SOLIDARIEDADE ÀS MÃES YANOMAMIS E EM RESPEITO À CULTURA INDÍGENA

06/26/2020 9:37 a.m.
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Solidariedade às Mães Yanomamis e em Respeito à Cultura Indígena

A situação dos Povos Indígenas no Brasil é dramática na pandemia do COVID-19 porque se encontram em situação de risco e sem proteção, e muitas etnias estão em condição de perdas de vidas e com isso suas memórias e tradições. Além do novo coronavírus, os indígenas ainda precisam enfrentar o desmatamento, os garimpos ilegais, a expulsão de suas terras, as epidemias como de malária, a violência cultural na forma de organização da vida e da produção de saúde, inclusive nos discursos oficiais, que tem o dever constitucional de preservá-los e protegê-los. A produção de vulnerabilidade dos povos indígenas antecede e se agrava muito na pandemia de COVID-19.

O Estado deve garantir os direitos fundamentais dos povos indígenas, valorizando e respeitando as suas práticas e crenças tradicionais. Nesse sentido, os gestores da saúde indígenas do Distrito Sanitário Especial Saúde Indígena Yanomami (DSEI Yanomami) devem zelar pela proteção das tradições, como o de fazer o ritual dos seus mortos. É contundente a denúncia feita pela jornalista Eliane Brum no Jornal El País, nesse 24 de junho, sobre o sumiço dos filhos de mães Yanomami, que precisam dos corpos para realizar o ritual fúnebre. Essa é uma violência contra as pessoas, contra a cultura, contra essas mães que precisa ser reparada para a integridade da vida dessas mães, parentes e comunidades. Mesmo em tempos de destaque da relevância da biossegurança, o conhecimento disponível e a inteligência sanitária permitem dialogar com segurança com as crenças das populações tradicionais. Como diz a matéria: o “sumiço dos mortos” é o pior tipo de sofrimento para a cultura Yanomami. É a dupla morte provocada pelos modos civilizatórios nefastos que os colonizadores temos para ocupar o espaço: a morte física de índios por uma doença cuja cadeia de transmissão não é originalmente dos povos indígenas; e a morte cultural e simbólica, pela subtração dos seus rituais próprios por rituais de biossegurança que não compõem sua cultura. Há grande violência cultural e simbólica nessa dupla morte, que desconsidera os saberes e a cultura dos povos indígenas e os submete à desassistência e à intervenção violenta sobre sua cultura.

Gestores e trabalhadores de saúde do SUS precisam conhecer e respeitar as tradições indígenas como uma parte do cuidado integral e, sobretudo, o respeito à diferença, que pode nos ensinar não apenas pela interculturalidade, mas, sobretudo, nos modos de cuidar das pessoas. O desconhecimento da língua indígena e a falta de estrutura dos serviços não deve servir de argumento para esse tipo de violência aconteça.

A REDE UNIDA reivindica que as autoridades legalmente responsáveis corrijam imediatamente esse erro, em respeito aos indígenas, suas memórias e cultura. E tomem medidas para que isso não se repita no contexto dos serviços de saúde. Aprendemos com a cultura Yanomami, o respeito pela morte para que não naturalizemos nenhuma das mortes do Covid-19 que acontecem todos os dias e em grande quantidade no nosso país. Respeito às culturas tradicionais é respeito à vida, cada uma como expressão singular. Entre os recursos de enfrentamento à pandemia, um dos prioritários é o combate à naturalização com que a omissão governamental vem produzindo genocídio dos povos indígenas, das suas vidas e da sua cultura.

 

Rede Unida

26/06/2020