452: Intersetorialidade e interprofissionalidade: desafios e potencialidades
Debatedor: Alessandra Cristina Azevedo da Conceição
Data: 29/10/2020    Local: Sala 12 - Rodas de Conversa    Horário: 16:00 - 18:00
ID Título do Trabalho/Autores
9906 A ATUAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL EM UMA UNIDADE DE REFERENCIA ESPECIALIZADA - URE EM BELÉM DO PARÁ
Manoela Nascimento Andrade, Barbara Pereira Brito

A ATUAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL EM UMA UNIDADE DE REFERENCIA ESPECIALIZADA - URE EM BELÉM DO PARÁ

Autores: Manoela Nascimento Andrade, Barbara Pereira Brito

Apresentação: A saúde é um direito social e de responsabilidade do Estado a sua efetividade a toda a população. Com isso, os serviços de assistência à saúde tornaram seu acesso universal e igualitário, com o objetivo de atender a todos, independentemente de condições sociais. Então cabe ao Serviço Social formular estratégias que busquem reforçar ou criar experiências nos serviços de saúde que efetivem o direito a saúde, norteado pelo seu projeto ético político profissional, que é necessariamente articulado ao projeto de reforma sanitária. Em Belém do Pará, a Unidade de Referencia – URE Reduto, oferece os seguintes serviços especializados: traumato/ortopedia, reumatologista, anestesiologista, buco maxilo-facial, plástica reparadora, nutricionista. possui uma equipe multidisciplinar. Objetivo Geral: apresentar a atuação profissional das Assistentes Sociais na URE-Reduto. E específicos: relatar a vivência obtida através do estágio obrigatório, realizado durante o período de outubro até final de janeiro de 2020 na URE Reduto e discutir a importância do Serviço Social nessa Unidade. Método: pesquisa qualitativa, participante e documental. Resultado: A URE está inserida na política de saúde pública que atende na atenção secundaria da atenção básica, pois oferece um conjunto de ações, praticas, conhecimentos e serviços de saúde realizados em ambiente ambulatorial, que englobam a utilização de equipamentos médico-hospitalares e profissionais especializados para a produção do cuidado em média e alta complexidade. Como forma de acolher o usuário em sua totalidade, é composta por uma equipe de profissionais em diversos setores como: Enfermagem, Serviço Social, Psicologia, Terapia Ocupacional, Nutricionista, Médicos. A demanda maior da unidade são os usuários dos interiores dos municípios do estado do Pará, que vem encaminhados às vezes pelas suas unidades básicas ou sem encaminhamento, busca direto a unidade, viajam muitas horas, alegam sempre as mesmas queixas, seus municípios “não tem nada, muitos menos saúde”, nesse momento que a atuação do Serviço Social é de suma importância, pois e através do Serviço Social, os usuários sem encaminhamentos, sem até o cartão do SUS que é documento obrigatório de identificação, consegue ser atendidos. É através de uma escuta qualificada e um acolhimento humanizado, que o profissional, atento, consegue identificar as dificuldades de acessar os serviços de saúde. Um caso que chamo muita atenção da estagiara foi uma senhora que veio de breves na unidade, em busca de uma consulta com a ginecologista, pois dizia que tinha um tumor no colo do útero, buscou a unidade, mas na triagem do banco da informação, os atendentes não souberam informa como ser marcava uma simples consulta, a falta de humanização de alguns funcionários com os usuários é desumano. Neste momento, a estagiaria interviu, orientando a senhora sobre a consulta e os locais que ela poderia marca, porem para facilitar, mas o acesso, a estagiaria pedi para o médico um encaminhamento logo para ginecologista e tiramos o cartão do SUS que a senhora não tinha, a assistente social acompanhou a intervenção da estagiária. Considerações finais: é imprescindível a presença do Serviço Social na URE Reduto, porque é através destes profissionais que os usuários que buscam a unidade conseguem de fato acessa os serviços oferecidos pela unidade, como também as informações que são negadas em outros lugares sobre seus direitos. Mesmo com a precarização e privatização dos serviços na saúde, ocasionado pelo avanço do neoliberalismo, o Serviço Social consegue maneiras de driblar essas situações. Portanto é de suma importância a presença destes profissionais na área da saúde, pois essa categoria é norteada pelo projeto ético político societário que visa a emancipação do sujeito de direito. 

9925 O CUSTO DA ASSISTÊNCIA DOMICILIAR PARA A FAMÍLIA
Lucas Frederico Luiz Lopes, Érika Guimarães Lage, Kênia Lara Silva, Joanilson Santos Guimarães, João Paulo Nogueira Pimenta, Patrícia Moreira Ribeiro, Roseli Lino de Souza

O CUSTO DA ASSISTÊNCIA DOMICILIAR PARA A FAMÍLIA

Autores: Lucas Frederico Luiz Lopes, Érika Guimarães Lage, Kênia Lara Silva, Joanilson Santos Guimarães, João Paulo Nogueira Pimenta, Patrícia Moreira Ribeiro, Roseli Lino de Souza

Apresentação: Nos últimos anos, os serviços e programas de atenção domiciliar (AD) no Brasil vem-se expandindo notoriamente, como uma modalidade de atenção à saúde preferível para dar continuidade aos serviços iniciados em outros pontos da rede. No cuidado domiciliar, dá-se a transferência dos custos para as famílias, com aumento nos custos diretos e indiretos. Registra-se também o aumento dos custos intangíveis, entendidos como aqueles referentes às vivências e experiências subjetivas que comprometem o cuidador e família. Contudo, apesar de sabermos que a AD implica num aumento de custos para as famílias há poucas evidências que demonstrem essa discussão no Brasil. Frente ao exposto, o trabalho teve como objetivo analisar o impacto financeiro, para familiares e cuidadores, relativo à transferência de custos na AD. Os achados podem  contribuir para revelar aspectos necessários para a organização desta modalidade de atenção e formulação de políticas no campo da saúde e da assistência social. Desenvolvimento: Trata-se de estudo descritivo-exploratório de abordagem quantitativa, realizado no Serviço de Atenção Domiciliar (SAD), no município de Contagem – MG, vinculado ao Programa Melhor em Casa do Governo Federal. Optou-se como cenário pelo serviço em questão, por ser reconhecido como uma estratégia exitosa executada pela Secretaria de Saúde. A população da pesquisa abrange os pacientes atendidos pelo serviço e a amostra foi composta por noventa pacientes da pediatria do Serviço de Atenção Domiciliar (SAD). Como critério de inclusão foram selecionadas crianças que estão em acompanhamento pelas seguintes condições: dependentes de tecnologias para manutenção da vida; crianças estáveis para antibioticoterapia venosa de 8/8h, 12/12h, ou 24/24h; crianças que estão no cumprimento da 3ª etapa do Cuidado Canguru ou ganho ponderal; e recém nascidos com icterícia precoce de médio e baixo risco para exsanguíneo transfusão ou fototerapia. A coleta de dados foi realizada por meio visita domiciliar e entrevista com familiares, utilizando-se como instrumento para coleta um questionário semiestruturado abrangendo: características socioeconômicas e de saúde; questionário de classificação econômica da família; impacto do cuidado domiciliar na renda da família; gastos diretos e indiretos relacionados ao cuidado no domicílio que não tenha sido disponibilizado pelo programa e; comprometimento do cuidador. Os aspectos éticos foram observados, tendo o projeto sido aprovado pelo comitê de ética em Pesquisa da UFMG, os participantes assinaram o TCLE e todas as etapas são executadas em concordância com a resolução 466/12 do Ministério da Saúde. Resultado: Foram realizadas até o momento onze entrevistas, contemplando duas crianças que estão sendo acompanhadas para ganho ponderal (GP); uma criança que recebeu o atendimento para antibioticoterapia parenteral (ATB); uma criança realizando fototerapia (FTT); três crianças atendidas para realizar a transição de cuidados (CT) e quatro crianças acompanhadas devido aos quadros crônicos (CRO). Todos os grupos de pacientes entrevistados informaram que os gastos com água, energia elétrica, telefone, gás, alimentação, vestuário e transporte tiveram pequenos acréscimos após o início do atendimento domiciliar. Já os gastos com medicamentos não fornecidos pelo Sistema Único de Saúde (SUS) foram apresentados nos grupos de CT, CRO e de FTT oscilando valores entre R$30,00 a R$460,00. As entrevistas revelaram que quase todas as crianças acompanhadas nos grupos de GP, CRO e CT necessitaram adquirir dietas complementares ou suplementares com custos alternando entre R$48,00 e R$400,00, sendo um item que impacta no orçamento familiar mensal. Outro item que é unanime entre os entrevistados é o gasto com a aquisição de fraldas descartáveis, que envolve valores mensais entre R$90,00 e R$200,00. Com relação aos gastos com exames complementares para diagnósticos clínicos foram citados somente por uma entrevistada do grupo de FTT, com custo de R$10,00 e que fora realizado em virtude do longo tempo de espera para sua realização pelo SUS e da urgência de seu resultado. A mesma entrevistada, também, refere o gasto de R$130,00 com uma consulta médica particular com especialista, em virtude da grande fila de espera para a realização nos serviços públicos. O acompanhamento destas crianças no pós-alta hospitalar com profissionais da Rede de Atenção à Saúde/Sistema único de Saúde é fundamental. São realizadas avaliações/acompanhamentos com pediatras, fonoaudiólogos, fisioterapeutas e outros profissionais periodicamente, sendo o transporte outro fator que impacta nos custos conforme informado pelos cuidadores. Foram relatados nas entrevistas dos grupos CT, CRO e FTT gastos entre R$200,00 e R$600,00, tendo em vista a não realização dele através do transporte sanitário municipal. Para receber a criança no domicílio e propiciar um ambiente adequado para o atendimento de suas condições clínicas, algumas famílias necessitaram realizar modificações na estrutura física da residência e com isso também se dispendeu um gasto. Dois entrevistados do grupo CT e uma entrevistada do grupo CRO referiram realização de adaptações no ambiente domiciliar, seja para conforto (ar condicionado e ventilador) ou infraestrutura (instalações elétricas) que oscilaram entre R$200,00 e R$500,00, bem como a aquisição de camas/berços hospitalares, cadeiras de banho e colchão pneumático. Instrumentos e equipamentos para monitoramento e assistência da criança em domicílio também foram citados pela maioria dos entrevistados. Quase todos os entrevistados referiram aquisição de termômetros; duas mães entrevistadas uma do CRO e outra de CT relataram a compra de oxímetro, custo médio de R$215,00; quatro sinalizaram a compra de aspirador de secreções portátil, em média R$380,00; e três afirmaram terem adquirido aparelhos de nebulização, que custaram entre R$140,00 e R$200,00. Algumas entrevistas revelaram, ainda, gastos da família com materiais médico-hospitalares, complementares aos fornecido pelas Unidades Básicas de Saúde e Equipes de Atenção Domiciliar, tais como compressas de gazes estéreis, equipos, fita micropore, seringas, algodão, frascos de dieta, esparadrapo, fixador de TQT, álcool gel, dentre outros. No entanto, os valores referidos, em sua maior parte, não eram compatíveis com valores de mercado. Considerações finais: A modalidade de atenção domiciliar vem sendo uma aliada para a continuidade do cuidado em diversas esferas da atenção à saúde. É de extrema importância e proporciona uma assistência individualizada, um maior envolvimento da família em face dos cuidados e rotinas do paciente, podendo favorecer em sua recuperação. O paciente quando está inserido em ambiente familiar sente-se mais confortável, assim como sua família possibilitando uma melhor resposta terapêutica, além da humanização do cuidado. A redução de custos, otimização dos leitos hospitalares e melhoria do uso dos recursos públicos aparecem como resultantes da atuação do SAD. Entretanto, ao realizar-se a admissão na AD, faz-se em conjunto a transferência não só de cuidados, mas de sobrecarga econômica, física e psíquica para a família. Considerando-se os dados preliminares desta pesquisa, é notável a existência de um impacto financeiro importante, envolvendo uma série de custos, sejam eles diretos, indiretos e intangíveis. Os gastos com insumos, materiais e equipamentos afetam a renda familiar mensal negativamente, podendo gerar outros problemas socioeconômicos. Por meio dos resultados obtidos poderemos compreender a origem destes custos, estudar e desenvolver projetos e propostas para intervenções diretas com o objetivo de auxiliar a redução dos mesmos e proporcionar um menor impacto.

9937 PROJETOES ESCOLA DA FAMÍLIA: PROMOVENDO PRÁTICAS PARENTAIS COM AFETO, SEM VIOLÊNCIA – um novo olhar em segurança pública
Maria Jose Soares Pereira, Alexandre Trino, Odila Curi, Ana Eppinhaus, Rosidaili Penido, Mirian Cruz, Suely Cotta, Jaime Cezario, Laurimar Lopes, Sônia Araujo

PROJETOES ESCOLA DA FAMÍLIA: PROMOVENDO PRÁTICAS PARENTAIS COM AFETO, SEM VIOLÊNCIA – um novo olhar em segurança pública

Autores: Maria Jose Soares Pereira, Alexandre Trino, Odila Curi, Ana Eppinhaus, Rosidaili Penido, Mirian Cruz, Suely Cotta, Jaime Cezario, Laurimar Lopes, Sônia Araujo

Apresentação: Diante da necessidade de enfrentamento a grave situação relacionada à violência, a Prefeitura de Niterói construiu de forma participativa, em 2014, com base numa visão inovadora de Segurança Pública, que permeia diversos setores e secretarias, um “Plano Municipal de Segurança Pública, denominado “Pacto Niterói contra a Violência”, estruturado nos eixos: Prevenção, Policiamento e Justiça, Convivência e Engajamento dos Cidadãos e Ação Territorial Integrada. Coube à Fundação Municipal de Saúde de Niterói o “Projeto Escola da Família: promovendo praticas parentais como afeto, sem violência”, vinculado ao eixo dos Projetos de Prevenção. O principal problema a ser enfrentado compreende a “violência intrafamiliar” como fenômeno complexo e multicausal e  um grave problema de Saúde Pública, potencializada por outras formas de violência, em ambientes domésticos e em situação de rua envolvendo relações vinculares (homens e mulheres, pais e filhos, entre irmãos, adultos e crianças, gestantes, idosos pessoas com deficiência, cuidadores) intergeracionais e de gênero. O objeto da ação consiste nos estilos e práticas parentais expressas nas relações intrafamiliares entre mulheres gestantes, pais e cuidadores no decorrer dos primeiros 1.000 (mil) dias de vida da criança. O projeto Escola da Família tem como objetivo contribuir para qualificação, por meio de atividades educativas, acolhimento e monitoramento, das práticas parentais exercidas por gestantes, pais e/ou cuidadores, com afeto, sem violência. Desenvolvimento:. O desenvolvimento do trabalho contempla a participação das gestantes, pais e cuidadores, em um dos Grupos Educativos de Formação Parental implementado por profissionais de Saúde. O Grupo deve ser formado por aproximadamente 15 participantes (gestantes, pais e/ou cuidadores) com atividades educativas realizadas em 8 encontros semanais e/ou de acordo com a particularidade de grupos específicos. Serão desenvolvidas atividades que visam a aquisição de conhecimentos, capacidades e atitudes para o desenvolvimento da criança com afeto e sem violência potencializando as ações de prevenção e promoção, fortalecimento do Pré-natal da gestante e do parceiro, prevenção da Sífilis, em desenvolvimento na Saúde. A estimativa é alcançar aproximadamente quatro mil e quinhentas gestantes residentes da cidade, em acompanhamento no Pré-Natal em uma das unidades de saúde da Rede de Saúde do Município. A 1ª fase teve início em novembro de 2019 contemplando as Gestantes em situação de rua, que fazem acompanhamento do Pré-Natal pela equipe do Consultório na Rua. A 2ª fase terá início em março de 2020. No sentido de incentivar a participação da gestante e familiares, foi instituído o Incentivo ao Pré-Natal Seguro, no valor de R$ 1.000,00 reais para cada gestante que participar do Grupo Educativo de formação parental, observando os critérios estabelecidos na Lei nº 3437 que institui o Incentivo ao Pré-Natal. REFERÊNCIAL TEÓRICO. Estudos têm demonstrado que práticas parentais autoritárias ou negligentes comprometem o desenvolvimento infantil e se constituem em fatores de risco para a violência assim como as práticas parentais positivas e participativas contribuem para o desenvolvimento infantil saudável formando crianças seguras e resilientes à violência. Neste sentido é possível inferir que, por trás de cada uma das formas de violência como negligência, violência física, violência psicológica, abuso sexual etc. estão presentes, dentre um rol mais amplo de questões sociais, estilos e práticas parentais autoritárias ou negligentes, comprometendo a função precípua da família em assegurar o desenvolvimento integral da criança. Estudos como os do pediatra José Martins Filho (2016) ressalta a importância dos chamados “primeiros mil dias de vida da criança”, que incluem a gestação e os dois anos que lhe seguem. O autor faz referência a estudos no campo da neurofisiologia ressaltando que aprimeira infância de um caráter bastante significativo para o desenvolvimento ulterior dos indivíduos. Sendo assim, cuidados físicos, estímulos cognitivos e aspectos emocionais na primeira infância estão na própria gênese do bem-estar psicológico, social e biológico dos adultos, enquanto que carências de cuidado nesses domínios – e ainda mais acentuadamente, o abandono e maus-tratos - podem deflagrar uma situação de “estresse tóxico precoce infantil”, com efeitos para o resto da vida dos indivíduos, (FILHO, 2016). Resultado:S. A mulher em situação de rua está sujeita a diversas vulnerabilidades, condições de violência e abandono que se repercutem em riscos à sua saúde. Desta forma, houve priorização inicial para a qualificação e acompanhamento das equipes de consultório na Rua e do PMF envolvidas na execução e no monitoramento do projeto escola da família: promovendo práticas parentais com afeto, sem violência, contemplando assim especificidades na metodologia das atividades educativas planejadas em 8 oficinas temáticas, com vistas à contextualização da complexidade abordada no texto acima, com os seguintes temas: 1- “A mulher em situação de Rua: reconhecimento de situações de violência no contexto da rua”; 2- “Drogas, Mulheres, estigmas e preconceitos”; 3- “Garantias de direitos junto à mulher em situação de rua”; 4- “Encontro na Maternidade Alzira Reis sobre parto humanizado”; 5- Fortalecimento de laços afetivos e proteção social para gestantes em situação de rua; 6- A relação mãe – bebê e sua influência no desenvolvimento da criança; 7- Orientações sobre o incentivo ao pré natal seguro; 8- Culminância com encontro entre mães e círculo familiar mais próximo para fortalecimento de vínculos e laços afetivos. Duas gestantes em situação de rua já completaram o ciclo de encontros citados acima, e mais cinco gestantes estão participando de outro ciclo de encontros ainda em curso. Considerações finais:. Os primeiros resultados demonstram que os encontros produzem desdobramentos importantes de resgate de vínculos familiares e maior consciencia da importância de reconstituírem laços parentais para prevenção e proteção a saúde da mãe e do bebê. Neste sentido, cabe aos profissionais de saúde, em especial aos da Atenção Básica, acompanhar as mulheres grávidas, mesmo nas ruas, oportunizando todos os cuidados e atenção necessária, para que a gestação possa se constituir em um processo onde laços sejam realizados. Laços entre a mãe e a criança, entre a gestante e a equipe de saúde, entre mulheres e seus companheiros, entre mulher e maternidade, enfim, entre tantos outros, a promoção da coesão social para a prevenção à violência e a proteção do binômio mãe- bebê. ____________1-Todos os autores são servidores da FMS/Niterói - integrantes da Equipe Local de Gestão do Projeto. Atualmente, outros servidores integram a equipe 

10049 AS NOÇÕES DE SAÚDE E INTERSETORIALIDADE E SUAS IMPLICAÇÕES PARA O CUIDADO NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE
Edna Mara Mendonça, Fernanda Moura Lanza, Ana Carolina Campolina Santos

AS NOÇÕES DE SAÚDE E INTERSETORIALIDADE E SUAS IMPLICAÇÕES PARA O CUIDADO NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE

Autores: Edna Mara Mendonça, Fernanda Moura Lanza, Ana Carolina Campolina Santos

Apresentação: Buscou-se compreender as noções de saúde e intersetorialidade pelos profissionais da Atenção Primária à Saúde e verificar suas implicações no cotidiano. Para tal, desenvolveu-se uma pesquisa qualitativa, ancorada no interacionismo simbólico, em um município de Minas Gerais, entre fevereiro e julho de 2018. A coleta de dados foi realizada por meio de entrevistas semiestruturadas realizadas com 59 profissionais da Secretaria Municipal de Saúde. Como resultados observamos os profissionais que identificam o conceito ampliado de saúde expandem as práticas para outras políticas públicas, já o modelo biomédico reduz a atuação ao tratamento de doenças que restringem a atuação profissional à equipe ou à rede intrasetorial. A intersetorialidade surge como estratégia de cuidado em rede, pois prioriza a integração de diferentes setores para a resolução de problemas comuns. Os apontamentos descritos neste artigo podem contribuir para a construção de políticas públicas mais adequadas e realistas ao contexto de vida da população.

10067 ITINERÁRIOS DOS ITINERÁRIOS: CONTRIBUIÇÕES PARA A REFLEXÃO SOBRE A PRODUÇÃO DE PESQUISAS USUÁRIO-CENTRADAS
Ester Monteiro Acylino, Jôse Ribas Galvão, Patty Fidélis de Almeida

ITINERÁRIOS DOS ITINERÁRIOS: CONTRIBUIÇÕES PARA A REFLEXÃO SOBRE A PRODUÇÃO DE PESQUISAS USUÁRIO-CENTRADAS

Autores: Ester Monteiro Acylino, Jôse Ribas Galvão, Patty Fidélis de Almeida

Apresentação: Este trabalho faz reflexões sobre as experiências de duas pesquisadoras na realização do trabalho de campo para análise das redes de atenção à saúde, em duas regiões de saúde de estados brasileiros, Bahia e Rio de Janeiro, a partir da metodologia dos itinerários terapêuticos/trajetórias assistenciais. Apresenta-se os caminhos percorridos pelas pesquisadoras, destacando desafios e potencialidades desta ferramenta metodológica. Desenvolvimento: É cada vez mais frequente a utilização da abordagem qualitativa no campo das pesquisas em saúde coletiva. Por conseguinte, observa-se o aumento do interesse por estudos que que se apoiam na perspectiva do usuário, como um avaliador legítimo, a partir de suas trajetórias singulares na busca por cuidado em saúde.Um aspecto ainda pouco explorado, que este estudo pretende ressaltar, refere-se aos desafios impostos aos pesquisadores na realização de pesquisas qualitativas, sobretudo na etapa do campo para a coleta de dados. São estas outras dimensões que se pretende abordar, destacando experiências de diversas ordens e intensidades vivenciadas por duas pesquisadoras em seus trabalhos de mestrado acadêmico. Os estudos que originaram esta reflexão objetivaram avaliar o acesso à rede de atenção à saúde e a coordenação do cuidado pelas equipes de APS, através da construção das trajetórias assistenciais de mulheres que tiveram diagnóstico de lesões precursoras ao câncer do colo do útero no ano de 2016. Na Bahia, o estudo desenvolveu-se no âmbito do Mestrado Acadêmico em Saúde Coletiva do Instituto Multidisciplinar em Saúde, na Universidade Federal da Bahia, onde a coleta de dados se deu no ano de 2017, em um total de 26 mulheres entrevistadas em três municípios de uma região de saúde no Sudoeste do estado. No Rio de Janeiro, a pesquisa teve origem no Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva do Instituto de Saúde Coletiva, da Universidade Federal Fluminense, tendo a coleta ocorrido durante o ano de 2018, quando foram entrevistadas 22 mulheres residentes em dois municípios de uma região metropolitana. Resultado: Este relato objetiva compartilhar os desafios e as narrativas acerca dos encontros e desencontros das pesquisadoras na tessitura das trajetórias assistenciais, sintetizados a seguir:1. Falhas nos registros e sistemas de informação para identificação das usuárias: a realidade apresentada no campo, nos dois cenários, revelou as falhas dos registros para o agravo, tanto no nível municipal quanto nos serviços de referência para esta Linha de Cuidado. Municípios sem acesso ao Sistema de Informação vigente, a insuficiência dos cadastros informatizados e a utilização de registros manuais em livros demandaram maior disponibilidade de tempo nesta etapa. Além de revelarem as dificuldades dos serviços no acompanhamento dessas mulheres, implicou também em dificuldade para a localização de participantes para a pesquisa.2. Acesso às usuárias: para se ter acesso direto às usuárias, nos dois estudos, a entrada no campo foi precedida por reuniões das pesquisadoras com gestores e coordenadores municipais, a fim de apresentar os projetos e buscar meios de convidar as mulheres para participarem das pesquisas. Na região baiana encontrou-se maior facilidade de contato com as usuárias e de acesso aos prontuários e documentos que auxiliaram na construção das trajetórias. Enquanto no contexto do Rio de Janeiro, evidenciaram-se cadastros desatualizados e burocratização excessiva para se chegar às unidades de saúde e usuárias. Nesta etapa, nos dois cenários, os ACS e profissionais da enfermagem foram fundamentais para a localização das usuárias.3. Barreira para chegada às usuárias: nesta etapa evidenciou as principais barreiras geográficas e de deslocamento para se chegar às usuárias. Na região da Bahia, predominantemente rural, as entrevistas ocorreram, em sua maior parte, nas residências das usuárias. As principais dificuldades foram de acesso aos municípios, em razão das longas distâncias percorridas, na maioria das vezes, em estradas não pavimentadas com pouca condição de tráfego. No Rio de Janeiro, as entrevistas ocorreram, quase totalmente, nas unidades de saúde às quais as usuárias estavam cadastradas. Por ser uma região altamente urbanizada e de alta densidade demográfica, neste cenário, o trânsito se interpôs como um grande desafio, promovendo atrasos nos horários agendados e limitação ao tempo das entrevistas.4. Violência nos territórios: em ambas as regiões de saúde a violência urbana foi um desafio adicional à realização das entrevistas. Alguns domicílios e unidades visitadas localizavam-se em territórios considerados violentos pelo domínio do tráfico de drogas, cujo percurso era realizado apenas em companhia dos ACS, além da necessidade de identificação com crachás e jalecos. Ademais, as pesquisadoras defrontaram-se com a rotina de pessoas que vivem em meio a situações frequentes de violência e insegurança, que têm o direito de uso dos espaços comunitários e públicos interditados.5. A posição do pesquisador frente ao sofrimento das usuárias: os sentimentos dos pesquisadores frente a relatos de tanto sofrimento durante a realização das entrevistas também é um aspecto a ser considerado para a realização de estudos qualitativos, cujo envolvimento pesquisador-sujeito é tão intenso. Nos estudos aqui apresentados, as pesquisadoras identificaram e enfrentaram, junto com as participantes, as precariedades do sistema para o cuidado de saúde. Os relatos de desamparo não foram apenas achados de pesquisa, foram experiências geradoras de sofrimento para os dois sujeitos no momento daquele encontro singular.6. Voz e vez das usuárias: O uso da ferramenta metodológica das trajetórias assistenciais permitiu uma aproximação mais concreta e intensa com a realidade das usuárias. Ademais, possibilitou liberdade para que as entrevistadas exteriorizassem sua subjetividade, vivências, perspectiva sobre o problema de saúde, bem como as barreiras enfrentadas. Cada entrevista reconstruía um percurso único, singular, permeado de valores, de sociabilidades, escolhas e aprisionamentos na busca pelo cuidado, que, muitas vezes, levava a maior precarização das condições de vida; mitigação da cidadania pela não efetivação do direito à saúde; e em alguns casos, desistência de viver.7. Potencialidades para a qualificação das redes: ao resgatar os caminhos e descaminhos percorridos pela rede, do acesso a cada serviço, das ações ofertadas, do cuidado produzido pelos profissionais, das satisfações e insatisfações em relação ao atendimento nos serviços de saúde, a metodologia mostrou-se extremamente sensível à detecção de nós críticos das redes de atenção à saúde, na perspectiva de quem as vivencia no cotidiano da vida. Conhecer de perto os trajetos percorridos pelas usuárias na região de saúde, bem como seu contexto familiar e socioeconômico, tornou mais potente a análise dos resultados. Considerações finais: Narrar os “itinerários dos itinerários” é compartilhar, sobretudo, com “pesquisadores iniciantes” desafios, reflexões e um pouco do caminho percorrido. O percurso das pesquisadoras na construção dos itinerários terapêuticos/trajetórias assistenciais busca destacar que, quando um pesquisador elabora suas questões e desenhos de pesquisa, uma série de condições materiais e subjetivas se impõem, para além de um bom roteiro e apropriações teórico-conceituais. Por fim, a produção de pesquisas avaliativas de sistemas e serviços de saúde que se desenvolvam à luz da experiência do usuário pode ser desafiadora e deve ser planejada e tecida à luz dos contextos locais e da disposição subjetiva dos pesquisadores-implicados, não havendo um caminho, ou receita para todas as estações.

10074 PESQUISADORA IN-MUNDO, VIAGEM CARTOGRÁFICA E PRODUÇÃO DE CONHECIMENTO COM O NÚCLEO AMPLIADO DE SAÚDE DA FAMÍLIA E ATENÇÃO BÁSICA
Josiane Moreira Germano, Tatiana Almeida Couto, Alba Benemérita Alves Vilela

PESQUISADORA IN-MUNDO, VIAGEM CARTOGRÁFICA E PRODUÇÃO DE CONHECIMENTO COM O NÚCLEO AMPLIADO DE SAÚDE DA FAMÍLIA E ATENÇÃO BÁSICA

Autores: Josiane Moreira Germano, Tatiana Almeida Couto, Alba Benemérita Alves Vilela

Apresentação: A construção do Sistema Único de Saúde é marcada por esforços dos trabalhadores, que no cotidiano dos serviços imprimem modos singulares e próprios de produzir o cuidado, o que significa que o campo formal da política e o campo operativo estão em constantes movimentos no processo de trabalho. Então, podemos dizer que esses trabalhadores, gestores e usuários são capazes de produzir distintos arranjos no cotidiano, dessa forma, referimos a isso como forças instituintes e instituídas, sendo as instituintes aquelas que provocam deslocamentos àquilo que está posto e, a instituída, compreendemos que seja aquilo de caráter fixo, sólido e protocolar. Na produção do cuidado, sabemos que essas forças se encontram em um movimento constante provocando construção e desconstrução nos serviços. Nesse movimento do instituído e do instituinte, os cenários das práticas dos trabalhadores da atenção básica, que é o âmbito que daremos ênfase nesta experiência, produzem espaços de comodidade, assim como linhas de fuga que os lançam em territórios desconhecidos, mesmo em um cenário altamente capturado pelas forças biopolíticas e hegemônicas, e são capazes de produzir diferença. Queremos dizer que, isso é possível porque o trabalhador opera em altos graus de liberdade, ou seja, o trabalho em saúde é relacional e auto-governável. Neste contexto, trazemos para a cena que as forças instituídas e instituintes entrelaçam-se a outras forças, como as micropolíticas e macropolíticas e, neste particular, se instaura no reconhecimento da centralidade do trabalho vivo no processo produtivo do cuidado. No entanto, é nesse arranjo de complexidade que o trabalho em saúde vai sendo constituído, na formação de redes e também em atos isolados/fragmentados. Mas partimos da concepção que é na micropolítica que o cuidado é produzido, ou seja, é no encontro com o outro que vão se constituindo cartografIas do cuidado, explorando as capacidades inventiva e criativa dos trabalhadores, usuários e gestores. Portanto, pensar, pesquisar, refletir e investigar o processo de trabalho em saúde é um exercício complexo, porque estamos acessando aquilo que é vivo. E assim, encontraremos coisas que vão além de registros em prontuários, atas e relatórios. Encontraremos vestígios que estão impressos nos corpos daqueles que estiveram envolvidos na produção do cuidado. Com isso, interessa-nos, cartografar experiências no Sistema Único de Saúde que dão visibilidade a esses arranjos e isso exige um outro modo de estar no mundo do trabalho e de se encontrar com o campo. Sendo assim, o pesquisar em saúde torna-se ainda mais complexo, imprimindo grandes desafios aos processos investigativos, pois a depender de como se planeja um estudo, apenas alguns dos múltiplos planos são acessados pelo pesquisador. Assim, a produção do conhecimento abre um leque de possibilidades em relação ao objeto e àquilo que se pretende pesquisar. Sendo válido ressaltar que algumas pesquisas mais tradicionais, orientadas por análises macropolíticas, se asseguram na neutralidade, imparcialidade do investigador e tendo como elemento central: generalização dos dados, processo de produção de conhecimento sem interferência e influência. Isso quer dizer que estas pesquisas visam por meio do controle de variáveis, isolar o objeto de estudo do mundo, de modo que não falseie “a verdade”.  Por outro lado, existem modos de produção de conhecimento que não compactuam da necessidade de cisão entre sujeito e objeto, mas que se encontra com o campo para produzir justamente o contrário: dar visibilidade às relações que se constituem nesse território e processos de subjetivação que são fabricados no trabalho. E é deste lugar que falamos, lugar de uma pesquisadora “in-mundo” para construir a sua dissertação de mestrado. Portanto, este trabalho objetiva apresentar o modo de produção do conhecimento, por meio da cartografia, como intercessor metodológico. Desenvolvimento: pesquisar o trabalho em saúde é uma tarefa complexa, e neste universo, reconhecemos que a subjetividade é operada na realidade, ou seja, cada trabalhador tem o seu jeito de significar o trabalho e o cuidado, e é a partir disso que vemos diversos modos de agir no cotidiano. Então, a subjetividade é uma das múltiplas dimensões que compõe esse cenário.  O processo de trabalho permeado por essas subjetividades é um potente campo de atravessamentos de modelos assistenciais, significações sobre o que é saúde, configurando um campo de disputas e de interesses de diversos dos trabalhadores-gestores-usuários. Neste contexto, o trabalho do Núcleo Ampliado de Saúde da Família e Atenção Básica (NASF-AB) pareceu-nos potente para ser investigado, uma vez que esta equipe tem o grande desafio de trabalhar com as equipes da Estratégia Saúde da Família. E então, trazemos para a cena duas equipes com composições, atribuições e históricos de experiências na atenção básica bastante distintos. Este universo é uma arena potente para problematizarmos os arranjos produzidos por estas equipes, assim como as experimentações que estes profissionais são capazes de fabricar para que a produção do cuidado seja efetivada. Para dar visibilidade e dizibilidade a este campo, utilizamos a cartografia como intercessor metodológico porque compreendemos que a cartografia se propõe a acompanhar processualidades, uma vez que a realidade está em constante movimento, é composta por diferentes narrativas, contextos e linhas de forças. Assim, o campo se abre como um rizoma, permitindo caminhar por múltiplos territórios, recolhendo pistas das paisagens que vão se formando no caminho. Essa maneira de estar no mundo do trabalho, por meio da cartografia visa a fabricação de uma pesquisa compartilhada, pesquisando “com” os sujeitos. E também enfatizamos que este tipo de investigação não busca universalização de “verdades”, mas, experimentações e o que é dado visibilidade. A “verdade” captada é aquela inerente àquele universo, sendo reconhecida, discutida, refletida entre os próprios sujeitos em espaços que vão sendo construídos em ato. Resultado: neste mergulho intenso da pesquisadora in-mundada no cotidiano, todos foram afetados pelos encontros, pois apostamos neste processo de investigação que, em ato, exige invasão e vazão dos sujeitos, em um movimento permanente de construção e desconstrução de territórios existenciais. Das pistas que fomos recolhendo do cotidiano (registradas no diário de campo), construímos nossos diálogos por meio das Oficinaulas, sendo este um dos dispositivos para a produção do conhecimento. As Oficinaulas constituíram-se como espaços para problematizarmos quatro temáticas:  Conversando sobre o trabalho;  de repente NASF-AB;  a Educação Permanente em nosso cotidiano; e  diálogos com o NASF-AB e as ferramentas para a produção do cuidado. A escolha pelas Oficinaulas pareceu-nos potente pois consistiu em um espaço que possibilitou visibilidade e dizibilidade dos desconfortos e as dificuldades sofridas pelas equipes, assim como serviu para os fortalecimentos dos arranjos (linhas de fuga, rupturas com a repetição) já produzidos por elas mesmas na produção do cuidado. Considerações finais: essa perspectiva de produção do conhecimento também implica na desaprendizagem do sabido, e um exercício de desinstitucionalização do que é prescrito. Então, reforçamos que ao tomarmos como objeto de investigação o processo de trabalho e não uma investigação dos indicadores epidemiológicos no impacto do cuidado, assumimos que o que nos interessa é o que produzido no encontro e, o encontro como dispositivo pode agenciar os agires em saúde. Esse olhar sobre o trabalho necessariamente desloca o pesquisador para um sujeito que interroga a si e abre espaço para que os trabalhadores problematizem a si mesmos seu próprio processo de trabalho.

10075 RELAÇÃO FAMÍLIA E CUIDADO EM UM SERVIÇO DE ATENÇÃO DOMICILIAR EM UM MUNICÍPIO DE PEQUENO PORTE NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
Larissa Pereira Stelet Ferreira, Rayza de Oliveira de Castro Sodré, Danuse Dias Couto Delgado, Clarissa Terenzi Seixas, Tiago Braga do Espírito Santo

RELAÇÃO FAMÍLIA E CUIDADO EM UM SERVIÇO DE ATENÇÃO DOMICILIAR EM UM MUNICÍPIO DE PEQUENO PORTE NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Autores: Larissa Pereira Stelet Ferreira, Rayza de Oliveira de Castro Sodré, Danuse Dias Couto Delgado, Clarissa Terenzi Seixas, Tiago Braga do Espírito Santo

Apresentação: A Atenção Domiciliar (AD) é todo cuidado ofertado no domicílio de forma institucionalizada, frequentemente com a participação da família com um ou mais cuidadores, sob diferentes arranjos e de forma mais ou menos harmoniosa. Esse estudo teve como objetivo compreender a relação família e cuidado na AD em um município de pequeno porte do Estado do Rio de Janeiro. Tal estudo integra a pesquisa "A produção do Cuidado na Atenção Domiciliar no SUS no Estado do Rio de Janeiro: uma proposta de pesquisa-interferência", vinculada ao Observatório de Políticas e o Cuidado em Saúde/pólo UERJ. Desenvolvimento: A referida pesquisa foi organizada em três fases. Na primeira, houve mapeamento e levantamento dos serviços de AD no Estado do RJ. Identificou-se 33 serviços e conseguiu-se contato com 27. Na segunda fase, foi encaminhado questionário semiestruturado eletrônico para os 27 municípios, dos quais apenas 9 responderam. Na fase três, buscou-se conhecer o serviço de AD de alguns desses 9 municípios de forma aprofundada, com visita aos locais e valendo-se de técnicas  de observação direta com registro em diário de campo e entrevista semiestruturada com informante-chave. Os dados coletados foram analisados pela técnica de análise/ conteúdo de Bardin. Resultado: O serviço identificado é vinculado ao Programa Melhor em Casa/MS. Identificou-se que a fixação do dia de visita facilitou a presença de um cuidador. Notou-se que algumas famílias possuem forte resistência ao cuidado no domicílio e acabam dificultando a saída do usuário da internação hospitalar. A infraestrutura da casa e a dinâmica familiar influenciam nesse processo e saber que um familiar terá de assumir a responsabilidade, muito frequentemente gera resistência e por vezes produz grandes impactos no usuário, podendo trazer sentimento de rejeição, mas também para a vida do familiar que será o cuidador principal, pelas "oportunidades de vida perdidas". A equipe deste programa, passa orientações acerca do cuidado que será prestado ao usuário para todos os familiares presentes na visita, e são marcadas reuniões  para aprofundamento do caso, resolução de intercorrências e esclarecimento de dúvidas. A informante-chave relata que algumas famílias atendidas pelo serviço possuem o que ela chama de "dificuldade de adesão" e que isso interfere no trabalho. Nesses casos, a equipe vai ao domicílio e realiza reuniões com os familiares para explicar sobre os benefícios do cuidado domiciliar e da importância da participação familiar neste processo. Considerações finais: O envolvimento das famílias, sobretudo do cuidador principal, é imprescindível para a realização do cuidado em domicílio pelas equipes de Atenção Domiciliar, sendo inclusive um critério de admissão no programa. Nesse sentido, a relação da equipe com a família precisa ser trabalhada em permanência, apoiando o cuidador com orientações e escuta, entendendo seus desconfortos, ajudando na obtenção de auxílios junto à outros órgãos etc. Sobretudo, é preciso compreender que o jogo de forças no interior da casa é diferente de outros espaços de cuidado, onde o familiar tem menos autonomia. Quando isto não ocorre, gera graves impactos no desempenho do cuidado.

10107 O ENCONTRO COMO CAMPO SINGULAR DA PRODUÇÃO DO CUIDADO
Josiane Moreira Germano, Tatiana Almeida Couto, Alba Benemérita Alves Vilela

O ENCONTRO COMO CAMPO SINGULAR DA PRODUÇÃO DO CUIDADO

Autores: Josiane Moreira Germano, Tatiana Almeida Couto, Alba Benemérita Alves Vilela

Apresentação: Gostaríamos neste trabalho, de explorar o campo do cuidado de uma equipe do Núcleo Ampliado de Saúde da Família e Atenção Básica (NASF-AB) e suas tensões no cotidiano, dando visibilidade aos arranjos produzidos pelos trabalhadores na produção do cuidado. Quando observamos as práticas nos serviços de saúde ou quando falamos delas, podemos dizer que existem muitas forças externas, antecedentes ao encontro. Assim como, nos serviços, notamos que algumas forças, quando chegam no campo operativo, definem que a ação dos profissionais seja determinadas pela produtividade, ou seja, há uma aposta em um determinado modelo de atenção que coloca em cena apenas o mundo da macropolítica. Isso é possível porque a valorização dos protocolos, dos conhecimentos técnicos e condutas disciplinares prescrevem um certo tipo de atuação que não favorece ao encontro. Neste particular, falamos que essas forças, operadas pela macropolítica, tem a capacidade de capturar os trabalhadores. O trabalho então, é altamente submetido à concepção gerencialista e disciplinar que de um jeito imperativo, determinam as maneiras de cuidar e agir em saúde. Também dizemos que existem outras forças que são potentes para a captura desses profissionais, como as forças de mercado, que capitalizam e trazem outro olhar para a saúde e o cuidado.  Com isso queremos dizer que essas forças operam na ótica da biopolítica e também estão presentes no Sistema Único de Saúde (SUS). Para exemplificar, trazemos para a cena as imposições do mercado na saúde por meio da indústria de medicamentos que não nos deixa dúvidas das suas apostas sobre o que é o cuidado. Portanto, quando analisamos o cotidiano, por meio da micropolítica, nos deparamos com modos bastantes distintos de agir e significar o cuidado em saúde. Dessa forma, denotamos que as práticas, embora atravessadas por tantas forças externas, são arranjadas de modos absolutamente diferentes e então, cada equipe opera de um jeito muito singular. Isso também pode ser percebido com profissionais da mesma categoria profissional em situações similares. Este olhar, nos leva a pensar que o trabalho vivo em ato e sua micropolítica são capazes de produzir condições de interações potentes e altamente criativas, e também pedagógicas, que buscam produzir linhas de fuga às capturas biopolíticas que estão presentes no cotidiano dos serviços. Este trabalho incita que são nos encontros que acontecem nos serviços de saúde que são dadas a substancialidade para o campo da política, e é pela dimensão micropolítica que detectamos que a produção do cuidado vai além de registros de assistência e de quantitativo de atendimentos. Muitos são os espaços nos quais poderíamos destacar as práticas no SUS, mas, pela implicação das pesquisadoras, a atenção básica, pareceu-nos um campo potente para discussão da produção do cuidado, pois este espaço tem sido cada vez mais capturado pela lógica protocolar. Esse modo de significar e entender o processo de trabalho gera tensões no cotidiano, por exemplo, a tensão com a agenda: produção versus produtividade, e percebemos que a produtividade como “régua” medidora da qualidade da assistência é que tem sido valorizada por alguns analisadores da assistência na atenção básica. Então, percebemos que também estamos falando de um certo modo de cuidar que  fixa no campo particular, ou seja, onde a assistência é ancorada pela lógica técnica e por protocolos, porém, neste mesmo lugar também há uma outra força, que nos mostra outro jeito de produzir cuidado, que é o campo singular na qual a centralidade da atenção à saúde é da ordem dos encontros. Então, a orientação do cuidado não se dá por fatores externos, mas sim, pela centralidade do contato com a alteridade na delicadeza do encontro. Desenvolvimento: este estudo é proveniente de uma dissertação de mestrado na qual buscou analisar o processo de trabalho de uma equipe do NASF-AB. A pesquisa ocorreu de outubro de 2017 a outubro de 2018 no interior da Bahia. Investimos na perspectiva micropolítica de análise do cotidiano que dá vazão às permanentes disputas e campos de força em todos os planos, o que nos possibilita recolher os efeitos das políticas no cotidiano. Para imergimos no processo de trabalho do NASF-AB, nos valemos da cartografia, que supõe maior tempo de contato com o campo e a produção compartilhada com os sujeitos da pesquisa. A cartografia, permite olhar “de dentro” e deixa evidente que estudar a produção do trabalho é uma ação complexa, uma vez que as equipes são afetadas de modos distintos pelas políticas. Para dialogarmos sobre as pistas que foram aparecendo no decorrer da pesquisa, construímos alguns espaços para problematizar um pouco mais o cotidiano. Ressalta-se que este projeto de pesquisa foi submetido e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da UESB, sob CAAE 61486015.9.0000.0055. Resultado: cartografar o processo de trabalho do NASF-AB abriu visibilidade para tencionarmos alguns campos de força presentes nas práticas cotidianas, como por exemplo, a tensão do campo singular e o campo particular do cuidado, uma vez que a lógica das metas era cruel no processo produtivo do cuidado. Percebemos também que as linhas de fuga eram produzidas nas visitas domiciliares, pois era o lugar que mais “bagunçava o protocolo”; a visita domiciliar era o momento no qual os profissionais não podiam ir “armados” para o encontro, e neste contexto, a aposta não era apenas na mudanças das práticas em saúde, ou melhor, na implementação de boas práticas, mas sim, na ressingularização delas. Neste âmbito, a tensão entre a implantação de novas práticas e ressingularização das mesmas, abriu um campo de debate de como o modelo hegemônico coloca os profissionais em encontros que não ampliam os saberes de outra ordem, e é aí que o profissional ancora-se no campo particular do seu saber, confortável para produzir procedimento e alimentar o campo disciplinar na Saúde da Família. A aposta dos profissionais para escaparem destas normatizações era pensar o campo singular como um campo de criação, ou seja, um campo onde os corpos, por meio dos afetos, guiem o cuidado, por exemplo, por meio das tecnologias leves. Deste modo, trazemos para a cena que o encontro é imprevisível, abrindo possibilidades para muitos jeitos de agir em saúde. Esta noção é criativa e nos aproxima do campo singular da produção do cuidado, uma vez que encontros, por serem micropolíticos e estarem sempre abertos são altamente pedagógicos também. Nessa condição de interatividade, há trocas de saberes e fazeres capazes de ampliar a potência de vida dos pares. O que foi discutido neste espaço com o NASF-AB é que os arranjos para produzir linhas de fuga nos grupos era a produção de oficinas que os aproximavam um pouco mais dos usuários. Neste espaço de reflexão do seu próprio processo de trabalho, o NASF se viu no paradoxo que transitava o tempo todo entre a profusão das práticas clínicas, principalmente nos atendimentos individuais. Considerações finais: ao debruçarmos sobre as práticas cotidianos por meio de uma análise micropolítica, percebemos o quanto os atravessamentos biopolíticos capturam os trabalhadores em suas práticas, mas que as estratégias de escapes produzem campos singulares potentes de produção do cuidado. Há no processo de trabalho uma zona de fronteira entre a captura e a singularização que abrem fissuras e linhas de fuga para esta equipe. Nesse particular, entendemos que os modos de produzir cuidado em saúde deve operar nas subjetivações anti-capitalísticas, no agenciamento de novas possibilidades de produção de vida nas suas singularidades.

10214 A TENDA DO CONTO: ESPAÇO DE ESCUTA E HUMANIZAÇÃO NA ATENÇÃO PRIMÁRIA
Maria Jacqueline Abrantes Gadelha, Maria de Lourdes Oliveira Freitas

A TENDA DO CONTO: ESPAÇO DE ESCUTA E HUMANIZAÇÃO NA ATENÇÃO PRIMÁRIA

Autores: Maria Jacqueline Abrantes Gadelha, Maria de Lourdes Oliveira Freitas

Apresentação: O relato tem como objetivo explorar uma prática de cuidado na Atenção Básica também considerada uma metodologia ativa – a Tenda do Conto – onde trabalhadores e usuários do Sistema Único de Saúde compartilham narrativas de vida por meio de objetos denominados afetivos, ou seja, objetos que despertam sentimentos ou lembram histórias vividas. Desenvolvimento: A prática surgiu no ano de 2007 durante a pesquisa de mestrado intitulada "Beirando a Vida, driblando os problemas: Estratégias de Bem Viver". A referida pesquisa tinha como objetivo analisar as estratégias utilizadas por algumas mulheres (únicas provedoras de suas famílias) adscritas à Estratégia Saúde da Família, no enfrentamento de seus problemas cotidianos. No percurso do referido estudo, durante as entrevistas realizadas nos domicílios, as mulheres contaram suas histórias utilizando cartas, poemas, porta-retratos, discos de vinil, imagens de santos e os mais diversos objetos que as transportavam para suas experiências. Percebeu-se, na ocasião, que as participantes do estudo eram detentoras de saberes constituídos pelas suas experiências de vida, o que induziu-nos a inferir ser necessário ampliar os espaços que permitissem a expressão desses saberes, muitas vezes, negligenciados pelos saberes acadêmicos e a considerar o adoecimento como um processo que incorpora outras dimensões da vida, além da física. Como profissionais de saúde, precisamos estar atentos às diversas e criativas habilidades de atuação no cotidiano dessas famílias, para que possamos, junto a elas, reinventar outros modos de fazer saúde, concluía o estudo. Nessa perspectiva, surgiu a prática de grupo denominada Tenda do Conto cuja inspiração aconteceu por meio das histórias contadas pelos usuários do SUS. Os Agentes Comunitários de Saúde levam aos domicílios os convites, orientando que os usuários compareçam à Tenda do Conto levando um objeto que lembre alguma história vivida. Estes objetos somam-se a outros reunidos em uma velha mala doada por um dos Agentes Comunitários de Saúde.Uma mala é aberta. Enquanto o dentista entoa canções antigas no violão, usuários e trabalhadores do SUS montam o cenário onde serão compartilhadas narrativas de vida. Uma colcha de fuxico doada por uma usuária é erguida na parede delimitando e colorindo o espaço. Uma toalha bordada é estendida sobre a mesa que receberá os objetos afetivos que lembram fatos marcantes nas diversas fases da vida: fotografias, cartas, poemas, ferro de passar à brasa, xícaras de porcelana, rádio antigo, imagens de santos, rosário, caneca de ágata, caixinha de música, estilingue, pião e monóculos juntam-se aos inúmeros objetos trazidos pelos participantes do dia. Ao lado da mesa, uma cadeira de balanço coberta por uma manta é cuidadosamente preparada para acolher os narradores de histórias reais. Em volta do cenário, as cadeiras são postas em círculo. Um integrante da equipe faz a abertura explicitando os princípios que movem o encontro: espaço aberto para a escuta, respeito à vida, acolhimento de singularidades e diversidades. A Tenda do Conto tem apenas uma regra: O silêncio diante da voz do outro. Os participantes, um a um, sentam na cadeira do “narrador” e compartilham fragmentos de suas histórias de vida a partir de um objeto afetivo trazido de casa, diante de um público de narradores que escutam em silêncio. Recordações, dores, amores, perdas, superações e alegrias contadas em versos, prosas e canções, impulsionam os aplausos dos ouvintes e a participação de novos narradores. Numa cesta, pequenas bonecas de pano. Cada narrador leva para si uma boneca de pano confeccionada por uma usuária como lembrança daquele momento. No final, momento da avaliação. Em um grande círculo, de pé e de mãos dadas, é oferecida a oportunidade para cada um expressar o que sentiu ao participar da experiência. Resultado: A escuta de narrativas de vida reverte anonimato em reconhecimento. Quando as pessoas falam de condições de moradia e saúde, o que contam são histórias. Quando as pessoas contam suas histórias, estão falando de saúde, estão falando de vida. Pelo recurso narrativo, é possível alcançar-se a almejada ampliação do diálogo entre saberes, o fortalecimento dos vínculos e atingir o necessário deslocamento de olhares sobre a saúde em direção a uma partilha de sentidos e ressignificações. Ao partilharem histórias, usuários e profissionais de saúde deslocam o foco da doença e se voltam em direção à vida em sua inteireza. Os "pacientes" se concentram em suas próprias forças, ancoradas na memória, reavivadas pelas narrativas, e não no enfraquecimento provocado pelo sistema biologicista que reforça sua condição de doente. A Tenda do Conto traz o sentido mais amplo de acolhimento conforme pressupõe a Política Nacional de Humanização: "O respeito ao outro como legítimo outro;" o respeito às diferenças e à pluralidade de saberes. A Tenda do Conto abre um espaço que se movimenta para aproximar os sujeitos do SUS, afirmando: "você é importante, queremos escutá-lo." Nesse sentido, observa-se uma outra dinâmica no processo de trabalho dos profissionais que participam da prática da Tenda do Conto, conforme demonstram as falas a seguir:"A Tenda propicia esse momento muito forte dessa escuta. Isso é uma diretriz da PNH. Depois que a pessoa fala, conta a sua história, a gente vai se encontrando com a história do outro, vai relembrando sua própria história, vai sendo terapêutico para quem falou mas também vai sendo terapêutico para quem está escutando, que está fazendo também links com a sua própria existência (...). A ideia da Tenda em movimento é porque é importante essa ideia, uma percepção de que não é um espaço estático. Ela se movimenta desde a hora que as pessoas chegam, as pessoas vão armando e já se movimentaram em casa para trazer um objeto." (Psicóloga)" Fiquei com a ideia de que se tratava de uma iniciativa original e uma arma terapêutica poderosa, e ao mesmo tempo pouco onerosa e que não necessitaria de nenhum instrumento ou investimento especial para começar a aplicar à minha prática." (médica de Saúde da Família)A importância da Tenda do Conto para uma usuária em tratamento de câncer: "Porque aqui a gente é ouvida, bem tratada, as pessoas nos escutam e têm interesse pela nossa vida. Aqui eu aprendo e ensino. E ainda rio, me divirto porque os problemas ficam pequenos quando a gente fala deles. Vou mostrar uma coisa pra vocês (retira o chapéu ). Cabelo, gente, é que nem capim. Morre e nasce de novo. Mas a vida não, a vida é só uma." (Usuária do SUS).Um espaço para sair da solidão e falar das dores: É uma casa onde contamos nossa história. Para mim, isso aqui é grandioso. Porque a gente vê muito idoso na solidão (...) Se a gente tá triste e não fala, se tá angustiado e não chora, o coração fica sozinho sentindo a dor." (Usuária do SUS). Considerações finais: Na Tenda do Conto, compomos momentos em que não conseguimos visualizar fronteiras entre cuidador e o que demanda cuidado. Podemos afirmar que há uma coprodução do cuidado. A Tenda do Conto, prática grupal de cuidado que surgiu na região Norte do município de Natal vem sendo replicada e multiplicada em diversas regiões do país por carregar em si, a potência de escutar e juntar pessoas, aproximá-las em torno de um SUS vivo que defende a vida de todos e de qualquer um.

10265 SOCIOGÊNESE DA POLÍTICA NACIONAL DE ATENÇÃO BÁSICA À SAÚDE 2017
Thiago Santos de Souza, Maria Guadalupe Medina

SOCIOGÊNESE DA POLÍTICA NACIONAL DE ATENÇÃO BÁSICA À SAÚDE 2017

Autores: Thiago Santos de Souza, Maria Guadalupe Medina

Apresentação: No Brasil, desde 1920 houve tentativas de organização de serviços que hoje poderiam ser caracterizados como proposições de atenção primária à saúde (APS). No entanto, apenas a partir do Sistema Único de Saúde (SUS) foi formulada uma política nacional abrangente, que conferiu à atenção primária um papel crucial na ordenação do sistema de saúde. A Política Nacional de Atenção Básica (PNAB) implantada em 2006 estabeleceu a saúde da família como estratégia para reorientação do modelo assistencial na atenção básica. Desde então, a PNAB foi reeditada duas vezes: em 2011 ampliando o escopo e a concepção da APS e em 2017, a qual suscitou duras críticas por especialistas e entidades que historicamente defendem o SUS. Este estudo pretende analisar o processo sócio histórico de formulação da Política Nacional de Atenção Básica à Saúde, editada em 2017, no Brasil. Desenvolvimento: Trata-se de um estudo de formulação da política de APS no Brasil, orientado pela perspectiva de Patrice Pinell, para compreensão de políticas públicas, que se baseia na teoria social de Pierre Bourdieu. Esta pesquisa cursa em desenvolvimento e serão apresentados os resultados preliminares oriundos da revisão de literatura e análise documental. Resultado: Com a publicação da nova edição da política, integrada ao pacote de desmonte do SUS a favor do capital, verifica-se através das pesquisas os riscos circunscritos na PNAB e sua contribuição para o fortalecimento do modelo curativista biomédico e de uma atenção básica restritiva, além de representar um retrocesso em relação aos programas e ações em saúde existentes. A PNAB valoriza o modelo de atenção básica tradicional, a flexibilização de contratação por categoria profissional, torna a presença do ACS facultativa e entrelaça suas funções com os agentes de combate as endemias. A nova política impõe limites que vão além da própria PNAB, quais sejam: restrição na conformação das redes de atenção, sob influência direta do setor privado, limitada força para regulamentação profissional, sobretudo, dos médicos e frágil participação social na formulação e monitoramento das políticas de saúde. No bojo dessa gama de desafios, a PNAB 2017 representa retrocessos e corrobora a opção do Estado pela racionalidade neoliberal ao relativizar a cobertura universal e definir padrões distintos de serviços. Considerações finais: A nova PNAB coloca em risco a qualidade da atenção e a possível desassistência de parte da população, tais ameaças denotam a ofensiva do capital na subtração de direitos e abre espaço para a mercantilização do setor saúde. Com o avançar deste estudo espera-se analisar o processo político de formulação da PNAB 2017, além de buscar apreender a dinâmica das transformações ocorridas no espaço social, identificar os atores e interesses que estiveram em jogo, possibilitando, assim, discutir as implicações na direcionalidade dos modelos de APS em curso no Brasil.

10324 TECENDO REDES E OUTRAS POSSIBILIDADES DE MUNDO: MOVIMENTOS SOCIAIS COMO ESPAÇOS POTENTES DE CUIDADO
Stela Mari dos Santos, Maira Sayuri Sakay Bortoletto, Alejandra Astrid Leon Cedeño, Alberto Durán González, Graziella Alves Ruivo, Mayara S. Ramiro Kuwuhara, Camila da Silva Luz, Lorena Maria Fernandes da Silva

TECENDO REDES E OUTRAS POSSIBILIDADES DE MUNDO: MOVIMENTOS SOCIAIS COMO ESPAÇOS POTENTES DE CUIDADO

Autores: Stela Mari dos Santos, Maira Sayuri Sakay Bortoletto, Alejandra Astrid Leon Cedeño, Alberto Durán González, Graziella Alves Ruivo, Mayara S. Ramiro Kuwuhara, Camila da Silva Luz, Lorena Maria Fernandes da Silva

Apresentação: A construção de políticas públicas é parte do processo de garantia de direitos básicos à população, entretanto, o desenvolvimento de políticas públicas é um caminho longo, que perpassa muitas lutas e resistências. Nessa perspectiva, os movimentos sociais constituem um papel importante na persistência na luta e na reinvidicação de políticas concretas e condizentes com a realidade vivida. Nos últimos tempos, a partir do estar junto aos movimentos periféricos, percebe-se uma nova movimentação dentro do campo dos movimentos sociais, alguns passam a se organizar de formas diferentes, vazando o institucionalizado e comum dos movimentos sociais mais tradicionais. Em Londrina/PR, movimentos sociais mais informais vem se delineando nos últimos anos, com a perspectiva da autogestão, construído através da coletividade da comunidade que os compõe. Dentre esses, destacamos o movimento Ciranda da Cultura que se iniciou há mais de duas décadas no bairro Avelino Vieira em Londrina. Por estar em atividade (e em construção contínua) há muitos anos, diversas atividades já compuseram as ofertas do espaço, desde pesagem infantil, fornecimento de fórmula alimentar, oficinas de dança, teatro, cursinho pré vestibular, e o que mais coubesse e fosse desejado pelos moradores. Esse espaço possibilita muitas potências e produção de vida e cuidado, propiciando o encontro: e é no encontro que tudo é possível, onde os afetos explodem e a produção de vida e cuidado acontecem. O campo da saúde constitui também espaço importante de militância para construção de políticas públicas, entretanto, durante a graduação, poucos estudantes têm a oportunidade de conhecer espaços de movimentos sociais e perceberem a importância de suas lutas. Portanto, é importante a existência de estratégias que proporcionem o estudante a conhecer outras realidades para além dos muros da universidade. Assim, o objetivo deste trabalho é partilhar a cartografia construída no percurso de estar junto ao Ciranda da Cultura, vivendo e estando dispostas ao encontro e aos afetos que aqui surgem, através das experienciações vividas no projeto de extensão intitulado: Ações em movimentos sociais periféricos: cartografias de espaços cuidadores e conjuntamente ao projeto de pesquisa “Análise dos novos movimentos sociais e a produção da saúde na periferia da região metropolitana de Londrina (PR)” que faz parte de um grupo de pesquisa do CNPQ: o Observatório Microvetorial de Políticas Públicas em Saúde e Educação em Saúde da Universidade Estadual de Londrina (UEL). Desenvolvimento: A entrada no Ciranda da Cultura se dá a partir do encontro com pessoas que compõe esse movimento. No encontro, nos implicamos com essas pessoas e as potências que esses encontros e o movimento possibilitam. O percurso metodológico escolhido é a cartografia que busca romper com a supostas neutralidade científica, convocando as pequisadoras a mergulharem no campo pesquisado, vivenciando intensidades e afetações que o encontro com o outro produz. Resultado: Na curva da estrada já avistamos a casa, com pinturas, desenhos e pixos nas paredes, eu adoro estar aqui, ver a casa, sentir o vento que bate aqui em cima, o céu azulão e a sensação de aconchego me invadindo. Eu quase corro em direção a casa, tenho muito entusiasmo em estar por aqui. Quando eu entro, parece que estou em casa, já vou na cozinha procurando o pessoal pra cumprimentar, avisar que chegamos, apresentar as meninas novas que ainda não conhecem o Ciranda e as pessoas que o constroem, já vou perguntando o que tem pra fazer e começa o mexe mexe e o zum zum zum, mais gente vai chegando, e parece que o espaço vai ficando cada vez mais iluminado e potente. Chegar no Ciranda costuma ser assim, cheio de vida, as pessoas que fazem parte do movimento já se conhecem há muito tempo, e vão acolhendo as novas pessoas com uma certa curiosidade, mas ao mesmo tempo com uma tranquilidade de quem já passou por muito, e encontrou saída para quase tudo. Nesses encontros, vamos trilhando as possibilidades de trabalhos e atividades que possamos desenvolver juntos, a partir dos desejos, implicações, disponibilidades. E assim, várias incursões ao Ciranda vão acontecendo, vamos grudando das pessoas, nos implicando, participando das atividades que ali acontecem, nos encontrando. Esse encontros nos possibilitaram algumas oficinas, dentre elas, trazemos aqui a oficina de plantas medicinais, pensada junto com as mulheres através da ideia de resgatar alguns hábitos que há tempos são repassados pela sabedoria popular e parecem estar se perdendo. Então, aproveitamos um sábado de pesagem das crianças para ofertar a atividade sobre plantas medicinais. A planta escolhida, num primeiro momento, foi a hortelã, nesse dia, nos organizamos e levamos, além de mudas da planta, lápis de cor, cola colorida, papelão, giz de cera, cola, glitter, tecidos, e outros materiais para que cada uma pudesse montar uma pastinha, onde fossemos colocando as informações sobre as ervas. E nessa brincadeira leve, regada à suco de limão com hortelã, aprendemos mais sobre cuidados, sobre o uso da hortelã, e das diversas outras ervas que foram levantadas pelas participantes. Em outro momento, propomos uma oficina de água saborizada, as pessoas toparam, e lá fomos nós, no dia da festa junina do Ciranda, levamos os materiais e cada um pode montar sua água com sabores: abacaxi, hortelã, laranja, maçã, cravo… Uma delícia! Na costura dessa brincadeira, montando cada um sua água saborizada, à seu gosto, conversamos sobre a importância da água, das vitaminas, e cada um tinha histórias e elementos para dividir e dar risada. E assim, em cada encontro, na leveza da brincadeira, mas na firmeza da participação, envolvimento e implicação, fomos construindo nossa relação com as pessoas que compõe essa cena de novas outras possibilidades. Considerações finais: Espaços como o Ciranda da Cultura evidenciam a possibilidade de criação de mundos outros, forjados na construção de outras relações, com encontros mais implicados, mais vivos. As pessoas que compõe o ciranda tecem redes de cuidados nos territórios que ocupam que permeiam além das questões biológicas vividas, redes essas que muitas vezes passam despercebidas pelos profissionais da saúde, não sendo devidamente valorizadas nas suas singularidades de composição. Ao possibilitarmos a graduação a implicar-se com esse movimento e suas realidades apostamos numa possibilidade outra de profissionais da saúde, que consigam enxergar e valorizar as singularidades das redes de resistências criadas pelos movimentos periféricos. Nossa trajetória com o Ciranda continua sendo costurada pelos encontros, pelas parcerias assumidas, pelas levezas e brincadeiras, pelo ar de aconchego, pelas implicações e afetos, por nós. Implicar-se nesse espaço, afetar-se com esses encontros possibilita enxergar novas possibilidades de cuidar, de formar rede, de re-energizar para trabalhar por esses novos mundos possíveis.

10341 FAKE NEWS: UM NOVO PROBLEMA DE SAÚDE PÚBLICA
Paula Ingrid Alves da Silva, Uliana Pontes Vieira

FAKE NEWS: UM NOVO PROBLEMA DE SAÚDE PÚBLICA

Autores: Paula Ingrid Alves da Silva, Uliana Pontes Vieira

Apresentação: A criação do Sistema Único de Saúde (SUS), por meio da Constituição Cidadã, permitiu a ampliação do acesso à saúde com base nos princípios da universalidade, equidade e integralidade. Após três décadas de existência do SUS, observam-se melhoras significativas na qualidade de vida dos brasileiros, devido a, dentre outras, iniciativas como a revalorização de ações preventivas – destacando-se a vacinação - e de promoção de saúde. Contudo, nota-se que a propagação de informações alarmistas, sensacionalistas e sem respaldo científico, chamadas “Fake News”, aliada ao crescimento do uso da internet e redes sociais, tem ocasionado efeitos negativos às ações de saúde pública. Objetivo: Analisar o papel de “Fake News” no âmbito da saúde coletiva. Método: Análise descritiva do fenômeno de notícias falsas, a partir de fontes vinculadas a instituições públicas de saúde, como o Ministério da Saúde, e de entidades jornalísticas. Resultado: Observa-se crescente adesão de segmentos populacionais a movimentos que estigmatizam e propagam informações inverídicas sobre ações em saúde, como o movimento antivacina, relacionando-se com a redução da busca e uso de serviços de saúde, ao risco de desperdício de insumos de saúde e de ressurgimento de doenças já erradicadas no Brasil. Esses são os resultados preliminares da pesquisa que tem como objetivo mensurar e analisar o impacto das Fake News sobre a saúde. Espera-se com isso, identificar principais pontos de entrave e propor soluções para conter o avanço das notícias falsas em saúde brasileira. E desta forma oferecer informação mais confiável para uma assistência mais resolutiva por meio do fortalecimento do Sistema Único de Saúde e de uma rede de informações confiável. Considerações finais: O avanço das “Fake News” interfere negativamente nos processos de manejo das doenças, na prestação da assistência e cuidado em saúde. Ações do Ministério da Saúde e da Fundação Oswaldo Cruz buscam minimizar esses impactos, por meio da divulgação de informação confiável. Trata-se de um desafio para as equipes de gestão, assistência e formação profissional em saúde, pois interfere nas diversas instâncias das práticas dos serviços. 

10361 O ENFRENTAMENTO DAS DESIGUALDADES SOCIAIS NO TERRITÓRIO: DESAFIOS VIVENCIADOS POR ENFERMEIROS QUE ATUAM NA ESTRATÉGIA SAÚDE DA FAMÍLIA
Milleny Tosatti Aleixo, Nayara Rodrigues Carvalho, Amanda Moraes Polati, Érica Toledo de Mendonça, Rayla Amaral Lemos, Tiago Ricardo Moreira, Deíse Moura de Oliveira, Vanessa de Souza Amaral

O ENFRENTAMENTO DAS DESIGUALDADES SOCIAIS NO TERRITÓRIO: DESAFIOS VIVENCIADOS POR ENFERMEIROS QUE ATUAM NA ESTRATÉGIA SAÚDE DA FAMÍLIA

Autores: Milleny Tosatti Aleixo, Nayara Rodrigues Carvalho, Amanda Moraes Polati, Érica Toledo de Mendonça, Rayla Amaral Lemos, Tiago Ricardo Moreira, Deíse Moura de Oliveira, Vanessa de Souza Amaral

Apresentação: A explicação da determinação do processo saúde-doença sofreu diversas alterações no decorrer da história da humanidade, partindo de um conceito que considerava apenas as causas biológicas como necessárias para a manifestação de doenças nos indivíduos até a elaboração do modelo explicativo atual, que considera os determinantes sociais da saúde como indispensáveis na compreensão deste processo. Neste sentido, entende-se que as condições de vida e de trabalho dos indivíduos e de grupos populacionais encontram-se intimamente relacionadas com a sua situação de saúde. O índice de Gini avalia a medida do grau de concentração de distribuição de renda em um país, cujo o valor varia de zero (perfeita igualdade, ou seja, distribuição igualitária da renda entre toda a população) até um (desigualdade máxima, ou seja, a concentração de riqueza ocorre em uma minoria da população). Partindo deste índice o Brasil assume a classificação de o nono país mais desigual do mundo. Isso pode ser justificado devido ao enraizamento das desigualdades sociais na nossa sociedade atual, que é uma das principais consequências do desenvolvimento capitalista. Portanto, a presença milenar das desigualdades sociais, que caracterizam o modo de vida capitalista das sociedades na contemporaneidade, possuem um grande poder de determinação no processo saúde-doença dos indivíduos, uma vez que evidencia-se uma diversidade nas causas de morte e adoecimento entre grupos de diferentes estratos sociais. No Sistema Único de Saúde a Atenção Primária à Saúde constitui-se como a coordenadora do cuidado e ordenadora da Rede de Atenção à Saúde, tendo como foco o indivíduo/família/comunidade e atuando no território onde as pessoas constroem a vida. Cabe à Rede de Atenção viabilizar que os princípios do Sistema Único de Saúde sejam colocados em prática, tendo a Atenção Primária papel fundamental neste contexto, constituindo-se um cenário de potência para a identificação dos determinantes sociais da saúde e para o enfrentamento das desigualdades sociais na saúde. Neste contexto de cuidado inscreve-se a Enfermagem, especialmente o enfermeiro da Atenção Primária, que possui o compromisso de planejar e atuar na promoção da saúde comunitária, ocupando-se dos determinantes sociais da saúde e produzindo intervenções sociais que contribuam para a efetivação da equidade. Partindo desta premissa, o presente estudo buscou compreender os desafios vivenciados por enfermeiros  que atuam no contexto da Estratégia Saúde da Família no que tange ao enfrentamento das desigualdades sociais no território. Desenvolvimento: trata-se de um recorte da dissertação de mestrado intitulada “Experiências e o desenvolvimento de competências no enfermeiro para a atuação sobre as desigualdades sociais na saúde”, defendida em 2018 em uma universidade pública de Minas Gerais. A presente investigação é de natureza qualitativa e teve como cenário o serviço de Atenção Primária de um município da Zona da Mata Mineira. O referido município possui 18 equipes de saúde da família, sendo que 11 dos 18 enfermeiros aceitaram participar da pesquisa. A coleta de dados ocorreu entre os meses de julho a agosto de 2017, por meio de um roteiro de entrevista contendo questões abertas, no qual uma das questões se reportava aos desafios vivenciados pelo enfermeiro para o enfrentamento das desigualdades sociais na saúde.  As entrevistas se deram individualmente e os dados coletados foram transcritos na íntegra e submetidos à análise de conteúdo temática. O presente estudo obteve parecer favorável do Comitê de Ética e Pesquisa com Seres Humanos (CEP) da universidade pública inscrita no município cenário do estudo (Parecer n. 2.058.819 /CAAE 67962717.2.0000.5153). Resultado: Os participantes da presente pesquisa destacam que o enfrentamento das desigualdades sociais envolve necessariamente o diálogo contínuo de diferentes atores e setores da Rede de Atenção à Saúde, o que apresenta-se como o maior desafio no cenário estudado. Os enfermeiros afirmam que atuar sobre questões de natureza social é muito desafiador, em especial em uma rede desarticulada, que possui dificuldades de diálogo entre os diversos setores para intervir nas questões basais das desigualdades sociais. Neste contexto, os enfermeiros afirmaram que um dos desafios que se desdobram à partir desta realidade é o desconhecimento dos serviços disponíveis e do papel e competências dos profissionais inscritos nestes serviços. Salientam, neste sentido, a importância de que cada profissional reconheça seu papel dentro desta rede e o papel dos que com ele atuam, para que possam trabalhar conjuntamente sobre as questões relacionadas aos determinantes sociais da saúde e as desigualdades sociais. Os participantes enfatizam que as ações de assistência à saúde ainda são realizadas de forma individualizada, sendo atravessadas por burocracia, morosidade na resolutividade das questões identificadas e necessidade de cumprimento de metas, impactando diretamente na qualidade do cuidado ofertado. Neste sentido salientam a importância de uma gestão que compreenda a especificidade que é atuar sobre as desigualdades, uma vez que intervir neste campo requer o apoio e entendimento da gestão para ações que qualificam a saúde no território, porém não são objetivadas muitas vezes em dados como consultas, procedimentos, entre outros, valorizados comumente pelos serviços de Atenção Primária. A ausência do apoio da gestão e de uma rede estruturada se apresenta neste sentido como um desafio para a oferta de uma assistência integral aos usuários, agravando ainda mais o enfrentamento dessas desigualdades. Os enfermeiros acreditam que a obtenção de uma articulação efetiva da rede de atenção se dará por meio da criação de estratégias de gestão que viabilizem essa comunicação entre os serviços, possibilitada por meio de um diálogo longitudinal e intersetorial entre os atores que podem intervir na trama das desigualdades. Faz-se necessário neste contexto, o comprometimento dos diversos atores e setores envolvidos, buscando a realização de práticas colaborativas e interdisciplinares que possam responder à complexidade envolvida no enfrentamento das desigualdades sociais na saúde. Considerações finais: através da realização da presente investigação foi possível identificar que a ausência do apoio da gestão e a comunicação ineficaz intra e intersetorial constituem-se como aspectos desafiadores na vivência dos enfermeiros para o enfrentamento das desigualdades sociais na Atenção Primária à Saúde. Neste ensejo, reitera-se a importância de que questões que problematizam as demandas de ordem social na saúde sejam pautadas e refletidas, ainda que isso seja considerado um desafio ora apresentado pelos enfermeiros, e que repercute demasiadamente na garantia de equidade e integralidade, princípios fundamentais do Sistema Único de Saúde.  

10436 O ACESSO ÀS URGÊNCIAS E EMERGÊNCIAS NO TERRITÓRIO LÍQUIDO DE MAUÉS/AMAZONAS
Vanessa Figueiredo de Almeida, Julio Cesar Schweickardt, Franmartony Oliveira Firmo, Jean José Queiroz de Oliveira, Giovana Brandão Farias, Hellen Carla de Barros, Cosmicilda Farias Gama Rocha, Francisca Margarete Pereira de Souza

O ACESSO ÀS URGÊNCIAS E EMERGÊNCIAS NO TERRITÓRIO LÍQUIDO DE MAUÉS/AMAZONAS

Autores: Vanessa Figueiredo de Almeida, Julio Cesar Schweickardt, Franmartony Oliveira Firmo, Jean José Queiroz de Oliveira, Giovana Brandão Farias, Hellen Carla de Barros, Cosmicilda Farias Gama Rocha, Francisca Margarete Pereira de Souza

Apresentação: Este trabalho faz parte de uma proposta de escrita compartilhada entre pesquisadores locais e externos, tendo por objetivo relatar como se dá o acesso da população ribeirinha aos serviços de urgência e emergência em Maués/Amazonas. Este resumo é produto de um trabalho elaborado por pesquisadores do Laboratório de História, Políticas Públicas e Saúde na Amazônia – LAHPSA juntamente com profissionais da Secretaria Municipal de Saúde e do Hospital e Pronto Socorro Municipal de Maués, Raimunda Francisca Dinelli, também conhecido pela população como "Hospital Dona Mundiquinha”. O trabalho aqui apresentado é um recorte de uma das pesquisas desenvolvidas pelo Laboratório nesse território líquido da Amazônia, particularmente nas regiões do Baixo Amazonas e Médio Solimões, sendo financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas - FAPEAM, por meio do edital de Projetos de Pesquisas para o SUS - PPSUS. O município de Maués foi selecionado para esse trabalho por se tratar de um local importante para a pesquisa de campo, por apresentar uma grande quantidade de comunidades rurais/ribeirinhas e também porque recebe usuários de outros municípios e do Estado do Pará. Desenvolvimento: O município de Maués está localizado na região do Baixo Rio Amazonas, no interior do Estado do Amazonas. É conhecido como a terra do guaraná e por uma característica em particular de sua população que é a longevidade. Além disso, ele é considerado um município rural, pois a maior parte de sua população (indígenas e não indígenas) reside em áreas rurais/ribeirinhas. Nos propomos a apresentar as características e singularidades do município, bem como os caminhos por onde o usuário da área ribeirinha percorre para acessar os serviços de urgência e emergência. Assim, os profissionais que compõe a gestão de saúde do município e trabalhadores da Atenção Básica e hospitalar se somaram ao grupo de pesquisa e de escrita sobre as suas práticas. A produção de um artigo sobre os caminhos da pesquisa no município de Maués tem utilizado o tipo de abordagem participativa que reforça a lógica de uma construção coletiva do conhecimento que envolve pesquisadores, alunos, gestores e trabalhadores. Os usuários entrarão em outra fase da pesquisa com metodologias específicas de participação. As questões levantadas envolvem aspectos relacionados às características do território do município de Maués, que tem um grande fluxo de pessoas para uma atenção mais especializada na capital do Estado. Por isso, a gestão tem interesse em qualificar os seus profissionais e trabalhadores para que as ações sejam resolutivas e com o apoio de diagnóstico local. Uma atividade da pesquisa é convidarmos os Agentes Comunitários de Saúde para uma reflexão através do mapeamento do seu território no que se refere aos cuidados de urgência, emergência, transporte sanitário, outros cuidadores no território. Depois disso, fizemos o convite para uma escrita coletiva, explorando os diferentes modos de relatar as características do território na relação com o cuidado. Resultado: O município de Maués tem uma grande extensão territorial, tendo, por isso, a maioria das comunidades ribeirinhas distantes da sede, sendo que a população e trabalhadores levam em média de 18 a 24 horas para o deslocamento via fluvial. Nesse território ribeirinho o cuidado em saúde é influenciado pelo ciclo dos rios (cheia, seca), além disso, o deslocamento se faz através deles, e dependendo da potência do motor, o transporte pode ser facilitado ou dificultado. Assim, o cuidado em saúde nos casos de urgência e emergência são dificultados por questões geográficas, em que muitas vezes o transporte é feito de modo inadequado, em rabeta (motor de pequena potência utilizado em canoas da região) ou lancha. Esse transporte é considerado pelos profissionais como sendo inadequado, mas é o único meio disponível para esse transporte sanitário. Os usuários que vem da “área” como eles chamam, geralmente são trazidos pelos ACS em condições de urgência ou emergência, pois os cuidados básicos, de primeiros socorros é feito por meio dos ACS ou mesmo da comunidade, mas quando a situação é mais grave faz se necessário conduzir o paciente até a sede do município. Em muitos casos quando os agentes de saúde chegam à próximos à cidade, entram em contato com o hospital ou com alguém da secretaria para acionar a ambulância do hospital para a condução do usuário, juntamente com um acompanhante e muitas vezes o próprio ACS, que repassa as informações necessárias sobre o quadro do paciente, dando entrada no hospital municipal. E ali são realizados os cuidados necessários para reestabelecer a saúde daquele usuário ou ao menos estabilizá-lo, mas em casos onde se esgotam as possibilidades de assistência, após avaliação do médico clínico e do cirurgião geral, é encaminhado até a capital do Estado através do Transporte Fora de Domicílio – TFD, por meio fluvial (barco) ou, dependendo da gravidade do caso, é conduzido em UTI aérea ou num avião fretado pela Secretaria Municipal de Saúde. Em algumas situações os usuários são acompanhados por um profissional de saúde, de nível médio ou superior, até a unidade em Manaus. Contudo, não são apenas os usuários da área ribeirinha que utilizam o TFD, mas também todos aqueles que dão entrada no hospital municipal e que necessitam de um serviço mais especializado, por exemplo. O município não dispõe de outras especialidades médicas, a não ser um cardiologista e uma psiquiatra que vem periodicamente ao município para consultas ambulatoriais no hospital e no Centro de Atenção Psicossocial respectivamente. Assim, muitos usuários que necessitam de um serviço especializado são encaminhados para Manaus pelo TFD. Esse transporte é de responsabilidade estadual e municipal, entretanto, o município de Maués tem custeado o TFD. O custo de remoção dos usuários é muito elevado para o tamanho do município, tendo que deixar de financiar em outras áreas como da atenção básica. Contudo, uma importante estratégia de melhoria do acesso da população ribeirinha foi a implantação da Unidade Básica de Saúde Fluvial que facilitou bastante o acesso, pois atende à grande parte dessa população. Considerações finais: O município de Maués consegue gerir os casos de urgência e emergência de modo satisfatório de acordo com os profissionais do serviço, contudo, um dos desafios que enfrentam está relacionado ao financiamento do transporte sanitário e de Transporte Fora de Domicílio, que tem impactado mensalmente nas contas da Secretaria. Além disso, não dispõe de um Serviço de Atendimento Móvel de Urgência, mas possui uma ambulância que realiza o resgate dentro da cidade, contudo, na área ribeirinha, geralmente, são os ACS que fazem esse resgate. Portanto, é necessário pensar sobre as características desse território que é cercado por águas e floresta e planejar estratégias que viabilizem o acesso dessa população no que diz respeito ao acesso aos serviços de urgência e emergência seja na área, na sede municipal ou na capital, assim como o acompanhamento quando retornam a área ribeirinha. Outra questão é sobre os encaminhamentos pelo TFD ambulatorial que poderia ser reduzido se houvessem mais especialistas disponíveis no município, principalmente considerando a distância no deslocamento até a capital, que por via fluvial pode levar até 20 horas. O mapeamento do território ribeirinho realizado numa parceria entre o município e o laboratório de pesquisa dará subsídio à gestão municipal para investir de forma mais adequada no transporte sanitário.

10498 REFLEXÃO COM TRABALHADORES DA ENFERMAGEM DO SETOR ONCOLÓGICO
Sandra Regina Peixoto de Sousa, Ândrea Cardoso de Sousa

REFLEXÃO COM TRABALHADORES DA ENFERMAGEM DO SETOR ONCOLÓGICO

Autores: Sandra Regina Peixoto de Sousa, Ândrea Cardoso de Sousa

Apresentação: A estimativa de novos casos segundo o INCA para cada ano do triênio 2020-2022 será de 625 mil novos casos em todo o país. A modalidade terapêutica mais utilizada na oncologia é a quimioterapia. Sabe-se que em alguns serviços são os profissionais de enfermagem que atuam de forma direta na administração de quimioterápicos. Sendo indispensável que estes profissionais tenham qualificação permanente e atualizada para prestar assistência de forma segura e eficaz. No entanto, um outro fator que corrobora para a qualidade da assistência é o processo de trabalho. Este sofre interferências de vários fatores e é preciso promover estratégias que possam qualificar os processos de trabalho. Desenvolvimento: Este estudo traz como problema de pesquisa: De que forma a assistência de enfermagem durante a administração de quimioterápicos pode ser melhorada a partir do conhecimento dos processos de trabalho adotados num ambulatório de oncologia? O cenário será um ambulatório de oncologia de um hospital universitário do Estado do Rio de Janeiro. Então objetivou-se analisar como os processos de trabalho interferem na administração segura de quimioterápicos. Tendo como objetivos específicos: Conhecer as vivências de auxiliares e técnicos de enfermagem no cotidiano do trabalho para a administração mais segura de quimioterápicos; Identificar os desafios encontrados na prática para a administração segura de quimioterápicos. A PNEP assegura que é importante capacitar, atualizar os profissionais de nível técnico, pois é uma parcela decisiva para a concretização da política nacional de saúde, capaz de fortalecer e melhorar a qualidade dos atendimentos e as demandas da população, pois visivelmente o papel destes trabalhadores no desenvolvimento das ações e serviços de saúde é de grande importância. Daí a necessidade destes profissionais estarem em constante aperfeiçoamento de suas habilidades laborais e mesmo de seu psicológico, para atuarem com os usuários que entram em contato com o sistema de saúde, a procura de serviços de qualidade e precisam de um atendimento de eficiência no SUS. A metodologia deste estudo se dará a partir de uma abordagem qualitativa, sera utilizado o método de instrução ao sósia que consiste em se fazer uma pergunta-chave ao participante instrutor(trabalhador): suponha que eu me pareça idêntico a você fisicamente e que o substituirei no seu trabalho, que informações eu devo saber para que ninguém perceba a diferença? É preciso pedir ao instrutor (trabalhador), que assuma uma posição de quem instrui de fato, de quem mostra como o trabalho deve ser feito, o que ele faz e o que ele não faz, o que se poderia fazer, mas ele não faz A técnica de instrução ao sósia busca  entender e conhecer os caminhos de execução escolhidos pelo sujeito. Resultado: esperados:contribuir para profunda reflexão dos profissionais e ao final disponibilizar um protocolo de atendimento para o setor de oncologia. Considerações: essa reflexão traz para o trabalhador um confronto onde ele pode transformar e melhorar seu modo de agir dentro de seu processo de trabalho, dando continuidade a um serviço de qualidade e resistindo as adversidades do cotidiano. Palavras-chave:quimioterapia, enfermagem oncológica, instrução ao sósia.

10594 O CARTÓRIO DA ATENÇÃO BÁSICA. UMA ANÁLISE DO PAPEL DA ATENÇÃO BÁSICA A PARTIR DO OLHAR DA REDE VIVA DE UM USUÁRIO DA REDE DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA EM CAMPO GRANDE – MS.
Nathalia Silva Fontana Rosa, Ane Milena Macêdo de Castro, Débora Bertussi, Jackeline Sousa, Lohanna Macedo, Mara Lisiane Santos, Nathan Aratani

O CARTÓRIO DA ATENÇÃO BÁSICA. UMA ANÁLISE DO PAPEL DA ATENÇÃO BÁSICA A PARTIR DO OLHAR DA REDE VIVA DE UM USUÁRIO DA REDE DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA EM CAMPO GRANDE – MS.

Autores: Nathalia Silva Fontana Rosa, Ane Milena Macêdo de Castro, Débora Bertussi, Jackeline Sousa, Lohanna Macedo, Mara Lisiane Santos, Nathan Aratani

Apresentação: O presente trabalho é fruto das análises preliminares da pesquisa “Análise da implantação da rede de cuidados à saúde das pessoas com deficiência – Os usuários, trabalhadores e gestores como guias”, levadas a cabo na frente de Campo Grande, Mato Grosso do Sul. Este é um projeto realizado em nível nacional, e tem como objetivo principal analisar a produção de redes de cuidado operadas pelos Centros Especializados em Reabilitação (CER) habilitados pelo Ministério da Saúde, bem como o grau de adesão aos princípios e às diretrizes definidos nas normativas da Rede de Cuidados à Pessoa com Deficiência (RCPD). Este projeto de pesquisa foi elaborado para a chamada CNPQ/MS/SCTIE/DECIT/SAS/DAPES/CGSPCD nº 35/2018 – Avaliação da Implementação da Rede de Cuidados à Saúde das Pessoas com Deficiência no Sistema único de Saúde (SUS), Linha 2 - Análise dos serviços de reabilitação habilitados como CER pelo Ministério da Saúde, com relação à adesão aos princípios e às diretrizes definidos nas normativas da RCPCD. Este texto tem como proposta de problematizar o papel da Atenção Básica junto às  demandas da pessoa com deficiência a partir de uma pesquisa cartográfica. Desenvolvimento: Trata-se de uma pesquisa que tem como caminho a cartografia, com o objetivo de rastrear os movimentos realizados no cotidiano das pessoas envolvidas na produção do cuidado na RCPD. Mais do que propor um método de pesquisa, apontamos aqui a cartografia como uma estratégia de encontro com o(s) outro(s), ou seja, ao invés da lógica de caminhos produzidos por métodos rígidos elaborados a partir de regras e metas, cartografar aposta na experimentação, na construção de percursos acompanhados dos efeitos e interferências que causam nos pesquisadores, nos sujeitos, no campo e na própria produção da pesquisa. Neste percurso, buscamos explorar modos de acessar e compreender a produção do cuidado dando visibilidade à disputa pelo cuidado entre os vários que o produzem. Trata-se de uma construção conjunta de pesquisadores e trabalhadores, tomando o usuário como guia desse processo, no seu modo de fabricar sua rede viva de existência, para muito além dos itinerários terapêuticos e projetos terapêuticos, das nossas ofertas instituídas, facilmente capturados por ações de saúde programáticas e procedimentos. Como dispositivos para trazer para a cena essa multiplicidade de perspectivas, o grupo produz diferentes “entradas” no campo. A produção desses espaços adota dinâmicas próprias que associam desde rodas de conversas; observação; participação do cotidiano dos serviços com os trabalhadores; oficinas com trabalhadores; entrevistas com diferentes atores; até conversas informais nos diferentes territórios por onde caminham os pesquisadores. Resultado: Estivemos acompanhando a história de Marcelo (nome fictício), diabético, que aos 42 anos teve descompensação da diabetes  por conta de estresse emocional. Como resultado, teve problemas de audição, perda temporal da visão e amputação na perna esquerda. De acordo com seu relato, o primeiro sintoma mais grave foi a perda total da visão. Ingressou diretamente em um hospital público do município e ali fez diferentes tratamentos, recuperando a visão. Quando apresentou sintomas de perda auditiva, recorreu diretamente a um serviço público especializado, mas só acessou o tratamento  após da regulação via AB. Atualmente, segue o acompanhamento do aparelho auditivo que acessa diretamente. Em decorrência da diabetes, Marcelo também teve problemas renais, o que o levou a fazer hemodiálise em outro hospital público. Neste período, apresentou um trauma no pé, sendo necessária a amputação de parte da sua perna neste mesmo serviço, neste caso sem passar pela  regulação por já estar vinculado ao hospital em decorrência da diabetes. Entretanto, após a cirurgia, foi encaminhado de volta para a Atenção Básica para realização dos curativos e retirada de insumos. Nesse momento, conta que não houve acesso para suprir suas demandas de cuidado, pois não tinham materiais para fornecer. Assim, Marcelo teve que comprar os insumos junto a um fornecedor privado, e sua esposa assumiu a tarefa de realizar os curativos por um longo período. Marcelo, a partir da construção anterior de vínculo com o hospital, passou a ser acompanhamento da cirurgia e fisioterapias no local, até finalizar o período de cicatrização do coto e poder ser encaminhado para o Centro Especializado de Reabilitação - CER (AP)AE de Campo Grande. Novamente, teve que retornar  à AB solicitar a regulação municipal para ser encaminhado para o serviço especializado, onde iniciou seu processo de reabilitação e protetização. Depois de três anos com a prótese, começou a sentir incômodos, retornou ao CER para fazer revisão do coto e troca de material, e foi instruído a retornar à AB para solicitar encaminhamento via regulação a instituiçãoAtualmente, seu vínculo com a AB é quase que exclusivamente para retirada de insulina, seringas e  encaminhamento regulado, sendo que o controle da diabetes é realizado diretamente no hospital onde realizou a cirurgia de amputação. Segundo conta, é onde tem mais acolhimento. Considerações finais: Uma questão importante a ser problematizado  é o papel da AB na Rede da Pessoa com Deficiência, que entra unicamente no fluxo de regulação  da rede, produzindo encaminhamentos para os serviços especializados. Qual seria a finalidade do usuário buscar a AB somente  para “acessar” um encaminhamento para o CER? Ao conversarmos com os trabalhadores da gestão, fomos informados que com procurada AB para o encaminhamento necessário para atenção especializada, o usuário deveria ser cadastrado no território  pela equipe de AB, que deveria ser a coordenadora do cuidado e ordenadora da rede de atenção à saúde, responsabilidade/resultado que as equipes não tem sido possível atingir. Por outro lado, as equipes de AB são frequentemente  sobrecarregadas, fato que gera ruídos em relação à sua eficiência, qualidade e resolubilidade. No relato de Marcelo, observamos que ele “aprendeu a usar” a AB para produzir “sua rede” onde a produção de vínculo foi construída nos locais onde percebe um maior acolhimento, e da equipe da AB  com uma carga narrativa negativa.Isso porque a AB se coloca muito mais como  “cartório” do que como um serviço de saúde que produz cuidados em saúde. Observamos sobrecarga; olhar limitado ou insuficiente sobre as os processos de saúde e de doença  dos usuários (caso da diabetes e suas consequências); ruídos com a  atenção especializada (gestores e trabalhadores). Essa organização enfatiza a atenção básica como a  porta de entrada, mas que  em muitas situações representa uma barreira para a produção existencial do usuário, bem como do próprio processo de trabalho dos trabalhadores tanto dos serviços especializados, como da própria AB. Em um  duplo papel de organizadora de fluxo e definidora de agendas, a AB tem se esbarrado nas infinitas lógicas internas e  próprias da AB na rede de atenção à saúde, que se por um lado definem as agendas dos serviços e usuários, por outro como consequência faz com que os usuários tenham que experimentar os dissabores da rede analógica com as dificuldades de acesso e  suas barreiras. Demonstrando claramente a inviabilidade das equipes da AB como coordenadora e ordenadora da rede de cuidado dos usuários. 

10611 CONDIÇÕES DE TRABALHO NA ATENÇÃO AO IDOSO DEPENDENTE: O QUE DIZEM OS GESTORES E PROFISSIONAIS DE SAÚDE?
Míria Conceição Lavinas Santos, Jonas Loiola Gonçalves, Raimunda Magalhães da Silva, Christina César Praça Brasil, Luiza Jane Eyre De Souza Vieira, Antônia Rozângela Souza de Oliveira, Fernanda Collares Borba Netto, Maria Cecilia de Sousa Minayo

CONDIÇÕES DE TRABALHO NA ATENÇÃO AO IDOSO DEPENDENTE: O QUE DIZEM OS GESTORES E PROFISSIONAIS DE SAÚDE?

Autores: Míria Conceição Lavinas Santos, Jonas Loiola Gonçalves, Raimunda Magalhães da Silva, Christina César Praça Brasil, Luiza Jane Eyre De Souza Vieira, Antônia Rozângela Souza de Oliveira, Fernanda Collares Borba Netto, Maria Cecilia de Sousa Minayo

Apresentação: O objetivo do estudo é apreender a percepção de gestores e profissionais da Rede de Atenção Primária a Saúde (RAPS) sobre as condições de trabalho na assistência ao idoso dependente. Trata-se de um estudo qualitativo, compreendesse pela pesquisa qualitativa uma capacidade de incorporar questões referentes aos significados e intencionalidades em atos, relações e estruturas sociais inerentes, salientando-se as duas últimas tanto no seu advento, como na sua transformação e elaborações humanas significativas. O estudo desenvolvido nas Unidades Básicas de Saúde (UBS) da Secretária de Saúde do município de Fortaleza (CE), ao longo de junho a setembro de 2019. Os participantes do estudo compreenderam 10 profissionais e dois gestores de saúde. A inclusão dos participantes, definida por profissionais e gestores com no mínimo seis meses de atuação no serviço, não está em período de férias ou afastamento das atividades laborais. A coleta de dados desenvolvida por meio de uma entrevista semiestruturada, com coleta realizados por equipe treinada desde abordagem de campo a possíveis situações adversas no percurso do estudo. O material de captação de dados, esteve consolidado por uma ancoragem de referencial literária para consolidação das perguntas norteadoras tratadas no estudo: a) Como os sujeitos do estudo compreendem a multidependência do idoso diante da assistência; b) A compreensão das formas de trabalho de profissionais e gestores na atenção ao idoso e c) quais as estratégias adotadas e iniciativas existentes no contexto da RAPS. A organização dos dados sucedeu por meio da Análise de Conteúdo, ancorada como marco teórico a hermenêutica-dialética. Os resultados apresentados na seguinte temática: Condições de trabalho na atenção ao idoso dependente. A presente pesquisa segue a resolução 466/2012, aprovada sob parecer ético de n°1.326. 631. Os resultados expressam que as condições de trabalho sofrem divergências significativas, a oferta de serviços essenciais para a população perpassa pela ausência de profissionais, que por sua vez afeta diretamente os atores envolvidos na prestação do cuidado ao idoso, no espectro de profissionais e gestores de saúde: “existe uma carência de profissionais. pra quantidade de pacientes que necessitam...não tem profissional disponível” (Profissional 2 – Médico); “Não tá acontecendo visita domiciliar, porque meio que tá sem médico, tem que fazer visita com os médicos das outras equipes, sobrecarrega todo mundo” (Profissional 3 – Enfermeira); “Vamos dizer assim do dia a dia do gestor que atua na saúde da pessoa idosa, falta de recursos e aí o principal recurso que nós temos falta é recurso humano”. (Gestor 2 - Médico). Destaca-se ainda o reconhecimento pelos profissionais da necessidade do cuidado prioritário a população idosa, porém a narrativa reafirma as condições de trabalho desses profissionais: “torna se necessário um cuidado, uma atenção maior, porém a demanda é muito grande, a carência é muito grande, não tem profissionais suficientes pra dar esse suporte, a gente até tenta”. As narrativas de gestores configuram que as condições de trabalho sofrem cada vez mais precarização, afetado os serviços de saúde, em virtude da ausência de equipamentos e quantitativo de profissionais: “A gente acaba tendo visitas, porém visitas de quinze em quinze dias, né, por conta da disponibilidade do carro” (Gestor 1- Dentista); “A gente tenta trabalhar, porque tem uma equipe que tá sem profissional médico” (Gestor 1- Dentista). Destaca-se também a ausência de planejamento para agendas que deveriam ser prioritárias, como também a lotação dos serviços de saúde para a população idosa: “A gente não tem uma programação, né. A gente não tem um planejamento pra cuidar dessas pessoas, porque as agendas estão sempre lotadas, dos profissionais, então seria necessário a gente trabalhar realmente com as condições crônicas, estratificar o risco desses pacientes. Falta um eixo programático, enquanto a saúde da criança tem um setor todo voltado, a saúde do idoso tem ficado em segundo plano. (Gestor 1 – Dentista). Na visão de gestores  e profissionais de saúde as condições de trabalho e a assistência ao idoso são afetadas ainda mais proveniente das formas de contratação dos profissionais, na qual a rotatividade ocasiona a ruptura da consolidação do serviço, como também impactam nas condições de trabalho e no vinculo terapêutico com a comunidade: “Os profissionais que são RPA, que é aquela contratação só com prestação de serviço, eles entram e saem, tanto médicos como enfermeiros e isso dificulta, os profissionais do NASF, são contratados via seleção, não só eles, mas tem enfermeiros também, quando acaba a seleção eles vão embora, aí vem um novo enfermeiro e aí tem que começar tudo de novo, né. Então, eu acredito que os vínculos trabalhistas são muito fragilizados” (Gestor 1- Dentista); “A questão da rotatividade, eu vejo como uma forma muito ruim para o serviço né, muito ruim mesmo, do ponto de vista profissional, do ponto de vista pra comunidade, porque na hora que você vai pegando o fio da meada, que você pega o vínculo com a unidade, com os profissionais, até mesmo com a comunidade, com os pacientes, na hora que o negócio começa a fluir já e basicamente o momento em que você vai e deixar o contrato, e ai quebra todo o fluxo do processo, traz uma série de prejuízos” (Profissional 4 – Nutricionista). A limitação desse estudo pontou-se na ausência de entrevistas por meio de grupo focal, estratégia metodológica não realizada em virtude das condições de trabalhos e rotina dos serviços de saúde aqui envolvidos. Esta pesquisa demonstra o quanto precisa-se percorrer para uma saúde universal, equânime e com o desenvolvimento de um planejamento estratégico com um tom enfático as agendas prioritárias, salientando o processo multidimensional que é o envelhecimento humano. Destaca-se fortemente na visão de gestores e profissionais da Rede de Atenção Primária a Saúde (RAPS) que as condições de trabalho na assistência ao idoso dependente são dicotômicas e carecem de um olhar sensível de instâncias governamentais, em virtude das condições de trabalho afetarem direta e indiretamente a todos os processos e atores envolvidos no ato do cuidar.

10683 MODO DE PRODUÇÃO DO CUIDADO DOS AGENTES COMUNITÁRIOS DE SAÚDE NO CONTROLE DO C NCER DE COLO DO ÚTERO EM QUATRO MUNICÍPIOS EM UMA REGIÃO DE SAÚDE DA BAHIA
João Antônio Brito Porto, Adriano Maia dos Santos, Noêmia Fernanda Santos Fernandes

MODO DE PRODUÇÃO DO CUIDADO DOS AGENTES COMUNITÁRIOS DE SAÚDE NO CONTROLE DO C NCER DE COLO DO ÚTERO EM QUATRO MUNICÍPIOS EM UMA REGIÃO DE SAÚDE DA BAHIA

Autores: João Antônio Brito Porto, Adriano Maia dos Santos, Noêmia Fernanda Santos Fernandes

Apresentação: A Atenção Primária à Saúde surgiu num contexto de reestruturação e reorganização dos serviços de saúde, de modo que se pudesse ter uma nova perspectiva de produção do cuidado. Essas práticas de cuidado com vistas a enxergar além do adoecimento, concomitante aos determinantes sociais dos agravos em saúde incentivaram, inicialmente, ações que fossem mais centradas no sujeito e que pudessem superar o uso de tecnologias mais duras. A região Nordeste que sempre passou por um processo histórico de desigualdade social, teve como precursor o Programa de Agentes Comunitários de Saúde (PACS), a partir de 1991 e centrava no Agente Comunitário de Saúde (ACS) um importante elo entre a comunidade e o serviço, a fim de reduzir os agravos mais comuns das populações rurais e distantes dos grandes centros urbanos e que encontravam barreiras no acesso aos serviços de saúde, levando para os usuários as ações e serviços ofertados e trazendo da área para a equipe as demandas de saúde. A atuação do Agente Comunitário de Saúde no começo do PACS estavam ligados a execução de ações sanitárias que estavam relacionadas com uso de menos tecnologias, mas com alto impacto do ponto de vista da resolutividade, ações estas como as terapias de reidratação oral, monitoramento vacinal, e o acompanhamento de peso e crescimento das crianças. O ACS destaca-se como um sujeito de vinculação na relação comunidade e unidade de saúde da família e que media saberes técnico-científicos e populares tornando assim uma das maiores potencialidades de suscitar discussões que superem o saber centralizado da academia, incorporando o saber popular. Dentro do escopo de ações da ESF, o agente comunitário de saúde tem como estratégia principal a educação em saúde para a prevenção de agravos e promoção da saúde nas visitas domiciliares na área adscrita, para o levantamento dos principais problemas de saúde da população, sendo assim um promotor das boas práticas em saúde. A incidência do câncer de colo do útero (CCU) pode ser diminuída por meio do rastreamento de qualidade e exitoso, detectando assim a lesão precursora e fazendo com que o tratamento aconteça em tempo oportuno, o que está ligado a uma boa estrutura da Atenção Primária à Saúde como estratégia de captar as mulheres para realização do exame preventivo conforme os protocolos. Os ACS têm papel fundamental também na busca ativa, outra importante estratégia que a Atenção Primária à Saúde lança mão para identificar e captar as mulheres faltosas e tornar uma assistência adequada e proporcionar um cuidado longitudinal. Por esse motivo, o agente comunitário de saúde revela-se como um sujeito com forte implicação social na detecção precoce do câncer do colo do útero através da promoção e prevenção. Desenvolvimento: Trata-se de um estudo de cunho qualitativo, na região de saúde de Vitória da Conquista, Bahia, que fica ao sudoeste do estado. Foram escolhidos quatro municípios, sendo estes pertencentes aos seguintes estratos: Estrato 1, até 10.000 habitantes, estrato 2, entre 10.001 e 25.000 habitantes, estrato 3, entre 25.001 e 50.000 habitantes e estrato 4, maior que 50.001 habitantes. Nesse estudo foram realizados grupos focais com trinta e sete Agentes Comunitários de Saúde, da zona urbana e rural. Resultado: Observou-se que nos municípios estudados a maioria dos ACS trabalham há um certo tempo, e notaram evoluções e avanços no desenvolvimento do ofício, enquanto ator social e mecanismo de vínculo entre comunidade e os serviços de saúde. Na dimensão organizacional é percebida uma diferença entre o trabalho do ACS na zona urbana e rural, uma vez que por se tratar de um sujeito que convive diariamente na comunidade no qual ele trabalha, isso o transforma numa referência de saúde, sendo procurado em todos os turnos para sanar dúvidas, inclusive aos fins de semana e com assuntos de ordem intersetorial, no qual o ACS tem que se colocar como instrumento resolutivo de demandas sociais. Na dimensão de acesso ao exame citopatológico, os agentes comunitários se mostraram como figuras importantes, sobretudo no papel de educação em saúde e orientação às mulheres das suas comunidades, principalmente as usuárias faltosas e resistentes. O ACS se torna o primeiro contato entre a mulher e o exame preventivo, pois é esse sujeito que informa sobre os dias de marcação dos exames e a disponibilidade da agenda da enfermeira, que na maioria dos municípios estudados, é o profissional que realiza a coleta do material citopatológico. Apesar de não estar elencada como uma atividade do Agente Comunitário, a maioria dos ACS do estudo se colocou como sujeito que levava até a usuária o resultado do exame preventivo. Antes do laudo chegar as mãos da mulher, passava por uma triagem com a enfermeira, que anotava no livro de registros os resultados dos exames, facilitando assim uma busca mais efetiva em caso de resultados com alteração. Então nesse processo, revelou-se a figura do agente comunitário como de extrema importância, tanto na marcação, bem como na busca ativa. Observou-se ainda que o acesso das mulheres aos serviços especializados era fragilizado, pela demora no agendamento desses serviços, sobretudo nos municípios de pequeno porte em que havia necessidade do deslocamento dessa usuária ao sede da região de saúde para realização de procedimentos e consultas, que em na maioria das vezes o município não ofertava o transporte, sendo necessário assim o desembolso direto dessas mulheres. Considerações finais: Constatou-se então a importância do Agente Comunitário de Saúde na trajetória assistencial dessas usuárias na linha de cuidado do câncer do colo do útero, por se tratar de um sujeito com grande atuação social nas comunidades no quais estão inseridos. As ações de educação em saúde, nas unidades de saúde da família, e as visitas domiciliares se mostraram como mecanismos potentes de busca ativa das usuárias dentro da faixa etária preconizada pelo Ministério da Saúde, para rastreamento e detecção precoce do câncer do colo do útero. Apesar do presente estudo demonstrar que a dificuldade de acesso aos serviços especializados para controle do CCU ainda é uma realidade na região de saúde, em alguns dos municípios a oferta a esses serviços dentro das localidades, se revelou como potenciais meios para redução das desigualdades. Por fim, o vazio assistencial acaba por incentivar o pagamento por desembolso direto, corroborando aumento da iniquidade social, ou uso de meios clientelistas para acesso a um direito fundamental, perpetuando a realidade assistencialista dos serviços públicos e negação de direitos sociais.

10698 CAMINHOS DO CUIDADO NUMA AMAZÔNIA RIBEIRINHA QUILOMBOLA
Joana Maria Borges de Freitas, Julio Cesar Schweickardt

CAMINHOS DO CUIDADO NUMA AMAZÔNIA RIBEIRINHA QUILOMBOLA

Autores: Joana Maria Borges de Freitas, Julio Cesar Schweickardt

Apresentação: Este resumo apresenta um relato de experiência sobre a vivência proporcionada pela Agente Comunitária de Saúde (ACS) da Comunidade Quilombola Santa Tereza do Matupiri, localizada no Município de Barreirinha, região do Baixo Rio Amazonas, Estado do Amazonas, cujo objetivo foi acompanhar o cuidado realizado por essa potente rede viva de sa úde, sabido que os ACS representa m um elo entre a equipe de saúde e a comunidade, pois simultaneamente faz em parte da equipe e do seu território de atuação. E assim em um dia ensolarado do mês janeiro de 2019, um presente, pois o período entre dezembro e fevereiro é característico por ser chuvoso, neste período os níveis dos rios sobem gradativamente, com isso percebemos que o fazer saúde em determinados territórios é estar sempre se ajustando aos seus ciclos. Durante o acompanhamento das atividades da ACS, visitamos um domicílio, no qual um dos moradores estava doente. Um homem adulto estava prostrado numa cama por uma condição que não conheciam a origem, nem como tratar, mesmo após buscar assistência no hospital de Barreirinha, quando conforme relato do próprio paciente, começou a sentir dores nos pés que dificultavam sua marcha. No hospital foi ministrada medicação injetável e solicitados alguns exames que não foram realizados porque ele preferiu retornar logo para a comunidade. O problema de saúde já durava, pelo menos, duas semanas e sem melhora das dores pelo corpo que pareciam comprometer suas articulações e dificultavam sua locomoção. A ACS perguntou se o mesmo estava se alimentando, pois percebeu, que ele havia perdido peso, em resposta à pergunta ele respondeu que quando tem come, ao tocá-lo, a ACS o sentiu febril, mas não estava com seu termômetro para confirmar a temperatura. Na avaliação feita pela ACS, se tratava de “coisa grande”, nesse momento começa um diálogo com o comunitário para encaminhá-lo para o hospital de Barreirinha, uma negociação, pois o mesmo se mostrou relutante e que seu problema era “desmentidura” e a ACS argumentou que desmentidura não o deixaria prostrado como estava e com dores por todo o corpo, ele precisava ir naquele mesmo dia para Barreirinha. Com muita calma a ACS enfatizou a necessidade de ir para o hospital, também pelas pessoas que dele dependiam, especialmente esposa e filhos. Depois de convencido, a conversa foi direcionada à família. Seu padrasto cortava frutos de cumaru para preparar um remédio caseiro. Sua mãe disse que não adiantava ir para o hospital, pois ele já tinha ido, então a ACS mais uma vez usou de argumentos para o convencimento, apontou que para descobrir o problema, exames teriam que ser realizados, o que só poderiam ser feitos no hospital. Depois da família convencida, um outro problema surgiu, quem poderia acompanhar o paciente? Seu padrasto naquele momento era o único provedor para aquela família, já que seu enteado estava impossibilitado de trabalhar, então fizeram contato via telefone rural com um parente morador de Barreirinha para saber se este poderia dar assistência, e para o alívio da família, o mesmo se dispôs, mas nem tudo estava resolvido. Após convencer o homem enfermo, a família dele e conseguir um acompanhante, ainda existia o entrave da remoção. Como aquele homem que mal podia se mover seria levado até a ambulancha? Não havia maca e a ideia inicial foi transportá-lo numa rede, ideia ruim, sofreria muito, então surgiu a ideia de transportá-lo numa cadeira e assim foi feito. Acompanhar esta visita revelou que muitos fatores influenciam nos encaminhamentos de urgência e emergência, desde a tomada de decisão da ACS, pessoa responsável por acionar o serviço, até a aceitação por parte do paciente, reflexão que pode ser concluída na primeira visita domiciliar e ratificada nas seguintes. Inicialmente este cenário causou um certo estranhamento, ora, como assim não quer ir para o hospital? Se tem uma ambulancha e um motorista a disposição, porque não aproveitar a oportunidade? Afinal seu quadro só piorava, não conseguia trabalhar e consequentemente não podia prover o sustento de sua família. Como se sabe, o acesso à saúde é permeado por quatro dimensões, depende de fatores que começam pela disponibilidade, ou seja, a existência ou não do serviço de saúde no local apropriado e no momento em que é necessário, esse fator envolve, de forma ampla, a relação geográfica entre as instituições físicas de saúde e o indivíduo que delas necessita, como distância e opções de transporte; a segunda dimensão é o poder de pagamento, esta trata da relação entre custo de utilização dos serviços de saúde e a capacidade de pagamento dos indivíduos; a terceira é a informação, esta representa o grau de assimetria entre o conhecimento do paciente e do profissional de saúde, e por fim, a dimensão aceitabilidade, esta diz respeito à natureza dos serviços prestados e percepção dos serviços pelos indivíduos e comunidades, influenciada por aspectos culturais e educacionais. No caso dessa Comunidade, apenas a disponibilidade era uma possibilidade real para o acesso à rede de serviços de saúde, sendo os demais fatores muito variáveis. O comunitário que necessitava de atendimento sabia que precisaria dispor de recurso financeiro para sua manutenção e de seu acompanhante, esperava inclusive que algum parente pudesse receber em seu lugar, o benefício Bolsa Família, munido de alguma declaração médica que comprovasse sua condição, logo, não apresentava poder de pagamento. Quanto a dimensão referente a informação, esta parece não ter sido suficiente, talvez se o grau de assimetria entre profissionais de saúde e usuários fosse menor, o paciente em questão teria aguardado para realizar os exames prescritos na ocasião em que buscou assistência ao surgirem os primeiros sinais de doença e assim, talvez na ocasião da visita da ACS, o quadro fosse de convalescença e não o oposto. A informação é imprescindível para a aceitabilidade, pois contribui para a percepção do usuário e o ajuda a definir, considerando inclusive aspectos culturais, quando o caso requer acesso à rede de serviços de saúde ou ao cuidado em saúde produzido pelas redes vivas do seu território. Por fim, a disponibilidade dos serviços de saúde, alguns fatores como o ambiental, a localização geográfica e a logística para o deslocamento e acesso aos serviços de saúde contribuem para que essa população recorra primeiramente à “medicina da floresta”. Entretanto, não se trata de uma regra, pois muitos comunitários preferem o cuidado em saúde pela rede de serviços, o que inicialmente foi intrigante, como se as práticas tradicionais de saúde estivessem em detrimento às biomédicas. No entanto, se trata mesmo é de uma questão de uso oportuno, há uma oferta de serviço, logo, há escolha. É necessário entender o cenário, por exemplo, se um depende de uma planta (prática tradicional) que não é cultivada, tendo que ser coletada em algum lugar da floresta no qual a logística a ser empregada é maior que no outro (práticas biomédicas), certamente se optará por este e não por aquele. Investigar as redes produzidas pelos atores sociais que compõem a Amazônia é “enxergar” modos de vida ricos em histórias, cultura, saberes e tradições que por se tratarem de elementos que conformam a existência de qualquer grupo social devem ser considerados por legisladores, gestores e profissionais que atuam na produção do cuidado em saúde na Amazônia.

11085 TERAPIAS TRADICIONAIS CHINESAS E SUAS TERAPÊUTICAS APLICADAS PELO O PROFISSIONAL DE ENFERMAGEM
Ana Paula Agostinho Alencar, Petrúcya Frazão Lira, Daianne Macedo Lima de Oliveira, Édylla Monteiro Grangeiro Silva, Marcos Vinicius Ferreira da Cunha, Pollyanna Callou de Morais Dantas, Vanderlania Macedo Coelho Marques, Joice Fabrício de Souza

TERAPIAS TRADICIONAIS CHINESAS E SUAS TERAPÊUTICAS APLICADAS PELO O PROFISSIONAL DE ENFERMAGEM

Autores: Ana Paula Agostinho Alencar, Petrúcya Frazão Lira, Daianne Macedo Lima de Oliveira, Édylla Monteiro Grangeiro Silva, Marcos Vinicius Ferreira da Cunha, Pollyanna Callou de Morais Dantas, Vanderlania Macedo Coelho Marques, Joice Fabrício de Souza

Apresentação: As Políticas Integrativas e Complementares de Saúde (PICS) são um conjunto de métodos naturais, que estão diretamente ligadas a recuperação e manutenção da saúde. O uso dessa terapêutica é uma forma de tratamento de origens muito antigas, relacionados aos primórdios da medicina e fundamentada na diversidade de informações transmitida oralmente, através dos séculos, de geração em geração para o desenvolvimento da cura de enfermos. A profissão de Enfermagem atualmente evolui e integra estratégias de práticas integrativas complementares para atenção integral à saúde humana, preconizadas e respaldadas pelo o Conselho Federal de Enfermagem (COFEn) criou a resolução 197/97 que estabelece e reconhece as Terapias Alternativas como especialidade e/ou qualificação do profissional de enfermagem. Dentre as diversas especialidades relacionadas às PICS, uma delas é a medicina tradicional chinesa (MTC), que se caracteriza por um sistema médico integral originado na China, que utiliza as leis da natureza como matéria prima. O objetivo dessa temática foi identificar resultados que o profissional de Enfermagem encontra no paciente após a aplicabilidade de terapias tradicionais chinesas. Desenvolvimento: Trata-se de uma pesquisa de campo, do tipo exploratório descritivo, com uma abordagem qualitativa, realizada na cidade de Juazeiro do Norte, que se localiza na Região Metropolitana do Cariri, Mesorregião do Sul Cearense. A população foi composta por enfermeiros que possuem especialização na área de Práticas Integrativas e Complementares. O instrumento de coleta de dados utilizado foi uma entrevista semiestruturada. A amostra teve como participantes, 05 profissionais enfermeiros que são especializados em práticas integrativas e complementares e com período maior que seis meses de formação, atuando na sua área no momento do estudo. O presente estudo foi submetido e aprovado pelo o comitê de ética em pesquisa da Faculdade de Juazeiro do Norte (FJN), sob o número do parecer:  2.610.052 Resultado: e ou impactos Os resultados foram agrupados em categorias de acordo com Minayo, abordando incialmente as características relacionadas aos profissionais. Questionados a respeito do desejo de se especializar nessa área e como se define as técnicas tradicionais chinesas, obtiveram-se os seguintes discursos: [...] desde o começo achei uma área interessante, que não tinha muitos profissionais especializados na área e vi um diferencial e uma oportunidade de fazer algo diferente (Margarida). [...] adoeci de uma doença chamada síndrome do pânico, [...] eu recorri a vários profissionais e nenhuma terapia farmacológica tinha resultado comigo, ai conheci a acupuntura e na primeira sessão tive uma melhora excepcional (Gerânio). Grande parte dos entrevistados foram instigados a realizar sua especialização por interesse em oportunidades diferenciadas, descobertas de novos métodos de cuidado e tratamento. Encontraram-se também, percepções sobre a própria saúde do indivíduo ou mesmo de alguém próximo familiarmente. Assim, fez perceber a importância de como pode influenciar na vida das pessoas com sua própria experiência. Indagados sobre a técnica terapêutica escolhida para o pacientes através dos sinais e sintomas que apresenta ao chegar no consultório, tivemos as seguintes falas: [...] deixo o paciente relatar tudo, eu pergunto porque ele ta procurando a terapia, e ai ele abre o jogo comigo, fala o que ta sentindo, quem indicou a acupuntura, saber realmente se aquele paciente acredita na terapia ou não (Cravo). [...] normalmente, o paciente chega ao consultório e a gente faz a primeira consulta com uma anamnese muito criteriosa que dura cerca de um hora a uma hora e dez minutos, não faço a consulta seguida de aplicação. Como ao longo da minha experiência eu aprendi a desenvolver outras técnicas de MTC e que são de outras medicinas tradicionais, eu associo a outras praticas. Traça um diagnóstico, mas para nas próximas já termos o que executar (Amarílis). Solicitados sobre os tipos de doenças que podem ser tratados através das terapias, seus benefícios imediatos e suas contraindicações, obtivemos os seguintes discursos: São pessoas que sofrem de muita dor, que mal conseguem caminhar. [...] Algumas pessoas já se tratam há quase dez anos e outros que fazem tratamento emergencial de poucos meses (Antúrio). Os entrevistados descreveram sobre resultados que encontravam nos pacientes após a aplicabilidade das terapias tradicionais chinesas, conseguimos os seguintes depoimentos: De algum modo, ele sempre vai se beneficiar se não no físico, é com o psicológico e emocional (Amarílis). Paciente que vinha a três ano com metrorragia muito intensa, e ela tinha sido diagnosticada com 07 miomas. Fez a cirurgia mesmo assim sangrando e tomando medicação e até um momento, foi dado a possibilidade de fazer a histerectomia. Uma jovem com 28 anos e desejo de ser mãe, e aqui nos conseguimos no primeiro mês, parar todo o sangramento dela (Gerânio). Ao longo e curto prazo, podemos encontrar melhoras significativas em ambos aspectos físicos e até emocionais. Evoluções que tem como base métodos diferentes dos tradicionais, chegando a superar ou substituir por completo o uso de drogas, muitas vezes mais eficazes e com um tempo de tratamento menor para seus pacientes. Silveira, Martins5 nos confirmam que resultados indicam uma eficácia no tratamento a curto prazo, oferece melhora sintomática a alguns pacientes e os resultados demonstraram a eficácia do tratamento, no bem-estar geral dos pacientes, não só pela melhoria da qualidade de vida, mas também pela redução da sensibilidade à dor. Considerações finais: Após a análise dos resultados, encontramos a necessidade de aprimorar o conhecimento dessas práticas que apresenta grande eficácia, menos tempo de tratamento e não usa de métodos convencionais. Por meio dessa técnica a enfermagem pode ofertar um leque maior de serviços em detrimento do cuidado voltado as medidas de prevenção e promoção da saúde, garantindo uma melhor qualidade de vida. Baseado em uma temática diferenciada e inédita, este trabalho consiste em trazer uma área que é recente, apresenta grande eficácia, menos tempo de tratamento e não usa de métodos convencionais. Ligado às energias corporais e mentais, proporcionado ao paciente autoridade para escolher seu método para o tratamento e a maneira de realiza-lo. Empodera de forma integral pessoas com índices econômicos diversos, que estão sempre em busca de evoluções na qualidade de vida e na saúde. A prática dessas medidas sendo ofertadas na atenção básica e em outros níveis de complexidade do SUS fortalece a autonomia do indivíduo em obter um tratamento que não esteja ligado ao uso de fármacos, estimulando a população buscarem outras ofertas de serviços alternativos. A enfermagem deve se fortalecer nesse novo sentido de inclusão entre o cuidado e o paciente, proporcionando discussão sobre a prática nos diversos âmbitos de atuação. No ensino, buscando incluir tais aspectos nos currículos dos variados níveis de formação e, quando egressos, os enfermeiros devem seguir em busca de qualificação e especializações em Práticas Integrativas e Complementares em Saúde. Enfim, agir em conformidade com a construção das políticas públicas.