CARTA ABERTA FÓRUM POVOS - Diálogos em saúde com os povos indígenas

02/08/2023 2:30 p.m.
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CARTA ABERTA FÓRUM POVOS - Diálogos em saúde com os povos indígenas

 

O Fórum Povos da Associação da Rede Unida vem, por meio desta, manifestar seu apoio, solidariedade e disponibilidade de colaboração diante da gravidade em que se encontra o atual cenário da atenção à saúde indígena no Brasil, evidenciado pelos recentes acontecimentos com o Povo Indígena Yanomami na Terra Indígena Yanomami, situação que se configurou como uma grave emergência sanitária, de grande magnitude e repercussões no âmbito nacional e internacional.

O Fórum Povos é um dos fóruns temáticos que compõe as estruturas da Rede Unida, criado em 2020 com a tarefa atuar no campo de valorização, reconhecimento e suporte aos conhecimentos de saúde presentes nos diversos povos existentes no mundo, povos indígenas, povos negros, povos dos rios, povos dos mares, povos das ciências. Neste sentido, o Fórum Povos é resultado do histórico amadurecimento de discussões na Rede Unida sobre a urgência de valorização, reconhecimento e suporte no campo da saúde pública aos conhecimentos de saúde existentes nos diferentes modos de vida, especialistas e povos no mundo.

O Fórum Povos é um coletivo interseccional de trabalhadores da saúde, professores, pesquisadores, estudantes universitários de todas as áreas da saúde coletiva e outras correlatas, indígenas e não-indígenas, de diferentes lugares do mundo, envolvidos e interessados com a temática da saúde dos povos, das especificidades da atuação interétnica na produção do cuidado à saúde, das medicinas ancestrais, medicinas indígenas, da arte do cuidado, das múltiplas artes, múltiplas espiritualidades, e formas de produção de vida e saúde. Por meio do trabalho da Rede Unida o Fórum Povos encontra-se fortemente vinculado também à formação de todas as profissões da saúde, buscando constituir um núcleo crítico e investigativo que colabore com a formação de um novo profissional de saúde comprometido com o Sistema Único de Saúde, assim como com a construção contínua e democrática de uma saúde pública universal e a serviço das reais e autênticas necessidades dos povos em suas multiplicidades.

A Associação da Rede Unida é uma entidade internacional, sediada no Brasil, que se estrutura por uma Coordenação Internacional, Coordenações Regionais no Brasil, Núcleos Internacionais nos quais mantém relações de cooperação e Fóruns Temáticos, sendo o de Residências em Saúde; dos Direitos Humanos, da Diversidade e da Equidade de Raça e Gênero; Fazer-SUS; Internacional da Rede Unida; e Fórum Povos. Mantém ainda a Editora Rede Unida e TV Rede Unida com importante contribuição à publicação difusão de materiais formativos, científicos, debates e seminários sobre variados temas relacionados à saúde e à vida.

A Associação da Rede Unida articula projetos, instituições e pessoas interessadas na construção coletiva de sistemas de saúde públicos, de acordo com os princípios da 2/2 universalização, equidade, participação social, respeito à diferença, preservação da natureza, e defesa da democracia. A atuação da Rede Unida, nesse sentido, parte do pressuposto de que essa construção passa, necessariamente, por novas formas de pensar e organizar a formação dos profissionais da saúde, experiências nas redes de cuidado, o protagonismo dos movimentos sociais e participação na defesa da vida sob todas as formas.

Nos esforços por esses objetivos, a Rede Unida se propõe a promover iniciativas conjuntas entre universidades, serviços de saúde, organizações comunitárias, arte e cultura, no Brasil e países onde mantém Núcleos Internacionais, onde se pretende sempre o trabalho colaborativo. A coletividade constituída a partir desse movimento se caracteriza pela valorização das contribuições multiprofissionais e interprofissionais advindas dos campos da saúde, educação, ambiente, diversidade, arte e cultura. Também coloca, em papel central, a participação ativa de estudantes e professores, de profissionais, gestores, e usuários de serviços públicos de saúde, de militantes de movimentos sociais e outros representantes da sociedade civil nacional e internacional, com a perspectiva de que essas experiências compartilhadas multiplicam o entendimento sobre saúde, a defesa da vida, e seu papel na sociedade.

Deste modo, manifestamos nossa disponibilidade e interesse em colaborar na composição, organização, estruturação, atuação parte dos trabalhos de atenção e cuidado à saúde aos povos indígenas brasileiros, sobretudo, na situação do Povo Yanomami, configurada como de grave emergência sanitária, mas também, pensados curto, médio e longo prazo, no sentido de fortalecimento dos mecanismos ou grupo de trabalho no âmbito institucional sobre saúde com povos indígenas, com protagonismo neste debate da SESAI, e envolvendo outros atores, Ministério dos Pontos Indígenas, FUNAI, Fiocruz, CNS/CISI, Ministério da Educação, Ministério da Cultura, Ministério do Meio Ambiente, APIB, COIAB, FOIRN e outras associações do movimento indígena, ABRASCO, Rede Unida/Fórum Povos, Frente Pela Vida e outros movimentos do campo da saúde pública. Para assim, nesta rede de articulação conjunta, propor as melhores ações parte de um levantamento amplo e atual de informações de saúde com povos indígenas no Brasil, e de qualificação da formação e trabalho, e fortalecimento das práticas de cuidado das medicinas e especialistas indígenas existentes nos diferentes povos e territórios indígenas, parte fundamental do momento atual de reconstrução e avanço das políticas públicas saúde indígena, reforma sanitária brasileira e das conquistas constitucionais do direito ao cuidado à saúde diferenciado aos povos indígenas brasileiros e à nível mundial.

 

Atenciosamente,

Joâo Paulo Lima Barreto – Yupuri, Indígena do povo Yepamahsã (Tukano)

Coordenador Fórum Povos Rede Unida

Manaus, Amazonas, Brasil, 04 de fevereiro 2023

 

CARTA ABERTA FÓRUM POVOS - Diálogos em saúde com os povos indígenas

 

Imagem: Ascom CNS