418: Assistência da equipe multidisciplinar à vítima de violência | |
Debatedor: Bianca Dargam Gomes | |
Data: 29/10/2020 Local: Sala 09 - Rodas de Conversa Horário: 16:00 - 18:00 | |
ID | Título do Trabalho/Autores |
10760 | ACESSO A SERVIÇOS DE SAÚDE DA POPULAÇÃO LGBT NO OESTE DO PARÁ Sabrina de Oliveira Gama, Laís Gabrielle Cardoso de Oliveira, Cristiano Gonçalves Morais, Rui Massato Harayama ACESSO A SERVIÇOS DE SAÚDE DA POPULAÇÃO LGBT NO OESTE DO PARÁAutores: Sabrina de Oliveira Gama, Laís Gabrielle Cardoso de Oliveira, Cristiano Gonçalves Morais, Rui Massato Harayama
Apresentação: Historicamente a população LGBT tem dificuldades de usufruir dos serviços de saúde de forma adequada, mesmo no Brasil com o Sistema Único de Saúde e com uma política pública direcionada a esse público alvo, ainda é notável as lacunas que desfavorecem a assistência integral. Portanto o objetivo do presente trabalho é compreender partir do ponto de vista dos sujeitos LGBT, mais especificamente pelas categorias Travesti e Transexual, como essa população lida com seu próprio processo de busca do cuidado em saúde e como compreendem o serviço de saúde ao qual tem acesso, permitindo compreender essas esferas dentro da vivência trans. Desenvolvimento: Trata-se de uma pesquisa de campo, descritiva, transversal, de cunho qualitativo. Realizada de agosto a outubro de 2019, no município de Santarém. Para a coleta de dados foram realizadas entrevistas, utilizando de um instrumento semiestruturado, participaram da pesquisa cinco sujeitos, sendo destes três homens transexuais e duas travestis. Essa pesquisa obedece a resolução nº 466 de 2012 e conta com a aprovação no Comitê de Ética e Pesquisa, sob o parecer nº3.530.916. Resultado: Notou-se que os três homens trans não relataram tratamento discriminatório nos serviços de saúde, o que foi justificado pelos participantes devido a maior facilidade de serem lidos socialmente como homens cisgêneros. O que divergiu na categoria travesti, ao qual relataram atendimento rude por parte dos profissionais de saúde dentro dos serviços, além de estrutura insatisfatória e dificuldade de conseguir procedimentos que atendam às suas necessidades. Considerações finais: Apesar das limitações do grupo amostral desse estudo, foi possível observar a divergência entre as duas vivências e necessidades trazidas pelos participantes. Os discursos mostram como os homens transexuais priorizam um serviço especializado, ao passo que as travestis prezam “somente” por melhorias na atenção básica, o que mostra como outros fatores sociais interferem diretamente no contexto de saúde e nas pautas vistas como principais para grupos diferentes. Dessa forma, conhecer a realidade da população transexual e travesti se mostrou de grande valor, tendo em vista que permite visualização concreta de diversos eixos que perpassam sua vivência, o que possibilita compreender e relacionar tais eixos com o modo de vida adotado. |
10761 | ITINERÁRIO TERAPÊUTICO DE TRAVESTIS EM VITÓRIA DA CONQUISTA, BAHIA Manoella Alves Carneiro Chagas, Kleber Soares Rocha, kueyla de Andrade Bitencourt, Adriano Maia dos Santos ITINERÁRIO TERAPÊUTICO DE TRAVESTIS EM VITÓRIA DA CONQUISTA, BAHIAAutores: Manoella Alves Carneiro Chagas, Kleber Soares Rocha, kueyla de Andrade Bitencourt, Adriano Maia dos Santos
Apresentação: Trata-se de um trabalho de pesquisa, relacionado ao Trabalho de Conclusão de Curso, vinculado ao projeto “Itinerário terapêutico de pessoas transgênero na busca por cuidados em saúde”, apoiado pelo Programa Permanecer, da Universidade Federal da Bahia – Instituto Multidisciplinar em Saúde – Campus Anísio Teixeira (UFBA-IMS-CAT). O projeto de pesquisa, iniciado em junho de 2018, possui uma abordagem qualitativa, cujo objetivo geral foi analisar o itinerário terapêutico de travestis em Vitória da Conquista, Bahia. Desenvolvimento: A população do estudo foi constituída por pessoas que se reconhecem ou já se reconheceram como travesti em sua encruzilhada identitária, que residem no município de Vitória da Conquista. As interlocutoras participaram voluntariamente do estudo, assinando o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). O método de eleição dos sujeitos foi por meio da técnica bola de neve ou “snowball”. Para a coleta de dados foi elaborado um roteiro de entrevista semiestruturada. As entrevistas foram gravadas e posteriormente transcritas. A identidade das participantes foram mantidas em sigilo, utilizando suas falas através de códigos. Para análise dos dados, foi utilizada a técnica de análise de conteúdo na modalidade temática. Entrevistou-se entre os períodos de fevereiro à maio de 2019 quatro travestis e uma mulher trans. Esta, por sua vez, já havia se reconhecido com a identidade de gênero em questão. Houveram dificuldades no acesso às travestis, devido à sua posição de marginalidade não só na comunidade cisgênera e heteronormativa, mas dentro da própria comunidade LGBTTI+ (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais, Intersexuais e o sinal de mais “ + ” é usado em respeito a todos os grupos que estão juntos na causa). Durante as entrevistas as interlocutoras eram questionadas sobre os significados de ser travesti, os processos de modificações corporais, experiência de discriminação e preconceito nos serviços de saúde e os itinerários nos serviços púbicos/privados e formais/informais na busca por cuidado em saúde. Resultado: cada uma das interlocutoras tinha diferentes vivências e significados de ser travesti e do motivo de tal reconhecimento identitário, porém existia pontos de convergência entre suas falas como a inconformidade/incongruência com o gênero ao qual foi lhe atribuído ao nascimento. Em relação aos serviços de saúde informais, as bombadeiras e a religião, principalmente a de matriz africana (candomblé), foram os itinerários mais citados. Sobre os serviços formais de saúde, percebe-se um distanciamento da população em estudo, tendo como principal referência o Centro de Acolhimento e Apoio à Vida (CAAV) do município, para as mais variadas demandas. É interessante destacar que a não utilização do nome social pelos profissionais de saúde, é o principal motivo pelo qual elas se distanciam dos serviços de saúde. Considerações finais: Percebe-se nos relatos das travestis que, dentre outros fatores, existe uma falha no acolhimento da população transgênero, mais especificadamente das travestis, que há um maior processo de marginalização social e estigmatização de suas identidades. Além disso, os profissionais de saúde não se atentam/desconhecem/resistem a prestar assistências às suas demandas comuns e específicas, contribuindo para o afastamento dos serviços de saúde, invisibilização de sua identidade e consequentemente de suas necessidades. |
10839 | EDUCAÇÃO EM SAÚDE PARA PROFISSIONAIS DO SEXO: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA Jéssyca Alana Oliveira Pereira, Anne Caroline Ferreira de Freitas, Marina Gomes Fagundes, Alexsandra Layani Alexsandra Layani Faustino de Andrade, Jéssica Ingrid De Araújo Gomes, Anderson Barbosa de Araújo EDUCAÇÃO EM SAÚDE PARA PROFISSIONAIS DO SEXO: UM RELATO DE EXPERIÊNCIAAutores: Jéssyca Alana Oliveira Pereira, Anne Caroline Ferreira de Freitas, Marina Gomes Fagundes, Alexsandra Layani Alexsandra Layani Faustino de Andrade, Jéssica Ingrid De Araújo Gomes, Anderson Barbosa de Araújo
Apresentação: O Outubro Rosa é uma campanha que acontece anualmente com a finalidade de conscientizar a população sobre a importância dos cuidados relacionadas a saúde da mulher. Essa campanha busca alcançar toda a população, inclusive incluir o público que geralmente não tem acesso aos serviços de saúde. Nesse contexto, foi realizado ações de educação em saúde para as profissionais de sexo com o intuito de acolher e conhecer as demandas dessa população e fortalecer o cuidado através da educação em saúde. O presente trabalho tem como objetivo relatar a experiência em educação em saúde para profissionais do sexo realizada pelas residentes em saúde coletiva em dois prostíbulos no município de Cajazeiras-PB em alusão ao Outubro Rosa. A ação foi dividida em dois momentos. Primeiro procurou-se acolher as demandas especificas dessa população, conhece-las e entender quais eram os temas pertinentes a serem trabalhados, tendo em vista que muitas vezes os profissionais da saúde realizam ações com uma demanda pronta que não coincide com a realidade da população. Ambos os prostíbulos trouxeram a necessidade de explanação sobre doenças sexualmente transmissíveis e métodos contraceptivos. No segundo encontro foi feito uma roda de conversa realizada pelas residentes em saúde coletiva juntamente com apoio institucional e regional, onde falamos sobre doenças sexualmente transmissíveis, uso de preservativo feminino e masculino, sobre quais serviços de saúde se pode procurar em casos de prevenção, mas também onde procurar o tratamento em casos já diagnosticados. Paralelo a isso, falou-se sobre autoestima através de uma dinâmica, onde pudemos compreender um pouco mais sobre suas histórias de vida, sobre suas famílias, violências sofridas e estigma. Além das demandas previamente trazidas, surgiram outras dúvidas. Também foi retratado o uso de álcool e drogas, bem como a forma pela qual seu uso pode causar menos danos através de ações simples. Posteriormente, foram realizados testes rápidos de HIV e Hepatites B, entregando ao final um laudo correspondendo ao resultado e encaminhamentos quando necessários. Essa ação demonstrou a importância de antes de realizar educação em saúde, conhecer a população, ouvir o que eles têm a dizer e sobre o que é relevante para eles, escutar o outro e procurar facilitar uma aprendizagem significativa. Além disso, critica-se o modelo campanhista em que as ações de saúde ainda são pontuais e acontecem em determinadas épocas do ano, sendo prejudicado o cuidado longitudinal. Essa intervenção teve como finalidade dar voz a profissionais que são historicamente excluídas pelo sistema de saúde, compreender suas histórias de vida deixando de lado os estigmas e levar a elas o cuidado e educação em saúde. |
10842 | DESAFIOS DE ACESSO AOS SERVIÇOS DE SAÚDE PELA POPULAÇÃO RIBEIRINHA NO AMAZONAS Kerolaine Da Cruz Rodrigues, Miguel Reis Caldeira, Maria Eliza Caldas dos Santos, Larissa Rachel Príncipe Azevedo, Brenner Kassio Ferreira de Oliveira DESAFIOS DE ACESSO AOS SERVIÇOS DE SAÚDE PELA POPULAÇÃO RIBEIRINHA NO AMAZONASAutores: Kerolaine Da Cruz Rodrigues, Miguel Reis Caldeira, Maria Eliza Caldas dos Santos, Larissa Rachel Príncipe Azevedo, Brenner Kassio Ferreira de Oliveira
Apresentação: O Estado do Amazonas é reconhecido por sua vasta diversidade, suas múltiplas e dispersas comunidades e acesso rodoviário ineficaz ou inexistente, apresentando o rio muitas vezes como única via de acesso. O municípios de Coari, localizado no interior do estado e a 243 km da capital Manaus, possui 84.762 habitantes e abrange mais de 200 comunidades ribeirinhas, que possuem diversos fatores limitantes à utilização do serviço de saúde. Esse trabalho tem como objetivo propor uma reflexão sobre as dificuldades encontradas pelos ribeirinhos nesse cenário na visão de acadêmicos de um curso de Medicina que lida diariamente com essa população em suas práticas curriculares em Unidades Básicas de Saúde do município de Coari. Desenvolvimento: A Constituição Federal de 1988 prevê no artigo 196 que a saúde é um direito de todos e um dever do Estado, porém isto não é uma realidade para todos os brasileiros, sobretudo para ribeirinhos. Um dos desafios encontrados é o meio de transporte dessa população ao município, uma vez que ficam vulneráveis aos períodos de cheia e vazante do rio, sofrendo pela ausência de uma via de acesso mais estável. Além disso, há comunidades muito distantes que despendem horas ou dias para chegarem até a cidade, o que pode ser um fator crucial nos casos de urgência e emergência. Cabe ressaltar também que esse processo de saúde pode demorar dias e que estas pessoas necessitam de suporte financeiro para se manterem no município durante esse período, já que são famílias que sobrevivem da agricultura e da pesca e muitas vezes não têm recursos suficientes para isso. Além do mais, a medicina alternativa faz parte da cultura e é amplamente acessível aos amazonenses, o que desestimula a procura por profissionais da saúde. Uma forma de enfrentamento criado para lidar com esse déficit na assistência foram as Unidades Básicas de Saúde fluviais, entretanto, essas também sofrem com a instabilidade do rio, principalmente com a vazante. Ademais, os municípios do Amazonas contam com apenas com uma unidade fluvial ou não possuem este tipo de assistência, o que é insuficiente para atender a demanda de todas as comunidades. Resultado: Os impactos percebidos frente às adversidades descritas são: maior vulnerabilidade às doenças que poderiam ser facilmente tratadas e prevenidas, ausência de suporte a um doente crítico ou indivíduos que necessitam de algum acompanhamento específico, como gestantes. Considerações finais: Deste modo, conclui-se que a população ribeirinha enfrenta desafios no acesso ao atendimento profissional, como vencer as dificuldades que rio oferece. Seria importante uma maior oferta de serviços de atendimento móvel por via fluvial, tornando a medicina tradicional tão acessível quanto à alternativa, potencializando a saúde ribeirinha. |
10869 | CUIDADO ÀS MULHERES VÍTIMAS DE VIOLÊNCIAS E VULNERABILIDADES: ECOS DAS REDES DE OUTRORA SOBRE OS DESAFIOS E APROFUNDAMENTO DE INEQUIDADES DO AGORA Márcio Mariath Belloc, Karol Veiga Cabral, Carla Leão, Christina de Salles Junchem CUIDADO ÀS MULHERES VÍTIMAS DE VIOLÊNCIAS E VULNERABILIDADES: ECOS DAS REDES DE OUTRORA SOBRE OS DESAFIOS E APROFUNDAMENTO DE INEQUIDADES DO AGORAAutores: Márcio Mariath Belloc, Karol Veiga Cabral, Carla Leão, Christina de Salles Junchem
Apresentação: O presente trabalho discute o aumento da vulnerabilização da população na esteira da redução das redes de cuidado e proteção, com a precarização de recursos de financiamento das políticas sociais, na aplicação de um modelo econômico neoliberal, que se fortalece em um discurso explícito de ódio e autorização da violência. Neste sentido, pessoas em situação de vulnerabilidade extrema, as quais o estado brasileiro já tinha dificuldade de cuidar e proteger, padecem da retração das redes, multiplicando a violência e provocando desaparecimento político. Um desaparecimento político que se dá no estreitamento das possibilidades de cidadania. Um desaparecimento que já não precisa dos porões das ditaduras latinoamericana ou dos voos da morte, pois se produz como efeito direto de um estado de exceção, de políticas anti-sociais. Neste sentido, tomamos os dados da experiência do Projeto Redes na cidade de Porto Alegre em 2017, como ponto de partida para uma reflexão sobre o estado atual das políticas públicas para o cuidado e proteção das mulheres vítimas de violências e vulnerabilidades, comparando as produções e desafios de três anos atrás à realidade das redes atuais. Sendo assim, visa revisitar os resultados encontrados na época frente às múltiplas formas de violências experimentadas pelas mulheres e a atual conjuntura, que, por exemplo, impôs um congelamento dos recursos para saúde e educação pelos próximos 20 anos, fragmentando ainda mais as rede de cuidado, educação e proteção, aumentando a desassistência de uma rede já bastante precarizada. Na época propusemos como metodologia a escuta dos territórios a partir das visitas e da discursiva apresentada pelos trabalhadores que foram nos direcionando para novos pontos destas redes, que foram complementando o diagnóstico e apresentando uma rede que, ainda que com dificuldades, em especial pela falta de serviços, tem um grupo de trabalhadores altamente comprometidos com o cuidado e a atenção dispensada aos usuários. Trabalhamos com o conceito de território existencial. Isso significa dizer que ainda que tenhamos plena consciência de que a noção de território tem uma dimensão geográfica utilizada pelos serviços de saúde para delimitar áreas de abrangência sanitárias. Entendemos que é preciso agregar a este desenho a dimensão que considera as relações sociais e as dinâmicas de poder que os grupos e pessoas estabelecem entre si. Como os territórios são vivos e se movimentam, apresentando novas configurações possíveis, novas possibilidades, dependendo das relações estabelecidas por um sujeito ou por um grupo, é preciso levar em conta também a subjetividade dos trabalhadores que cuidam e não apenas dos usuários que são cuidados, bem como dos espaços constituídos no encontro entre estes atores, por sua vez atravessados pelas dificuldades e potencialidades de constituição das políticas públicas. Nesta perspectiva, percorremos um território visível e geograficamente demarcado e adentramos nos territórios existenciais daqueles com quem dialogamos ao longo deste trabalho. A partir dessas mulheres recolhemos pistas para entender as dinâmicas relacionais presentes em cada território e propomos com elas intervenções capazes de atender suas demandas. A circulação gerada nessa construção fez com que outras vozes entrassem nesta história para relatar o vivido. A fala das mulheres e homens que acessam o que sobrou dessa rede, as vozes desde o que resta dos pontos de cuidado e produção de cidadania constituídos, revelam-nos um diagnóstico situacional importante do aprofundamento das inequidades e das violências. O que antes se constituía como um farol para as equipes e para a gestão, na perspectiva de ofertar um cuidado mais integral, com equidade e universalidade de acesso, hoje nos mostra as sombras do estado de exceção sobre os corpos e vidas, ao som do réquiem de suas possibilidades políticas, de sua cidadania. São falas duras, que guardam a violência do sofrido, seja na relação com o companheiro, seja na falta de assistência gerada pelo estado ou mesmo em nas práticas moralistas, na dobra micropolítica de produção e legitimação do estado de exceção. Escutar estas vozes, dar espaço de fala e tomar o seu saber como analisadores do processo nos parece fundamental. Em nossas práticas cotidianas podemos ser facilmente capturados pelo discurso hegemônico vigente, o da biomedicina, sintônico ao estado de exceção do capitalismo contemporâneo. Um modelo que reduz a possibilidade dos sujeitos enunciarem e fazerem comparecer os saberes da própria experiência de padecimento. Um dos detalhes micropolíticos possíveis de ser observados nos serviços atualmente, nesse fortalecimento do estado de exceção neoliberal, é a falta real de um espaço-tempo para a palavra, tanto de quem cuida quanto de quem é cuidado. Na relação entre trabalhador e usuário, seja na atenção primária, seja no campo das especialidades, parece não haver mais espaço para os saberes relacionais, para as tecnologias leves. A primazia da consulta e prescrição não promove o espaço para aprofundar a aprendizagem um do outro. Um modelo que não leva em consideração o tempo de aberturas afetivas e cognitivas, está condicionado pelo tempo objetivo da consulta e a reificação diagnóstica e seguir a forma (fôrma) médico/paciente do modelo biomédico hegemônico. Uma hegemonia que nega o papel do sujeito e das condições sociais nas quais ele vive, tentando impor um olhar médico supostamente autônomo, profissional, neutro e científico. Tal modelo tem como características estruturais o biologicismo, o individualismo, a negação da história e da sociabilidade, uma proposta mercantilista e uma suposta eficácia pragmática. Tal modelo cumpre quatro funções básicas, sendo a primeira e mais importante a de suposta cura e prevenção biológica, que de certo modo determina as seguintes, já que todas as outras funções devem operar a partir desta: a normalização, o controle e a legitimização. No avesso desse modelo promovido macro e micropoliticamente, seria imprescindível o resgate do espaço para a palavra e para um efetivo encontro com o outro em sua alteridade, pois somente com esse tempo poderemos colocar nossas percepções a serviço dessa relação. Assim podemos aprender na experiência da troca com o outro que nos interpela e que também é interpelado. Produzir saúde em um encontro no qual o saber experto tenha tanto valor quanto o saber constituído a partir da experiência do padecimento. Além do tempo para a palavra, para o encontro, é preciso tomá-la realmente como um saber produzido em primeira pessoa por quem nos enuncia sua narrativa, sua história. Seria dar importância ao saber do usuário sobre seu próprio processo, as escolhas que fez ao longo da vida, os itinerários que percorreu em busca de ajuda, de uma suposta cura ou solução para o seu problema, tomar os saberes produzidos a partir da experiência do padecimento como parte fundamental do processo de análise das condutas a serem propostas pelas equipes ao usuário. Há época, nossa disputa em campo, na constituição de processos de articulação das redes de cuidado e proteção e acompanhamento dos intinerários das mulheres vítimas de violências e vulnerabilidades, já se estabelecia na constituição de um tempo espaço onde o saber da experiências dessas usuárias compunha em pari passo com as tecnologias e saberes profissionais. Equipes das redes de cuidado e proteção, assim como o movimento social e organizações comunitárias, podiam se articular para diminuir a produção de violência doméstica e estatal. As vozes dos mesmos atores, atualizando essa disputa, demonstram que as políticas de exceção aprofundaram as iniquidades e os expõe a cada vez maiores violências e vulnerabilidades |
10875 | O PAPEL DA ATENÇÃO BÁSICA COMO RECONHECEDORA DAS NECESSIDADES DA POPULAÇÃO E ESPECIFICIDADES DO TERRITÓRIO: RELATO DE EXPERIÊNCIA EM UMA UNIDADE DE SAÚDE DA FAMÍLIA RIBEIRINHA neuza gabriella valle medeiros, Natália Cristina Silva Siqueira, Paula Regina Barbosa de Almeida, Isabela Pantoja da Cruz, Vanessa Khrisllen Pinheiro Ferreira, elisângela da silva ferreira O PAPEL DA ATENÇÃO BÁSICA COMO RECONHECEDORA DAS NECESSIDADES DA POPULAÇÃO E ESPECIFICIDADES DO TERRITÓRIO: RELATO DE EXPERIÊNCIA EM UMA UNIDADE DE SAÚDE DA FAMÍLIA RIBEIRINHAAutores: neuza gabriella valle medeiros, Natália Cristina Silva Siqueira, Paula Regina Barbosa de Almeida, Isabela Pantoja da Cruz, Vanessa Khrisllen Pinheiro Ferreira, elisângela da silva ferreira
Apresentação: Para o adequado funcionamento do SUS, a Atenção Básica articula-se como coordenadora da Rede de Atenção à Saúde (RAS), atuando como principal porta de entrada do sistema e sua ordenadora de fluxo. Para tanto, é necessário que a mesma reconheça as necessidades da sua população e oriente-as em relação aos outros serviços de saúde, contribuindo para a programação e planejamento dos mesmos direcionando às particularidades do território. No contexto das populações ribeirinhas da Amazônia, o deslocamento dos moradores se dá por meio de canoas com motor, denominadas rabetas, que possibilitam o acesso às outras regiões e a Unidade de Saúde da Família(USF). Desenvolvimento: Estudo descritivo, observacional do tipo relato de experiência elaborado no contexto do Programa de capacitação e Saúde à Criança – Estágio Multicampi Saúde 2019/2020, cujo objetivo é a qualificação da formação profissional dos estudantes de graduação da UFPA e profissionais da Atenção Básica de acordo com a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Criança no SUS, a fim de reduzir a mortalidade infantil através da integração ensino e serviço. Foi realizado durante visita a uma USF localizada em uma ilha no Pará, através da escuta e entrevista com os profissionais da USF, bem como reconhecimento da estrutura física e recursos materiais e humanos dos quais dispõe a unidade. Visando o território entremeado por águas, a equipe da unidade desenvolveu até mesmo uma maquete com a representação dos principais rios que cercam a unidade, os Agentes Comunitários de Saúde responsáveis por cada área do território, os pontos de apoio e marcação dos usuários divididos em categorias dos programas, como crianças, gestantes, hipertensos e outros que foram avaliados com maior necessidade de atenção. Sendo este um exemplo de adaptação à realidade local. Resultado: Percebeu-se que, além da programação habitual da USF, há uma grande demanda espontânea de acidentes traumáticos, ofídicos e de mordeduras. No entanto, dentro da Atenção Básica, não há a estrutura adequada para o suporte e intervenções necessárias à devida resolutividade. Nesse sentido, resta apenas a realização do primeiro atendimento e encaminhamento à Unidade de Pronto Atendimento (UPA). Porém observou-se que o transporte fluvial não é prontamente disponível, e, por vezes, o tempo hábil e padrão ouro não é atingido devido à distância. Faz-se necessária então a construção de uma UPA na localidade das ilhas ou ainda a disponibilização do serviço de Ambulancha (serviço de “ambulância” fluvial) para efetuar os devidos primeiros socorros e estabilização de potenciais quadros graves, bem como de profissionais qualificados para tanto. Considerações finais: O planejamento ascendente depende essencialmente do papel da Atenção Básica enquanto ordenadora da RAS. Desse modo, foi possível observar o quanto a proximidade da população em relação à Estratégia Saúde da Família permite um reconhecimento sobre a realidade e as necessidades das populações. A partir disso, é necessário que os outros serviços de saúde se articulem em busca da expansão, qualificação e consolidação da Longitudinalidade do cuidado |
10891 | OS DESAFIOS DA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE NO CUIDADO DA POPULAÇÃO LGBTI Sacha Testoni Lange, Allan Kardec de Lima, Helena Hiemisch Lobo Borba, Tissiane Paula Zem Igeski OS DESAFIOS DA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE NO CUIDADO DA POPULAÇÃO LGBTIAutores: Sacha Testoni Lange, Allan Kardec de Lima, Helena Hiemisch Lobo Borba, Tissiane Paula Zem Igeski
Apresentação: O presente trabalho é um relato de experiência de uma paciente transsexual atendida por uma residente farmacêutica do Programa de Residência Multiprofissional em Saúde da Família da Universidade Federal do Paraná, em duas Unidades Básicas de Saúde (UBS) na cidade de Piraquara - PR. O objetivo é apresentar os desafios encontrados por equipes da Atenção Primária à Saúde no cuidado da população LGBTI. A paciente, sob as iniciais L.Z, 31 anos, mora com seu companheiro e sua mãe, de quem recebe auxílio financeiro, possui ensino fundamental incompleto, desempregada. Deu entrada na UBS com queixas de dores abdominais, sangramento anal e dores ao ter relações sexuais, além de requisição de receitas para retirada de anticoncepcionais orais para tratamento hormonal. A intervenção da farmacêutica se deu após conversa informal com a equipe de saúde onde se constatou a necessidade da profissional. Após a requisição de exames pela enfermeira, foi constatado resultado reagente para sífilis, então, para auxiliar no tratamento à paciente, foi realizada uma consulta compartilhada da enfermeira com a farmacêutica e a paciente, para esclarecimentos quanto à doença e seu tratamento. Por meio desta, foi possível agendar uma consulta com a farmacêutica para a paciente. Neste momento, a paciente discorreu sobre sua história de vida onde relatou inúmeros episódios de agressão física e verbal sofrida por ela, além de episódios de uso de drogas lícitas e ilícitas, além de abandono. A paciente também relatou utilizar anticoncepcionais orais sem prescrição médica há 7 anos e sempre retirou-os na UBS por meio de prescrições fornecidas pelos profissionais de saúde do local. Além disso, devido a episódios de constrangimento sofridos pela paciente por profissionais das UBS, a paciente sempre frequentou mais de uma UBS. Com as informações fornecidas pela paciente, foi possível a construção de um ecomapa e genograma além de orientações à paciente sobre os perigos da utilização de anticoncepcionais para tratamento hormonal sem orientação médica. Dessa forma, foi acordado realizar o encaminhamento da paciente ao Centro de Pesquisa e Atendimento a Travestis e Transsexuais (CPATT) na cidade de Curitiba - PR. Após encaminhamento, foi realizada visita domiciliar para a paciente em conjunto com agente comunitária de saúde (ACS), em que foi constatado que a paciente havia parado a ingestão de anticoncepcionais orais por conta própria e que estava fazendo acompanhamento no centro especializado, o que demonstrou a criação de vínculo entre a paciente e a equipe de saúde. Foi possível constatar a desinformação da equipe de saúde quanto à saúde da população LGBTI, além de atitudes irresponsáveis dos profissionais das UBS ao fornecer medicação sem a devida orientação, e inúmeros episódios de constrangimento gerados pelos profissionais à paciente, levando-a à procurar mais de uma UBS para atendimento, dificultando o estabelecimento de vínculo com as equipes de saúde. Além disso, foi percebida a necessidade de uma equipe multiprofissional no cuidado à população LGBTI, como também o fortalecimento do trabalho em rede na atenção primária à saúde, para ter um cuidado mais integral e humanizado à paciente. |
11068 | CAPS AD NA RUA Mateus Freitas Cunda, Márcia Gonçalves de Brito, Diego da Silva Goularte, Adriana Escandiel, Nicole de Carvalho Barros, Jesse Cardoso CAPS AD NA RUAAutores: Mateus Freitas Cunda, Márcia Gonçalves de Brito, Diego da Silva Goularte, Adriana Escandiel, Nicole de Carvalho Barros, Jesse Cardoso
Apresentação: Conforme o último censo sobre a população em situação de rua de Porto Alegre (2016), existe pelo menos 2115 pessoas nessa condição na cidade. Segundo a Fundação de Assistência Social e Cidadania, executora da política de Assistência Social na cidade, esse número pode passar de quatro mil pessoas, considerando dados de atendimento dos serviços divulgados em 2018. Dentre um dos pontos analisados pela pesquisa qualitativa que derivou do censo, o acesso aos serviços de saúde por parte desse público é restrito pela falta de acolhimento adequado, sendo presente as situações de preconceito, rechaça, aversão, seja pela condição da pessoa, pela raça, pelo uso de substâncias psicoativas, pelo estado mental ou qualquer outro tipo de característica que esteja ligada à vida na rua. Conforme o mesmo senso, 58% das pessoas reconheciam problemas de saúde relacionados ao uso de álcool e outras drogas, cerca de 36% reconheceram outros problemas de saúde mental. O CAPS AD Glória, Cruzeiro, Cristal atual desde 2008 numa região de grande vulnerabilidade da cidade, somando mais 135 mil moradores, conforme dados do IBGE de onde há, conforme dados do IBGE, 15% de famílias que vivem na pobreza e 3,5% de famílias que vivem na miséria. A demanda de atendimento que chega ao CAPS decorre principalmente dessa faixa populacional, moradores de habitações precárias ou sub-habitações. As pessoas em situação de rua pouco acessam o serviço. Além dos fatores já identificados acima pela própria população de rua, a dificuldade de acesso ou adesão ao tratamento no CAPS AD GCC é avaliada pela equipe do CAPS no modo de atenção muitas vez sustentado pela marcação de consultas, pelo modelo de atenção diária, pela exigência de frequência regular aos atendimentos. A partir da consolidação do Fórum Mais Dignidade na região Glória-Cruzeiro-Cristal, instaurado a partir do Projeto de Inserção Social vinculado à SENAD, se estabeleceu uma discussão no território para a qualificação do atendimento à população em situação de rua e da articulação entre os serviços da região. Nesses encontros, estão presentes os serviços de Atenção Primária em Saúde (APS), o Centro de Referência para Tuberculose (CRTB), referências de gestão da Fundação de Assistência Social e Cidadania (FASC) e da Secretaria Municipal da Saúde (SMS), trabalhadores do Serviço de Abordagem Social (chamado “Ação Rua”), ligado ao Centro de Referência Especializado de Assistência Social (CREAS), além do CAPS AD GCC. Alguns acompanhamentos foram originados dessas discussões, sendo realizadas buscas ativas com a parceria entre o Serviço de Abordagem Social, APS e CAPS AD. Desenvolvimento: Com base nas experiências de campo nas ruas da região, iniciamos a intervenção que se chama “CAPS na rua”, considerando a especificidade do CAPS AD (que é diferente do Consultório na Rua e do Serviço de Abordagem Social), sua interface com o território, limites e possibilidades de atuação. O público alvo foram as pessoas em situação de rua que foram acolhidas no CAPS AD e que apresentam dificuldades para manter acompanhamento; pessoas em situação de rua com uso problemático de álcool e outras drogas identificadas pelas Unidades de Saúde que desejam, mas não efetivam um ingresso em tratamento AD; pessoas em situação de rua com uso problemático de álcool e outras drogas identificadas pelas equipes de Ação Rua que desejam, mas não efetivam um ingresso em tratamento AD. A metodologia prevê a realização de busca ativa em conjunto com agente comunitário de saúde do território de abrangência da pessoa a ser atendida ou equipe de Abordagem Social. Em 2019, a frequência foi quinzenal, obedecendo a uma territorialidade planejada junto às equipes de Abordagem Social, a saber, Cristal, Medianeira, Glória, Cruzeiro, cumprindo a frequência do trabalho bimensal em cada território. No campo, o objetivo foi realizar o atendimento à pessoa em situação de rua, buscando a aproximação para a construção de um plano de atenção que não necessariamente seja executado no CAPS, mas em articulação com os demais serviços envolvidos, em especial as Unidades de Saúde. O resultado mais eficaz se deu, considerando a experiência de 2019, na articulação junto às equipes de Abordagem Social do CREAS, tanto pela busca posterior das pessoas atendidas na rua, quanto pela manutenção do contato na rua através dos atendimentos programados em conjunto. Além do atendimento e dos encaminhamentos necessários, buscamos junto ao público atendido a sensibilização para o cuidado, através de conversas sobre cuidados básicos em saúde, distribuição de material informativo do CAPS e sobre os serviços disponíveis para esse público na cidade. Resultado: Logo, percebemos que havia entre os territórios diferenças importantes. Sendo a Medianeira um bairro com características semelhantes ao do centro da cidade; o bairro Cristal, marcado pela proximidade com o lago Guaíba, acolhe grupos de pessoas na orla coberta por uma vegetação ainda preservada, sendo comum serem encontradas famílias e casais; o bairro Glória com características por vezes rurais, onde a pessoa em situação de rua possui uma rede comunitária bastante consolidada e o bairro Cruzeiro, ou Vila Cruzeiro, como território mais populoso e de maior vulnerabilidade da região, marcado por uma luta comunitária, pela venda de drogas e disputas - por vezes violenta – desse mercado. Em especial, na Cruzeiro, identificamos muitas cenas de uso de substâncias psicoativas e, através da escuta, temos tido um aprendizado sobre os modos de uso e as formas de cuidado já inventadas pelos usuários. Avaliamos que será preciso avançar nesse território com técnicas clássicas da redução de danos, seja para administração de situações de overdoses, seja para diminuição dos efeitos do uso, em especial do crack, feita muitas vezes em materiais inadequados. Além das questões referentes ao uso problemático de álcool e outras drogas, identificamos situações de violência contra a mulher, de violência policial, bem como encontramos pessoas ameaçadas de morte, fugidas de bairros distantes dali. Frente a tal complexidade, foram necessárias articulações que transpõem o âmbito do CAPS AD. Considerações finais: Enfim, em 2020 conseguimos efetivar um planejamento para o “CAPS na Rua” com frequência semanal. Para tal, haverá o envolvimento de mais trabalhadores do CAPS AD, sendo a equipe rueira composta por psicólogo, técnicos de enfermagem, monitores, residentes e estagiários, com a previsão dos envolvidos na escala semanal do CAPS. Consideramos, ainda, que precisa ser fortalecido o trabalho junto às equipes de APS, visto que, seja pelas rotinas já consolidadas ou pelos estigmas identificados pelos próprios habitantes da rua, não são permeáveis às vivências da rua. No ano de 2019, a relação com a APS foi ainda prejudicada pelo momento de desestruturação e reestruturação da política de atenção básica na cidade. |
11130 | EXPERIÊNCIAS INOVADORAS NA EXECUÇÃO DA PROMOÇÃO E ASSISTÊNCIA À SAÚDE EM DIVERSOS CENÁRIOS – CONSULTÓRIO NA RUA NO MUNICÍPIO DE BELÉM: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA Vitória Gabrielle Matos Nascimento, Flavine Evangelista Gonçalves, Izabella Rocha da Costa, Hudson Gonçalves da Costa Filho EXPERIÊNCIAS INOVADORAS NA EXECUÇÃO DA PROMOÇÃO E ASSISTÊNCIA À SAÚDE EM DIVERSOS CENÁRIOS – CONSULTÓRIO NA RUA NO MUNICÍPIO DE BELÉM: UM RELATO DE EXPERIÊNCIAAutores: Vitória Gabrielle Matos Nascimento, Flavine Evangelista Gonçalves, Izabella Rocha da Costa, Hudson Gonçalves da Costa Filho
Apresentação: Pessoas em situação de rua estão sujeitas a diversas vulnerabilidades, desde ausência de abrigo assegurado diariamente até laços familiares fragilizados ou mesmo interrompidos. Nesse sentido, as equipes de cuidados em saúde encontram obstáculos ímpares para o devido acompanhamento dessa população, visto que o tempo na rua é o tempo da sobrevivência: o compromisso de ir a uma unidade em um dia/horário marcado não é simples, o indivíduo não sabe nem se vai se alimentar naquele dia. Ademais, a relação da rede de atenção básica com os serviços assistenciais e de albergamento não é bem estruturada, o que dificulta a formação do cuidado holístico. Assim, o presente trabalho visa demonstrar uma experiência de alunos de cursos da área da saúde – como Medicina e Enfermagem – da Universidade Federal do Pará em um Consultório na Rua (CnaR) do município Belém (PA), apresentando tal vivência como ferramenta singular na formação de futuros profissionais da saúde. O CnaR em questão existe em um prédio próximo ao centro histórico da cidade, no qual os alunos tiveram a oportunidade de participar de uma roda de conversa no auditório do local. Nas proximidades convivem muitas pessoas em situação de rua, o que torna o prédio estratégico para a iniciativa. Na ocasião, com a mediação de um médico especialista em Medicina de Família e Comunidade, três indivíduos em situação de rua que estavam em atendimento no dia aceitaram falar sobre suas vivências, medos e expectativas, responderam a perguntas dos discentes e explanaram sobre seus passados e os caminhos que os levaram à situação de rua. Cantigas populares foram cantadas, expondo aos alunos a importância das manifestações culturais como instrumento de união para os indivíduos. Ao fim, os discentes ficaram livres para expor a significância daquela experiência para sua formação profissional, a qual foi beneficamente impactada. Alguns alunos, inclusive, revelaram ao grupo vivências pessoais com a temática, nas quais algum familiar ou pessoa próxima passou pela situação de rua devido a caminhos da vida, como consumo de substâncias ilícitas. Tais relatos são notáveis, visto que aproxima as realidades em questão – um indivíduo em situação de rua e um discente de instituição acadêmica – e influencia para a construção de práticas em saúde não estigmatizantes. Então, é imprescindível trazer as situações impostas pela vida na rua para a visibilidade dos futuros profissionais da saúde, possibilitando uma melhor construção de vínculo entre os indivíduos e os trabalhadores da rede de atenção básica. Além disso, a desconstrução de práticas estigmatizantes deve ser buscada na atuação dentro da Atenção Básica, para assim possibilitar o almejado cuidado biopsicossocial. |
11186 | PRODUÇÕES DE EXISTÊNCIAS EM ATO PELOS LAGOS E RIOS DE TEFÉ/AMAZONAS: UM TERRITÓRIO LÍQUIDO, POTENTE E INOVADOR PARA A PESQUISA Fabiana Mânica Martins, Maria Adriana Moreira, Josiane De Souza Medeiros, Katia Helena Schweickardt, Julio cesar Schweickardt PRODUÇÕES DE EXISTÊNCIAS EM ATO PELOS LAGOS E RIOS DE TEFÉ/AMAZONAS: UM TERRITÓRIO LÍQUIDO, POTENTE E INOVADOR PARA A PESQUISAAutores: Fabiana Mânica Martins, Maria Adriana Moreira, Josiane De Souza Medeiros, Katia Helena Schweickardt, Julio cesar Schweickardt
Apresentação: O objetivo dessa produção é narra r um a experi ê ncia d as p esquisadoras e dos pesquisa dores que se colocam em processo de descoberta das potências da rede de cuidado à saúde em especial a de Urgência e Emergência no cenário amazônico. Esses encontros se dão por meio da produção de afetos com a realidade da Amazônia: o “ território líquido ” das populações ribeirinhas. O encontro dos pesquisadores e autores deste texto acontecem “ em ato ” junto à Secretaria Municipal d e Saúde (SEMSA) no município de Tefé localizado na região do Médio Rio Solimões Estado do Amazonas. Descrição da Experiência: Estes encontros são banzeiros (movimentos) produzidos a partir da pesquisa denominada “O acesso da população ribeirinha à rede de urgência e emergência no Estado do Amazonas” do Programa de P esquisa em Saúde para o SUS (PPSUS) que tem como objetivo analisar o acesso da população ribeirinha à Rede de Urgência e Emergência (RUE) no Estado do Amazonas tendo em vista o fortalecimento do Sistema Único de Saúde (SUS) através da inclusão e da continuidade dessa população aos serviços de saúde. Entende-se que a s políticas de saúde têm maior eficácia quando estão p róximas da realidade das pessoas e d os modos de vida no território para proporcionar acesso e qualidade na atenção. A referida pesquisa está sendo realizada em duas regiões de saúde, a do Baixo Rio Amazonas e do Médio Rio Solimões. A mesma é coordenada pelo Laboratório de História, Políticas Públicas e Saúde na Amazônia – LAHPSA/Fiocruz Amazônia sendo financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas ( Fapeam ). Além dos pesquisadores, participam da pesquisa alunos de mestrado, doutorado, iniciação científica, usuários do SUS, trabalhadores e gestores da saúde dos 11 municípios envolvidos. As pesquisas realizadas pelo LAHP SA têm buscado pensar, associar e fomentar a construção de políticas públicas a partir das especificidades dos territórios Amazônico que revelam um mosaico entre terra, floresta, água e pessoas, formando uma paisag em humanizada. O LAHPSA tem construído o conhecimento em ato sobre esse mosaico, ou seja, nos encontros e na relação com os diferentes sujeitos e seus modos de vida, valorizando e reconhecendo os saberes das pessoas que agem nestes territórios. Resultado: Os encontros em Tefé são sempre produção de trabalho vivo, pois entendemos que esta pesquisa é um dispositivo de cartograf ar o interior do processo de trabalho como “ o desenho de um mapa aberto”. O que viabiliza múltiplas conexões nos territórios, um espaço que inventividade, criatividade sem barra r o desejo (a potência de existir). Nosso c aminho metodológico são o s encontros c ompreendemos e reconhecemos a partir de nossas vivências nos territórios amazônico, que para pesquisar o acesso da população ribeirinha à rede de urgência e emergência neste complexo território fez-se necessário combinar diversas estratégias de investigação, que possibilitassem o emergir do cuidado em saúde no cotidiano dos trabalhadores de saúde de Tefé. Nesse sentido, a s ações da pesquisa são norteada s pela abordagem qualitativa que nos permitiu explorar os encontros com os trabalhadores de saúde de Tefé por meio da produção de diversas fontes de informações como: mapas de fluxos das pesquisadoras, entrevistas, conversas informais, rodas de conversas, oficinas, visitas a estabelecimentos de saúde, acompanhamento do processo de trabalho em ato, registro fotográfico, narrativas, observações participantes, diário de campo. Ressaltamos que não foi eleita nenhuma fonte de informação como a mais importante ou a principal por considerar a potência de todas elas se combinando. Como pesquisadores in-mundo nossos i nstrumentos são um d iário de inquietações: afetos, encontros, produções, subjetivação, territorialização, desterritorialização. Sobre o d es locamento como alguns pesquisador e s vivem em Manaus, capital do Estado é necessário deslocar até Tefé (AM). Existem três formas de transporte, a jato barco de linha e avião. Em uma das viagens o ptamos pel o percurso dos barco s de linha ou barco recreio como é comumente chamado. O que nos motivou foi o desejo de estar com as pessoas no tempo das águas que não é o tempo cronológico, pois em outros momentos do Projeto em Tefé nos deslocamos de avião, que tem a duração de 50 minutos, o que para nós era muito rápido, esquadrinhado, e não nos permitia o encontro de corpos. Por outro lado, a viagem de recreio tem uma média de 40 horas: saímos do porto de Manaus 16hs de segunda-feira e chegamos em Tefé na manh ã de quarta - feira, por volta das 10 horas da manhã. Dentre as atividades realizadas: oficina de produção de artigos, oficina de produção dos mapas do território, entrevistas com os profissionais, busca de informações dos atendim entos da população ribeirinha no Hospital Regional de Tefé e nos sistemas de informação local, identificação do usuário-guia (reunião com a equipe e visita a ele no hospital). Tivemos a oportunidade de compartilhar das experiências e vivências ocorridas em área ribeirinha. Cada um com sua singularidade amazônica apresentou suas potências e as presenças do cuidado à saúde nesse território líquido de forma proativa enquanto pesquisadores locais – imbricados nas urgências e emergências no Município de Tefé. Dentre as vivências marcantes para nós durante a oficina dos mapas teve o relato do ACS Enoque que nos situa em seu território e relata o tempo e meio de deslocamento: parte da comunidade Vila Moura e chega em Tefé após 2 dias e uma noite de deslocamento em motor rabeta pelo Rio Tefé, sem parada (conta-nos q ue faz revezamento com um colega para dormir na rabeta). Isso nos fez refletir sobre a categoria acesso no território amazônico. A cada encontro com os profissionais as potências se faziam presente, como por exemplo, numa tarde onde nos reunimos em uma oficina de narrativas e surgiram para mais de quarenta propostas de trabalho sobre a produção do cuidado em saúde no território de Tefé e mais de 30 dessas propostas se des dobraram em resumos para serem submetidos no 14º Congresso Internacional Rede Unida - Saúde é vida em resistência: traçando caminhos com o SUS. E quando achávamos que aquela oficina seria o último encontro do dia, um enfermeiro que atua em uma das equipes da área ribeirinha propõe m para o coletivo se não poderíamos nos encontrar à noite no prédio da S ecretaria de Saúde para dialogarmos sobre a construção da Carteira de Saúde Ribeirinha e o que ouvimos foi um uníssono sim por seus colegas, e como fruto desse encontro a noite não previsto na carga horária de trabalho destes profissionais surgiu a Carteira de Saúde Ribeirinha que atualmente está em construção. Considerações f inais: Experimentamos inúmeras presenças do cuidado e do desejo de fazer o SUS acontecer no município. Profissionais engajados à gestão, preocupados com a saúde da população e comprometidos em participar de um projeto que vai contribuir na consolidação das políticas públicas construídas a partir das necessidades da Região Amazônica. Nesse sentido, nos chama para o desafio de buscar uma prática científica que cria solidariedade tanto da sociedade quanto da natureza. A proposta foi trazer algumas reflexões sobre as práticas de pesquisa, que busca promover os encontros entre diferentes sujeitos como pesquisadores, gestores, trabalhadores e usuários do Sistema Único de Saúde tendo a marca da cartografia dos sentidos, pois traz a implicação e relação dos sujeitos nos territórios de vida. Por fim, a pesquisa do tipo participativa e inclusiva nos mostra que os trabalhadores e gestores tem o desejo de registrar e refletir sobre as suas práticas, num verdadeiro processo de educação permanente em saúde. |
11250 | INTERSECÇÕES ENTRE A FICHA DE NOTIFICAÇÃO DE VIOLÊNCIAS E A POLÍTICA NACIONAL DE SAÚDE INTEGRAL DA POPULAÇÃO DE LÉSBICAS, GAYS, BISSEXUAIS, TRAVESTIS E TRANSEXUAIS (LGBT) Luiza Maria Plentz, Marcos Claudio Signorelli, Daniel Canavese INTERSECÇÕES ENTRE A FICHA DE NOTIFICAÇÃO DE VIOLÊNCIAS E A POLÍTICA NACIONAL DE SAÚDE INTEGRAL DA POPULAÇÃO DE LÉSBICAS, GAYS, BISSEXUAIS, TRAVESTIS E TRANSEXUAIS (LGBT)Autores: Luiza Maria Plentz, Marcos Claudio Signorelli, Daniel Canavese
Apresentação: A história da saúde pública no Brasil é composta por tendências que compreendem a saúde como um direito e outras como uma mercadoria. Estas tendências influenciam a elaboração e efetivação de políticas públicas de saúde, na medida em que se relacionam com o Estado e com a sociedade como um todo. O direito à saúde no Brasil, fruto da luta do Movimento da Reforma Sanitária e pela redemocratização do país, está garantido na Constituição de 1988 e sua proposta foi sistematizada pelas Leis Nº 8.080/1990 e Nº8.142/1990, que criaram o Sistema Único de Saúde (SUS). Tanto no texto constitucional, como nas demais legislações que compõem o SUS, a saúde é compreendida de maneira ampliada e não apenas como assistência médico sanitária. Esta concepção de saúde tem como base a ideia Freiriana de que o ser humano é entendido como um ser “inacabado” e vocacionado a ser mais. O conceito de saúde aqui descrito e defendido, e que deve caracterizar o sistema de saúde brasileiro, deve atender aos princípios da universalidade, integralidade, participação da comunidade e igualdade da assistência a saúde Este estudo trata-se de uma análise qualitativa acerca dos elementos da Ficha de Notificação de Violência Interpessoal/Autoprovocada relacionados a questões de gênero e diversidade sexual. A pesquisa compõe o projeto maior intitulado “A Política Nacional de Saúde Integral de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (LGBT): estratégias de análise, avaliação e formação para o aprimoramento do Sistema Único de Saúde (SUS)”. Este amplo trabalho vincula-se às seguintes instituições: Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Instituto Federal do Rio Grande do Sul (IFRS), Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Universidade Federal do Paraná e as Secretarias de Estado da Saúde do Rio Grande do Sul, de Santa Catarina e do Paraná. Por conseguinte, busca contribuir para implementação e execução da Política Nacional de Saúde Integral LGBT na região Sul do Brasil; analisar políticas públicas relacionadas ao instrumento de notificação e à saúde LGBT; objetivando, por fim, investigar se a Ficha de Notificação contempla os objetivos e diretrizes da Política Desenvolvimento do trabalho:A pesquisa utilizou dos seguintes materiais e métodos: (1) Levantamentos sobre o estado da arte da produção científica e documental, nacional e internacional, reunindo, através de revisão da literatura, recursos para o debate relativo a questões de gênero e diversidade sexual, violência e as políticas nacionais relacionadas ao tema; (2) Grupos focais com profissionais de saúde e gestores, atuantes no SUS e com vínculo institucional nos estados participantes dessa pesquisa (Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul), que participaram voluntariamente. As falas que emergiram dos grupos focais foram sistematizadas e analisadas através de Análise Temática de Conteúdo. A análise em maior profundidade visou identificar os desafios para o preenchimento da Ficha de Notificação e no Sistema Nacional de Agravos de Notificação (SINAN), bem como qualificar os dados acerca da violência na população LGBT e apoiar o mapeamento de demandas oriundas de profissionais de saúde e gestores atuantes no SUS para a implementação da política. O estudo em andamento é desenvolvido à luz do conceito de interseccionalidade, baseando-se na ideia da multiplicidade de identidades sociais e trajetórias humanas, a partir de sobreposições de classe social, etnia e sexualidadeResultado: e/ou impactos: A Política de Saúde LGBT, lançada em 2011, é uma iniciativa para a construção de mais equidade no SUS e deve conectar-se a outras políticas públicas para sua consolidação. Este estudo reúne percepções de profissionais e gestores sobre os aspectos relacionados à política contidos no instrumento de notificação de violências. Dentre as percepções, elucidadas pelos grupos focais, evidencia-se que ainda existem dificuldades, por parte dos trabalhadores de saúde, para compreender os conceitos e as concepções associadas a “sexo”, “identidade de gênero” e “orientação sexual”. Através da literatura levantada e das análises realizadas, podemos estabelecer relações a esta falta de compreensão, por parte dos profissionais envolvidos no acolhimento, cuidado e notificação das violências baseadas em sexo e gênero, com as construções sociais que atravessam o cotidiano dos serviços de saúde, a formação dos trabalhadores e a forma de organização da sociedade civil burguesa. Os saberes médicos Clássico e da Medicina Social, que ainda hoje influenciam os processos de cuidado, a elaboração de políticas públicas e a educação em saúde, são consolidados como estratégia de controle biopolítico dos corpos e das massas. Os serviços de saúde, compondo este contexto social, são espaços de reprodução de discriminações de diversos tipos, como, por exemplo, classismo, sexismo, racismo, LGBTfobia etc. Tendo de ser levado em conta também que, uma das causas da manifestação da homofobia também se dá pela angústia de observar o desaparecimento da fronteira e da hierarquia da ordem heterossexual. Identifica-se, desta forma, limitações e condicionantes para a implementação de políticas públicas de equidade e de defesa do SUS baseado no conceito amplo de saúde, calcado nos princípios constitucionais brasileiros. Outros desafios identificados relacionam-se a compreensão dos profissionais acerca da tipologia e motivação das violências. Através do cotejamento com a literatura consultada podemos sinalizar que esta lacuna está ligada, principalmente, à dificuldade de reconhecer as origens e contextos que efetivam, na prática, as violências sociais já mencionadas. Por fim, também é possível elucidar a falta de preparo para o acolhimento das demandas em saúde da população em foco, tendo em vista os desafios para a universalização do acesso à saúde, e para a consolidação de ações de educação permanente de profissionais e gestores. Considerações finais: Ao passo em que a produção d as análises realizadas através da presente pesquisa, contribui com as compreensões necessárias para a identificação das lacunas existentes para o desenvolvimento da vigilância das violências, vislumbra-se também o aprimoramento das políticas de saúde, em especial àquelas voltadas à população LGBT. Outrossim, a produção científica sobre o tema, proposta pelo grupo de pesquisa, mantém como horizonte alcançável, a qualificação do acolhimento e do cuidado às vítimas e demais pessoas que sofrem e/ou presenciam situações de violência. É necessário apoiar os profissionais, com ofertas de ações específicas, a fim de ampliar o conhecimento dos mesmos sobre as vulnerabilidades ligadas à população LGBT, e demais aspectos interseccionais que interferem na prevenção, na promoção e no cuidado em saúde. As informações, quando compiladas, avaliadas e qualificadas, contribuem inclusive com a ação dos movimentos sociais e de defesa das políticas de equidade, de condições de saúde dignas e com a compreensão sobre o contexto social em que vivem a população de determinado território. |
11264 | O TERREIRO COMO ESPAÇO DE RESISTÊNCIA: TERRITÓRIO, ESPAÇO E SAÚDE Sandra Ceschin Fioravanti O TERREIRO COMO ESPAÇO DE RESISTÊNCIA: TERRITÓRIO, ESPAÇO E SAÚDEAutores: Sandra Ceschin Fioravanti
Apresentação: As comunidades religiosas de Matriz Africana fazem parte da construção da identidade do nosso país. Essa África que vem trazida para o Brasil de forma escravizada, traz consigo seu povo, sua música, alimentos, sua religiosidade, língua entre outras expressões culturais. Essa África que se mistura a outros e recria momentos históricos de luta, representam até hoje setores marginalizados, com pouca visibilidade, sofrendo com a ausente participação do estado. Os terreiros de Umbanda e Candomblé de Dourados se mostram como um espaço de representação de resistência dessa tradição, neste delicado momento político que se encontra o nosso país. Estas comunidades se formam como um lugar de encontros, vivência coletiva, apoio mútuo, de expressões étnicas e gênero, orientados por valores próprios da cosmologia africana. Essa cultura viva, se destaca em possuir um número expressivo de sujeitos que buscam nesses espaços a solução para suas aflições e os problemas de saúde. Os terreiros orientado por um sistema mágico-religioso, associam a saúde ao Axé, compreendida como Energia Vital, que desequilibrada pode manifestar doenças físicas ou mentais. Possuem uma classificação própria de doenças e de uma multiplicidade de procedimentos terapêuticos para a regeneração da Saúde e o restabelecimento do Axé. Utilizam elementos naturais como chás, banhos, o toque, dietas, o acolhimento e o aconselhamento no processo de regeneração da saúde, e elementos sobrenaturais através das relações com as divindades. Os atendimentos adotam estratégias e dinâmicas terapêuticas que privilegiam o corpo humano e o bem estar. Através destes mecanismos naturais e sobrenaturais auxiliam na elaboração subjetiva do processo de saúde/doença. Se revelam assim como um espaço terapêutico, acolhedor, humanizado e dedicado ao cuidado, tão bem como um espaço de produção e transmissão do conhecimento. No sentido de combater o preconceito e gerar subsídios de inclusão social, o tema tem como objetivo discutir a necessidade de fortalecimento destes espaços na luta contra a violência de todas as formas, através de tecer possibilidades para um mapeamento desses terreiros, oportunizando dar visibilidade às experiências e formas de organização das casas religiosas de matriz africana na cidade de Dourados-MS. Desde o ano de 2014 articula-se reflexões, no sentido em discutir sobre a Cultura religiosa Afro-Brasileira e todas as formas de preconceito ao seu entorno. Nota-se uma ausência de visibilidade sócio-política representativa voltada para essas comunidades. Articula-se diálogos que discuta acerca das potencialidades dos “terreiros” nos cuidados com a saúde e a educação. Constrói-se um olhar para a saúde na cosmologia africana em articulação com os princípios do SUS, através da Política de Humanização no sentido de proporcionar reconhecimento e fortalecimento desses espaços coletivos de cuidado, luta e resistência. A experiência ressalta estes espaços como promotores do cuidado e trocas de saberes, participando na promoção da saúde e na prevenção de doenças e agravos. A vida nesses espaços, é marcada por resistência, por lutas e afirmações diárias. Sua identidade religiosa permite o acolhimento e a valorização de populações, grupos e sujeitos em situação de discriminação e vulnerabilidade como mulheres, negros, indígenas e a população LGBTi+. Regidas pelos princípios de senioridade e circularidade os terreiros organizam-se de forma coletiva, através de trocas simbólicas gerando ajuda mútua e gestão participativa. Estas casas em sua maioria, possui um perfil precário e o campo econômico não é gerado no modelo capitalista, mas na vida cotidiana e nas suas articulações como relação de família. No caminho traçado, fica explícito a ausência de compreensão do modelo hegemônico e do apoio do estado para com esta população, gerando contra essa cultura manifestações de preconceito, intolerância e outras diversas formas de violência. Por esta razão as reflexões criam corpo a partir de uma levantamento primário de quantas casas religiosas de Umbanda e Candomblé somos na cidade de Dourados? E onde estão localizadas estes terreiros? No mẽs da consciência surge a oportunidade de manifestações com o tema “Intolerância Religiosa” oportunizando dar continuidade ao movimento de alcançar a localização dessas casas, e assim saber quantos nós somos? E Onde estamos? As casas religiosas, casas de reza, barracões, roças e ou terreiros foram encontrados à partir de explicações dos próprios líderes religiosos e outras por adeptos que transitam nesses espaços. Foi realizado uma coleta de dados básicos como nome da casa e do responsável, endereço, telefone e agenda de funcionamento. Constatou-se a existência de 28 casas de Umbanda e 25 casas de candomblé, entre outras 5 casas, ao qual não foi possível a observação in locus, totalizando a existência de 58 casas. A maioria dos terreiros se localiza no ambiente urbano, porém nas áreas periféricas da cidade e uma casa em específico dentro da Aldeia Jaguapiru, que faz parte da reserva que possui a segunda maior população indígena do país. Diante desta realidade, o não reconhecimento destes espaços, aponta a necessidade de um mapeamento como estratégia para a visibilidade, favorecendo o apoio em rede para uma população ainda marginalizada em todo o país. O mapeamento se torna uma ferramenta de combate ao racismo religioso e na luta pelos direitos dos povos de terreiro, contemplando essa população com as políticas nas áreas de saúde, cultura, educação, políticas de proteção social, liberdade religiosa, promoção da igualdade racial e redução de desigualdades. No exercício de seus direitos amparados pelos princípios que regem o decreto n° 6040/07, art 1°, inciso I: “ reconhecimento da diversidade cultural, levando em conta os recortes etnia, raça, gênero, orientação sexual entre outros, a não desrespeitar ou negligenciar as diferenças ou mesmo reforçar qualquer relação de desigualdade”, Sendo assim com ênfase no reconhecimento e o respeito a sua identidade, traz o art 3°, inciso IV; V;VII; X; XI: a garantia de direitos, reconhecimento por autoidentificação, acesso à saúde, educação, às políticas públicas e a inclusão social. O mapeamento se mostra de extrema importância para proporcionar visibilidade e evocar a participação do poder público no processo democrático e assumir em parceria com o estado e conjunto com o SUS a valorização do cuidado em saúde destes territórios, visando o direito às políticas públicas em benefícios dessas comunidades. |
11522 | ESTIMATIVA RÁPIDA PARTICIPATIVA COMO FERRAMENTA DIAGNÓSTICA NO AMBULATÓRIO DE PROMOÇÃO DA SAÚDE Vitor da Silva Siqueira Lobo, Beatriz Mello Montano, Ana Carolina Barbosa Caudet, Ricardo Mannato Bolelli, Giovanna Neri Ferreira, Amanda Miranda Potiguara Pataro, Maria Carolina Mendes Lima, Julia Godinho Lasmar ESTIMATIVA RÁPIDA PARTICIPATIVA COMO FERRAMENTA DIAGNÓSTICA NO AMBULATÓRIO DE PROMOÇÃO DA SAÚDEAutores: Vitor da Silva Siqueira Lobo, Beatriz Mello Montano, Ana Carolina Barbosa Caudet, Ricardo Mannato Bolelli, Giovanna Neri Ferreira, Amanda Miranda Potiguara Pataro, Maria Carolina Mendes Lima, Julia Godinho Lasmar
Apresentação: O Ambulatório de Promoção da Saúde (APS) é um projeto de extensão da Faculdade de Medicina da UFRJ criado em 2008, que atua na Vila Residencial do campus do Fundão com atividades comunitárias de promoção da saúde e atividades ambulatoriais quinzenais, sob a orientação de professores e médicos de família. De forma a expandir o conhecimento dos alunos sobre o território, aumentar o vínculo com a comunidade e auxiliar no planejamento estratégico do projeto, foi realizada, em maio de 2019, uma estimativa rápida participativa (ERP) na Vila Residencial em parceria com a Clínica da Família (CF) Diniz Batista. A ERP é um método de obtenção de informações sobre problemas e necessidades da população e aspectos históricos e sociais do território definido, realizado em um curto período e sem grandes gastos de dinheiro. Dessa forma, alunos do projeto aplicaram um questionário para alguns dos moradores mais antigos da comunidade e lideranças locais, definidos como informantes-chave, o que totalizou 8 entrevistados selecionados pelo presidente da AMAVILA (Associação de Moradores da Vila Residencial). O questionário era composto pela identificação do entrevistado, perguntas sobre as principais histórias do bairro, dimensão geográfica, aspectos sociais, econômicos e de lazer, serviços de saúde, participação popular e papel da clínica. Após a coleta e análise dos dados, foi possível identificar áreas de risco dentro do território, as quais configuram regiões de moradia de famílias vulneráveis; averiguar a assistência médica da população e sua adesão à CF e utilização de outros serviços de saúde; compreender as principais reivindicações relacionadas aos problemas de saúde enfrentados pelos moradores; estabelecer as principais demandas da população em áreas como transporte, lazer, esporte e segurança. Além disso, os alunos ouviram relatos sobre o surgimento da vila e suas principais histórias, importante para o sentimento de pertencimento do projeto dentro da comunidade. Ademais, a participação de duas agentes comunitárias de saúde foi importante para estabelecer um diálogo mais próximo com a clínica. Dessa maneira, a estimativa rápida participativa foi um instrumento de grande importância para o futuro do projeto, de forma a promover conhecimento acerca do território e da comunidade local, o que auxiliou na organização de pautas para melhorar a qualidade de vida dos moradores da Vila Residencial. |
11530 | PROMOÇÃO DA SAÚDE ATRAVÉS DO INCENTIVO AOS HÁBITOS SAUDÁVEIS INTRAMUROS NO CÁRCERE: transformação do tempo ocioso em tempo proveitoso Purdenciana Ribeiro de Menezes PROMOÇÃO DA SAÚDE ATRAVÉS DO INCENTIVO AOS HÁBITOS SAUDÁVEIS INTRAMUROS NO CÁRCERE: transformação do tempo ocioso em tempo proveitosoAutores: Purdenciana Ribeiro de Menezes
Apresentação: Apesar das doenças cardíacas estarem aumentando nos dias atuais, as pessoas ainda dedicam pouca atenção para a importância da atividade física, principalmente para a manutenção da saúde do coração. A prática regular de um exercício físico beneficia amplamente qualquer indivíduo. Além disso, é uma das principais medidas de prevenção de doenças cardíacas. E você só precisa começar, dar o primeiro passo para deixar o sedentarismo de lado. O presente trabalho norteia-se pelo objetivo de relatar a experiência da aplicação de ações para promoção da atividades físicas intramuros em uma unidade prisional do Ceará. Desenvolvimento: Ação educativa sobre a importância da adoção de hábitos saudáveis, no intramuros de uma unidade prisional, tendo como facilitadores a equipe muldisciplinar, composta por enfermagem, odontologia, medicina e psicologia, da unidade de saúde prisional, realizada nos blocos de celas da Penitenciária de Pacatuba, CE, no dia 03 de fevereiro de 2019, tendo como público-alvo, 412 presos, abordados nas salas de aula da referida unidade prisional. Resultado: Durante a ação foram esclarecidas algumas dúvidas e colocado a unidade de saúde da unidade à disposição para resolução de problemas. Na ocasião foi explicado sobre a importância da atividade física, dando ênfase para os cuidados ao coração e às patologias cardíacas, dadas às necessidades do empoderamento de cuidados essenciais para esta vertente. Explanou-se sobre a importância de os reclusos também praticarem atividades físicas, sugerindo-se a prática de esportes nos blocos quando soltos para o banho de sol. Considerações finais: Observou-se a situação de prisão pode tornar os internos muito acomodados e que o apoio à prática de atividades físicas dentro do recinto prisional, pode incentivar a prática. Por isso, é oportuno, esse tipo de abordagem em ambiente prisional, tendo em vista que a maioria dos internos, dispõe de muito tempo ocioso, de modo que este tempo pode ser utilizado para a adoção de atividade físicas, cuidados com a saúde e aquisição de conhecimento. |
11576 | DESAFIOS DA INTEGRALIDADE NA ASSISTÊNCIA: ITINERÁRIO TERAPÊUTICO DA POPULAÇÃO LGBTQI+ NA REDE DE SAÚDE DE MACAÉ-RJ Ueslei Carneiro, Fernanda Pereira Paula Freitas, Nicole Grigolli, Quéfrem Freitas Vieira, Gabriela Blanco Santos DESAFIOS DA INTEGRALIDADE NA ASSISTÊNCIA: ITINERÁRIO TERAPÊUTICO DA POPULAÇÃO LGBTQI+ NA REDE DE SAÚDE DE MACAÉ-RJAutores: Ueslei Carneiro, Fernanda Pereira Paula Freitas, Nicole Grigolli, Quéfrem Freitas Vieira, Gabriela Blanco Santos
Apresentação: A sexualidade e o gênero tidos como desviantes sempre estiveram capturados pelos discursos religioso (pecado), da justiça (crime) e o biomédico (doença), por uma elite hetero-cisnormativa. Os estudos transviados se opõem ao discurso hegemônico biomédico da patologização da experiência da população LGBTQI+ e propõem outra interpretação para a relação corpo-sexualidade-gênero. A população LGBTQI+ é vulnerável quanto ao acesso aos serviços públicos de saúde. O Brasil segue em primeiro lugar na violação do direito à vida desta população, sendo as pessoas trans as que mais sofrem. O espaço da unidade de saúde tem reproduzido opressões e desigualdades. No município de Macaé, o Consultório na Rua e a Casa da Convivência tem um programa de Referência em Saúde Integral LGBTQI+, mas ainda há muito o que fazer. A presente pesquisa toma essas experiências como disparadoras da pergunta guia: como tem se dado o cuidado em saúde destinado a população LGBTQI+ no município de Macaé (RJ)? O Objetivo Geral deste trabalho é compreender como tem se dado o cuidado em saúde destinado a população LGBTQI+ em Macaé (RJ) e os objetivos específicos são: mapear o itinerário terapêutico percorrido pelas pessoas LGBTQI+ que acessam a rede de saúde do município; entender como tem se dado o acesso de pessoas trans aos serviços de saúde; mapear quais recursos, práticas e redes intersetoriais tem sido acionadas pelos usuários e profissionais e compreender os possíveis efeitos de tal experiência para as equipes e usuários. Será um estudo exploratório e de abordagem qualitativa que terá como sujeitos usuários da rede de saúde de Macaé que se declaram como pertencente à população LGBTQI+ Para dar início ao projeto, estudantes de medicina da UFRJ-Macaé inscritos na disciplina Iniciação Científica em 2019 participaram de discussões sobre metodologia qualitativa e fizeram o curso EAD: “Política Nacional de Saúde LGBT” promovido pela UFRGS. A proposta atual é que em 2020 seja iniciada a pesquisa propriamente dita. Serão visitados os serviços de saúde que atendem usuários LGBTQI+ para identificar os interessados em participar da pesquisa. O projeto será submetido aos Comitês de Ética em Pesquisa, com previsão de início no primeiro semestre de 2020, e de término após 12 meses. A seleção dos usuários se dará a partir do interesse e por meio do método de amostragem em “bola de neve”. Considerando que a metodologia qualitativa busca compreender a subjetividade e os afetos produzidos pelas experiências e encontros, o interesse em participar da pesquisa não será considerado fator de confundimento. No entanto, no momento da análise isto pode ser levado em consideração, caso necessário, seguindo rigor metodológico. Serão realizadas entrevistas individuais por meio da narrativa a partir da seguinte pergunta disparadora: “conte-me sua experiência como usuário(a) da rede de saúde de Macaé”. Cientes do nosso lugar de fala, propomos o afastamento de uma perspectiva salvacionista e da vitimização das pessoas LGBTQI+ e esperamos contribuir para a visibilidade da existência dessas pessoas marcadas por violações e agenciamentos, dinâmicas e atos que as fazem sujeitos de direitos e das suas próprias vidas. |
11631 | A IMPORTÂNCIA DA ATUAÇÃO DE INTERPRETES INDÍGENAS COMO INTEGRANTES DOS PROFISSIONAIS DE SAÚDE INDÍGENA NA REDE DE SERVIÇOS DO SUS E NAS CASAS DE A SAÚDE DO ÍNDIO EM RORAIMA. Rosilda simeão gobamete, Hosana Carolina dos Santos Barreto, edinara Costa Severo A IMPORTÂNCIA DA ATUAÇÃO DE INTERPRETES INDÍGENAS COMO INTEGRANTES DOS PROFISSIONAIS DE SAÚDE INDÍGENA NA REDE DE SERVIÇOS DO SUS E NAS CASAS DE A SAÚDE DO ÍNDIO EM RORAIMA.Autores: Rosilda simeão gobamete, Hosana Carolina dos Santos Barreto, edinara Costa Severo
Apresentação: Este relato de experiência visa abordar sobre atuação de interpretes indígenas nas Casas de apoio à Saúde do índio/CASAI e nos hospitais de Referência no Estado de Roraima. Tem como objetivo principal apresentar a importância da atuação dos interpretes na comunicação entre os pacientes indígenas e profissionais de saúde em Roraima. Durante quatro anos de atuação como interprete da etnia Ingaricó na CASAI Yanomame, no período de 2014 a 2017, junto com os demais interpretes de outras etnias, observou-se, enquanto interprete indígena muitas dificuldades enfrentadas pelos pacientes quando são encaminhados para rede SUS e as CASAI´s e umas delas é na comunicação com os profissionais de saúde. Ao longo desse período notou-se que muitos dos pacientes que eram encaminhados a esses atendimentos não sabiam falar português, principalmente os pacientes da etnia Ingaricó, Wai Wai, Taurepang, Akawaio, Patamona e os Yanomami, sendo esse maior obstáculo entre os profissionais e os pacientes por não saberem se comunicar entre eles. Muitas vezes, por não saber falar a língua do profissional de saúde, os pacientes se sentiam constrangidos, ficando com receio de procedimentos feitos pelos profissionais, principalmente os idosos e as mãezinhas onde chegavam a relatar a desconfiança por medicamentos injetáveis e outros procedimentos, como introdução de sonda e outros tipos de aparelho. Os mesmos relatavam o medo que tinham por aparelhos de raio-x, de ultrassonografia e outros aparelhos invasivos, e que muitos acreditavam que isso agravava estado de saúde. Devido a essa que é umas das várias outras dificuldades, os profissionais não conseguiam resolver seus problemas de saúde, onde os pacientes não conseguiam relatar sintomas ao médico, e isso muitas vezes dificultava o tratamento, e também na conclusão de diagnóstico. Nesse sentido, os interpretes que atuam na rede SUS e as CASAI`s são de suma importância como meio de comunicação entre os pacientes e os profissionais de saúde, pois os mesmos orientam pacientes, traduzem para os profissionais quanto para pacientes, assim ajudam todos os profissionais na tradução para que o paciente seja atendido conforme sua necessidade e resolver o problema de saúde. |
11815 | O RACISMO PERMEANDO O ATENDIMENTO EM SAÚDE: QUAL A PERCEPÇÃO DE NEGROS? Jemina Prestes de Souza, Kathleen Tereza da Cruz, Emerson Elias Merhy O RACISMO PERMEANDO O ATENDIMENTO EM SAÚDE: QUAL A PERCEPÇÃO DE NEGROS?Autores: Jemina Prestes de Souza, Kathleen Tereza da Cruz, Emerson Elias Merhy
Apresentação: O racismo se manifesta através de regimes de verdade criados e alimentados pela sociedade, e os negros (autodeclarados pretos e pardos), apesar de representarem mais da metade da população do Brasil, têm suas vidas permeadas por preconceito e discriminação, inclusive em instituições de saúde. Ser negro é um posicionamento político, onde se assume a identidade racial étnica negra, sentindo-se pertencente a esse grupo social, cultural e politicamente. A identidade racial está relacionada com a história de vida e a consciência adquirida diante das prescrições sociais raciais ou étnicas de uma cultura, vivenciando ou não o racismo. Este estudo objetiva recolher e analisar as experiências de racismo vividas por negros nos encontros que ocorrem nos atendimentos em saúde, identificar práticas racistas e regimes de verdade que atravessam os atendimentos em saúde dos negros, refletir sobre medidas efetivas para a redução das iniquidades raciais e promoção de políticas equitativas na atenção primária, identificar quais são os aspectos/condutas/decisões técnicas do processo de trabalho que podem provocar a desigualdade na qualidade da assistência prestada pela equipe, identificar quais são as estratégias do negro para ter um atendimento em saúde satisfatório quando ele identifica práticas racistas. Trata-se de estudo qualitativo, exploratório e descritivo, que utilizou como recursos a pesquisa-ação e a ex-post-facto. Foram considerados como critérios para seleção dos participantes a autodeclaração de raça/cor negra, o que inclui pretos e pardos, e a utilização de serviços de saúde públicos e/ou privados no território nacional. Como instrumentos de coleta de dados foram elaborados um questionário sociodemográfico e um roteiro de entrevista semiestruturada, unidos em um questionário on-line. Seu link, juntamente com um texto convidativo e um breve resumo do estudo, foi enviado para pessoas-chave que auxiliaram na divulgação do questionário em suas próprias redes, como forma de ampliar o alcance territorial da pesquisa e a diversidade entre os participantes. As primeiras oito perguntas do questionário foram de cunho sociodemográfico, obtinham informações do respondente em relação a cor/raça, idade, município de moradia, profissão, renda líquida individual, tipo de estabelecimento de saúde frequentemente utilizado (público ou privado) e se dispunha de plano de saúde. Esses dados, que estão associados às iniquidades em saúde, retrataram a realidade socioeconômica dos participantes do estudo. O conhecimento do participante acerca da Política Nacional de Saúde Integral da População Negra (PNSIPN) e suas experiências nos atendimentos nos serviços de saúde fizeram parte das seções seguintes. Através de cinco perguntas, indagou-se sobre suas vivências de racismo em estabelecimentos de saúde e sobre eventos racistas com outros negros que tenham ocorrido em serviços de saúde e que o respondente tenha presenciado e/ou tomado conhecimento. Perguntou-se, também, se costuma adotar ou já adotou alguma postura ou atitude para evitar ou confrontar práticas racistas a fim de garantir um atendimento em saúde satisfatório. Optou-se pela análise de conteúdo como suporte teórico, onde os relatos de 117 pessoas autodeclaradas negras foram analisados de forma compreensiva quanto ao seu conteúdo e significados. Quando questionadas sobre como se autodeclaravam no critério raça/cor e com qual gênero se identificavam, 95 pessoas se autodeclararam pretas, perfazendo 81,2% do total da amostra, destas, 88 se identificaram como mulheres, sendo uma transgênero, e 29 como homens. As 22 pessoas que representam os 18,8% restantes dos participantes se autodeclararam pardas, 15 se identificaram como mulheres e 7 como homens. Os participantes têm idades de 18 a 64 anos, sendo a faixa etária mais populosa a de 21 a 30 anos, que contém 41 pessoas. Em relação à profissão dos participantes, são 45 diferentes formações, sendo 15 da área da saúde, contemplando 57 participantes. O valor de renda líquida individual foi questionado aos participantes pelo número de salários mínimos, considerando o salário mínimo brasileiro atual de R$ 998,00. As respostas foram bastante diversas, porém, a mais recorrente foi de renda líquida individual de menos de 1 salário mínimo, indicada por 20 participantes. Quanto ao tipo de estabelecimento procurado com maior frequência, 69 participantes (59% da amostra) responderam que procuram atendimento no setor privado, incluindo 02 participantes que declararam utilizar serviços oferecidos pelas instituições de trabalho; e 48 participantes (41% da população estudada) responderam que procuram atendimento no setor público – SUS. Dos 117 participantes, 61 responderam desconhecer a política e 56 responderam ter conhecimento da PNSIPN. Em relação aos 57 profissionais de saúde entrevistados, 39 conhecem a PNSIPN e 18 a desconhecem. Em relação à percepção de racismo, 53 mulheres e 11 homens relataram ter percebido racismo em seus atendimentos em saúde, 39 em serviços de saúde privados e 25 no setor público; 35 mulheres e 18 homens nunca perceberam racismo em seus atendimentos em saúde. A categorização dos dados permitiu a identificação de cinco unidades de análise: práticas racistas e regimes de verdade que provocam desigualdade na qualidade da assistência prestada aos negros; 2) violência obstétrica intensificada pelo racismo; 3) etapas do processo de trabalho que provocam desigualdade na qualidade da assistência prestada aos negros e 4) estratégias da pessoa negra para ter um atendimento em saúde satisfatório quando identifica práticas racistas. Os regimes de verdade em relação às questões raciais são expressos através de estereótipos que distorcem características naturais em algo negativo e são reforçados ao longo dos anos. Toda essa construção social fez com que a maioria da população, brancos e negros, acredite no mito da democracia racial e, dessa forma, não se posicione contra a desigualdade que toma o país. Este estudo buscou responder se “O fato de ser negro altera a qualidade da atenção à saúde do cidadão?” e encontrou como resposta que sim. Altera em todas as etapas do processo de trabalho dos serviços de saúde, sejam públicos ou privados. Altera quando o profissional não coleta a identificação de forma correta, por autodeclaração, e utiliza de suas crenças para definir o outro; altera na forma de abordagem aos negros que percebem o desprezo, a indiferença, a falta de empatia com sua dor; altera quando os usuários são preteridos na ordem de atendimento devido à regimes de verdade que versam sobre seus corpos; altera na não utilização de tecnologias adequadas para a elaboração de seu plano terapêutico e altera os aspectos psicológicos dessa população, que segue estampando os mapas estatísticos de morte e violência. As práticas racistas identificadas neste estudo estão associadas aos regimes de verdade sobre a sexualização dos corpos negros, a periculosidade do homem negro, a inferioridade intelectual das pessoas negras e a crença de que pessoas negras têm maior resistência à dor. As políticas públicas atuais se mostram ineficazes em assegurar os direitos fundamentais dos cidadãos, então há necessidade de se pensar em aspectos que possam contribuir para a adequação desse modo de fazer política pública. |
11854 | PRODUÇÃO DO CUIDADO EM SAÚDE EM UMA COMUNIDADE FLUTUANTE NO AMAZONAS Ana Paula de Carvalho Portela, Cleudecir Siqueira Portela, Júlio César Schweickardt PRODUÇÃO DO CUIDADO EM SAÚDE EM UMA COMUNIDADE FLUTUANTE NO AMAZONASAutores: Ana Paula de Carvalho Portela, Cleudecir Siqueira Portela, Júlio César Schweickardt
Apresentação: A singularidade e extensão territorial da Amazônia constituem um desafio no que se refere à atenção integral da população que vive em diferentes territórios. No campo da saúde, é necessário traçar estratégias muito específicas para as diversas situações vivenciadas pela população, considerando que a rede de serviços existente, em especial no interior do estado, não é suficiente para atender às necessidades dos residentes ali. Assim, este trabalho teve como premissa analisar a produção do cuidado em saúde em uma comunidade formada por casas-flutuantes, buscando entender o acesso e a utilização da rede de saúde pela comunidade. Método: A pesquisa foi qualitativa, descritiva e exploratória, sendo realizada na comunidade denominada Catalão, pertencente ao município de Iranduba, Amazonas. A população reside literalmente sobre as águas, em mais de 111 flutuantes que se dividem em residências, escola, comércios, restaurantes, pontos turísticos, casas de farinha, igrejas, locais para lazer, criação de animais, plantações, dentre outros. A coleta de dados foi feita por etapas, inicialmente pelo mapeamento por GPS dos flutuantes nos períodos de cheia e vazante do rio, o que permitiu verificar o deslocamento dos flutuantes no decorrer do ano e como este fenômeno natural afeta a rotina dos moradores. Posteriormente, todas as famílias foram identificadas com auxílio de um questionário que nos ajudou a conhecer as diferentes redes formadas na comunidade, seja de trabalho, escolar, religiosa, de saúde e social. Também entrevistamos alguns moradores-chave, que relataram um pouco da história da comunidade, seu dia a dia, e principalmente os cuidados com a saúde. Por fim, entrevistamos alguns profissionais de saúde que prestam serviço aos comunitários. Desenvolvimento: O Catalão possui características peculiares que nos conduzem à reflexão sobre como ocorre a produção de cuidado no que diz respeito à saúde. A comunidade está vinculada a uma equipe de Estratégia Saúde da Família (ESF) do município de Iranduba-AM composta por um enfermeiro, um técnico de enfermagem, um médico do Programa Mais Médicos, um cirurgião dentista, um auxiliar de saúde bucal e onze agentes comunitários de saúde (ACS). Realizam atendimento em oito (8) comunidades ribeirinhas do Solimões II duas vezes na semana, com uma programação que visa atender cada comunidade uma vez ao mês. Suas atividades giram em torno dos programas instituídos pelo Ministério da Saúde voltados para hipertensos e diabéticos, gestantes, crescimento e desenvolvimento de crianças de 0 a 5 anos, saúde da mulher, dentre outros. Quando está na comunidade, a equipe realiza consultas de rotina e fazem a aferição da pressão arterial, glicemia capilar e peso, bem como a prescrição de medicamentos e requisição para a realização de exames, seguindo os protocolos estabelecidos pelo Ministério da Saúde. Ações de prevenção e promoção a saúde como outubro rosa, novembro azul, campanhas de vacinação, dia do combate ao diabetes e educação em saúde são realizadas com maior frequência na Unidade Básica de Saúde (UBS) localizada na área urbana de Iranduba pelos profissionais da equipe. Apesar dos moradores da comunidade do Catalão realizarem os convites para a equipe atuarem nos flutuantes, os profissionais argumentam que a distância e as rotinas os impedem de desenvolver ações de promoção e educação em saúde. Em caso de problemas de saúde, os comunitários são orientados pela equipe a buscar atendimento na UBS da sede do município. No entanto, a distância em linha reta entre o Catalão e a UBS em Iranduba é de cerca de 33 km. O trajeto real para se chegar à Iranduba é cerca de 48 km, pois o acesso se faz por Manaus. Outra rota utilizada é através do rio, mas a depender do período, o percurso seria de mais de 40 km em transporte fluvial, acrescido das intempéries do rio, como tempestades e banzeiros, que podem, dependendo da intensidade, até virar pequenas embarcações, que são utilizadas pelos moradores do Catalão. Assim, diante de uma necessidade de atendimento, seja para consultas ou exames de rotina, ou em casos de urgência e emergência, os comunitários optam por atravessar o rio e buscar atendimento em Manaus. O local de preferência da comunidade é a UBS localizada próximo ao Porto da CEASA, que geograficamente é a unidade mais próxima e acessível aos moradores, estando a cerca de 3km da comunidade, bastando atravessar o Rio Negro. O hospital de referência para o atendimento dos casos urgentes fica em Iranduba, e ainda tem uma capacidade limitada de resposta, encaminhando, por vezes, para Manaus via terrestre. Nesses casos, os moradores não buscam atendimento em seu local de referência, atravessam o rio e vão para Manaus, onde há uma rede ampla de serviços e uma capacidade de resolução infinitamente maior do que em Iranduba, sendo a capital a referência para todo o estado em atendimentos de média e alta complexidade. Há de se considerar que, apesar da proximidade, outros fatores interferem diretamente nesta busca por atendimento, já que dependem de condições climáticas favoráveis, meio de transporte fluvial, recursos financeiros para pagar a passagem ou comprar combustível para os rabetas, que são pequenos motores utilizados em pequenas distâncias, e a disponibilidade da unidade de saúde em acolher estes usuários. Portanto, se os moradores do Catalão enfrentam dificuldades para deslocar-se até o outro lado do rio em busca de assistência à saúde, torna-se quase inviável recorrem ao Iranduba, principalmente em condições graves de agudização que demandam um curto espaço de tempo para o atendimento. Por outro lado, esta situação gera dificuldades para a unidade de saúde de Manaus, pois, além de assistir à sua população adstrita, que já traz suas dificuldades e anseios, também necessita atender as diversas comunidades circunvizinhas, o que nos leva a pensar que tais comunidades compartilham da mesma situação em relação aos desafios de cuidar da saúde. Esta UBS de referência que realiza os atendimentos em Manaus atende, além do município de Iranduba, outros municípios da região metropolitana e fora dela, sendo principalmente oriundos de Careiro da Várzea, Careiro (Castanho), Manaquiri, Borba, Autazes e Nova Olinda do Norte, que possuem acesso facilitado pela locação da unidade estar na rota de entrada à capital. Esta sobrecarga de serviços interfere diretamente em um cuidado mais qualificado tanto para a população adstrita quanto para os demais que procuram atendimento. Por outro lado, as unidades de saúde de Manaus não têm como negar o atendimento à população ribeirinha, ainda que as mesmas estejam vinculadas às unidades dos seus municípios. O fato de estarem vinculadas, ou cadastradas, em alguma ESF e buscarem atendimento em outro município, nos permite acreditar nas barreiras de acesso às suas unidades de referência. Considerações finais: A população ribeirinha tem muitas dificuldades para acessar as áreas urbanas de seus municípios, onde se concentram os estabelecimentos de saúde. Portanto, as pessoas buscam atendimento à saúde, de acordo com as demandas, onde for mais próximo. Percebemos por meio das informações apresentadas que os aspectos que precisam ser repensados em um estado com características tão peculiares como o Amazonas, é a necessidade de mudanças e/ou adequações nas políticas públicas de saúde, ou no regramento de acesso aos recursos federais, para que possam alcançar a universalidade, integralidade e equidade. |
11971 | PREVENÇÃO DE AGRAVOS E O PRAZER COMO ELEMENTOS CONSENSUAIS NAS REPRESENTAÇÕES SOCAIS DE TRABALHADORAS SEXUAIS SOBRE SAÚDE SEXUAL Pablo Luiz Santos Couto, Alba Benemérita Alves Vilela, Samantha Souza da Costa Pereira, Antônio Marcos Tosoli Gomes, Carle Porcino, Luana Costa Ferreira, Virginia Paiva Figueiredo Nogueira, Tarcísio da Silva Flores PREVENÇÃO DE AGRAVOS E O PRAZER COMO ELEMENTOS CONSENSUAIS NAS REPRESENTAÇÕES SOCAIS DE TRABALHADORAS SEXUAIS SOBRE SAÚDE SEXUALAutores: Pablo Luiz Santos Couto, Alba Benemérita Alves Vilela, Samantha Souza da Costa Pereira, Antônio Marcos Tosoli Gomes, Carle Porcino, Luana Costa Ferreira, Virginia Paiva Figueiredo Nogueira, Tarcísio da Silva Flores
Apresentação: As trabalhadoras sexuais tem seu serviço caracterizado pela utilização do sexo como meio de adquirir lucro e renda e, em troca o seu cliente obter o prazer sexual, contudo em decorrência da sua profissão, a mais antiga do mundo, ser vista como imoral pela sociedade, as prostitutas são estigmatizadas e vulnerabilizadas pela sociedade e Estado. Algumas sofrem agressões, tanto física como abusos sexuais por clientes, tráfico de mulheres, estupros, roubos, insultos, xingamentos, humilhações, ofensas verbais e morais, pois elas não escolhem os clientes, o que as tornam mais vulneráveis, sem alternativas se submetem a tais situações. No entanto, elas impõem limite aos clientes do que é permitido ou não durante a prática sexual, garantindo assim, sua proteção, uma vez que há ausência do Estado em assegurar proteção diante das situações de violência, bem como dos abusos que muitos homens venham cometer. Diante de tais situações, são constantemente inferiorizadas pelas instâncias sociais, como o senso comum e o Estado, por pensarem elas estão propícias a diversas vulnerabilidades, como a exposição do corpo à violência e às ISTs, além disso são socialmente marginalizadas, estigmatizadas, e culpabilizadas por serem trabalhadoras sexuais e, por isso sofrem com as limitações do serviço de saúde provocando maiores repercussões na saúde, sem contar na ausência da proteção do Estado para os seus direitos trabalhistas e na oferta de segurança. A saúde sexual se insere nesse contexto, por ser remetida ao âmbito da autonomia sexual e reprodutiva e dos direitos humanos, consistindo na integração dos aspectos somáticos, emocionais, intelectuais e sociais do ser sexual, de modo que enriqueça positivamente e a melhore a personalidade e a capacidade de convivência social entre as pessoas e afeição. O propósito dos cuidados da saúde sexual deveria estar além da prevenção das infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) mas, no melhoramento da qualidade de vida e das relações interpessoais. Desse modo, a Teoria das Representações Sociais (TRS) se adequa aos estudos com populações vulneráveis socialmente, como as trabalhadoras, por se preocupar com o conhecimento construído, compartilhado e difundido dentro dos grupos humanos. As representações sociais possibilitam a familiarização daquilo que não é conhecido, ou seja, explicar e categorizar novos acontecimentos e ideias. Objetivou-se analisar os elementos consensuais nas representações sociais de trabalhadoras sexuais sobre saúde sexual. Desenvolvimento Trata-se de um estudo qualitativo, fundamentado na Teoria das Representações Sociais em sua abordagem processual. A TRS se aplica a este tipo de estudo por colaborar com a idealização de uma realidade comum, que viabiliza a comunicação e compartilhamento de informação e formação do grupo de pertencimento. As participantes do estudo foram trabalhadoras sexuais da Microrregião de Guanambi (BA), sede do Alto Sertão Produtivo Baiano e que tem em sua região de abrangência 19 municípios, com pouco mais de 400.000 habitantes. Compuseram a amostra, não probabilística por conveniência, 132 mulheres que atenderam aos seguintes critérios de inclusão. O acesso às trabalhadoras sexuais ocorreu por intermédio das Agentes Comunitárias de Saúde (ACS) que fizeram os convites de modo prévio e ressaltaram o caráter voluntário e anônimo da participação. A aproximação com as participantes deu-se por intermédio dos profissionais do Centro de Testagem e Aconselhamento Regional do município sede do Alto Sertão Produtivo. A coleta de informações ocorreu com a aplicação do roteiro elaborado pelos pesquisadores (que continha itens para a caracterização das participantes, estímulos indutores para o Teste de Associação Livre de Palavras (TALP) e duas questões abertas para guiar a entrevista em profundidade. O termo indutor do TALP foi ‘saúde sexual’, cujas evocações foram analisadas pela análise de similitude, através da Árvore Máxima de Similitude, emitida pelo software Iramuteq. Por sua vez, os discursos oriundos das entrevistas foram analisados pela Análise de Conteúdo Semântica. Por fim, os resultados foram triangulados através da transversalização das respostas de ambas as técnicas. Ressalta-se que os nomes das participantes não são divulgados, garantido sigilo e anonimato das mesmas, sendo substituídos pela sigla TS (oriundo de Trabalhadora Sexual) acrescido do número de ordem de entrevista, exemplo: TS01, TS02 (...) TS40. A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Centro de Ensino Superior de Guanambi com protocolo de número 2.007.080/2017. Resultado: A análise das evocações para análise de similitude, reveladas na Árvore Máxima, apresenta de modo espacial as evocações com maior contribuição representacional por terem maior grau e força na conexão entre os vocábulos. Essa apresentação gráfica possibilita perceber como as representações são concatenadas por meio da análise prototípica das palavras e evidência de seu caráter multifacetado. As palavras com influência significativamente estatística, são as que exercem as maiores forças de conectividade com o eixo central da possível representação das trabalhadoras sexuais para a saúde sexual: preservativo. Este vocábulo é central na árvore e tem o maior grau de ligação, com outras palavras com grande força de conexão e que dão sentido aos significados representacionais construídos nos campos cognitivos das mulheres: sexo saudável, prevenção, cuidado, autoestima, felicidade, amor, bom, satisfação e exame. Os discursos das participantes reforçam e explicam como o preservativo é um consenso na prevenção de ISTs e também da satisfação sexual (prazer orgástico ou a satisfação em obter o dinheiro): “O preservativo é importante para a gente se proteger das doenças que os homens tem e de ter um bebê. A gente não pode se dar luxo de adoecer porque senão perde muito dinheiro. [TS 02]”. “A camisinha é muito importante, as meninas aqui que conheço, a gente não vacila não; Tem um ou outra que por cinquenta reais a mais, aceita fazer sem, mas eu não aceito e a maioria das colegas também não. [TS23]”; “Olha, saúde sexual é cuidado, mas a agente uma vez falou, que é ter prazer, mas prazer é o dinheiro; o gozo, tenho com meu companheiro. [TS 01]”; “Eu não troco o trabalho sexual por nada, ter que trabalhar em casa de madame, ouvir desaforo e receber uma miséria, no máximo um salário pra ser explorada. Eu tenho tudo que preciso e para meus dois filhos. Tenho bem estar, qualidade de vida, meu filhos tem tudo de melhor. [TS14]”. Dessa forma a saúde sexual sobre a égide dos direitos humanos, engloba o exercício pleno da sexualidade além do aspecto reprodutivo, sendo o último uma escolha e não apenas uma condição imposta pelo ser homem ao ser mulher. Diante disso, permeia-se sobre este conceito a relação de decisão refletida sobro os corpos femininos, como algo próprio a elas, e que a sexualidade e escolha quanto ao cuidado com si na prevenção de doenças e no alcance do prazer deve ser exercido sem constrangimento e de forma plena, mesmo no trabalho sexual. Considerações finais: Seja no grupo hegemônico, seja no subgrupo de trabalhadoras sexuais que contribuíram com o presente estudo, percebe-se que há um universo consensual nas representações sociais sobre saúde sexual e, estão relacionadas, tanto aos aspectos de prevenção do adoecimento, decorrente de ITS’s, assim como da gravidez não planejada, quanto à satisfação sexual (orgasmo e prazer), caracterizando, respectivamente as dimensões da promoção à saúde e qualidade de vida, autonomia sobre o cuidado com o corpo, além de aspectos subjetivos da sexualidade humana como bem estar, autoestima e orgasmo. |
10645 | ANÁLISE INSTITUCIONAL DAS PRÁTICAS PROFISSIONAIS DE ATENÇÃO A MULHERES EM SITUAÇÃO DE VIOLÊNCIA NO CAPS DE UMA CIDADE DO INTERIOR Eslia Maria Nunes Pinheiro, Ana Kalliny de Sousa Severo ANÁLISE INSTITUCIONAL DAS PRÁTICAS PROFISSIONAIS DE ATENÇÃO A MULHERES EM SITUAÇÃO DE VIOLÊNCIA NO CAPS DE UMA CIDADE DO INTERIORAutores: Eslia Maria Nunes Pinheiro, Ana Kalliny de Sousa Severo
Apresentação: Esse trabalho de dissertação consiste em um esforço de ampliação das discussões acerca da intersecção entre saúde mental e gênero, através do referencial teórico-metodológico da Socioclínica Institucional. Objetiva analisar as práticas profissionais com os trabalhadores do CAPS II da cidade de Santa Cruz/RN, focalizando as implicações profissionais para com as violências contra as mulheres. Estudos recentes têm enfatizado as aproximações entre as discussões da Reforma Psiquiátrica e dos Feminismos. Um dos aspectos que vem ganhando destaque nessa intersecção é a relação evidente entre as violências contra as mulheres e a produção de sofrimentos psíquicos. Ainda assim, as produções nessa perspectiva – oriundas principalmente de debates pautados por movimentos sociais – avançam com alguma resistência no campo científico e são consideradas incipientes. Mulheres em sofrimento psíquico grave, incluindo aquelas em situação de violência, são atendidas pelos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS). Por esse motivo, as práticas profissionais nesses serviços são de grande relevância para (re)pensarmos o cuidado às mulheres no contexto da saúde mental, incluindo o enfrentamento do fenômeno da violência. Dessa forma, podemos pensar a relação sofrimento psíquico e violências contra as mulheres sob duas perspectivas: 1) a da produção do sofrimento psíquico a partir das violências e 2) da produção e/ou reprodução de violências contra as mulheres no contexto do cuidado em saúde mental. A escolha do tema passa pela urgência em debater sobre as práticas de cuidado em saúde mental – especialmente no contexto de uma cidade do interior – frente às questões de gênero, que de maneira geral tantas vezes esbarram na produção, reprodução, invisibilização e falta de resolutividade diante das violências. Desenvolvimento: Trata-se de uma Análise Institucional de Práticas Profissionais (AIPP), do tipo pesquisa-intervenção e de caráter qualitativo. O trabalho encontra-se em desenvolvimento no CAPS II do município de Santa Cruz/RN. O presente estudo surge como um desdobramento do projeto de pesquisa da Faculdade de Ciências da Saúde do Trairi (FACISA) intitulado “Atenção Integral as mulheres em sofrimento psíquico grave e vítimas de violência doméstica na cidade de Santa Cruz- RN”, cadastrado na Pró-Reitoria de Pesquisa (PROPESQ) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e aprovado no Edital de bolsas de pesquisa n° 01/2018. A parte do projeto que já se encontra em andamento visa traçar o perfil das usuárias do CAPS e do CREAS em situação de violência doméstica e identificar as redes de cuidado formais e informais dessas mulheres. Além disso, paralelamente à pesquisa, há o projeto de extensão que também ocorre no CAPS, que se configurou na formação de um grupo de saúde mental de mulheres. O grupo de estudos que abrange a pesquisa e extensão conta com a participação de uma professora (orientadora deste projeto de dissertação), alunas de pós-graduação e de graduação. O município de Santa Cruz atende boa parte da demanda de saúde mental das cidades circunvizinhas. A escolha pelo CAPS II do município como campo de intervenção deve-se à responsabilidade que esse equipamento desempenha para a região. O serviço prestado no CAPS é estratégico, pois ele faz parte da rede especializada de atenção psicossocial e da rede não especializada de enfrentamento à violência contra as mulheres. Todos os trabalhadores do CAPS, de todas as categorias profissionais, participam do estudo, por entendermos que o serviço é construído no dia a dia das práticas envolvendo todos os sujeitos. Para a produção dos dados, estamos utilizando alguns dispositivos analíticos como rodas de conversa, diários de pesquisa e observação participante. Os momentos de análise dos dados são realizados através da leitura e seleção de trechos do diário de pesquisa, elementos que nos digam das implicações profissionais, dos analisadores, das interferências institucionais e nos permitam analisar as transformações ocorridas ao longo do trabalho no campo de intervenção. Resultado: Como o estudo está em andamento, serão apresentadas algumas observações iniciais. As duas primeiras rodas de conversa que participei foram realizadas nos meses de maio e outubro do ano de 2019, contando com a presença de todo o grupo envolvido com os projetos de pesquisa e extensão no campo de intervenção (CAPS II). A primeira observação foi a ausência de homens na reunião, apesar de haver homens na equipe. A participação nesses encontros não era obrigatória para nenhum dos profissionais, portanto, inferimos que ou o tema não os interessou ou as atividades assistenciais foram priorizadas naquele momento. Ao iniciarmos a atividade, as profissionais hesitaram em se colocar, mas timidamente foram começando a participar. Houve muitos momentos de silêncio. Elas tiveram mais facilidade em falar sobre a violência de maneira genérica e identificar os casos de violência em suas próprias histórias de vida, ou ainda de parentes e amigos. No entanto, o tom da conversa mudou quando o assunto eram as violências possivelmente enfrentadas pelas usuárias: algumas profissionais conseguiram relatar alguns casos e se aprofundar nas histórias, enquanto outras trataram com brincadeira e reproduziram algumas violências em suas falas. A partir da discussão da relação da raça/etnia, religião, ocupação/emprego e renda com os diferentes tipos de violência e, sobretudo, com a loucura, surgiu a questão do desconhecimento da ficha de notificação de violência e a ideia de rever a ficha de acolhimento do serviço, com vistas a incluir esses dados referentes ao perfil das usuárias. No que se refere à rede intersetorial, observou-se que apesar dos casos compartilhados entre o CAPS e o Centro de Referência Especializado de Assistência Social (CREAS), não são realizadas reuniões regulares com a rede de enfrentamento à violência. Na primeira roda de conversa, observamos que a técnica de enfermagem falou menos que as demais profissionais. Essa mesma observação se repetiu na segunda roda de conversa, onde os dois profissionais de nível técnico não participaram do debate, apesar de terem permanecido na sala (conversando e preenchendo alguns documentos). Essas questões nos fizeram refletir acerca do lugar que essas pessoas ocupam normalmente nas discussões da equipe, questionamos se o desinteresse e o silêncio são respostas a desvalorização cotidiana dos seus saberes. Considerações finais: Nos próximos encontros que serão pactuados com a equipe, pretendemos aprofundar algumas questões que ficaram em aberto até então, com o intuito principal de identificar as implicações profissionais e revelar o que ainda está na dimensão do não dito no serviço sobre as violências contra as mulheres em sofrimento psíquico. |