis pela assistência à saúde em di­ferentes níveis, como os polos base, as unidades ou postos de saúde e as casas de saúde indígena dos índios. Nesta perspectiva, esses ambientes prestam um suporte através de consultas, vacinações, exames de rotina, procedimentos básicos, e diversos programas que são disponibilizados pelo SUS. No entanto, ainda é notório as dificuldades encontradas por esses estabelecimentos, no que se diz respeito a falta de recursos humanos, a rotatividade dos profissionais, a precariedades da falta de matérias, além, das barreiras geográficas, epidemiológicas e culturais. Neste ponto de vista, realizou-se uma revisão integrativa da literatura com o        objetivo de conhecer a assistência prestada pelo serviço de saúde aos povos indígenas no Brasil. Desenvolvimento: Trata-se de uma revisão integrativa da literatura, técnica científica que tem por designo compreender um determinado fenômeno a partir de estudos que já foram publicados. O presente estudo adotou as seguintes etapas: Elaboração da pergunta norteadora, busca da amostragem na integra, coleta de dados, análise crítica dos estudos selecionados, discussão dos resultados e apresentação da revisão integrativa. A coleta de dados foi realizada durante o mês de janeiro de 2020, nas bases de dados da Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (Lilacs), Bases de dados em Enfermagem (BDENF) e a Biblioteca eletrônica Scientific Electronic Library Online (SciELO ), na qual utilizou-se os descritores, “ População indígena”, “Acesso aos cuidados de saúde”, “Sistema único de saúde “, “Povos indígenas”, “Disponibilidade de serviços de saúde” través  operador booleano “And” utilizou-se diferentes combinações. Como critério de inclusão foram: pesquisas que seguissem a temática do estudo, disponíveis durante os anos de 2010 a 2020, gratuitamente online, artigos primários, que pertencessem ao idioma inglês e português. O critério de exclusão foram todos os estudos que não abordavam a temática do estudo em questão, teses, dissertações, editoriais, cartas respostas e todos os repetidos. Na análise dos dados os artigos selecionados passaram por uma pré-análise, na qual extraiu-se algumas informações, desse modo, os resultados encontrados foram organizados por meio do programa Microsoft Excel (versão 2016), com a finalidade facilitar ao leitor melhor compreensão do estudo, os artigos foram analisados de forma descritiva. Foram pré-selecionados 16 artigos, por meio da leitura analisou-se a partir dos critérios de inclusão e exclusão todos os estudos elegidos, das quais identificou-se 3 artigos repetidos, 2 dissertações, 3 Livros, 2 por não atender a questão norteadora e somete uma tese. Nesta perspectiva, observou-se que somente 5 artigos abordavam a temática da proposta da revisão. O estudo não foi submetido à apreciação em Comitê de Ética em Pesquisa, por se tratar de uma Revisão, porém foram assegurados e respeitados os preceitos éticos na apresentação dos dados. Resultado: Dos artigos elegidos para essa revisão, os anos de 2016 apresentaram duas publicações, no entanto, os anos de 2020, 2019 e 2017 mostrou-se uma publicação por ano. Sobre o delineamento dos artigos estudados, quatro foram obtiveram uma abordagem qualitativa e somente uma quantitativa. A base de dado Lilacs e biblioteca eletrônica Scielo, apresentaram respectivamente dois estudos e a Bdenf apenas um, desse modo, a maior parte das publicações cientificas foram divulgadas em revistas diferentes, tais como, Epidemiologia e Serviços de Saúde, Caderno Saúde Pública, Revista de Enfermagem UFPE online, Interface, Saúde e Sociedade. Destacamos nesta revisão, que dos participantes das pesquisas dos estudos escolhidos, três eram formados por indígenas e dois por profissionais da saúde, sendo assim, três artigos tiveram como locais de suas investigações a Casa de Apoio Indígena (CASAI). Dessa forma, foi possível através da leitura dos artigos selecionados organizar os principais resultados que foram analisados a partir de subcategoria, na qual, a primeira aborda o perfil dos indígenas acessa os serviços de saúde: Identificou-se, que o sexo feminino prevalece entre os usuários que buscam alguma assistência e faixa etária vária entre 20 a 50 anos, uma pesquisa demonstrou que as condições socioeconômicas estão relacionadas ao processo de enfermidade dessa população in loco. A segunda retrata sobre os motivos dos indígenas buscarem a CASAI: O principal ensejo associado à procura de cuidados especializados em média e alta complexidade, disponibilizados pelo sistema único de saúde com o designo do acesso aos procedimentos hospitalares; exames especializados, consultas e tratamento como destacado por um autor. A Terceira tratava-se a respeito das dificuldades encontradas foram a distância geográfica, a diferença cultural em relação ao ambiente físico, a alimentação, na qual, eram práticas culturais diferentes de estilo vida desses povos, outro fator foi a falta de insumos como medicamentos e espera por ser atendidos como a falda de realizando exames o que poderia ser uma falha durante o gerenciamento desses recursos. A quarta e última subcategoria foi a atuação dos profissionais de saúde: Um artigo abordou que eles são refecia para o acesso aos serviços, desse modo, é importante a preparo desses profissionais com o objetivo se ter uma bom conviveu, como descrito nos artigos. Considerações finais: Os resultados desse estudo evidenciam uma fragilidade do sistema de saúde em atender essas populações, o que está associado as adversidades desses povos, de suas distintas culturas requer um planejamento especifico e diferenciado para que se tenha um atendimento de qualidade. Essa revisão integrativa permitiu conhecermos um pouco sobre os serviços que são disponibilizados pelo SUS, com a finalidade de sabermos sobre as dificuldades e experiências desses usuários durante o acesso as ocupações de média e alta complexidade, além do papel dos profissionais durante o percurso de toda a assistência desde a aldeia até os centros de referências. Portanto, contribuído para os avanços de novas pesquisas na área da saúde indígena, na tentativa se desenvolver metodologias que amenizem os relatos negativos evidenciados neste estudo.

9654 COMPETÊNCIA CULTURAL ATRAVÉS DA LITERATURA DE CORDEL
Rubens Bedrikow, Maria Leny Freire

COMPETÊNCIA CULTURAL ATRAVÉS DA LITERATURA DE CORDEL

Autores: Rubens Bedrikow, Maria Leny Freire

Apresentação: Este trabalho consiste no relato de experiência de troca cultural entre médico, agente comunitária de saúde da Estratégia de Saúde da Família e moradores que participaram durante vários anos de grupo de caminhada que incorporou rotina de leitura. Desenvolvimento: Semanalmente, médico, agente de saúde e moradores caminharam pelo território. “Assim parte o grupo pelas ruas afora…José junta o passo com João, que já tinha juntado o passo com Antonio…E assim vai seguindo o passo a passo percorrendo as ruas, hora pela terra, hora pelo asfalto…Como a vida, o trajeto vai mudando e o passo também…E o corpo vai se movimentando. E olhando bem não dá para saber qual parte se movimenta mais, A língua ou os pés? E Vera juntou o passo com Maria e lá se vai conversa…E o corpo vai em movimento com todas as suas peças…Se a língua não fala, a mente, ao contrário, não para de tagarelar em mil pensamentos que também vão juntando o passo e assim vão seguindo muitos pés, muitas línguas e muitas mentes. E tem o médico que junta o passo e vai conhecendo histórias que só podem ser ditas no passo junta passo…E o corpo vai vencendo a cada andar o seu limite, afinal, os pés não estão sós, e um passo junto com outro passo vai criando poder. Poder para superar, lutar, sentir-se igual e fazer parte. Ah, mas o doutor, antes atrás da mesa, agora faz parte porque seus pés estão juntos com muitos pés…No passo junta passo.” Resultado: Tendo em vista que a maioria dos participantes, assim como a agente de saúde, tinham origem no sertão nordestino, a literatura escolhida foi quase sempre de cordel. Além das leituras, o grupo, algumas vezes, realizou caminhadas com o objetivo de descobrir sinais do sertão no território, como por exemplo a presença de plantas como o mandacaru, plantadas pelos moradores. A presença constante da literatura de cordel desencadeou relatos, narrativas, produção de textos - crônicas e poesias - e viagens de retorno às origens. "Embora fitasse seus sábios e serenos olhos nos demais membros do grupo, o que enxergava eram aroeiras, mandacarus, jumentos, bois e casas de farinha. Os versos rimados e até engraçados do folheto cordelista a conduziram do salão comunitário para a roça nordestina da sua infância e juventude”. Considerações finais: A troca se deu em contexto singular do país, caracterizado por discurso pejorativo, depreciativo em relação aos nordestinos, principalmente no Sudeste, e de acirramento da divisão política entre esquerda e direita e entre nordestinos e não nordestinos. O resgate da cultura nordestina através de sua literatura em grupo de caminhada contribuiu para o movimento de aproximação e empatia em relação ao Nordeste.

9709 PERCEPÇÕES E EXPERIÊNCIAS DE MULHERES ATUANTES NO CAMPO DA SAÚDE SOBRE VIOLÊNCIA DE GÊNERO
Fernanda Felício de Lima, Sabrina Helena Ferigato

PERCEPÇÕES E EXPERIÊNCIAS DE MULHERES ATUANTES NO CAMPO DA SAÚDE SOBRE VIOLÊNCIA DE GÊNERO

Autores: Fernanda Felício de Lima, Sabrina Helena Ferigato

Apresentação: Em todas as sociedades modernas, em menor ou maior grau, a influência do sistema patriarcal permeia as organizações sociais e relações de gênero que, por consequência, se estabelecem de maneira desigual e contribuem para o estabelecimento de múltiplas formas de dominação, controle e violências dos homens em relação às mulheres. A interface entre saúde e violência de gênero evidencia-se a partir da função do sistema de saúde e de seus profissionais na assistência às vítimas de violência, bem como nas estratégias setoriais de enfrentamento da cultura de violência como um determinante do processo saúde-doença-intervenção. O campo da Saúde composto por um grande contingente de mulheres cuidadoras profissionais, não está imune de ser um espaço de reprodução destas violências estruturais da sociedade patriarcal, tampouco, coloca essas mulheres em um lugar blindado das violências que elas próprias buscam enfrentar a partir dos recursos técnico-afetivos disponíveis em seus contextos profissionais. Assim, o presente estudo, se propôs a mapear e analisar as percepções de mulheres que atuam no campo da Saúde brasileira, especificamente, na Saúde Coletiva, sobre violências de gênero vividas e expressas em seus cotidianos, por meio do recorte de um estudo amplo quanti-qualitativo, do tipo pesquisa intervenção, a partir do método da cartografia. Para tanto, se debruçou sobre os resultados produzidos neste estudo ampliado e intitulado "Mulheres da Saúde Coletiva: um retrato de quem constrói o campo", fruto do movimento de pesquisa-intervenção-luta de mulheres atuantes no campo da Saúde Coletiva (trabalhadoras, gestoras, ativistas e pesquisadoras) que formam o denominado Coletivo Adelaides: Feminismos e Saúde. Se fundamentam como referenciais teóricos desta pesquisa-recorte as epistemologias feministas negras para compreensão das complexidades, contradições e desigualdades que atravessam as questões socioculturais, políticas e históricas de gênero, além de sua relação intrínseca com o cuidado. Os resultados apontam para a persistência e gravidade das violências expressas no cotidiano de mulheres atuantes no campo da Saúde Coletiva e nas contribuições possíveis do aprofundamento e análise deste cenário a partir da articulação dos conceitos de  interseccionalidade,  lugar de fala e política do empoderamento, para os estudos de gênero e possibilidades de enfrentamento destas violências.

9722 “PATRIARCADO, APROPRIAÇÃO E DISCIPLINARIZAÇÃO DO CORPO FEMININO PRIVADO DE LIBERDADE: O CASO BÁRBARA.”
Fernanda Galvão Gonçalves Moreira Khouri, Tiago Braga Espirito Santo, Clarissa Terenzi Seixas, Elisa Gabriela Neri Rosa, Emerson Elias Merhy

“PATRIARCADO, APROPRIAÇÃO E DISCIPLINARIZAÇÃO DO CORPO FEMININO PRIVADO DE LIBERDADE: O CASO BÁRBARA.”

Autores: Fernanda Galvão Gonçalves Moreira Khouri, Tiago Braga Espirito Santo, Clarissa Terenzi Seixas, Elisa Gabriela Neri Rosa, Emerson Elias Merhy

Apresentação: Este texto constitui um desdobramento do estudo intitulado "A saúde mental de mulheres em situação de cárcere à luz da produção de verdade midiáticas: o episódio Bárbara". Para o presente texto, foram utilizadas como fontes 23 notícias que destacam-se por descrever um episódio ocorrido no ano de 2015, envolvendo uma mulher em situação de cárcere, em um presídio da cidade do Rio de Janeiro. Síntese do episódio: Bárbara Oliveira de Souza, 35 anos, presa em abril de 2015 por tráfico de drogas, usuária de um serviço de Saúde Mental, dá a luz sozinha em cela comumente conhecida como “solitária”. O episódio ocorreu no dia 11 de outubro de 2015 e teve como justificativa para o isolamento comportamento agressivo de Bárbara. Após ter realizado sozinha o parto na solitária, Bárbara foi encaminhada para uma instituição hospitalar e sua filha seguiu para um abrigo. A partir desta síntese do relato jornalístico, questiona-se: o suposto “comportamento agressivo” justifica o encaminhamento de uma gestante com o parto iminente à solitária? Estaria o episódio de agressividade reportado, relacionado ao estado avançado de gravidez e às dolorosas contrações presentes em um desenrolar de trabalho de parto, agravadas pelas conjuntura do cárcere? Foram consideradas as questões de saúde mental e do uso de substâncias psicoativas de Barbara nessa decisão? Como operam as instituições prisionais femininas e como tornaram-se mecanismos estatais para o controle dos corpos femininos, em um diálogo articulado entre a expectativa social punitiva e o campo jurídico-policial? Método: Considera-se “fonte” qualquer vestígio que remeta à ação humana e que proporcione acesso à compreensão da realidade acerca de uma determinada situação social, desde que o aceitemos como incompletos, parciais ou imprecisos, demandando assim investimento interpretativo e triangulação com literatura teórica de suporte que subsidie a análise. Para a busca das notícias, utilizou-se meios de comunicação de modalidade online, através do Google – Notícias, onde se captou registros sobre o referido episódio, tendo o dia do acontecimento, como marco inicial, e o dia 11 de novembro, como marco final, oferecendo 30 dias para a publicação dos desdobramentos. Todos documentos utilizados são de acervos públicos, não necessitando de submissão à apreciação do Comitê de Ética em Pesquisa. Desenvolvimento: Buscou-se analisar o conteúdo das notícias encontradas frente aos marcos legais da área de saúde mental, de saúde da mulher e da questão do cárcere feminino, à luz dos estudos de Silvia Federici. A referida autora, através de uma extensa retrospectiva histórica, analisa os aspectos sócio-econômicos que culminaram na perda contínua de autonomia das mulheres sobre seus corpos por imposições institucionais, consolidadas desde as sociedades medievais. Resultado: Coube-nos resgatar brevemente a trajetória das instituições prisionais e como a especificidade das mulheres foi, gradativamente, tomando lugar nos debates deste campo em cenário nacional; problematizar a construção legal do direito à saúde das mulheres em situação de cárcere e a natureza e efetivação das ações que lhes eram destinadas; e retraçar o caminho das políticas voltadas para o atendimento em Saúde Mental de pessoas em situação de cárcere, com foco nas mulheres com transtornos mentais, assim como a evolução das políticas voltadas para essas mulheres em situação de gestação e maternidade. Silvia Federici evidencia as denúncias do movimento feminista frente às estratégias violentas impostas por homens nos sistemas opressores como uma tentativa de disciplinar e apropriar-se dos corpos femininos. Para a autora, as diferenças sexuais construídas ao longo deste processo, apresentam relação direta com as funções sociais impostas às mulheres, de modo a condicioná-las a um funcionamento necessário para a cristalização do novo modelo econômico que se instituía. Suas pesquisas apontam a relação da execução de milhares de mulheres, evento que data o início da era moderna conhecido como "caça às bruxas", com o surgimento do capitalismo, uma vez que o novo modelo econômico se encarregou de minar direitos, entre eles os relacionados à  concepção, parto e nascimento para apagar sujeitos femininos como a herege, a curandeira, as parteiras, como forma de fundamentação ao novo modelo econômico.Tais questões relacionam-se diretamente com o episódio Bárbara, e tantos outros que não alcançaram destaque midiático, uma vez que o sistema prisional, por ser uma instituição do Estado, tem como dever proteger os direitos constitucionais dos cidadãos. Entretanto, por estar  dentro de uma lógica patriarcal, utiliza-se desse poder para decidir o destino dos corpos femininos, muitas vezes reforçando atitudes segregadoras, marginalizando mulheres e usurpando seu direito à maternidade. É importante pontuar que Independente de interesses editoriais e viés político, nenhum veículo deu lugar ao contraditório, escutando ou noticiando o episódio a partir do ponto de vista de Bárbara ou de seus familiares, o que, invariavelmente, silencia a principal personagem da história. Este fato aponta para  o poder que a sociedade impõe sobre corpos femininos em situação de vulnerabilidade, no caso de Bárbara, sua situação de cárcere, condição de sua saúde mental e posição socioeconômica. Diante de tal caso e suas repercussões levantamos o questionamento do tratamento que as mulheres em situação de cárcere recebe, em especial mulheres gestantes. Seus direitos são preservados e garantidos? O caso analisado evidencia que a instituição prisional possuía uma unidade de saúde materno-infantil para atendimento ao parto, o que lhe foi negado diante da imposição ao isolamento, colocando sua saúde e de seu bebê em risco diante de um parto desassistido. O que acontece com os bebês dessas mulheres após ao parto? É garantido por lei, segundo o artigo o artigo 5º da Constituição, o direito às mulheres em cárcere de amamentar seus filhos exclusivamente até os 6 meses, período este preconizado pelo Ministério da Saúde brasileiro e Organização Mundial de Saúde. Está previsto ainda pela Lei da Execução, artigo 83 § 2º e o artigo 9º do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) o sistema prisional deve propiciar condições favoráveis e berçários adequados para que mulheres privadas de liberdade possam amamentar seus bebês. O que ocorreu com Bárbara, entretanto, foi um afastamento imediato após o nascimento, sendo o bebê encaminhado para adoção sem que a família fosse sequer notificada. A família teve acesso a informação sobre o nascimento do bebê a tempo de interceder e garantir a guarda da criança. Cabe ressaltar que este não é um caso isolado, uma vez que existem portarias municipais, agindo supostamente em defesa do interesse do menor, que têm sido fortemente questionadas por adotarem práticas escusas e contrárias às prerrogativas legais que atestam que o poder familiar só pode ser destituído quando esgotados todos os meios de manter a criança no âmbito familiar natural. Considerações finais: O episódio Barbara, diante da análise apresentada, aponta para a fragilidade da autonomia das mulheres, em especial usuárias de serviços de saúde mental e/ou privadas de liberdade sobre seus corpos e a garantia de seus direitos constitucionais em instituições do Estado. A repercussão midiática também coloca luz sobre a fragilidade do sistema prisional e a necessidade de novas realidades que garantam os direitos constitucionais aos cidadãos, em especial neste recorte, as mulheres em situação de cárcere.

9862 FLUXO DO TÉCNICO DE ENFERMAGEM NA UNIDADE DE APOIO E AÇÕES REALIZADAS DENTRO DA COMUNIDADE DO RIO TEFÉ E RIO CURIMATÁ, DA CIDADE DE TEFÉ (AM)
Andreza D'avila Ferreira Marinho, Eduardo Fernandes Felix de Lima, Anna Carolina de Souza Nóbrega, Thaysa Pereira Marinho

FLUXO DO TÉCNICO DE ENFERMAGEM NA UNIDADE DE APOIO E AÇÕES REALIZADAS DENTRO DA COMUNIDADE DO RIO TEFÉ E RIO CURIMATÁ, DA CIDADE DE TEFÉ (AM)

Autores: Andreza D'avila Ferreira Marinho, Eduardo Fernandes Felix de Lima, Anna Carolina de Souza Nóbrega, Thaysa Pereira Marinho

Apresentação: Trata-se de um estudo descritivo, qualitativo, no modelo de relato de experiência, realizado pela enfermeira de uma equipe de saúde da família fluvial e três residentes em estágio eletivo, que acompanharam a rotina de trabalho de uma Unidade Básica de Saúde Fluvial (UBSF). Tal experiência se deu no período de 30 de junho a 13 de julho de 2019. No entanto, a vivência da enfermeira com o tema deste trabalho é anterior a tal período. Nesse sentido, o objetivo principal deste trabalho é relatar o desenvolvimento da estratégia e o fluxo de trabalho realizados por técnicos de enfermagem na assistência à saúde nas chamadas unidades de apoio, nas comunidades ribeirinhas do rio Tefé e rio Curumitá, do município de Tefé. Desenvolvimento: O município de Tefé possui cerca de 59.849 habitantes, com uma área territorial de 23.692 km². Cerca de 20% da população do município está distribuída em 131 comunidades ribeirinhas. Devido a dificuldade de acesso da população ribeirinha ao serviços públicos na cidade, a Unidade Básica de Saúde Fluvial, é uma forma de assistência à saúde desta população, tendo como finalidade  atender às comunidades mais distantes do território fixo do município. O cronograma de viagens da UBSF é diretamente influenciado pelo regime dos rios. No período de vazante, a balsa da unidade fluvial tem seu acesso dificultado para algumas comunidades. Como forma de garantia de acesso aos serviços de saúde para a população ribeirinha, a Secretaria Municipal de Saúde do município de Tefé construiu quatro unidades de apoio conforme prevê a Portaria nº 2.436 de 21 de setembro de 2017. Ao realizarem serviços que abrangem a promoção e a proteção da saúde, a prevenção de agravos, a reabilitação, redução de danos e a manutenção da saúde, o unidade de apoio é um local de referência para outras comunidades ribeirinhas da mesma área. Observou-se que o território possui quatro unidades de apoio nos quais profissionais técnicos de enfermagem desenvolvem os serviços citados anteriormente durante o período de quinze dias e se organizam em um esquema de escala para o revezamento de profissionais. A equipe de estratégia de saúde da família ribeirinha possui 12 técnicos de enfermagem. A rotina de serviço se inicia ainda no território fixo da cidade com a organização de insumos, medicamentos e gasolina, necessários para o período de tempo que o profissional ficará na unidade. Os insumos  são padronizados, entre eles estão luvas, descarte, máscara, material de curativo, seringas. As medições são básicas, como antitérmico e antiinflamatório. A alimentação é disponibilizada pela coordenação de atenção básica do município a cada entrada dos técnicos na unidade de apoio. O transporte é feito por uma lancha com o motor de 40 HP e o quantitativo e gasolina é o necessário para que o profissional visite outras comunidades referenciadas pela unidade de apoio. As atividades do técnico de enfermagem no território envolvem: monitoramento das atribuições dos agentes comunitário de saúde;  territorialização e mapeamento da área, identificando grupos de riscos, famílias expostas a riscos; cadastrar  e manter atualizado os cadastramentos das famílias;  busca ativa de agravos no território; visita domiciliar  compartilhada com os agentes comunitários de saúde; realizar procedimentos; administração de medicamentos; trabalhar educação em saúde  e prevenção de agravos com a comunidade; realizar o programa de saúde na escola. Além disso, foi designado aos técnicos das unidades de apoio as  remoções de urgência e emergência durante sua estadia na comunidade. Se acontecer um acidente na comunidade de referência da unidade de apoio, a liderança leva o paciente até a unidade para avaliação do técnico e as decisões quanto a remoção são tomadas. Resultado: As 4 comunidades contempladas com unidades de apoio com técnico de enfermagem estão localizadas nas comunidades Bela Vista do Sapiá, São Tomé do Lago do Pente, Ponta da Sova e São Francisco do Itaúba. Em todos esses casos, as escolas municipais rurais das comunidades servem como espaço físico para  a unidade de apoio. A unidade de apoio da comunidade Bela Vista do Sapiá é referência para 7 comunidades, abrangendo 88 famílias e 409 usuários. Já a unidade de apoio da comunidade de São Tomé do Lago do Pente serve de referência para 8 comunidades, somando também 88 famílias, e 441 usuários. Com relação à unidade de apoio da comunidade Ponta da Sova, 6 comunidades a têm como referência, totalizando 92 famílias e 483 usuários. Por fim, a unidade de apoio da comunidade São Francisco de Itaúba se responsabiliza por 5 comunidades, na soma de 67 famílias e 358 usuários. As unidades de apoio têm sua importância no estabelecimento e presença de uma estrutura e profissional de saúde que garantam a continuidade das ações em saúde na ausência da UBSF de referência para aquela área e suas respectivas comunidades ribeirinhas. Ademais, a unidade de apoio e o técnico de enfermagem nele instalado são dispositivos de suma importância quando se pensa na garantia da integralidade do cuidado, pois é através desses dispositivos que há a facilitação de possíveis remoções de usuários a pontos de atenção de referência, em casos mais graves que necessitam de atendimento em outras estruturas de saúde, como em urgências e emergências. Em outras palavras, a unidade de apoio é uma ferramenta fundamental para que a atenção primária à saúde cumpra seu papel de ordenadora do cuidado e primeiro contato na rede de atenção à saúde. Por outro lado, uma das dificuldades enfrentadas pelos técnicos de enfermagem nas unidades de apoio é a ausência de energia elétrica 24 horas por dia. Além disso, nem todas as comunidades possuem telefone rural, o que dificulta a comunicação, muitas vezes. Considerações finais: Quando se pensa no acesso à saúde de comunidades ribeirinhas, é necessário a concepção de estratégias que vençam as limitações impostas por barreiras ao acesso de modo a desenvolver meios de garantir o acesso dos usuários à rede de saúde. A construção de unidades de apoio como ferramenta de garantia de acesso aos serviços de saúde para estas comunidades faz-se necessário em um território no qual as dinâmicas da população com o acesso à serviços públicos recebem importante influência do regime de cheias e vazantes dos rios. Considerar a complexidade e particularidade dos modos de vida da população ribeirinha é essencial para o planejamento de ações no cumprimento dos atributos da atenção primária. Por fim, destaca-se ainda a importância de se visibilizar estratégias como a da unidade de apoio, no sentido pensar a atenção primária à saúde em territórios líquidos.

9880 ACOLHIMENTO AO ADOLESCENTE, À CRIANÇA E À MULHER VÍTIMA DE VIOLÊNCIA NO MUNICÍPIO DE DUQUE DE CAXIAS (RJ)
Cristiane Alves Montenegro Rodrigues

ACOLHIMENTO AO ADOLESCENTE, À CRIANÇA E À MULHER VÍTIMA DE VIOLÊNCIA NO MUNICÍPIO DE DUQUE DE CAXIAS (RJ)

Autores: Cristiane Alves Montenegro Rodrigues

Apresentação: Trata-se de um relato de experiências, cujo objetivo é apresentar os relatos de experiências e vivências no contexto do Hospital Estadual Adão Pereira Nunes e, pô-las em análise para fomentar a discussão sobre a criatividade e a iniciativa  na formação e no trabalho em saúde, como formas de repensar e responder as demandas que surgem no contexto do Sistema Único de Saúde (SUS). Tendo em vista que a cada dois minutos, uma mulher é vítima de violência doméstica no Brasil. Desenvolvimento: A cada ano, cerca de 1,3 milhão de mulheres são agredidas no Brasil, segundo dados do suplemento de vitimização da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) referente a 2009 e, apara atender essa população o Hospital Adão Pereira Nunes, no município de Duque de Caxias, e o Hospital Estadual Aberto Torres, no município de São Gonçalo. O hospital Municipal Souza Aguiar já conta com um CAAC – CENTRO DE ACOLHIMENTO AO ADOLESCENTE, À CRIANÇA E À MULHER VÍTIMA DE VIOLÊNCIA, entretanto, não prevê o recebimento de mulheres vítimas de violência doméstica e familiar. O CACC Lilás+ nasceu a partir do aumento do número de casos de violência contra a mulher e da necessidade crescente de prestação atendimento integral às vítimas. Por conta da proposta da Secretaria Estadual de Saúde de ampliação do escopo de atendimento do CAAC para atendimento às mulheres vítimas de violência doméstica, a mulher vítima de violência física e/ou sexual poderá ser encaminhada para a realização de exame pericial na sala de perícia do CAAC LILÁS+, além de realizar o registro de ocorrência dentro da estrutura do Centro de Acolhimento. Mesmo com embasamento legais como: Lei Maria da Penha em 2006, da mudança na lei de estupro em 2009, da lei do feminicídio em 2015, e da mais recentemente lei de importunação sexual de 2018. O Brasil é 96º na lista de países em termos de desigualdade de gênero. Para que o atendimento de enfermagem e/ou médica ocorra com eficácia é, necessário que profissional domine conhecimentos  legais acerca da abordagem e assistência a ser prestada, além de priorizar o cuidado humanizado integrando todos os níveis de atenção. Resultado: Destas experiências decorreram aprendizagens e construções de conhecimentos. O acompanhamento de profissionais especializados, a rede de atendimento ao SUS deve garantir a idoneidade e o rastreamento dos vestígios coletados. Considerações finais: A ação descrita foi uma abordagem de grande relevância para o público em questão, contou com a participação não apenas de trabalhadores, como também de mulheres, sendo estas disseminadoras das informações acerca do CAAC LILÁS+. O presente trabalho proporcionou a inserção das profissionais em formação no serviço de saúde, sendo fundamental para a interatividade e criação de vínculo com os usuários, gerando confiança e socialização no agir com a comunidade.

9951 MULHERES, DROGAS E PRISÕES: INTERSECÇÕES PRESENTES NA PRIVAÇÃO DE LIBERDADE DE MULHERES NO SISTEMA PRISIONAL FEMININO DA REGIÃO METROPOLITANA DE PORTO ALEGRE PELA LEI 11.343/2006
Aline Mattos Fuzinatto, Míriam Thaís Guterres Dias

MULHERES, DROGAS E PRISÕES: INTERSECÇÕES PRESENTES NA PRIVAÇÃO DE LIBERDADE DE MULHERES NO SISTEMA PRISIONAL FEMININO DA REGIÃO METROPOLITANA DE PORTO ALEGRE PELA LEI 11.343/2006

Autores: Aline Mattos Fuzinatto, Míriam Thaís Guterres Dias

Apresentação: No Brasil o número de mulheres privadas de liberdade no sistema prisional multiplicou seis vezes de 2000 a 2016, levando o país para a terceira posição no ranking mundial do encarceramento feminino, de acordo com o Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias - INFOPEN Mulheres. O mesmo levantamento revelou que o número de mulheres presas no Brasil aumentou 656% atingindo o total de 42 mil. Quanto às causas da prisão, apontou que 62% das incidências penais pelas quais a mulheres foram condenadas ou aguardam julgamento são por delitos relacionados a lei de drogas brasileira. No Rio Grande do Sul, essa questão se apresenta de modo ainda mais agravado. Esse levantamento revelou que 77% das mulheres estão privadas de liberdade no sistema prisional do estado são por delitos relacionados a lei de drogas, média superior a nacional. Nesse contexto se insere a pesquisa Mulheres, Drogas e Prisões: Intersecções presentes na privação de liberdade de mulheres no sistema prisional feminino da região metropolitana de Porto Alegre pela Lei 11.343/2006. Pesquisa de dissertação de mestrado em Política Social e Serviço Social da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, que tem como objetivo investigar as intersecções presentes na privação de liberdade de mulheres no sistema prisional feminino da região metropolitana de Porto Alegre pela Lei 11.343/2006, a fim de contribuir com o debate acerca da política sobre drogas e o encarceramento em massa no Brasil. Trata-se de um estudo quanti qualitativo que deriva da pesquisa “Mulheres privadas de liberdade: Contexto de violências e necessidades decorrentes do uso de drogas”, desenvolvida pelo Grupo de Pesquisa Saúde, Gênero e Vulnerabilidade, que tem o objetivo de analisar as condições de saúde mental, violência e uso problemático de álcool e outras drogas por mulheres privadas de liberdade em cumprimento de pena no Sistema Prisional Feminino da Região Metropolitana de Porto Alegre, financiada pelo Edital FAPERGS/MS/CNPq/SESRS n. 03/2017 – do Programa de Pesquisa para o Sistema Único de Saúde – PPSUS. Fará uso do banco de dados dessa pesquisa, a qual a orientadora é coordenadora, que se constituí enquanto estudo quantitativo de abrangência regional. A coleta de dados ocorreu no segundo semestre de 2019 e foram participantes do estudo supracitado 75 mulheres privadas de liberdade no sistema prisional, destas 49 mulheres privadas de liberdade no Presídio Feminino Madre Pelletier (PFMP) e 26 mulheres na Penitenciária Estadual de Guaíba (PEG), com um universo de 502 custodiadas em regime fechado. Para a entrevista foi utilizada a técnica de entrevista com aplicação de formulário por meio do uso de software RedCap com o uso de tablets em modo offline. As mulheres foram entrevistadas com o uso dos seguintes instrumentos: Questionário Socioeconômico e Demográfico, Questionário de Acesso às Políticas Sociais na Prisão, Escala de Transtorno Geral de Ansiedade, Escala Sobre a Saúde do Paciente, Escala de Transtorno de Estresse Pós-Traumático, Questionário Sobre Drogas de Abuso e Questionário Sobre Violências. Será realizada a análise estatística dos dados com uso do Software Statistical Package for the Social Sciences (SPSS), buscando associação entre diferentes variáveis. Para esse estudo serão analisados os 1. Questionários Socioeconômico e Demográfico, que traz as variáveis idade, escolaridade, raça/etnia, município de nascimento, residência antes da prisão, renda familiar e acesso a programas sociais – relativas à prisão – característica da pena – número de vezes na prisão, idade com que foi presa pela primeira vez, motivo e tempo de prisão; 2. Questionário Sobre Drogas de Abuso, que traz questões relativas a frequência de consumo de substâncias psicoativas antes e durante a privação de liberdade no Sistema Prisional e o acesso a tratamento em saúde para as necessidades decorrentes do uso de álcool e outras drogas; 3. Questionário Sobre Violências, que questiona experiências de diferentes tipos de violências vivenciadas por essas mulheres bem como quem proferiu esses atos. A análise dos dados está em fase inicial. Foi possível identificar que entre as mulheres em cumprimento de pena entrevistadas, quanto ao grau de instrução, 62,4% estudou até o ensino fundamental, 20,8% alcançou o ensino médio e 9,1% o ensino superior. Quanto a cor dessas mulheres, 59,7% são brancas, enquanto 37,7% são negras. No que se refere a renda mensal antes de ser presa, 29,9% declarou quer recebia até um salário mínimo (SM) e 26% entre um e dois SM, 14,3% entre dois e cinco SM e 3,9% de cinco a dez SM. Quanto ao tipo penal 44% cumprem pena por delitos relacionados ao tráfico de drogas. Quanto a prevalência do uso de álcool e outras drogas antes e durante o encarceramento 63,5% declarou ser tabagista antes de ser presa; Quanto ao uso de álcool 64,8% declarou que consumia bebida alcoólica; 28,4% disseram consumir maconha antes de ser presa; 31,1% fiziam uso e cocaína; E 29,7% das entrevistas fizeram uso de crack antes de ser presa; Quanto ao uso de inalantes 20,3% fizeram uso antes de ser presa; Quanto o uso de substâncias sintéticas como LSD e MDMA, 96% declararam nunca ter usado; E, no que se refere ao uso de medicamentos psiquiátricos, 37,8% declarou fazer uso de medicamentos psiquiátricos antes de ser presa enquanto 71,6% disseram fazer uso após a prisão. Sobre as violências vivenciadas por essa população 58,9% declarou já ter sofrido violência patrimonial, dessas 33,% realizadas por desconhecidos, 26,7% por companheiro, 24,4% por familiares e 22,2% por conhecido. 62,2% já sofreu violência moral, dessas 50% cometido por companheiros, 28,3% por familiares, 28,3% conhecidos e 10,9% por conhecidos. 59,5% disseram já ter sofrido violência física, das quais 71,1% proferida por companheiro, 20% por familiares e 20% por desconhecido, 13,3% por conhecido e 8,9% por autoridade do estado. Quanto a violência sexual, 37,8% disse já ter sofrido, sendo dessas 39,3% o autor foi um familiar e 35,7% o companheiro, 29,3% um desconhecido e 17,9% um conhecido. Ainda, 37,8% declarou ter sofrido algum tipo de violência no ato da prisão, sendo dessas 89,3% das violências proferidas por autoridade policial. Dados que apontam a interação entre as condições de vulnerabilidade social, necessidades decorrentes do uso de álcool e outras drogas e múltiplas experiências de violência perpetradas contras as mulheres têm atravessado essa população. Para a análise dos dados da dissertação, me deterei aos aspectos referentes às mulheres condenadas por tráfico de drogas, o que permitirá uma leitura profunda sobre o impacto que a lei 11.343/2006 tem produzido no sistema prisional feminino da região metropolitana de Porto Alegre. Concomitante com a análise do banco de dados será realizada pesquisa documental e bibliográfica. Espera-se como resultado dessa pesquisa a compreensão das condições sociais e de saúde de mulheres privadas de liberdade no PFMP e PEFG, bem como suas características sociodemográficas e a prevalência do uso e abuso de drogas e experiências de violência entre essa população. Também, a identificação das intersecções presentes na privação de liberdade de mulheres no sistema prisional da região metropolitana de Porto Alegre por delitos relacionados a Lei 11.343/2006, podendo contribuir dessa forma com subsídios para o planejamento de políticas sociais a exemplo as penas e medidas alternativas a privação de liberdade, considerando a problemática social que envolve essa questão.

10053 “UMA COISA DE CADA VEZ”: A VOZ DA USUÁRIA COMO NORTEADORA DO CUIDADO
Gabriela Maciel dos Reis, Mariana Aparecida de Oliveira Fonseca, Priscilla Victória Rodrigues Fraga

“UMA COISA DE CADA VEZ”: A VOZ DA USUÁRIA COMO NORTEADORA DO CUIDADO

Autores: Gabriela Maciel dos Reis, Mariana Aparecida de Oliveira Fonseca, Priscilla Victória Rodrigues Fraga

Apresentação: O Consultório de Rua (CdeR) do Sistema Único de Saúde (SUS) de Belo Horizonte atua junto a população em situação de rua nas cenas públicas de uso de álcool e outras drogas, promovendo ações de saúde na perspectiva da Redução de Danos. Este texto é um relato de experiência de trabalhadoras do CdeR no acompanhamento da paciente Rosa (nome fictício). Objetivamos, a partir da narrativa sobre o  cuidado tecido pelo CdeR junto a outros serviços da rede de saúde e assistência social do município, evidenciar o itinerário terapêutico da paciente e apontar as estratégias de cuidado construídas junto a usuária. Desenvolvimento: Rosa é uma mulher negra, 33 anos, na época em situação de rua com seu companheiro Lírio (nome fictício), em idade gestacional avançada sem precisão de data. Quando o CdeR foi acionado, Rosa não era acompanhada por nenhum serviço uma vez que as tentativas de abordagem realizadas até então haviam sido infrutíferas. Realizamos diversas buscas ativas nos locais em que Rosa supostamente permanecia. Nessas tentativas, encontramos usuários que relataram que Rosa estava com medo; outros nos avisaram que ela e seu companheiro mudavam de lugar constantemente; alguns nos indicavam outros locais onde poderíamos encontrá-la — seguíamos as indicações, sem sucesso. Muitas mulheres em situação de rua que vivenciam a gestação têm receio de perder a guarda de seus filhos. Apesar do direito à convivência familiar ser assegurado pelo Estatuto da Criança e do Adolescente, muitas vezes isso é negado de maneira violenta, como em diversos casos de abrigamentos compulsórios de bebês que incidem sobre a camada mais vulnerável da população. Assim, acreditávamos que a busca dos serviços por Rosa representava para ela a possibilidade de ser punida por estar gestando na rua e em uso de substâncias psicoativas (SPA’s). Enquanto representantes do Estado, também poderíamos encarnar para ela esse “Outro” que exclui e pune determinados corpos. Muitos serviços da saúde e da assistência estavam envolvidos na discussão e temiam pelo desfecho do caso, uma vez que Rosa estava em situação de vulnerabilidade e não se sabia se o casal dispunha de alguma rede de apoio. Além disso, a iminência do parto tornava a aproximação com a usuária ainda mais urgente. Após um mês de tentativas, localizamos Rosa. A equipe do CdeR sabia que o primeiro contato seria delicado e que seria preciso ofertar o cuidado de maneira que ela não se sentisse invadida; direcionar o olhar para a mulher, e não apenas para o abdômen distendido: para que alguma transferência fosse possível, deveríamos nos posicionar de um outro lugar. Diante de seu olhar receoso e desconfiado, nos apresentamos e abrimos espaço para escuta. Depois de tantos dias às voltas com nossas hipóteses sobre sua esquiva, foi possível escutar a própria Rosa dizer: “estou com muito medo de que tirem minha filha de mim”. Percebemos que Rosa permitia uma brecha para nossa entrada. Explicamos que nossa função era cuidar dela e que estávamos à disposição para fazer isso na medida em que ela permitisse. Após alguns minutos de conversa, a enfermeira da equipe disse a ela que, se fosse seu desejo, poderíamos iniciar seu cuidado ali mesmo, na rua. Ela respondeu que precisava de um tempo para “jogar uma água no corpo” e pediu para retornarmos em seguida. A equipe saiu da cena e discutiu a possibilidade de realizar uma primeira consulta de pré-natal dentro da van. Entendendo que essa poderia ser uma forma de estabelecer um vínculo com a usuária, apostamos nessa intervenção.Quando retornamos, encontramos Rosa angustiada, chorosa. Disse que preferia não ser atendida naquele momento: “Por favor, vamos devagar. Não insistam! Uma coisa de cada vez”. Diante dessa sinalização, recuamos. Após um momento de acolhimento e escuta, Rosa propõe nos encontrar no dia seguinte. Parte da equipe do CdeR se deslocou para o território no local e horário combinados com Rosa. De imediato, ela recusou ir ao Centro de Saúde (CS), mas topou a realização da primeira consulta de pré-natal dentro de sua maloca. A enfermeira da equipe, então, organizou um espaço para Rosa se deitar, forrou o chão com um lençol, ajeitou um apoio para a cabeça e iniciou o pré-natal ali, debaixo da passarela, sob os ruídos da intensa movimentação de veículos na avenida. A enfermeira fez a anamnese, mensurou a altura uterina, aferiu os sinais vitais; auscultou os batimentos cardiofetais. Esses primeiros toques e cuidados ampliaram a brecha que Rosa havia permitido para a nossa entrada, o que foi importante para que ela aceitasse acessar os outros serviços da rede. No CS referenciado para aquele território, Rosa encontrou o acolhimento de que precisava. A equipe da unidade entendeu que agora havia uma permissão de Rosa para que o cuidado fosse ofertado, e foi o que aconteceu. O vínculo entre Rosa, CdeR e CS começou a ser construído a partir de então. Os serviços que acompanhavam Rosa entendiam que esse vínculo era importante para aumentar as possibilidades de um desfecho em que Rosa, Lírio e a filha permanecessem juntos, uma vez que esse era o desejo da mulher e de seu companheiro. Além disso, apesar da situação de vulnerabilidade social, apostamos na capacidade dos sujeitos de lançar mão de outros recursos para dar conta dessa nova realidade. Com o suporte da rede, o casal foi se organizando e construindo seus planos e estratégias. Ambos acionaram figuras de suporte familiar, que passaram a estar em contato mais próximo com o casal. Uma irmã de Rosa ofereceu um abrigo em sua casa, em outro município — um espaço só para eles — e essa oferta apareceu para o casal como a melhor alternativa, uma vez que eles desejavam se estabelecer em um local fixo. A filha do casal nasceu e, durante a internação, familiares de Rosa e Lírio estiveram próximos e disponíveis para auxiliar no que fosse preciso. Após a alta hospitalar, a maternidade realizou a transferência do cuidado para o equipamento da atenção básica de referência, solicitando acompanhamento do binômio mãe e filho, e para o Centro de Referência da Assistência Social do território. Resultado: Com o acompanhamento de Rosa, experienciamos a formação de uma rede viva em torno do caso, rede essa que tem potencial de se reinventar e construir articulações diversas para proporcionar um cuidado que faz sentido para cada usuário. No que se refere ao “seguimento” clínico, Rosa, Lírio e sua filha seguem juntos em uma casa, e são acompanhados pela rede de saúde e assistência social. Considerações finais: A complexidade do caso Rosa exigiu que vários atores da rede de saúde e de assistência social estivessem envolvidos, mas é no um a um que o vínculo se constrói, e sempre na medida em que o sujeito, até então invadido, nos dá a permissão para entrar, com a condição de não ultrapassá-lo, de ofertar uma coisa de cada vez — fazer silêncio e escutar. Acreditamos que a rede que se construiu em torno do caso de Rosa teve um papel significativo na organização do casal, que nos tomou enquanto um “Outro” que não se apresenta enquanto punidor, mas sim, como referência de cuidado e de afeto. A partir de então, Rosa e Lírio lançaram mão de sua própria rede de suporte e deram início a novas construções.

10120 SAÚDE MENTAL E POPULAÇÃO LGBTT: A ATUAÇÃO DA PSICOLOGIA FRENTE À LINHA DE CUIDADO DE SAÚDE À POPULAÇÃO LGBTT NA CIDADE DE MOSSORÓ RN
IALY VIRGÍNIA DE MELO BAÍA, BIANKA ANDRESSA DE OLIVEIRA MEDEIROS, CAMILA TUANE DE MEDEIROS, JOÃO MIRANDA DE ARAÚJO DA COSTA, VIRNA MYRELLI RODRIGUES ALBUQUERQUE, PEDRO AUGUSTO DE OLIVEIRA COSTA, JESSICA PASCOALINO PINHEIRO

SAÚDE MENTAL E POPULAÇÃO LGBTT: A ATUAÇÃO DA PSICOLOGIA FRENTE À LINHA DE CUIDADO DE SAÚDE À POPULAÇÃO LGBTT NA CIDADE DE MOSSORÓ RN

Autores: IALY VIRGÍNIA DE MELO BAÍA, BIANKA ANDRESSA DE OLIVEIRA MEDEIROS, CAMILA TUANE DE MEDEIROS, JOÃO MIRANDA DE ARAÚJO DA COSTA, VIRNA MYRELLI RODRIGUES ALBUQUERQUE, PEDRO AUGUSTO DE OLIVEIRA COSTA, JESSICA PASCOALINO PINHEIRO

Apresentação: O trabalho aqui disposto se trata de um relato de experiência produzido a partir da atuação de 4 residentes de Psicologia na primeira linha de cuidado multiprofissional à população LGBTT na cidade de Mossoró, Rio Grande do Norte. Inaugurada em outubro de 2019, esta linha de cuidado objetiva atender uma população que é marginalizada nos serviços de saúde, muitas vezes pela falta de preparação dos profissionais, que acarreta em um mau acolhimento e atendimento. Aqui, pretende-se como objetivo elucidar a relevância do cuidado em saúde mental às populações vulnerabilizadas, mais especificamente à população LGBTT, explicitando a garantia do acesso dessa população à atenção primária em saúde e aos profissionais de Psicologia, além de manifestar que os psicólogos (as) são peças fundamentais na linha de cuidado a população LGBTT. Vivemos hoje em um contexto cultural estrutural heteronormativo, inclusive na área da saúde, onde são produzidas lacunas e inequidades à população LGBTT. Dessarte, a linha de cuidado à saúde da população LGBTT veio como garantia do direito não somente aos princípios do SUS, como integralidade e universalidade, como também ao cuidado em saúde mental e promoção à saúde. O núcleo de Psicologia, enquanto atuante nesta linha de cuidado, busca promover a promoção da saúde e a autonomia do sujeito para que estes possam exercer sua cidadania, priorizando o acolhimento universal aos usuários e levando atendimentos a quem corriqueiramente é marginalizado nos outros serviços de saúde, salientando que esta linha de cuidado é um disparador social de que essa população é negligenciada. As modalidades de atendimento nesta linha de cuidado são os mesmos que deveriam ser ofertados na Atenção Básica, com escutas qualificadas, quando necessário, e grupos de apoio, considerados como uma potência de cuidado em saúde mental, visto que, o compartilhamento de demandas, muitas vezes semelhante, pode fortalecer o processo de ressignificação dos sujeitos.  Como a linha de cuidado se baseia na proposta de atendimentos sem fila de espera, os usuários (as) que chegam no local são prontamente acolhidos e atendidos (as). São notórios os impactos em ter profissionais da psicologia na linha de cuidado LGBTT, visto que além da desmistificação do preconceito em relação ao cuidado psicológico, observa-se também o processo de coletividade e compartilhamento de estratégias de cuidado dentro dos grupos de apoio. Outro impacto positivo, é que antes a população LGBTT e principalmente a população trans de Mossoró frequentavam apenas o serviço do CAPS, ou seja, estavam nos espaços de atenção secundária, não acessando a atenção primária em saúde. Tal questão passa a se modificar quando se trabalha dentro da linha de cuidado a promoção em saúde mental e prevenção de agravos. Por outro lado, nota-se um aspecto negativo em relação a grande busca por atendimentos individuais, o que vai de encontro a atuação da psicologia nos espaços de atenção primária, visto isso, busca-se fomentar estratégias de descentralização do espaço do ambulatório LGBTT e também potencializar as práticas grupais de cuidado em saúde mental.  

10200 AÇÕES DE ENFERMAGEM NA PREVENÇÃO DE DOENÇAS NO CUIDADO AS PESSOAS PRIVADAS DE LIBERDADE
RAFAELA BRAGA PEREIRA VELOSO, Gleiciane da Silva Fonseca, Helcia Carla dos Santos Pitombeira

AÇÕES DE ENFERMAGEM NA PREVENÇÃO DE DOENÇAS NO CUIDADO AS PESSOAS PRIVADAS DE LIBERDADE

Autores: RAFAELA BRAGA PEREIRA VELOSO, Gleiciane da Silva Fonseca, Helcia Carla dos Santos Pitombeira

Apresentação: A assistência de enfermagem a pessoas privadas de liberdade é um desafio cotidiano devido às condições de confinamento desta população. A Política Nacional de Atenção Integral à Saúde das Pessoas Privadas de Liberdade no Sistema Prisional (PNAISP) prevê a inclusão da população penitenciária no Sistema Único de Saúde, garantindo que o direito à cidadania se efetive na perspectiva dos direitos humanos. Dessa forma, cada unidade básica de saúde prisional deve ser visualizada como ponto de atenção da Rede de Atenção à Saúde. Considerando o contexto e a possível propagação de determinadas doenças é fundamental ações de prevenção de doenças. O objetivo deste trabalho foi relatar a experiência de enfermeiras em ações de prevenção de doenças no cuidado as pessoas privadas de liberdade. Desenvolvimento: Relato de experiência de enfrmeiras em ações de enfermagem na prevenção de doenças no cuidado as pessoas privadas de liberdade no ano de 2019, em unidade de saúde do sistema penitenciário federal na região centro-oeste do Brasil. Resultado: e Implicações: A assistência de enfermagem em unidade de saúde prisional federal é permeada de desafios, sobretudo no que tange a prevenção de doenças. No entanto, na vivência das enfermeiras foi possível a realização de imunização, realização de testes rápidos de HIV, hepatite B e C e sífilis, consultas de enfermagem com orientações, coleta de exames laboratoriais e aferição de pressão arterial e glicemia de hipertensos e diabético com o intuito de controle dos níveis pressóricos e glicêmicos e possíveis agravos com estes parâmetros fora do normal. Além disso, contamos com uma equipe multiprofissional composta por: 3 enfermeiras, 2 psicólogas, 2 farmacêuticos, 1 odontólogo, 1 auxiliar de consultório dentário e 2 técnicos de enfermagem. Nessa vivência também destacamos a necessidade da parceria diária com os trabalhadores da segurança para que possamos realizar nosso trabalho de forma efetiva e segura. Considerações finais: As ações de enfermagem no cuidado a pessoas privadas de liberdade no que tange a prevenção é permeada de dificuldades, no entanto é imprescindível que esta seja realizada de modo a evitar a propagação de doenças intra e extramuros. Além disso, deve-se garantir à saúde de forma integral a esta população reconhecidamente vulnerável.

10215 AVALIAÇÃO DA INTRODUÇÃO DO FLUXO PARA REALIZAÇÃO DE TESTES RÁPIDOS EM UMA UNIDADE PÚBLICA DE SAÚDE NO MUNICÍPIO DE NITERÓI (RJ).
Anna Keylla da Silva dos Santos, Emanuele Menezes, Vivandre Livia Santana Marques, Keli Marini dos Santos Magno, Laylla Ribeiro Macedo, Felipe Guimarãe Tavares, Magda Guimarães de Araujo Faria, Donizete Vago Daher

AVALIAÇÃO DA INTRODUÇÃO DO FLUXO PARA REALIZAÇÃO DE TESTES RÁPIDOS EM UMA UNIDADE PÚBLICA DE SAÚDE NO MUNICÍPIO DE NITERÓI (RJ).

Autores: Anna Keylla da Silva dos Santos, Emanuele Menezes, Vivandre Livia Santana Marques, Keli Marini dos Santos Magno, Laylla Ribeiro Macedo, Felipe Guimarãe Tavares, Magda Guimarães de Araujo Faria, Donizete Vago Daher

Apresentação: Como uma das alternativas para a ampliação do acesso ao diagnóstico da infecção pelo HIV e outras Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs) em atendimento aos princípios da equidade, integralidade da assistência e universalidade de acesso aos serviços de saúde do Sistema Único de Saúde (SUS), os testes rápidos (TR) vêm sendo cada vez mais utilizados para o diagnóstico dessas infecções, por apresentarem desempenho semelhante aos outros testes sorológicos para detecção desses anticorpos, com as vantagens de disponibilizarem o resultado em no máximo 30 minutos, bem como poderem ser lidos a olho nu e não necessitarem de equipamentos especiais para sua execução. Destaca-se que somente profissionais de saúde treinados devem realizar os TR. O Ministério da Saúde recomenda às Secretarias Estaduais e Municipais de Saúde que adotem medidas que facilitem o acesso ao diagnóstico de HIV e triagem da sífilis por meio dos testes rápidos, sobretudo para as gestantes e seus parceiros sexuais. Objetivo: Avaliar a introdução do fluxo de TR em uma Unidade Pública de Saúde localizada no município de Niterói (RJ). Objetivo específico: Comparar o quantitativo de TR realizados em dois dias da semana com o quantitativo de TR realizados em livre demanda em todos os dias úteis da semana. Desenvolvimento: Trata-se de um estudo retrospectivo, transversal e comparativo. Foram comparados os indicadores de realização de TR antes e após a introdução do fluxo. Esses indicadores foram calculados a partir da soma dos TR realizados no período de agosto-dezembro de 2018, comparados com a soma dos TR realizados no período de agosto-dezembro de 2019. Ressalta-se que no semestre de 2018 os TR eram realizados em dois dias específicos da semana e no semestre de 2019 os TR eram realizados todos os dias úteis da semana por demanda livre. Resultado: Constatou-se que no 2° semestre de 2018 foram 333 TR realizados, sendo 2 reagentes para HIV; 11 reagentes para sífilis; 1 para hepatite B e 1 para hepatite C. Já no 2° semestre de 2019 foram realizados 837 TR, entre eles 10 foram reagentes para HIV, 31 testes reagentes para sífilis, 1 para hepatite B e 6 para hepatite C. Esses resultados corroboram com os já apontados pelo Ministério da Saúde, de que quanto maior o acesso aos TR, mais ISTs serão identificadas. Essas medidas permitem o início do tratamento precoce e seu acompanhamento nos serviços de saúde, além de promover qualidade de vida e aumentar o controle da infecção e disseminação do vírus. Considerações finais: O estudo marca sua relevância quando evidencia através do aumento do quantitativo de TR realizados que a introdução do fluxo de TR e o aumento do acesso para o usuário a esses testes, aproximam o usuário às ações de prevenção, diagnóstico e tratamento para HIV, sífilis, hepatites B e C e outras IST’. Intensifica ainda a importância de as Unidades Básicas de Saúde estarem providas de recursos humanos e materiais para aumentar o acesso d população aos TR de forma segura e simples. 

10219 VIOLÊNCIA(S) E SUAS RELAÇÕES COM O COMPORTAMENTO SUICIDA NO SEGMENTO T: O QUE DIZ A LITERATURA NACIONAL?
Davi Depret, Ricardo Mattos, Luciane Velasque, Adriana Gil, Marina Baltazar, Virginia Knupp, Eduardo Peixoto, Jeisilaine Soares

VIOLÊNCIA(S) E SUAS RELAÇÕES COM O COMPORTAMENTO SUICIDA NO SEGMENTO T: O QUE DIZ A LITERATURA NACIONAL?

Autores: Davi Depret, Ricardo Mattos, Luciane Velasque, Adriana Gil, Marina Baltazar, Virginia Knupp, Eduardo Peixoto, Jeisilaine Soares

Apresentação: Uma pessoa transexual é aquela que possui o sentimento intenso de não pertencimento ao sexo anatômico, ao que foi genética e morfologicamente estabelecido, ou seja, que não se identifica com seus genitais biológicos e suas atribuições socioculturais. Uma mulher transexual é aquela que nasceu com sexo biológico masculino, mas possui uma identidade de gênero feminina e se reconhece como mulher e que pode, se desejar, mas não necessariamente, se submeter a modificações corporais (hormonioterapia e/ou cirurgia de redesignação sexual), de acordo com seu bem estar biopsicossocial. No Brasil, é notório o alto grau de preconceito a que está sujeita a população LGBT, especialmente à população transexual. Além da violência, as pessoas trans ainda enfrentam diferentes barreiras, motivadas por discriminação direta ou indireta, no acesso a políticas públicas, em especial às de saúde, seja pelo acesso aos serviços básicos seja pela escassez de serviços de saúde específicos. Tais violências podem trazer sofrimentos psíquicos que podem desencadear Ideações Suicidas e se traduzirem em Tentativas de Suicídio, e embora a literatura aponte que os estudos são incipientes, acredita-se que há uma elevada incidência desta taxa entre a população trans, entretanto, estudos que mapeiem estas taxas e sua relação com as demais violências ainda são necessários. Tal panorama levanta um grave problema de saúde pública, uma vez que a identidade de gênero e a orientação sexual são categorias reconhecidas pelo Ministério da Saúde como determinantes e condicionantes da situação de saúde, não apenas por implicarem práticas sexuais e sociais específicas, mas também por expor lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais a agravos decorrentes do estigma e da exclusão social e entende-se que os determinantes e condicionantes da saúde englobam todas as condições socioeconômicas, culturais e ambientais da vida do indivíduo. Desta maneira, o seguinte trabalho teve como objetivo analisar o conhecimento científico nacional produzido sobre as relações entre violências e suicídios na população de mulheres trans. Desenvolvimento: Em se tratando de uma revisão integrativa da literatura, a mesma foi realizada por meio das seguintes etapas: 1) Esta­belecimento de uma questão de pesquisa, 2) Escolha das bases de dados e estabelecimento dos critérios de inclusão e exclusão e escolha das bases para busca, 3) Categorização dos estudos, fase de organização das informações para forma­ção do banco de dados, 4) Avaliação dos estudos selecionados revisão e posterior aná­lise dos dados, 5) Interpretação dos resultados; 6) Síntese do conhecimento encontrado. Portanto, o estudo iniciou-se a partir da construção da seguinte questão de pesquisa: “Qual o conhecimento científico produzido violências e suicídio na população trans no Brasil?”. A busca na literatura e a seleção dos artigos foi realizada entre os meses de dezembro de 2019 e fevereiro de 2020, nas bases de dados da BVS (Biblioteca Virtual de Saúde), SciELO (Scientific Electronic Library Online)e Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (Lilacs), utilizando uma combinação de descri­tores controlados, termos contidos no vocabulá­rio estruturado Descritores em Ciências da Saúde (DECs). Os descritores foram: Suicídio, Pessoas Transgênero e Violência. Os descritores foram cruzados em dupla utilizando o formulário avançado para busca e empregando o operador booleano AND de forma a garantir a inclusão de todos os artigos relativos à temática, bem como a utilização dos sinônimos dos respectivos descritores a fim de ampliar a busca. Foram levantados estudos realizados em todo o mundo, abordando aspectos relevantes às violências sofridas por mulheres transexuais aos serviços de saúde, tentando buscar estudos que focassem na sua relação com o suicídio, nos idiomas inglês, espanhol e portu­guês, sem recorte temporal, cujos artigos completos ou resu­mos estivessem disponíveis e indexados nas bases de dados citadas acima. Excluíram-se os estudos com foco em outros tipos de assuntos e os estudos com baixa aderência à temática. A análise temática foi conduzida contem­plando três passos: pré-análise; exploração do material; tratamento e interpretação dos resultados obtidos. Na pré-análise foi estabelecido o primeiro contato com o material, permitindo a identificação das palavras-chave e corpo teórico dos materiais, em seguida o material foi explorado por meio de recortes das partes representativas dos artigos incluídos na revisão e, finalmente, os dados foram agregados e interpretados em temas. A última etapa da re­visão consistiu na elaboração dos principais resultados dos artigos analisados. Resultado: Foram encontrados 22 artigos. Os principais motivos para exclusão dos artigos foram: a fuga do tema investigado (n = 3), trabalhos repetidos (n = 3) e o idioma (trabalho em francês = 1), dentre esses foi comum encontrar artigos que aborda­vam temáticas que envolvem a população de mulheres transexuais, porém, sem focar na relação violência e suicídio e alguns não estavam disponíveis em totalidade para leitura (n=2), tendo sido analisados 13 artigos. Por meio da análise temática foram identi­ficadas duas categorias relevantes à compreen­são do acesso de travestis e mulheres transexuais aos serviços de saúde, buscando o enfoque na Atenção Primária à Saúde, sendo: (1) A violência enquanto fenômeno da existência desta população e (2) Diferentes abordagens etárias. Considerações: Os artigos analisados tratavam da violência como algo naturalizado e esperado por essa população, o que, por si só, já gera um potencial medo de expressar e gozar de seus direitos sociais. Nenhum estudo relacionou as violências relatadas com taxas de suicídios. Os estudos mostram que populações estigmatizadas e discriminadas merecem atenção especial, pois o próprio estigma se coloca como um fator de vulnerabilidade em saúde, na medida em que pode comprometer o acesso ao serviço e a qualidade da atenção prestada. Formação profissional e educação permanente devem fazer parte da discussão sobre a atenção integral à saúde, que, por sua vez, deve favorecer o contato com as diversas realidades existentes, e a criação de espaços de diálogo entre os profissionais de saúde e a população atendida. E compreender a determinação social no dinâmico processo saúde-doença das pessoas e coletividades requer admitir que a exclusão social decorrente das transfobias sofridas pode repercutir diretamente na qualidade de vida e nas saúdes física e mental. E que é importante abordar esses assuntos quanto antes, sendo necessário a inclusão de espaços como escolas e universidades nas pautas intersetoriais de discussão para ampliação e proteção dos jovens transexuais a fim de evitar as taxas de suicídio nesta população.

10297 PESQUISA FEMINISTA E SAÚDE: A URGÊNCIA DA DIFERENÇA PARA PRODUÇÃO DE MODOS DE CUIDADO MAIS LIBERTÁRIOS.
Cathana Freitas de Oliveira, Luana Marçon

PESQUISA FEMINISTA E SAÚDE: A URGÊNCIA DA DIFERENÇA PARA PRODUÇÃO DE MODOS DE CUIDADO MAIS LIBERTÁRIOS.

Autores: Cathana Freitas de Oliveira, Luana Marçon

Apresentação: Para dar início precisamos ressaltar que as mulheres são as primeiras a serem reconhecidas quando falamos sobre o cuidado na nossa sociedade como um todo. É dado como se fossem inatas, nas mulheres, as capacidades e necessidades disso. Na saúde esta situação parece se repetir, visto que nos espaços para o cuidado à saúde da população e também nas coordenações de serviços territorializados como Unidades Básicas de Saúde (UBS) e Centro de Atenção Psicossocial (CAPS), por exemplo, mulheres são a maioria. No período final dos anos 70 e início dos anos 80 modos de pensar, escrever e intervir operam para a visibilidade das iniquidades referente as questões de gênero nos diversos campos de produção do conhecimento, entre eles o da Saúde. Reconhecemos de antemão que o campo da Saúde Coletiva ampliou debates sobre gênero, estudos significativos sobre violência contra a mulher, saúde reprodutiva, humanização do parto, cuidados no puerpério e aborto, assim como as discussões sobre população trans. O que nos permite perceber que a temática gênero se expande também em nosso campo de trabalho. A despeito disso, não podemos afirmar que as pautas feministas presentificam-se nesse campo na proporção da presença feminina. A perspectiva feminista de produção de pesquisas nos aproxima do questionamento quanto a quem pode e deve ter legitimidade na produção de conhecimento, desafiando a produção do senso comum. A defesa de uma epistemologia feminista na ciência começou a ser discutida tendo como base a inclusão da análise feita pelas próprias mulheres sobre as práticas de governo operadas em seus corpos e o quanto as relações históricas de poder devem valorizar produções de conhecimento com novas formas de compreender a atuação das mulheres nos espaços sociais. Outro ponto crítico enfrentado é a produção de um padrão normativo e de representação na produção de conhecimento das ciências modernas, sustentada nos diversos campos da ciência –sociais, humanas, econômicas e jurídicas- que estão pautadas em um modelo de homem universal gerador de um funcionamento social patriarcal e androcêntrico Apostamos em uma posição de pesquisa-escrita feminista que lance luz as formas pelas quais os modos de cuidado lidam com uma ideia de sujeito e uma posição de verdade específica que pode, e deve ser localizada no contexto de sua produção. Além disso, nossa posição enquanto pesquisadoras da Saúde Coletiva visa uma produção de conhecimento transdisciplinar, que renove pensamentos e provocações entre as distintas linhas clássicas de divisão dos estudos que reduzem importância do entrelaçamento entre as Ciências Sociais e os estudos de Planejamento e Gestão, por exemplo. A questão que aqui tomamos como prioritária é que a visão universalizante e racional do indivíduo, que emerge a partir de ideais iluministas e princípios liberais atravessa os distintos campos teórico-práticos e produz efeitos que coloca o homem como universal, secundarizando a mulher ou identificando-a por algum tipo de ausência. A universalidade do sujeito desconsidera diferenças que podem ser constitutivas da subjetividade, como gênero e raça e ignorando tais particularidades a suposta neutralidade da ciência, implicitamente, forja e favorece o sujeito branco do sexo masculino. O foco na racionalidade, e na universalidade subtrai características da subjetividade e ignora o corpo, assim os jogos de poder sociais passam a ser vistos como voluntários e as possibilidades de mudança operam no sentido de cristalização dos gêneros. Em certa medida tal perspectiva culmina em um diagrama de poder totalizante e universalizante que restringe e invisibiliza a experiência feminina. A desconstrução desse sujeito fictício passa pela necessidade de radicalizar a noção de subjetividade e reconhecer suas implicações políticas. A atenção ao modo como gerimos a conduta do outro e a nós mesmas, a partir de distintos enunciados e práticas permite perceber a operação de uma mentalidade de governo na saúde que reforça determinações patriarcais, androcêntricas e neoliberais. Há uma produção de regimes de governo e verdade sobre os corpos femininos, produzidos pela atual lógica do direito à saúde, que inventa saberes e práticas que podem ser equivocadas. A visão de que o corpo nem sempre foi natural ou biológico, como nos mostra a transversalidade entre feminismo e saúde por exemplo, busca evidenciar que exercícios de interpretação e conversão das singularidades em conhecimento com validade universal aproxima-se da cilada das generalizações do conhecimento científico. Apontamos aqui esta cilada da generalização dos corpos, e logo de suas necessidades de cuidado e assistência, como uma produção de saúde normatizada e produtora de uma normalização naturalizada nas pesquisas de base quantitativa que exploram pouco o campo de problematização dos dados que as embasam. A partir de uma revisão bibliográfica de autoras feministas brasileiras e americanas a luz das experiências de duas mulheres pesquisadoras da saúde coletiva no Brasil, discutimos a inclusão de novos olhares na produção de ciência tensionando posições na produção do saber. Somente quando assumirmos uma posição de objetividade que inclua mobilidade para as contestações e desconstruções dos próprios sistemas de conhecimento poderemos formar perspectivas parciais que incluam visões e mundos menos organizados por eixos de dominação, permitindo espaço para olhares e vozes de grupos que ainda não puderam se fazer presentes nos estudos sobre eles mesmos propostos. As questões, já apontadas, acerca do sujeito universal e epistemologia da ciência assumem relevância no campo da Saúde Coletiva na medida que as racionalidades de governo são forjadas no escopo das afirmativas e narrativas sobre esse sujeito. Assim, se torna necessário desnaturalizar a construção do indivíduo pautado na noção de liberdade, direitos e igualdade entre os seres humanos de maneira congruente com uma historicidade que ainda se apresenta como linear e única. Pesquisar e produzir conhecimento tomam forma a partir de outras maneiras de compreender a própria ciência - com base na lógica patriarcal - colocando em suspenso as generalizações e representações que naturalizam e tornam os objetos apolíticos e neutros. A representação aqui passa a ser entendida como a generalização das necessidades femininas afirmando a própria política sexual e sua veracidade em profunda aliança com a produção de ciência que tem que permeia ambas em igual intensidade. Construir pesquisa na perspectiva feminista nos trouxe o estranhamento dos espaços até então conhecidos. Os incômodos no espaço acadêmico do pensar e nos serviços de saúde o cuidado às mulheres teve como efeito desnaturalizar a produção de saber, de pesquisar e de trabalhar no SUS. Se fez necessário descobrir novas formas de nos produzirmos e compreendermos a subjetividade da mulher, que se apresentam na atualização da disputa dos saberes científicos das ciências da saúde com suas condutas específicas, seus códigos e encarceramentos para produção de história e verdade sobre os indivíduos, para assim desencadear novas práticas de cuidado e lógicas para produção de políticas públicas e serviços de saúde.

10307 A CONSULTA DE ENFERMAGEM NO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE: DESAFIOS ENCONTRADOS PELA ENFERMEIRA NO ATENDIMENTO AO SURDO.
Carolina de Souza Silva, Leonardo Rodrigues dos Santos, Sarah Kelley Ribeiro de Almeida, Greyce Trindade do Bomfim Pereira, Andreza Andrade de Azevedo, Carla Oliveira Shubert

A CONSULTA DE ENFERMAGEM NO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE: DESAFIOS ENCONTRADOS PELA ENFERMEIRA NO ATENDIMENTO AO SURDO.

Autores: Carolina de Souza Silva, Leonardo Rodrigues dos Santos, Sarah Kelley Ribeiro de Almeida, Greyce Trindade do Bomfim Pereira, Andreza Andrade de Azevedo, Carla Oliveira Shubert

Apresentação: Os grupos vulneráveis, no Brasil, ainda sofrem impedimentos para terem acesso a serviços básicos fornecidos pelo Sistema Único de Saúde. Entre estes se destaca o atendimento da enfermagem prestado a pessoa surda, que por muitas vezes, não são atendidas da maneira correta e até mesmo são, em alguns casos, desrespeitados em sua condição, pois os serviços de saúde não possuem profissionais capacitados para um atendimento de excelência a eles. Segundo dados do censo 2010 cerca de 24% da população brasileira possui algum tipo de deficiência, destes, aproximadamente 9,7 milhões de pessoas são surdas. Apesar do grande número dessa população, no Brasil a surdez ainda é um grande desafio para comunidade e para os profissionais da saúde. A primeira língua da comunidade surda é a Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS), sancionada pela lei nº 10.436, onde passa a ser reconhecida como Língua composta por expressões gestuais, visuais e espaciais, que formam uma estrutura própria gramatical e semântica. É um meio de comunicação e interação social, que abre as portas para oportunidades pessoais e profissionais. Aprender Libras é fundamental para o desenvolvimento social e emocional, não apenas dos surdos, mas também de todos que fazem parte do seu convívio. Ainda assim, o ensino da Língua de Sinais é bastante precário no Brasil. Somente através da comunicação plena o profissional poderá ajudar o paciente a enfrentar seus problemas, demonstrá-los, e juntos encontrar alternativas para solucioná-los.  A comunicação é um instrumento básico e essencial, utilizado no processo de cuidar/cuidado de enfermagem, cabendo ao enfermeiro, dispor de ferramentas que possibilitem a comunicação com todas as pessoas. Especialmente o aprendizado em LIBRAS para proporcionar melhor acolhimento e entendimento dos surdos no Sistema único de Saúde (SUS).  O presente estudo objetivou discutir sobre os desafios enfrentados pela enfermeira durante a consulta de enfermagem ao cliente surdo no Sistema Único de Saúde. Método: Trata-se de uma revisão integrativa, descritiva, exploratória e de cunho qualitativo. A busca do material foi realizada em janeiro de 2020 na biblioteca virtual em saúde (BVS) e nas bases LILACS, MEDLINE e BDENF através de busca avançada com operador booleano AND e OR. Foram incluídos textos completos em português, disponíveis na integra com um recorte temporal de cinco anos (2014 –2019) foram descartados artigos duplicados, fora do recorte temporal e artigos sem ligação com a temática. Resultado: Inicialmente 14 artigos foram encontrados, e após aplicação dos filtros, emergiram dois artigos. Ambos estudos apontam para dificuldades encontradas nos serviços sobre acesso; comunicação direta através da língua de sinais; o despreparo dos profissionais de saúde para o atendimento de pessoas surdas; ausência de intérpretes nos serviços; interlocutores que falam rapidamente e o uso de máscaras dificultando a comunicação. Nas unidades básicas de saúde, o maior obstáculo no atendimento da comunidade surda é a barreira comunicacional, atribuída a falta de conhecimento, capacitação e despreparo dos profissionais. A falta de capacitação dos profissionais da saúde fragiliza a comunicação profissional paciente, bem como seu acesso aos serviços de saúde em todos os níveis da assistência, prejudicando a qualidade do atendimento prestado. Torna-se indispensável que esses profissionais reconheçam a sua falha e busquem evoluir juntamente com a instituição que trabalha, a fim de não comprometer o cuidado com o cliente. A ausência do domínio de Libras por enfermeiras e enfermeiros na consulta de enfermagem restringe as relações interpessoais, ao se deparar com um surdo para uma consulta de enfermagem, encontra dificuldades para interagir e se portar diante do paciente devido a carência de formação e humanização, o despreparo para atender integralmente as necessidades de saúde dessa comunidade resulta em dificuldades na acessibilidade e nas práticas de inclusão social. Garantir a comunicação efetiva com pacientes surdos é primordial, uma vez que a falta da comunicação plena pode acarretar erros no diagnóstico e tratamento das doenças. Considerações finais: É imprescindível que enfermeiras busquem aprimoramento profissional com o intuito de viabilizar as necessidades humanas dessa população e diminuir as dificuldades encontradas pelos profissionais de enfermagem ao se deparar com um cliente contendo uma necessidade específica. O enfermeiro deve considerar a LIBRAS como um dos componentes da cultura surda e assim, consiga prestar um atendimento qualificado a estes indivíduos. Aprender a Língua Brasileira de Sinais é evoluir pessoal e profissionalmente, além de incluir e fazer com que a sociedade seja mais receptiva e dê mais acesso e oportunidades. A inclusão social vem sendo inserida nos ambientes de saúde, assim o mercado de trabalho irá requerer profissionais habilitados para atuarem nesta área. Portanto, é necessário investir na capacitação dos profissionais de enfermagem a fim de que estes estejam preparados para prestar um atendimento mais qualificado e humanizado às pessoas surdas, tendo êxito na construção da relação enfermeiro-paciente, uma vez que esta é indispensável à profissão. Na sociedade atual preconiza-se a convivência com as diferenças. Várias medidas são adotadas nas instâncias Federal, Estaduais e Municipais, asseguradas pela Constituição Brasileira, tentando garantir a inclusão das pessoas com surdez no cotidiano familiar, coletivo e institucional. Aos profissionais da saúde torna-se indispensável buscar novos paradigmas que facilitem promover uma assistência. Poucos estudos retratam sobre o tema, o que nos leva a refletir sobre a invisibilidade desta população sob as lentes da pesquisa. Cabe salientar, que o pouco interesse em pesquisar a temática pode ser um retrato do campo assistencial que revela uma série de dificuldades para prestar assistência aos surdos. Considerando o baixo número de publicações sobre o tema, as pesquisas sobre a consulta de enfermagem aos surdos é uma agenda de prioridades, no tocante ao que se refere a informação e comunicação em saúde. Vivemos em uma sociedade ouvinte e oral, onde o acesso a saúde é limitado, faz-se necessário a elaboração de programas de saúde e políticas públicas voltadas a comunidade surda, ofertas de cursos de capacitação, oficinas de conscientização para maior conhecimento dos profissionais sobre a cultura surda, compreendendo o surdo como indivíduo multicultural, e oferecendo uma consulta de enfermagem de qualidade, promovendo saúde e qualidade de vida. Pesquisar sobre a temática é fundamental para que a enfermagem possa se capacitar e atender as necessidades das pessoas surdas, diminuído as barreiras que naturalmente são impostas a esta população, garantindo a interação dos surdos na sociedade, valorizando a cultura surda e diminuindo as condições de vulnerabilidade.

10371 GRUPO DE APOIO A TRANSEXUAIS E TRAVESTIS PARA A PROMOÇÃO DA ALIMENTAÇÃO SAUDÁVEL, ATIVIDADE FÍSICA E SAÚDE: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA
Ursula Viana Bagni, Leon Coelho Toscano, DIANNE CRISTINA SOUZA SENA, JÚLIA MARIA ALVES MEDEIROS, THALLES MARCIANO DE SANTANA FERREIRA, PAULO MOREIRA DANTAS, Maria Aparecida Dias

GRUPO DE APOIO A TRANSEXUAIS E TRAVESTIS PARA A PROMOÇÃO DA ALIMENTAÇÃO SAUDÁVEL, ATIVIDADE FÍSICA E SAÚDE: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA

Autores: Ursula Viana Bagni, Leon Coelho Toscano, DIANNE CRISTINA SOUZA SENA, JÚLIA MARIA ALVES MEDEIROS, THALLES MARCIANO DE SANTANA FERREIRA, PAULO MOREIRA DANTAS, Maria Aparecida Dias

Apresentação: A vulnerabilidade é um movimento que pode aumentar a chance de exposição do usuário à doença através de cenários individuais, coletivos e contextuais que reverberam em maior ou menor suscetibilidade ao adoecimento. Diante das barreiras discriminatórias ou pela falta de acolhimento nos serviços de saúde, transexuais e travestis podem buscar um atendimento precário nos serviços clandestinos, o que pode trazer riscos para a saúde em geral e, consequentemente, aumentar suas vulnerabilidades. Considerando-se a fragilidade na atenção em saúde prestada a essas pessoas, particularmente no que se refere à orientação nutricional e de prática de atividade física durante e após o fim do processo transexualizador, desenvolveu-se um projeto de extensão com ações de promoção da saúde, alimentação saudável e atividade física a transexuais e travestis, bem como escuta qualificada nas demandas dessas áreas, a fim de promover a integralidade do cuidado nesses grupos, e em longo prazo, fornecer elementos baseados em evidências para subsidiar o cuidado em saúde dessas pessoas visando prevenir e recuperar agravos à saúde que possam repercutir na sua qualidade de vida. Desenvolvimento: O projeto, que foi desenvolvido no segundo semestre de 2019, promoveu hábitos alimentares saudáveis e a prática de atividade física regular e adequada entre pessoas transexuais e travestis, por meio do seu empoderamento acerca de conceitos básicos de alimentação equilibrada e saudável e exercícios físicos apropriados para a manutenção da saúde, visando não somente a saúde e bem-estar, mas principalmente criando uma cultura de autocuidado que pudesse contribuir para a melhoria das condições saúde e qualidade de vida desse grupo que se expõe constantemente a pressões da sociedade para modificações corporais. Foram desenvolvidas rodas de conversa, atividades lúdicas e jogos de recreação relacionados a conceitos básicos de alimentação e nutrição, atividade física, saúde e autocuidado relacionado às principais doenças crônicas não transmissíveis e distúrbios da imagem corporal, visando aumentar o protagonismo e autonomia em relação a estilos de vida saudáveis. Os encontros tiveram cerca de duas horas de duração, e foram abertos a todos os interessados nos temas. A agenda de encontros era divulgada com antecedência em diferentes redes sociais. Resultado: A atividade foi muito bem acolhida pelos participantes, que se demonstraram muito desejosos na continuidade do projeto. Inicialmente demonstraram bastante interesse em discutir com profundidade determinados temas, particularmente o controle de peso na hormonioterapia, uso de suplementos e riscos do uso de silicone industrial para a prática de atividade física. Embora a ausência de protocolos e recomendações oficiais para nutrição e atividade física de transexuais e travestis tenha gerado frustração no grupo, a troca de experiências entre os participantes foi muito importante para apontar caminhos possíveis. Para além dos encontros coletivos, os participantes solicitavam frequentemente prescrição dietética e de exercício personalizados, uma vez que os serviços públicos de saúde ainda não possui profissionais de saúde especializados nestas áreas. Considerações finais: Por meio de práticas promotoras de saúde o projeto promoveu a inclusão social e equidade em saúde, interdisciplinaridade e multiprofissionalidade, centrando esforços para uma população vulnerável historicamente neglicenciada na área da saúde.

10372 PADRÕES DE VIOLÊNCIA URBANA E DETERMINAÇÃO SOCIAL NO MUNICÍPIO DO RIO DE JANEIRO
Mayalu Silva, Lucas Fernandes Gonçalves, Hugo Freitas

PADRÕES DE VIOLÊNCIA URBANA E DETERMINAÇÃO SOCIAL NO MUNICÍPIO DO RIO DE JANEIRO

Autores: Mayalu Silva, Lucas Fernandes Gonçalves, Hugo Freitas

Apresentação: A área da saúde já vem discutindo o tema da violência há alguns anos. Em 2002, a Organização Mundial de Saúde – OMS publicou o Informe Mundial de Violência e Saúde, mostrando o impacto mundial desse agravo na saúde e propondo também alguns marcos teóricos e modelos de análise para abordagem do fenômeno da violência no âmbito da saúde, considerando algumas naturezas e tipologias de violência. No âmbito da Classificação Internacional de Doenças – CID 10, as violências estão incluídas em um conjunto de agravos à saúde, que pode ou não levar a óbito, no qual se incluem as causas ditas acidentais (trânsito, trabalho, quedas, envenenamentos, afogamentos entre outros) e as causas intencionais (agressões e lesões autoprovocadas). Esse conjunto de eventos consta na CID 10 sob a denominação de causas externas. Consideramos para análise da violência urbana as ameaças à integridade física, focando na questão da desigualdade dos agravos de violência por armas de fogo em diferentes áreas programáticas da saúde da cidade do Rio de Janeiro. Foram considerados os seguintes indicadores do Sistema de Informações de Mortalidade do Ministério da Saúde - SIM: Mortes decorrentes de agressões por armas de fogo, Mortes decorrentes de armas de fogo com intenção indeterminada e  mortes por intervenções legais e operações de guerra. Foi considerada ainda uma nova fonte de dados, iniciada em 2016, a plataforma Fogo Cruzado, que monitora o número de tiroteios na cidade do Rio de Janeiro. Para caracterizar as desigualdades entre as áreas programáticas da saúde consideramos trabalhos científicos na área de violência e saúde que apontam a prevalência da violência letal na população masculina negra e também correlação com dados sócio-econômicos como baixa renda per capita e local de moradia em áreas pobres da cidade. Assim, buscamos duas variáveis: renda domiciliar per capita e raça/cor, como forma de marcar as desigualdades entre as diferentes unidades de análise. O trabalho tem como objetivo analisar, a partir da metodologia de análise da situação de saúde, o comportamento das desigualdades da violência urbana entre diferentes grupos populacionais na cidade do Rio de Janeiro, na medida em que o reconhecimento destas diferenças possibilita uma melhor avaliação desta situação de saúde. De forma geral, essa questão é vista como assunto exclusivo da área de segurança pública, porém os impactos que esse agravo gera na sociedade mostram a necessidade de um olhar intersetorial para se discutir os padrões e impactos da violência nos territórios, pessoas, instituições, políticas públicas e na sociedade em geral. Foi observada a evolução dos indicadores do SIM no período entre 2008 e 2018 e dos indicadores da plataforma Fogo Cruzado entre o segundo semestre de 2016 e 2018. Utilizamos os testes qui-quadrado (software Bioestat 5.0 ®) de independência e de aderência para testar a relação da variável raça-cor com os homicídios. O teste de independência mostrou que existe relação entre a raça/cor e o fato do indivíduo ser vítima de homicídio por arma de fogo. Em valores absolutos é possível perceber o maior volume de homicídios entre negros. O teste qui-quadrado de aderência de proporções desiguais, foi utilizado para verificar se quantidade de homicídios está de acordo com o modelo esperado em função da distribuição da população entre brancos e negros, ou seja, se a relação entre brancos e negros for de 60% para um grupo e de 40% para o outro, a taxa de homicídios deveria ser distribuída na mesma proporção entre os grupos. Porém o teste mostrou que há uma tendência de ocorrerem mais homicídios entre o grupo negros, tanto no município como em cada uma das áreas programáticas da saúde, demonstrando que em todo o município pessoas negras estão mais propensas a serem mortas por armas de fogo. A análise por recorte de sexo e faixa etária mostrou prevalência da população masculina, jovem e negra para esse tipo de agravo. Mesmo com a expressiva diminuição dos homicídios por armas de fogo entre 2008 e 2015, o município ainda se destacou por ter uma mortalidade por causas externas maior que a média nacional. Em relação aos tiroteios, os dados mostram um número bastante alto desses eventos no município do Rio de Janeiro, com mínimo de 1604 tiroteios registrados, no segundo semestre de 2016, e máximo de 2942 tiroteios registrados no segundo semestre de 2018, com tendência de alta entre os dois períodos. É válido apontar que o ano de 2018 foi marcado pela Intervenção federal das forças armadas no município do Rio de Janeiro, entre os meses de fevereiro e dezembro, o que não foi acompanhado por uma diminuição desses riscos por armas de fogo no município. Para o tema da violência urbana e seus determinantes a questão do território e a visualização da distribuição espacial de dados é de suma importância, uma vez que os agravos relacionados a estes eventos acontecem de forma bastante diferenciada nas diversas partes da cidade. Optamos neste trabalho em fazer um exercício de visualização espacial descritiva a partir dos indicadores selecionados, nas 5 áreas programáticas da saúde – (APs) no município do Rio de Janeiro e nos dois períodos de tempo propostos acima. Pudemos observar que as AP1, AP3 e AP5 sofrem o maior impacto proporcional da violência por armas de fogo, nos três indicadores selecionados. A AP3 apresenta a maior taxa de mortes de agressões por armas de fogo e se destaca por ser o local da cidade com mais registros de tiroteios, enquanto a AP1 apresenta maior taxa de mortes de intervenção legal por armas de fogo. As AP2 e AP4 são as que sofrem o menor impacto deste tipo de violência, sendo também as áreas de maior poder aquisitivo e onde a maioria da população é branca. Para uma comparação com dados nacionais, as taxas de homicídios por armas de fogo no país apresentaram, no início da década de 2010, uma taxa de 19,3/100 mil e em 2017, últimos dados nacionais disponíveis no SIM, uma taxa de 22,9/100 mil. Assim observamos que as AP1, 3 e 5, com taxas médias de aproximadamente 20/100 mil, encontram-se na média dos dados nacionais, que são considerados muito altos, já as AP2 e 4 têm taxas muito menores do que as taxas nacionais, com taxas respectivamente de 5,4/100 mil e 10,9/100 mil, mostrando a disparidade desse agravo entre as diferentes regiões da cidade. Para uma melhor avaliação destas  taxas é interessante observar as taxas de homicídio a partir de estudo mundial das Nações Unidas, que mostra que a taxa para a América do Sul é de 20/100 mil, enquanto a taxa para a Europa Ocidental é de 1/100 mil, mostrando uma grande desigualdade na expressão mundial desse agravo.

10392 A CONSTRUÇÃO DO VÍNCULO NO CUIDADO À SAÚDE DE MULHERES LÉSBICAS
Amanda Gomes Pereira, Mariana Arantes Nasser, Ademar Arthur Chioro dos Reis

A CONSTRUÇÃO DO VÍNCULO NO CUIDADO À SAÚDE DE MULHERES LÉSBICAS

Autores: Amanda Gomes Pereira, Mariana Arantes Nasser, Ademar Arthur Chioro dos Reis

Apresentação: A população de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (LGBT) enfrenta iniquidades no tocante ao acesso integral à saúde, visto que há dificuldades para o reconhecimento de suas necessidades específicas de saúde, além da discriminação e preconceito, ainda muito presentes na sociedade. O estabelecimento de vínculo com algum profissional ou equipe de saúde, embora um tema pouco explorado, é essencial para que outras necessidades sejam atendidas e haja um bom cuidado. Este estudo buscou enfocar especificamente na saúde de mulheres lésbicas, que enfrentam a dupla opressão da homofobia e do machismo. Seu objetivo é compreender os modos de construção de vínculo na produção do cuidado à saúde de mulheres lésbicas, que utilizam rotineiramente serviços públicos e/ou privados para cuidados em saúde. Foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa da UNIFESP e aprovado sob o CAAE 17221919.0.0000.5505. Adotou-se metodologia qualitativa, utilizando-se o método biográfico, a partir da abordagem de histórias de vida. A população estudada é formada por mulheres lésbicas residentes no município de São Paulo (SP), maiores de 18 anos, que aceitaram participar da pesquisa e preencheram Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Para possibilitar a análise de como a pertença a movimentos sociais afeta a produção de vínculos foram formados dois grupos: um com representantes de movimento sociais lésbicos e outro composto por mulheres lésbicas que não atuam em movimentos sociais. A entrevista é realizada no domicílio ou local indicado por cada entrevistada. Para a produção das narrativas, seguiu-se um modelo que sistematiza e enfoca os seguintes aspectos: retrato social da entrevistada, a experiência em relação à sexualidade, a experiência em relação ao processo saúde-doença e elementos analíticos presentes na história biográfica. A pesquisa está em andamento, no processo de realização das entrevistas e produção das narrativas, contudo, parte de algumas premissas, que serão colocadas em discussão: a existência de modos de produção de cuidado à saúde e de construção de vínculo com profissionais ou equipes de saúde bastante diversos e complexos; a tentativa das mulheres lésbicas de invisibilizar sua sexualidade nos serviços de saúde, com objetivo de evitar a discriminação e o preconceito; a discriminação e preconceito sofridos nos serviços de saúde, com destaque para a área de ginecologia e principalmente mulheres que são lidas socialmente como masculinizadas, o que dificulta a construção de vínculos e impacta no cuidado à saúde; lésbicas que militam em movimentos sociais têm acesso a mais conhecimentos sobre seus direitos, políticas e funcionamentos dos serviços, o que favorece sua autonomia e facilita a construção de vínculos no cuidado à saúde. Para além dos pressupostos, a análise buscará reconhecer o protagonismo e o valor das histórias narradas para a produção do conhecimento. Espera-se que tais achados contribuam na identificação dos caminhos, estratégias e dispositivos que funcionam como facilitador ou dificultador no processo de construção de vínculo, impactando no cuidado em saúde de mulheres lésbicas.

10395 PERCEPÇÃO DO PROCESSO DE SAÚDE E DOENÇA PELAS MULHERES QUE VIVEM EM SITUAÇÃO DE RUA NO DISTRITO FEDERAL
Márcia Helena leal, Maria Fabiana Damásio Passos, Marcelo Pedra Martins Machado, Guilherme Augusto Pires Gomes

PERCEPÇÃO DO PROCESSO DE SAÚDE E DOENÇA PELAS MULHERES QUE VIVEM EM SITUAÇÃO DE RUA NO DISTRITO FEDERAL

Autores: Márcia Helena leal, Maria Fabiana Damásio Passos, Marcelo Pedra Martins Machado, Guilherme Augusto Pires Gomes

Apresentação: Este estudo apresenta a compreensão da percepção do processo de saúde e doença pelas mulheres em situação de rua e dos cuidados aos quais têm acesso por meio de entrevistas com mulheres em situação de rua no Distrito Federal- DFDesenvolvimentoA coleta de dado das entrevistas foi realizada no mês de dezembro de 2019, a partir do roteiro para entrevistas contendo as seguintes perguntas: Qual é sua idade? Qual é sua Raça/ Cor? Qual é a sua escolaridade? Tem algum trabalho? Tem alguma renda mensal? Quanto tempo está vivendo na rua? Tem filhos? Se sim, onde moram? Tem namorado (a) ou companheiro (a)? Quando foi seu último contato com familiares? O que significa saúde para você?  Você tem algum problema de saúde? Se sim, qual? Como você percebe que tem um problema de saúde? O que significa cuidado para você?  Como você cuida da sua saúde vivendo nas ruas? Qual lugares você procura quando percebe que tem um problema de saúde?  As entrevistas foram gravadas em áudio MP3 e os depoimentos foram transcritos de forma a preservar o conteúdo integral das falas.Visou-se diversificar o local de permanência dessas mulheres nas ruas para o enriquecimento dos relatos e de preferência em áreas onde havia equipes de consultório na rua e sem consultório na rua para verificarmos se o acesso é favorecido onde se tem esse equipamento de saúde. Foram realizadas oito entrevistas ao total, respeitando o critério de saturação dos resultados. Anteriormente à entrevista, foi explicado a cada mulher o objetivo da pesquisa e solicitada sua participação voluntária, as mulheres que concordavam em participar iniciavam a entrevista. O local das entrevistas foi em rua, calçadas, embaixo de marquises onde elas se sentiam mais confortáveis para falar, as vezes conseguíamos nos afastar das pessoas mas sempre éramos abordados por outras pessoas principalmente em situação de rua para saber o que estávamos fazendo ali, neste momento percebíamos uma certa “ proteção” para a mulher quando alguém chegava para ver o que estava acontecendo. As participantes tiveram liberdade para escolher o momento de prestar o depoimento, mediante a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Percebemos que as mulheres com idade mais jovens nas situações: com deficiência física, em prostituição, gestante, em uso de crack e pedindo dinheiro no sinal se recusaram a participar do estudo. No total foram abordadas treze mulheres sendo que oito concordaram a ser entrevistadas, duas imediatamente responderam que não gostaria de conversar e três embora não quererem ser entrevistadas permitiram conversar um pouco sobre sua permanência nas ruas sem realizar a gravação. Encerrou-se a coleta dos dados quando os objetivos da pesquisa foram alcançados. A convergência dos resultados se deu na oitava entrevista. A fim de garantir o anonimato, as participantes foram identificadas com a letra "M" (Mulher), seguida dos números arábicos correspondentes à ordem em que as entrevistas foram sendo realizadas (M1 a M08). A análise dos dados foi realizada a partir de do agrupamento de categorias que segundo Bardin. Resultado: Observou-se que nenhuma das mulheres eram analfabetas, duas mulheres expressaram o sonho de cursar uma faculdade.  A M4 Demonstrou desejo de terminar o ensino fundamental e fazer o ensino médio: Já a respeito da dimensão do emprego e renda, 62,5% das mulheres relataram não ter trabalho, as que disseram que tinha se referiram à Revista Traços como um trabalho.  A M5 disse que não tem trabalho, mas foi interessante na sua fala pois ela disse que em algum momento de sua vida nas ruas já teve no Projeto Social da Revista Traços. Embora 62,5 % relatar não ter trabalho quando a pergunta foi renda mensal apenas 25% relatou não ter nenhuma renda. Das mulheres que relataram não ter nenhuma renda, uma relatou estar aguardando para receber benefício social. A Maioria das mulheres estão entre 1 a 3 anos vivendo nas ruas. Referente ao número de filhos, todas mulheres responderem ter filhos, nenhuma com filho (a) vivendo nas ruas, os filhos já são adultos apenas M8 e M3 tem filhos menor de idade. O relato de M5 traz a situação de sua saúde como um fator para se distanciar e não ter muito contato com os familiares, refere que foi para ruas ao descobrir que estava com HIV e ficou com medo da rejeição dos familiares. No que se refere em ter um namorado ou companheiro mesmo vivendo nas ruas 80% das mulheres responderam que possui. O que chama a atenção é que nos relatos das mulheres há histórico de violência com os companheiros anteriores. Para as demais perguntas que nortearam a entrevista surgiu a categoria Saúde e Cuidado, as mulheres relataram o que consideram saúde, cuidado e como cuidam da sua saúde nas ruas. Com relação a pergunta: que significa saúde para você? Podemos perceber que cada mulher entende saúde de uma forma, desde a ausência de doença até não morrer sozinha. Para outras é reduzir danos, ter os membros, braços, pernas e condições de andar. É também não estar “sentindo nada” nenhuma dor, é ter acompanhamento em um serviço de saúde. É não ser discriminada por morar na rua ao chegar em algum serviço de saúde, é ser respeitada como cidadã mesmo não está em “quatro paredes”. A maioria das mulheres relataram ter problemas de saúde, chamou atenção para as duas que disseram não ter problemas de saúde pois elas apresentavam tosse no momento da entrevista, mas em suas falas não reconheceram aquele sintoma como um problema de saúde. A saúde mental se destacou na fala das mulheres, ao citarem que utilizam medicamentos para estresse, nervosismo, controle da abstinência ao uso de drogas.Outro fato que aparece nas falas é a violência recebida nas ruas como um fator agravante e complicador para os problemas de saúde. Referente a pergunta como você percebe que tem um problema de saúde? Podemos observar nas respostas, que as mulheres prestam a atenção nos sintomas físicos do seu corpo. Considerações finais: Através dos relatos identificamos que a maior parte das mulheres estão atentas ao seu corpo e aos sinais e sintomas de doenças, no que se refere ao acesso aos serviços de saúde as mulheres que foram entrevistas próximo ao locais de dispositivos como equipes de Consultório na Rua CR, Centro de Atenção Psicossocial-CAPS e Centro de Referência Social – CRAS reconhecem estes serviços como porta de entrada, mas ainda citam o despreparo dos profissionais na de rede serviços como um todo em reconhecer as suas necessidades de saúde. Referem-se que tem maior dificuldade de acesso a outros serviços quando são referenciadas para hospitais e exames pela discriminação e despreparo dos serviços. 

10541 ABRIGAMENTO COMPULSÓRIO DE CRIANÇAS GUARANI E KAIOWÁ: UMA ESTRATÉGIA GENOCIDA
Adriana Fernandes Carajá, Eni Carajá Filho, Alzira de Oliveira Jorge, Bruna Mara Morais Assis, Mônica Garcia Pontes, Gabriela Maciel Dos Reis, Cristiana Marina Barros Souza

ABRIGAMENTO COMPULSÓRIO DE CRIANÇAS GUARANI E KAIOWÁ: UMA ESTRATÉGIA GENOCIDA

Autores: Adriana Fernandes Carajá, Eni Carajá Filho, Alzira de Oliveira Jorge, Bruna Mara Morais Assis, Mônica Garcia Pontes, Gabriela Maciel Dos Reis, Cristiana Marina Barros Souza

Apresentação: O sequestro de crianças indígenas figura-se como uma prática recorrente no Brasil, sendo registrado desde o século XVI, com a chegada dos invasores ao país que retiravam os filhos das mulheres indígenas para as utilizarem como mão de obra escrava e amas-de-leite das senhoras da nobreza. Urge salientar que essa prática continuou sendo utilizada, como foi na Ditadura Militar quando houve um cerceamento de divulgação de casos que somente vieram à tona no ano 2000 com a exposição pública do Relatório Figueiredo pela Comissão da Verdade. No Mato Grosso do Sul há histórico que, antes de 2005, já havia alguns casos de institucionalização de crianças e que boa parte delas foram adotadas por famílias não indígenas ou permaneceram em abrigos até completarem a maioridade. A partir de 2005 a FUNAI tinha registro de mais de 50 crianças e adolescentes indígenas separados de suas mães e abrigados institucionalmente em Dourados no Mato Grosso do Sul. No panorama atual, estima-se que 60% das crianças institucionalizadas em abrigos do município de Dourados são indígenas. A ação de retirada das crianças das mães indígenas Guarani e Kaiowá vem sendo conduzidas pelo Poder Judiciário, principalmente pelo Tribunal de Justiça do Mato Grosso do Sul com auxílio direto do Conselho Tutelar de Dourados – MS. Este texto é uma síntese de um dos casos que foram  investigados pelo Coletivo de pesquisadores do Observatório de Políticas e Cuidado em Saúde da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), na linha de pesquisa ‘Mães Órfãs‘, que teve como seus produtos, a dissertação de Mestrado intitulada “ Diário Cartográfico das mães que perdem suas filhas e filhos pelas mãos do estado: paisagens que se repetem”, vinculada ao Programa de Pós-graduação em Promoção de Saúde e Prevenção da Violênciada Faculdade de Medicina da UFMG, em 2019. O objetivo desse texto é dar visibilidade à ação de retirada compulsória de crianças indígenas Guarani e Kaiowá de suas famílias, buscando a sensibilização e mobilização da sociedade para ampliação da frente de resistência contra essas práticas. Desenvolvimento: Foram utilizadas, narrativas construídas durante o acampamento Terra Livre entre os dias 24 a 26 de abril de 2019, em Brasília, com duas mulheres que integram a Grande Assembléia de Mulheres Guarani e Kaiowá- Kunãgue Aty Guasu. Além das narrativas, foram analisados documentos extraídos de relatórios disponibilizados pelo Serviço de Promoção dos Direitos Sociais e Cidadania (SEDISC) da FUNAI do município de Dourados do Estado de Mato Grosso do Sul e do Conselho Indigenista Missionário (CIMI), o Relatório do Núcleo Institucional de Promoção e Defesa dos Povos Indígenas e da Igualdade Racial e Étnica (NUPIIR) da Defensoria Pública do Estado de Mato Grosso do Sul, o Documento final da VI Kunãgue Aty Guasu Kaiowá Guarani e matérias veiculadas na mídia como jornais, revistas, reportagens, áudios de entrevistas e outros documentários. Resultado: A questão principal que envolve os povos indígenas Guarani e Kaiowá e demais populações indígenas é a disputa pela restituição de seus territórios e a destruição de seu modo de vida. Nesse contexto, os indígenas Guarani e Kaiowá acabam sendo vítimas de múltiplas violações como a fome, a pobreza, o extermínio cultural, o genocídio, a recusa de prestação de serviços públicos estatais e, ainda sofrem com a precariedade e o déficit dos serviços de assistência social, de defesa social e de assistência à saúde. Assim, devido a essas e outras situações acabam tendo seus filhos retirados, o que se traduz em mais uma estratégia de expropriação de seus territórios tradicionais. A retirada das crianças indígenas de suas famílias e comunidades está claramente relacionada a questões étnicas e de classe social, além de revelarem práticas preconceituosas, genocidas e totalitárias que permanecem impregnadas no mundo de matriz ocidental e nas instituições estatais, afrontando os direitos indígenas e humanos. A pesquisa revelou que, ao retirar uma criança indígena do seu povo, ela acaba sendo enviada para uma realidade completamente diferente da sua, impactando no seu jeito de ser, seu modo de viver, estado psicológico, e além disso interfere nos processos de manutenção da cultura, da preservação da língua indígena, dos costumes, tradições e representa uma ameaça às redes de parentesco e à convivência familiar e comunitária. Por outro lado, verificou-se que para se contrapor a essas práticas o movimento de mulheres indígenas Guarani e Kaiowá buscou dar visibilidade à situação, por meio de denúncias na mídia, cartas a ONU, aos Conselhos Nacionais e demais instituições, o que provocou o diálogo entre os atores da rede intersetorial na tentativa de alcançar solução para o problema. Considerações finais: As histórias descritas evidenciam a presença de um discurso hegemônico que atua por meio da lógica neoliberal sobre essas vidas consideradas indignas ou de menor importância e que não alcançam a dimensão das práticas de coletividade, mas que para enfrentá-lo necessita que o desvendemos por meio da sua explicitação e abertura de visibilidades. A judicialização do empobrecimento demonstra o quanto o Estado age de forma contraditória, pois julga as mães como negligentes, muitas vezes como justificativa para manutenção das crianças nas instituições de acolhimento, o que além de não ser uma exigência legal para essa permanência, é claramente uma estratégia genocida e etnocida, pois desconsidera o modo de ser tradicional dos povos indígenas, sua cultura, tradições e costumes distintos. Além disso, não oferta condições dignas de subsistência para as pessoas, fomentando mais desigualdades e exclusão. Os povos indígenas Guarani e Kaiowá sofrem com a recusa de demarcação de seus territórios sagrados, o confinamento em reservas ea ausência de políticas públicas que atuem nos determinantes sociais. Dessa forma, a demarcação de seus tekohas (os locais que tradicionalmente sempre ocuparam e onde se encontram suas riquezas naturais) e a garantia dos seus direitos constitucionais são urgentes e extremamente necessários para impedir as separações das crianças de suas comunidades, bem como para a preservação  de sua etnia e do seu bem viver. Além disso é primordial que haja a efetivação de políticas públicas de obrigação do Estado, para o acesso e cuidado de forma diferenciada para essa e demais populações  indígenas.  

10682 POPULAÇÃO EM SITUAÇÃO DE RUA E RELAÇÃO COM O CAPS AD
Bruna Fernanda Medeiros de Oliveira

POPULAÇÃO EM SITUAÇÃO DE RUA E RELAÇÃO COM O CAPS AD

Autores: Bruna Fernanda Medeiros de Oliveira

Apresentação: O presente trabalho pretende situar e apresentar um dos eixos de análise produzido ao longo de pesquisa-intervenção que foi realizada acerca do uso de drogas pela População em Situação de Rua (PSR) de Natal/RN e seus itinerários de cuidado. A partir dos dados obtidos foi possível observar como recorrente em seus itinerários a passagem pelo Centro de Atenção Psicossocial Álcool e outras Drogas III (CAPS AD III), dispositivo da Rede de Atenção Psicossocial, e barreiras na vinculação destes com o dispositivo. Desenvolvimento: A pesquisa realizada fundamenta-se na perspectiva da pesquisa-intervenção, que critica a ideia de uma neutralidade científica, e busca aproximar a atividade da pesquisa da realidade social onde a interferência mútua entre sujeito e objeto é condição para que a pesquisa aconteça. Tal perspectiva sustenta nosso método que se utilizou da articulação com o Movimento Nacional da Pop-Rua para se inserir em ambientes de concentração dessa população, desenvolvendo atividades interventivas por intermédio de projetos de extensão. Daí pudemos realizar entrevistas semi estruturadas sobre o uso de drogas e os cuidados em saúde desses sujeitos, bem como acompanhá-los em seus itinerários. Tais ferramentas, entrevista e acompanhamento de suas itinerâncias, produziram narrativas e diários de campo que nos possibilitaram a identificação da rede de apoio dos participantes da pesquisa. Resultado: A partir dos itinerários traçados foi comum a todos os participantes o conhecimento sobre o CAPS AD III, tendo alguns já realizado tratamento no serviço. Dos 6 participantes da pesquisa 3 já haviam acessado o dispositivo para tratamento relativo ao uso de álcool e/ou drogas. Destes, todos desistiram do tratamento e apontaram diferentes questões para isso, sendo mais recorrente a queixa em relação aos efeitos colaterais “ruins” do tratamento medicamentoso. Ainda sobre esse aspecto, é interessante apontar que aqueles que não chegaram a acessar o dispositivo alegavam que não o faziam devido ao relato de conhecidos sobre experiências ruins com o tratamento. Segundo estes, as pessoas que frequentavam o CAPS AD ficavam “sem noção do que acontecia à sua volta” e desse modo não gostariam de ficar “mongol” ou “trocar uma droga pela outra”. Das outras limitações verificadas na efetividade do cuidado ofertado pelo dispositivo, apontou-se dificuldades em relação ao regime de abstinência, forte receio de medicalização e desrespeito quanto às particularidades de cada usuário. Considerações finais: Tais resultados nos levam a crer que tal questão merece espaço para discussão no que tange ao cuidado em saúde da PSR pois a política nacional voltada a esta população assegura que à mesma deve ser garantida atenção integral à saúde, bem como a adequação das práticas e serviços existentes à sua realidade. Tais ações devem ser pautadas dentro do Sistema Único de Saúde (SUS) com dispositivos de cuidado interdisciplinares e multiprofissionais. Infelizmente, esses dispositivos apresentam limitações de diversas ordens, que acaba por fragilizar a oferta de cuidado à PSR, notadamente no que diz respeito ao alcance dessa população e a adequação e oferta de serviços e terapêuticas que correspondam às suas demandas.

12300 PRÁTICAS DE CUIDADOS DESENVOLVIDAS PELAS DAS MÃES SOCIAIS AS FAMÍLIAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
Maria Vanusa Rosendo Rodrigues, Larisse Araújo de Sousa, Nadja Rinelle Oliveira de Almeida, Francisco Ricardo Miranda Pinto

PRÁTICAS DE CUIDADOS DESENVOLVIDAS PELAS DAS MÃES SOCIAIS AS FAMÍLIAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE

Autores: Maria Vanusa Rosendo Rodrigues, Larisse Araújo de Sousa, Nadja Rinelle Oliveira de Almeida, Francisco Ricardo Miranda Pinto

Apresentação: Trata de identificar as práticas das mães sociais desenvolvidas como estratégia de cuidados da Assistência Social e do Serviço da Atenção Primária de Saúde da Rede Municipal de Sobral-CE. As mães sociais são mulheres oriundas da própria comunidade que assumem o compromisso de desvelar cuidados primariamente a puérperas primíparas que ainda não tem o princípio da maternagem desenvolvida ou está em situação de cuidado especial por diversos motivos. Seu papel é reconhecida por força da Lei 7644/1987. O objetivo é compreender sobre as práticas de cuidado desenvolvidas pelas mães sociais na perspectiva do cuidado a famílias em situação de vulnerabilidade social. Desenvolvimento: O estudo é do tipo descritivo-exploratório com abordagem qualitativa, realizado na cidade de Sobral, na Região Norte do Estado do Ceará. Sobral é um município da Região Nordeste brasileiro, com um espaço territorial urbano composto por 36 bairros e 14 distritos na zona rural. Tem hoje, segundo estimativa censitária do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística uma população de 208.935 habitantes. O período de desenvolvimento do estudo foi de setembro de 2019 a janeiro de 2020 em um dos programas que funcionam dentro da Atenção Primária da Secretaria da Saúde daquela cidade. Os participantes foram 5 mães sociais que participaram voluntariamente. Atendeu-se como critério de inclusão na pesquisa estar atuando a pelo menos dois anos no Programa Mãe Social e como critério de exclusão o desligamento voluntário ou institucional ao longo da pesquisa. Para a coleta dos dados utilizou-se a técnica de Entrevista Semiestruturada em profundidade a partir de uma pergunta disparadora ‘O que é ser mãe social’ acompanhado de um roteiro básico contendo cinco questões subjetivas. Após a escuta das participantes os dados foram tratados seguindo os preceitos da Análise de Discurso Temático-Categorial. Apresenta-se o perfil das mães sociais e a primeira categoria identificada Ser mãe social: maternagem e maternidade. Respeitou-se os princípios éticos da Resolução 510/2016 quanto ao sigilo da identidade das participantes assim como da instituição no que concerne os princípios éticos da Resolução 580/2018.  Resultado: As participantes têm idade de 28 anos, 42 anos, 43 anos (duas) e 56 anos, respectivamente. O tempo de trabalho como mãe social é de 2 anos, 3 anos, 5 anos (duas) e 18 anos. Quanto a escolaridade, variam entre Ensino Fundamental Incompleto, Ensino Médio Incompleto e Médio Completo. À apresentação da pergunta, emergiram importantes palavras que podem aqui serem considerados como núcleos de sentidos: o ser mãe, a satisfação, o cuidado onde cada mãe social precisa ter a partir do paciente do serviço que ela acompanha seja gestante, puérpera, nutriz ou criança. As mães sociais Apresentam diferentes concepções sobre o ser mãe social tais como estar a disposição para ajudar, apoiar a futura mamãe, se identificar com o ser mãe, doar amor e carinho, ajudar a primípara que ainda não tem experiência no cuidado com o seu bebê, ou seja, ajudar na maternagem; é prestar o serviço com cuidado, atenção, satisfação e paciência. Reconheça-se na fala das participantes a maternagem no ato do cuidado que é tão primordial no início da maternidade, onde muitas vezes as beneficiárias não têm ainda essa experiência com os seus recém nascidos. A maternagem passa a ser extremamente valorizada e os cuidados relativos a essa atividade passam a ser exclusivos da mãe. Ela é quem deve cuidar e amamentar os filhos, porém algumas mães por força da inexperiência precisam de apoio. Esse apoio se dá a partir das mães sociais, que são mulheres da sociedade civil que foram treinadas e capacitadas para exercer e ensinar a maternagem com bastante eficácia. Assim, a mãe social ajuda a puérpera no momento de fragilidade, passando-lhe segurança e condições para que depois ela possa executar com êxito a sua maternagem. O acompanhamento da mãe social é bastante importante, pois além de ajudar a proporcionar esse vínculo mãe e filho, permeando o contato do binômio mãe-filho, também da autonomia para essa mulher decidir como identificar as necessidades da criança. Na verdade, os cuidados estão para além do acompanhamento no domicílio das primíparas-puérperas. Em casos de internamentos, a mãe social acompanha a puérpera no manuseio do bebê, uma vez que a mãe está fragilizada e em alguns casos não sabem nem como pegar, amamentar e cuidar do seu recém nascido. No domicílio o acompanhamento é feito de acordo com a necessidade, caso a paciente seja gestante ou puérpera e esteja de repouso extremo, a mãe social passa a fazer seus afazeres domésticos e fica cuidando da gestante ou puérpera nos cuidados em geral e/ou com o bebê, ou seja, faz o que a mãe não pode fazer naquele momento. Destaque-se que aquelas mães sociais são devidamente orientadas passando por processos de formação mensal contemplando diversas e diferentes temáticas que geralmente são indicadas pelas próprias mães sociais e desta forma conseguem ensinar o que aprendem para sua beneficiária. A maternagem das mães sociais transcende, também, o acompanhamento domiciliar ou hospitalar, ocorre com a condução das crianças à escolas, e até mesmo a prática de atividades de lazer e entretenimento com as mães utilizando-se de brincadeiras, pinturas em folhas de papel, ou seja, fazendo o que a mãe dessas crianças não pode fazer por motivo de fragilidade. As crianças acompanhadas se vinculam as mães sociais facilidade, mas estas últimas são conscientes que  não podem interromper a rotina da família, pois dependendo do caso ela pode ficar entre 7 (sete) a 15 (quinze) dias, tempo suficiente para a puérpera começar a assumir o seu papel no anseio familiar. Alguns casos a parte, genitoras acompanhadas tem resistência de vincular com as mães sociais por acharem que as mesmas podem julgar o modo como ela cuida tanto dos filhos como da casa. Em geral as famílias acompanhadas criam vínculos afetivos. O lado materno e a maternagem dessas mulheres fala mais alto ao ponto de elas considerarem que ser mãe social é ser uma mãe de verdade, e que se deve desempenhar esse papel por gostar do que faze e deve se sentir bem. Considerações: Apesar da mãe social ser uma pessoa que não tem nenhum vínculo familiar com a paciente, elas de fato, desempenham um papel muito importante dentro do domicílio ou unidade hospitalar, pois ela passa segurança nesse momento de fragilidade onde muitas vezes, as pacientes são mães pela primeira vez e não possui experiência materna. Mas sempre passando autonomia e ensinando o manuseio correto para com os filhos. A equipe do programa que acompanha o papel dessas mães, formada por enfermeiras, assistentes sociais e psicóloga, buscam desenvolver o reconhecimento da maternagem nas mães sociais para que estas consigam fazer o acompanhamento das famílias em situação de vulnerabilidade seja social ou não. Destaque-se como a educação não formal colabora com uma aprendizagem fora do ambiente escolar, tornando a capacitação mais flexível e vai de acordo com as experiências e conhecimentos diários dessas mulheres, pois se torna muito importante o momento de escuta das considerações e intervenções que as mães sociais tem sobre os temas propostos.